quarta-feira, 6 de julho de 2011

Falar verdade

Faz parte do jogo democrático a expectativa sobre o exercício de um novo executivo. À semelhança de um clube que inicia uma época desportiva, tudo parece começar do zero. No entanto, a realidade depressa desmente essa tendência. O país não pára durante o período em que saiem e entram novos protagonistas, mesmo quando isso ocorre no tradicional período de “silly season”, particularmente quando os condicionalismos de uma crise económica e financeira, mas também política e institucional, se fazem sentir vindos do exterior.

Procurar compreender e agir sobre a realidade nacional descurando o contexto europeu, e a influência que este assume no plano interno, é algo com que qualquer responsável político poderia conviver placidamente há alguns anos; porém, em sociedades e economias abertas a consolidação de políticas públicas e dos interesses estratégicos de um país joga-se cada vez mais na sua capacidade para se constituir como um player activo fora de portas. Ou seja, perdoem-se as expressões anglófonas, no potencial para se assumir como policy maker e não apenas policy taker.

A capacidade de projecção e afirmação externa de uma imagem, de uma marca, de um produto, de uma política… são factores críticos nesse trajecto. Calibrar o plano interno e externo, de forma a, simultaneamente, internalizar as vantagens competitivas e projectar as medidas políticas no domínio externo, acompanhando o que se vai passando lá fora, é um exercício ausente desde os tempos de Mirandela da Costa, salvo breves incursões no âmbito da cooperação internacional na formação de agentes desportivos dos PALOP’s e do combate à dopagem.

Por norma quem surge de novo procura “limpar a casa” - o que no caso de várias áreas de intervenção pública no desporto é já de si uma tarefa hercúlea, ainda que os argumentos para tal possam ter maior relevância e até alguma legitimidade adicional para por fim a prebendas e sinecuras num quadro de escassez de recursos – limitando-se à gestão corrente da agenda externa através da simples presença nas principais reuniões internacionais, no Conselho da Europa, CPLP e União Europeia.

Quem está atento ao que se passa lá fora constata que Portugal se encontra inúmeras vezes ausente dos mais diversos e importantes fóruns de debate, projectos transnacionais, grupos de trabalho e instâncias de política desportiva europeia. Nas poucas ocasiões em que tal não acontece um dos nomes mais assíduos na lista dos presentes, há vários anos a esta parte, é precisamente o do actual titular da pasta do desporto.

No meio das naturais expectativas, dúvidas e críticas, mais ou menos positivas, que se lhe apontam, há dois aspectos que pela sua experiência europeia tem bem presente para a assunção das funções assumidas face aos que lhe antecederam:

Primeiro, o facto da política interna, também no desporto, fazer-se cada vez mais fora de portas. Segundo, quanto mais tempo se prolongar esta tendência de ficar refém e esgotar-se apenas nos problemas nacionais (gestão de centros de alto rendimento, administração pública desportiva, financiamento público a federações exangues), maior será o fosso que nos separa dos nossos parceiros europeus em matéria de políticas públicas desportivas.

Não parece curial, apenas por estes motivos, encontrar aqui qualquer indicio para o sucesso naquilo que todos os outros falharam ou nem sequer se propuseram: Edificar um novo ciclo de desenvolvimento a partir de um modelo estratégico e de um mix de políticas públicas adequado ao potencial dos seus actores, ao quadro financeiro que o país atravessa, e simultaneamente, ajustado com as boas práticas propostas pela União Europeia.

Parece-me, no entanto, obrigação moral de quem nos governa “falar verdade” e expor, sem hesitações, as debilidades, incongruências e disfuncionalidades de um modelo de desenvolvimento ultrapassado e cada vez menos competitivo face ao panorama europeu. Para prestar contas é previamente necessário dar-se conta. E muitos há que ainda não deram conta… Se há algo de relevante a retirar da acção da UE após o Livro Branco é a informação que disponibiliza sobre os mais diversos indicadores da situação desportiva dos seus Estados membros. O diagnóstico de Portugal não é animador.

