terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

"moralização do espectáculo desportivo"

A cedência, do uso ou da gestão, de património público a privados deve estar vinculada à salvaguarda do interesse público.
Também o auxílio do Estado a actividades económicas tem como objectivo corrigir as falhas do mercado e garantir a sã concorrência entre os agentes, protegendo os interesses da comunidade.
Estes são princípios elementares da Administração que se encontram vertidos no nosso ordenamento jurídico. A legislação desportiva, à parte de alguns acidentes de percurso em algumas normas públicas, não foge a tais princípios.

A fuga tende a ocorrer na omissão, quando não no oportuno “arranjo” interpretativo das normas, para contornar um principio basilar - A proibição de subvenção pública ao desporto profissional.

As recentes notícias sobre eventuais apoios públicos ao Marítimo (v. direito de resposta do clube) e ao Beira-Mar não são nada de novo neste domínio. Quem trabalha de perto com o desporto profissional já se deparou, por certo, com verdadeiras manobras de engenharia política, jurídica e contabilistica. Talvez até já tenha perdido algumas horas a tentar encontrar uma “escapatória” para justificar aquilo que, por principio, a lei proíbe.

A instrumentalização das normas, por vezes, tende a servir mais as necessidades próprias e conjunturais de gestão política da Administração do que a procurar a eficiência da administração do Estado tendo como missão servir melhor os objectivos do sistema político democrático fundado na cidadania. Disso deu conta quase toda a obra de Max Weber. Mas a sua burocracia (racional-legal) foi pensada para uma ética calvinista... Por cá as preferências católicas jogaram a mão a burocracias mais carismáticas e messiânicas...

Se para muitos carismáticos "a ética da República é a ética da lei", então a salvaguarda do interesse público tende a carecer de eficientes mecanismos de controlo sobre a aplicação das normas na gestão dos bens e dinheiros públicos. Pelo menos enquanto outra ética não vier.

Estes dois casos levam a questionar as responsabilidades do Estado quando delega bens e serviços a entidades empresariais, públicas ou privadas. Levam a questionar a racionalidade na gestão pública.
Os instrumentos de controlo, fiscalização e inspecção do Estado oferecem garantias, não só do cumprimento da lei, mas também da protecção do interesse dos cidadãos, na sua tripla condição de eleitores, contribuintes e utentes de serviços públicos? Estão os cidadãos - accionistas do Estado - capacitados para intervirem de forma eficaz caso se sintam prejudicados?

Não partilho do optimismo de Pinto Monteiro quando refere, a propósito do julgamento do “Apito Dourado”, que "a simples instauração do processo teve um efeito de moralização do espectáculo desportivo" em Portugal, mas considero importante a divulgação e a informação sobre estes e outros casos desportivos.

A moralização e a pedagogia da cidadania constrói-se, passo a passo, no espaço público, com todos os riscos que isso envolve...
A gestão e os efeitos da agenda noticiosa sobre estes dois casos são bons exemplos das vantagens da abertura da discussão. Para um jornalismo mais rigoroso. Para uma Administração mais responsável e esclarecedora das suas opções. Para uma maior informação dos cidadãos e controlo dos órgãos do Estado. Para uma gestão mais transparente do desporto profissional.

4 comentários:

Anónimo disse...

A propósito de moralização

Fala-se em estudos rigorosos antes de avançar com a fuga para a frente dos homens do futebol.

Quantos estudos já se apresentaram no desporto? Desde 2000 por exemplo

Ninguém pega no mundial do futebol?

João Almeida disse...

Caro anónimo(a)

Numa nota prévia, e considerando a diversidade de anónimos que dão o seu contributo para este blogue atrevia-me a sugerir que se identificasse com um alter ego. Assim sempre saberia para qual dos anónimos estaria a escrever. Já agora sugeria um nome feminino para reconfortar o meu imaginário...

Sobre os estudos não nego a sua necessidade, mas vou-lhe ser sincero.

Na maior parte dos escassos estudos sobre desporto, escreve-se sobre economia, gestão, direito, arquitectura, engenharia e, muito raramente, sobre desporto.

A propósito do mundial, de todos os argumentos invocados - mesmo aqueles a solicitar estudos prévios -, fala-se em impacto, sustentabilidade, mas não se fala em desporto.

O desporto é invadido pela linguagem económica, jurídica, sociológica e tende a esquecer o seu léxico. Eu não fujo a entrar neste saco.

Fico preocupado quando um texto de José Manuel Constantino sobre José Maria Noronha Feio não é digno de receber um comentário.

Fico preocupado quando vejo Moniz Pereira numa entrevista recente a falar em desporto e todos assobiam para o ar.

O desporto tem uma identidade própria forjada na historia. O desporto não é asseptico. Enquanto as pessoas pensarem que podem olhar para o desporto sem terem isto em atenção não há impacto ou sustentabilidade que resista e a "especificidade" não será mais do que um negócio, económico ou político. Assim sendo para quê falar em moralidade ou racionalidade no desporto? Para quê falar do mundial?

Anónimo disse...

Conhecem a historia do Varzim/Camara Municipal (Macedo Vieira)

1. O Varzim e a Camara assinaram um protocolo para o fomento das camadas jovens, protocolo esse que permitia que o clube recebesse da edilidade 70 mil contos.

2. No entanto, o Tribunal de Contas abriu um inquerito e detectou que o Varzim recebeu, realmente, os 70 mil contos, mas o orcamento desse ano para as camadas jovens rondava apenas 35 mil contos. Valente incongruencia!!! Onde foi parar o dinheiro? Futebol profissional, claro...

Anónimo disse...

Esta a 1º comentário que aqui posto no seu blog ...

É muito complicado encontrar informações sobre o Espectáculo Desportivo, e mesmo assim não encontrem. Não te culpo LOL ...

O que quero dizer é, se você sabe dar-me alguma informação sobre este tema?

Agradecia
Cumprimentos =D