Perante isto até quando se pretende ignorar estes dados? Até quando se pretendem tomar medidas de política desportiva à sua margem, sem estarem ancoradas em factos e informação concreta? Até quando se produzem indicadores, de ultima hora, que estabelecem como ponto de comparação o que se fez em relação ao passado, qual retrato do regime, mas se esquece de ver o que os outros fizeram? Se rejubila com a integração na PORDATA, mas se evita constantemente a comparação com os países que compõem o espaço europeu e aí perceber o quão pouco é o tanto que se fez e o quanto está por fazer?

O espaço para uma política de “navegação à vista”, avulsa, casuística e ao sabor das circunstâncias de cálculo e custo de oportunidade, que reina quando se teima em olhar para o umbigo, é cada vez mais escasso e pouco defensável; ainda que seja compreensível haver quem não tenha interesse efectivo numa avaliação dos resultados obtidos pelo dinheiro público investido. Aqui o Estado, nomeadamente quem assume a governação do desporto, com o capital de experiência acumulada no contacto com outras realidades, tem uma palavra soberana a dizer, não só para mudarmos de vida mas fundamentalmente para revelar sem tibiezas que o rei vai nú, ao ponto de cair na decadência - típica nestes cenários absurdos dignos de Brecht - de a celebrar em eventos de casino e eleições ao melhor estilo do ancien regime.

Mais! A concretização de algumas das medidas propostas no Programa de Governo exige uma agenda que dê conta e traga para cima da mesa temas incipientes, ou até desconhecidos dos responsáveis pelo sector, como o caso das carreiras duais, da dupla formação, ou outros que, mais cedo ou mais tarde – espera-se que mais cedo – entrarão de rompante no seio do indigenato desportivo por influência externa, como sejam a regulação das apostas desportivas e de direitos de propriedade intelectual na organização de eventos; a cooperação policial em matéria de dopagem, violência e criminalidade no desporto; o diálogo social no desporto profissional ou o cumprimento efectivo nos procedimentos administrativos e regulamentos das federações nacionais do principio da livre circulação no espaço europeu, nomeadamente em escalões de formação.

Convém deixar de olhar apenas para a realidade interna e abrir horizontes para perceber que o tiro de partida foi dado há muito …

16 comentários:

Fernando Tenreiro disse...

Caro João Almeida

Felicito-o pelo seu texto e gostaria de avançar um pouco mais, eventualmente contradizendo-o.

Há outra forma de 'ser português' e ela traduz-se no uso do discurso directo europeu sem no entanto conseguir estruturar um novo modelo nacional.

Quando fala em: "como o caso das carreiras duais, da dupla formação, ou outros que, mais cedo ou mais tarde – espera-se que mais cedo – entrarão de rompante no seio do indigenato desportivo por influência externa, como sejam a regulação das apostas desportivas e de direitos de propriedade intelectual na organização de eventos; a cooperação policial em matéria de dopagem, violência e criminalidade no desporto; o diálogo social no desporto profissional ou o cumprimento efectivo nos procedimentos administrativos e regulamentos das federações nacionais do principio da livre circulação no espaço europeu, nomeadamente em escalões de formação."

Alguns desses elementos são referidos no programa do XIX governo mas o que se nota é a dificuldade de propor um modelo novo de desenvolvimento desportivo.

A Europa dá o modelo europeu e é uma responsabilidade nacional ir para além dele e construir as condições nacionais para trepar pela média europeia acima.

No blogue www.desportoeconomia.blogspot.com faço a análise ao programa do XIX governo onde apresento em maior detalhe esta minha conclusão.

O programa do XIX governo parece-me um exercício teórico equivalente à 'Lei de Bases do Desporto' de 2005.

Concordo consigo com o nosso atraso europeu e coloco-o ao nível da conceptualidade do modo de ser desporto e a democracia das coisas que não somos capazes de fazer.

Veja a rapidez de reunião do Ministro do Desporto com o COP e a vacuidade de resultados face à situação catastrófica em que as federações estão envolvidas.

Você diz: 'O espaço para uma política de “navegação à vista”, avulsa, casuística e ao sabor das circunstâncias de cálculo e custo de oportunidade, que reina quando se teima em olhar para o umbigo'.

Foi isto mesmo que a reunião fez olhar para o umbigo de quem lá foi.

Diz você que não é possível.

Está a acontecer outra vez com quem se esperaria não o permitir.

Mas isto talvez seja pedir demais ...

Anónimo disse...

Há mais quem pense que «É um escândalo o que se passa em Portugal».

http://www.record.xl.pt/Modalidades/Outras/interior.aspx?content_id=705521

Mas a falar assim, ou vai treinar para outro país ou alguém se vai encarregar de o silenciar

Luís Leite disse...

Olhando para os jornais desportivos e para os órgãos de comunicação portugueses em geral conclui-se rapidamente que o desporto português não passa de um conjunto de actos/autos de fé diários de contratações de futebolistas estrangeiros, quase todos sul-americanos, quase todos brasileiros.
Num país falido, com clubes/SAD com passivos monumentais e crescentes, onde se vai buscar tanto dinheiro para tantos "REFORÇOS"?
Quem ganha com tanta negociata?
E quem perde?
Será normal "isto" de fabricar sucessivas equipas portuguesas compostas por estrangeiros?
Falando verdade, onde está o desporto português?

Anónimo disse...

Este texto – perdoe-me João Almeida – é, em minha opinião um dislate. Não tem o mínimo de razoabilidade, nem de bom senso. É um exercício abstracto de nada, vazio de qualquer sentido ou implicação prática, impossível de conduzir a uma acção prática verosímil.
Ir à «Europa» fazer reuniões, é como ir a um sítio em desagregação em que ninguém já acredita. Pior ainda é querer tirar normas e regras de aplicação geral de um Livro que é um arrazoado de banalidades e frases-feitas sem qualquer adequação à realidade concreta de cada País, nem às diferentes etapas de cada desenvolvimento concreto. O Desporto, mesmo quando é reduzido à «motricidade», nunca é um acto meramente biomecânico. Ele, mesmo nessa visão reduzida, inclui uma tradição, uma cultura e uma prática social específica em cada contexto social onde se pratica. O Desporto que interessa a Portugal é o mesmo de todos os países… mas pode ser feito por modalidades diferentes, em proporções diferentes, e por um modo que inclua «indicadores de sucesso» diferentes de outros países. Isto aprende-se nos bancos das melhores «escolas de desporto» nos primeiros anos dessa formação superior. Mas o João Almeida acha que a questão está “lá fora”, pasme-se (!).
Sobre o passado que lá vai, não é verdade que o XVII e XVIII Governos não tenham publicado a sua Estratégia, o seu Modelo de Desenvolvimento do Desporto, e a Matriz de Planeamento Estratégico dessa orientação. Isso está publicado, pelo menos numa dezena de livros e revistas ao longo dos seis anos que passaram. Como também não é verdade que o IDP não tenha feito e publicado estudos e diagnósticos, alguns até pela 1.ª vez desde há 30 anos. Quem faz estas afirmações ou é mentiroso ou mal intencionado.
Sobre o tão famigerado «Modelo de Desenvolvimento do Desporto para Portugal» houve de facto uma definição clara e objectiva desde 2005. Desse Modelo foram realizadas e concluídas as duas primeiras etapas. O que falta agora é observar o que o XIX Governo vai fazer. E de uma três, ou: i) rompe com este «Modelo 2005-2011» e apresenta uma alternativa; ii) ou, tem coragem de dar o passo lógico seguinte em relação às duas primeiras etapas desse «Modelo 2005-2011»; iii) ou, se não decide por nenhuma destas alternativas, e deixa tudo correr até ao final do mandato sem mexer em nada nem fazer nada.
[Nota: Para quem teve preguiça de consultar o «Modelo 2005-2011» ver o texto que apresentei na proposta de 2008, e foi tornada pública nos referidos Programas dos XVII e XVIII Governos].

Funcionário do Estado
(este é o meu nome de anónimo)

Anónimo disse...

Era bom que o anónimo funcionário público explicitasse qual é o terceiro passo lógico e já agora indicasse os dois primeiros, para podermos continuar o diálogo com as mesmas referências sintetizadas sem ter muita bibliografia para consultar.

Fernando Tenreiro disse...

Com toda a frontalidade acho que a afirmação do funcionário anónimo é um dislate tremendo.

Aceito que haja pessoas que participaram em reuniões na Europa e tenham a posição negra do funcionário anónimo.

A minha experiência e assumiria aqui a interpretação de João Almeida é que a Europa é um todo composto por muitas partes e cujo objecto e resultado do trabalho é complexo e pode por vezes andar para trás.

Ver apenas o comportamento das pessoas pelos olhos de apenas uma pessoa parece limitador do tempo extraordinário que vivemos em que dezenas de países procuram um futuro comum, quando no passado se guerrearam e mataram e agora procuram todos crescer e desenvolver as suas populações e as suas organizações.

Em particular no domínio da economia do desporto e nas políticas desportivas observo avanços entre os anos oitenta e a actualidade, entre os anos noventa e o que actualmente se faz, e entre o acelerar do início dos anos dois mil e a velocidade de cruzeiro em que hoje se vive na Europa.

É estranho ver alguém que diz ter feito coisas em termos de uma legislatura do desporto e ter uma posição europeia frágil como a aqui expressada.

Luís Leite disse...

Continuo, com o devido respeito, a achar que a Europa nunca existiu.
O que existem são eurocratas e interesses muito diversos e variáveis dos Estados, mediante as conjunturas.
Ao fim de tantos anos continua a não existir um modelo europeu de desporto, como de quase tudo o resto.
O que há é modelos bem diferentes nos países europeus, que dependem sobretudo do dinheiro, do conhecimento e da tradição desportiva.
No nosso caso, nunca houve nada para além do politicamente correcto e da negociata futeboleira, apesar de existirem algumas pessoas com ideias consistentes, que são expurgadas pelo sistema dinossáurico.

Anónimo disse...

La fonction la plus positive de l’Utopie est l’exploration du possible. En tant que possible, l’intention utopique est de défier et de transformer l’ordre présent.

Paul Ricoeur,
Idéologie et Utopie.
Le Seuil,
Paris, 1997, p.9

Anónimo disse...

Vamos por partes. Em primeiro lugar um Funcionário do Estado não bloga nas horas de serviço. Porque, se não tem nada para fazer, está a mais e deve ir para a mobilidade. Depois, só com a permissão de João Almeida é que há direito a diálogo. Porque o texto é dele, e o espaço no Blog idem. Se essa permissão for aceite as respostas são as que se seguem:
1 - Quanto ao 3.º passo lógico, vem, até, ao encontro da liberalização do desporto no contexto da liberalização da sociedade e da economia portuguesa sufragada pelo voto popular em 5 de Junho de 2011, e protagonizada pelo programa político do XIX Governo. Esse 3.º passo constitui uma reorganização das funções, das relações e dos fluxos financeiros entre o Estado e os agentes e instituições responsáveis pelo Desporto em Portugal. Se quiser, o início de um «novo contrato de responsabilidade e de compromisso colectivo». Esse «novo modelo organizacional e de governação do Desporto» está resumido num esquema que cabe numa página A4, e que apresentei em 2008. De bibliografia chega essa página A4 para qualquer pessoa o compreender. Devo ainda acrescentar que, na minha modesta opinião, esta é uma excelente oportunidade para se iniciar essa reforma … que devia ter sido feita há 20 anos, e que, por falta de coragem política dos vários partidos, tem tardado. O Estado não pode continuar a financiar a falta de produtividade e de competitividade de alguns sectores do desporto. Porque isso leva, como estamos a sentir hoje, à ruína colectiva de Portugal. Leva a tornar os nossos ‘pontos fortes’ mais ‘fracos’. Não ter coragem para dar este 3.º passo é mantermo-nos num caminho em que seremos todos perdedores. Os dois passos anteriores foram: i) O primeiro passo foi a definição do tal «Modelo e Estratégia de Desenvolvimento do Desporto 2005-2013» que ficaram escritos nas Fichas QREN entregues em 2006 na UE, das quais resultaram os apoios recebidos entre 2007-2011 (foi isso que permitiu a impressionante capacidade de realização dos XVII e XVIII Governos pois permitiu o financiamento comunitário das mais de 5 centenas de obras que foram feitas em todos os Distritos do país, desde as 380 obras de beneficiação em pequenos clubes, passando pelos 80 campos de jogos em diferentes Concelhos, pelos 100 mini-campos, até aos 14 centros de alto-rendimento); juntamente com a decisão política de financiar o Desporto com uma outra percentagem das receitas dos Jogos, facto que permitiu aumentar o valor do financiamento ao Desporto, abrindo as portas a uma indexação não tão presa a uma lógica estatizante e mais consentânea com a sustentabilidade e a realidade sócio-económica do país. ii) O segundo passo foi a profunda Reforma Legislativa, a qual possibilitou salvaguardar o interesse público, e a justa representatividade dos diferentes agentes desportivos nas assembleias das federações sem destruir a sua centralidade no Sistema Desportivo, abrindo a possibilidade à adopção de soluções futuras mais libertas e flexíveis de organização e governação do Desporto em Portugal. É por isso que é possível, agora, propor uma solução mais liberal e não tão subsídio-dependente, sem que isso perigue o interesse público ou deixe o Desporto entregue a um “liberalismo selvagem”. É por isso que se aguarda com curiosidade qual a coragem que o XIX Governo terá…
2 - Quanto ao novo Secretário de Estado, verificamos que está legitimado pelo voto livre e democrático, é um jovem de valor, e os velhos que fizeram a Portugal o resultado a que chegámos após 30 anos de governação devem dar lugar a uma outra possibilidade. Até porque provavelmente vão morrer antes, e Portugal tem direito a desejar ser melhor do que foi nestas últimas 3 décadas. Ou não?

Funcionário do Estado

Anónimo disse...

(Cont.)
3 - Quanto à visão utópica e irrealista da Europa de Tenreiro, só há uma forma de o fazer acordar dessa ilusão. É mostrar-lhe os resultados de Portugal após 20 anos de «Europa». As elites portuguesas, as empresas portuguesas dominadas por essas elites, o investimento dessas elites, etc. etc. tem sido orientados para a relação atlântica cujos pólos são inequivocamente o Brasil e Angola, mas também para a Índia via Moçambique. Ó Amigo Tenreiro, essas elites, através dos movimentos financeiros em offshores, não deixam que isso transpareça nas estatísticas do INE ou do Eurostat (!). Há séculos (desde as caravelas do Gama) que esse fluxo paralelo de «dinheiro» é gerido assim. E é-o, evidentemente, porque esse é o comportamento correcto face ao maior poder bélico dos nossos competidores. A partir dos anos 1990, sorrateiramente, a contra-ciclo com o discurso político, as elites portugueses «fugiram» da Europa (não é a 1.ª vez que o fazem pelos mesmos motivos de agora, não é?). Pela simples razão que «sabem fazer contas». Pela simples razão de que perceberam que não era na Europa que acrescentavam valor aos seus produtos, e ganhavam os lucros desejados (nunca o foi no passado, nem nunca o será no futuro). Na Europa mandam os que lá estão a mandar desde os Hasburgos e do Império Austro-húngaro, e não deixam lá entrar ninguém que lhes faça dividir esse lucro. Até querem, desde tempos imemoriais, comprar esta quinta à beira-mar plantada. Só a ingenuidade de Tenreiro, e a sua utopia religiosa pela «União Europeia», o não deixam acordar deste sono letárgico que, em lume brando, afunda e leva Portugal à ruína. Ó Amigo Tenreiro, a Economia tem um «contexto» que não é económico. Esse «contexto» não se aprende nos cursos nem nas faculdades de Economia. Todavia sem ele, todo o conhecimento económico não é nada. A Economia «sucede», não antecede. Sucede a algo que não é económico, e que lhe dá a razão de ser nas várias modalidades em que ela se expressa. No Desporto é o mesmo, relativamente a essa «Europa que Tenreiro e outros defendem» unidos na partilha dessa mesma utopia filosófica. Eu acho, assim como cada vez mais portuguesas/es, que os «tenreiros da Europa» (perdoe-me a expressão que não é ofensiva, mas apenas uma figura de retórica) foram enganados e ainda não perceberam.

Funcionário do Estado

Fernando Tenreiro disse...

Caro funcionário anónimo

Ainda ontem a Liga divulgou dados preliminares da dívida acumulada dos clubes de futebol em 500 milhões de euros.

Os dados estatísticos da produção estatística sugerem um afastamento da média em termos relativos e dinâmicos.

Quanto à economia os indicadores europeus sugerem há muito que o custo unitário da produção é superior em Portugal e que a estrutura de produção é ineficiente.

Ora esta Europa que uso para fazer o benchmarking de Portugal é bem real e relaciona-se com a construção do bem comum e os indicadores colocam-nos atrás.

Os indicadores estatísticos disponíveis mostram que a teoria dos passos lógicos é para o abismo.

Quanto aos investimentos em infra-estruturas você está perdidamente a mancar com o pessoal. Só pode. Investiram-se milhões de milhões em infra-estruturas e não há estatísticas. Há autarquias e organizações desportivas falidas mas não há estatísticas nem estudos que demonstrem o que fazer e como fazer para ajudar as organizações privadas a defrontar os desafios do mercado.

A reforma legislativa está por compreender a sua eficiência e eficácia. Você trabalha no registo de que a produção legislativa se justifica por si e se o agente privado ou público não a aplica uma coisa qualquer pode acontecer.

O que é que pode acontecer? O decisor logo decide.

Você define uma série de passos lógicos que articula no QREN para aplicar os dinheiros da União Europeia, a tal que é mesquinha, e passa ao passo lógico seguinte. O decisor que decida o agente privado que se cuide.

Com os seus passos lógicos está no céu de uma secretaria de estado a gastar o dinheiro do Estado e depois vem dizer que os velhos é que o gastaram.

Era importante que houvesse alguma humildade sobre o que se faz e diz e deixar o tempo fazer o seu trabalho para se compreender o que realmente se fez e se comparar com o que outros possam fazer.

A responsabilidade pelo que se passou nos últimos 6 anos é bem clara e também não tenho de ser eu a apontar uma solução acabada ou ser o único a fazer frente ao PS que perdeu as eleições.

Afinal humildade e os pés na terra foi algo que nos últimos tempos escasseou em Portugal.

Desculpe-me se fui brusco mas desejo-lhe o melhor dos futuros com isto querendo dizer que por exemplo o PSD caia da cadeira amanhã e você e os seus amigos voltem para a SED já depois de amanhã.

Como venho a sugerir-lhe nos pontos anteriores o seu discurso não é para mim e não continuarei a comentar o que diz.

Só que o que você diz à luz do que apresentei não fará muito sentido.

As maiores felicidades para si e para os seus.

Luís Leite disse...

Falar verdade:

O Desporto português está moribundo e não há responsáveis. Ou há?
A um ano dos Jogos Olímpicos, tenho muita dificuldade em vislumbrar medalháveis, que só poderão emergir do Judo e da Canoagem e em quantidade muito reduzida.
Neste momento, se tivesse que apostar e até prova em contrário, julgo que o melhor é contarmos com ZERO medalhas e muito poucos diplomas (até ao 8º lugar).
Nãp posso deixar de agradecer o esforço legislativo dos anteriores Governos e a construção, com critérios desconhecidos e na maioria errados, de inúmeras instalações desportivas.
Mas temos sempre garantida uma legião de REFORÇOS sul-americanos e as maravilhosas claques futebolísticas para nos alegrarem.

Anónimo disse...

No site do QREN não se vê nada de desporto, para além de desporto na natureza num dos documentos em http://www.qren.pt/

Anónimo disse...

A obra deixada pelos XVII e XVIII Governos é esta: - “Numa prova que reuniu no Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho mais de 1.000 canoístas em representação de 50 clubes, Portela, a terceira melhor atleta do mundo em 2010 (participou em nove das 17 medalhas internacionais conseguidas por Portugal), impôs-se nas três distâncias” (dixit). Mas há mais. Lembram-se, antes de 2005, o Francis ter que ir para Madrid porque não havia centro de alto rendimento para o Atletismo? E hoje ouvem algum atleta dizer isso? É bom lembrar o seguinte: No próximo Inverno, será o primeiro desde D. Afonso Henriques que o atletismo pode treinar alto rendimento numa nave coberta, com aquecimento, e com os requisitos técnicos e científicos ao nível do melhor que se faz no mundo. A obra deixada pelos XVII e XVIII Governos é esta… E muito mais, que no futuro trará o desenvolvimento ao desporto português. O resto é muita conversa fiada.
Hoje não há disponibilidade financeira para o XIX Governo investir como o anterior Governo fez. Não é justo portanto pedir, face ao actual contexto, o mesmo. Mas o contributo pode ser à mesma relevante se, num outro nível de actuação, conseguir dar o 3.º passo que propusemos para a o Modelo de Governação e Organização do Desporto Português.

Funcionário do Estado

Luís Leite disse...

Ó Funcionário do Estado,

A nave coberta do Jamor só foi projectada e construída porque os atletas recém medalhados de ouro Nelson Évora e Naide Gomes também disseram que pensavam em ir para Madrid.
Se não fosse essa "jogada", em que o Nuno Laurentino teve um papel importante junto do Secretário de Estado, não havia nave coberta do Jamor.
E recordo aqui que mesmo assim não foi fácil convencer o IDP da validade da ideia e do Programa Base, de minha autoria, já que todos se opunham à sua conctretização.
Isto para não falar do grande atraso na conclusão da obra, do impedimento da minha entrada nela e no facto de eu não ter sido convidado para a inauguração.
Uma vergonha!...
Já agora, esqueceu-se dessa maravilha de 16 milhões de euros plantada em Sangalhos que serve para... E das dezenas de pistas de atletismo cheias de erros e sem apetrechamento nem atletas, com relvados sintéticos (inacreditável) aprovadas e financiadas, sem consultar a FPA, em locais absurdos e com características inadequadas.

Fernando Tenreiro disse...

Felicito o Colectividade Desportiva por concitar actualmente a intervenção de múltiplas visões sobre o desporto português as quais são por vezes contraditórias.

A oportunidade de expressar visões diferentes é democraticamente vital.

Por exemplo, a discussão sobre a oportunidade dos investimentos públicos e privados tem, mesmo entre os economistas, posições distintas que devem ser vistas como contributos para o sucesso das políticas e visões promotoras do bem-estar da população.

Outra atitude é o de considerar que a 'obra pública' é inamovível, perene, inquestionável e sem custos para o cidadão que paga impostos.

Pergunta-se também: Se toda a gente gere bem as suas finanças pessoais, porque é que se hão-de fazer análises económicas sobre coisas como a arbitragem ou as ligas profissionais e as amadoras?

Porque existem posições contraditórias é que nas sociedades modernas se desenvolveram conceitos de democracia e instrumentos para o seu exercício pela totalidade da população como a Internet e os blogues.

O Colectividade Desportiva é um desses lugares modernos onde por contradição máxima falam com liberdade aqueles que por obras e palavras se distinguem pela autarcia dos comportamentos e a insuficiência de bem-estar comum.