quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Viver juntos e ter vidas separadas

Num governo de coligação uma desavença entre os partidos que o suportam capta a atenção pública. E quando essa desavença é dramatizada ao ponto que recentemente o foi, mais ainda. E tendo como pano de fundo um contexto muito amplo de desagrado à ação governativa a situação torna-se explosiva. Mas num governo o risco de desagregação não é exclusivo deste tipo de situações.
Nada existe de pior que um secretário de estado deixar criar a ideia que, para resolver um problema, o melhor é falar com o ministro. Não precisa de o assumir. Basta que pela sua atitude conduza a que assim se pense. É fatal que isso é uma forma de se desautorizar e fragilizar. Pior fica, se o ministro, confrontado com um problema que ele não resolveu ou resolveu mal, não tem tento na língua e aproveita para fazer considerações de que não sabia de nada. É óbvio que ninguém vai assumir que as coisas se passam assim. Mas passam.
Em todos os governos podem ocorrer situações deste tipo. São situações que minam a confiança entre pares e que vão degradando relações. Mas a que nenhum está imune. Estas situações levam-nos a reflexões mais alargadas que nos conduzem a questões tão importantes como o modo se constrói uma equipa governativa. É comum nessa equipa as pessoas não se conhecerem. Nunca terem trabalhado juntos. Nunca terem avaliado os que as une. E se existe alguma convergência para um trajeto comum.
A manutenção de situações deste tipo, a prazo, metastiza toda a atividade governativa. Se entre ministro e secretário de estado não existe confiança o caldo está entornado. Pode haver juras de amor eterno ou representação pública de fidelidade, mas é para consumo público. Lá em casa o ambiente é de cortar à faca. Qualquer dificuldade é um problema. E qualquer falha é entendida como uma traição.
O que hoje se está a viver na governação do desporto tem um pouco de tudo isto. E o seu prolongamento adiará algo que mais cedo ou mais tarde vai ter de ser corrigido. A coisa dificilmente podia correr bem. E não são só razões políticas que ajudam a perceber o que se passa. Na vida nem tudo é resolúvel com saber e conhecimento. É preciso alguma sabedoria. Que não vem nos livros, não está escrito em nenhum manual de governação, nem se aprende nas sinecuras do lobismo partidário. É a experiência da vida. E quem a não tem, não tem como a substituir.
Numa pasta em que o ministro tem várias áreas de responsabilidade política o desporto é governado nos intervalos. Precisa de um secretário de estado em quem possa depositar estrita confiança. E um secretário de estado que nutra igual sentimento. Em que a delegação de competências não seja um ato formal e administrativo mas uma demonstração de confiança política e pessoal. Precisa o ministro e precisa o respetivo gabinete. Se isso não ocorre o que deveriam ser mecanismos de solidariedade e de cumplicidade, transformam-se em mecanismos de desconfiança e de desgaste.
Não é preciso ser bruxo para compreender a procissão que desfila. E que já saiu do adro. Enganam e enganam-se os que pensam que a governação é um simples ato de representação. E que tudo é disfarçável. Ou que o tempo dilui as coisas. Ou que não se sabe. Não é assim. E a partir de determinado momento há situações que não são reversíveis. Numa família pode-se viver junto e fazer vidas separadas. Num governo não.
Como aqui escrevemos muitas das políticas públicas para o desporto-e não nos referimos apenas ao governo atual- perderam o norte. E as políticas associativas adaptaram-se aos ciclos políticos sem qualquer autonomia estratégica. A crise financeira só veio agravar a situação porque é a perda de um dos elementos que foram essenciais para o equilíbrio deste sistema: o financiamento público. Se a estes problemas acrescentarmos o da falta de estabilidade e confiança entre os principais governantes do desporto, onde vamos parar?



22 comentários:

Luís Leite disse...

Por este caminho, no Desporto como no resto, vamos parar à miséria.
Miséria económico-financeira, mas pior que isso, miséria ética e moral.
A falência completa de um Regime.

Anónimo disse...

Os responsáveis do blogue deviam calar o Arquitecto. Algum pudor não fica mal a ninguém. Porque para misérias já basta o Aquiteto. Ele é a miséria do pensamento.O país está assim porque os portugueses se julgam no direito de ter opiniões sobre tudo. Mesmo quando acerca do assunto não sabem nada. O Arquitecto devia ser considerado um estudo de caso. Quer-se dizer um caso perdido.

Anónimo disse...

No último ano e meio assistimos ao desgoverno total do desporto. Os responsáveis estão desorientados e perdidos sem saberem para onde fugir. O secretário é recebido com vaias e apupos sempre que passeia de carro. Perceberam que chegou ao fim a brincadeira no recreio desportivo. Eles já estão à procura de novos tachinhos. Deixam um triste rasto na sua passagem. Foi a legislatura mais irresponsável e incompetente de sempre no desporto, ficando na memória das pessoas do desporto e dos portugueses pelas piores razões. Basta.

Fernando Tenreiro disse...

Quem anda nestas vidas há algumas décadas sabe que um dia é da caça e o outro é do caçador.

Falo por experiência própria e por reconhecer que há dias menos bons e que não é curial calar ou fazer calar terceiras pessoas.

Não é curial porque a voz que se quer calar não é um obstáculo à projoecção das melhores vozes para além do que não sabemos se subitamente uma voz 'má' não gera uma preciosidade.

Se quisermos falar e passar ideias diferentes podemos sempre fazê-lo. Podemos também realçar palavras de outros e criticar mas é problemático calar ou mandar calar.

Sobre o testemunho de José Constantino ele deve ser tomado como uma pessoa que tem um conhecimento material de como as coisas se podem fazer melhor e no passado se fizeram de outra forma.

Sem dúvida, por outro lado, que José Constantino seria um excelente candidato ao Combate dos Chefes, refiro-me às eleições do COP, para líder dos líderes federados portugueses.

Infelizmente o nosso modelo de Governança inclui candidatos que não o deveriam ser e exclui outros candidatos que pela sua ausência são uma potencial menorização da magnífica eleição.

Luís Leite disse...

Quer-se dizer...

Luís Leite disse...

Caro F. Tenreiro:

Quer queimar JM Constantino?
Eu prefiro tê-lo de fora da "governance".
A comentar e escrever sobre Desporto.
Com o devido respeito.

Anónimo disse...

Repito:
Será sensato tentar resolver num ano, ou em três, um problema com 30 anos de erros?
De quem é a culpa desta insensatez, apesar de não ter culpa da outra?
Em vez de nos deixarmos gozar por esses, que do exterior nos causam estas frágeis lutas fratricidas, porque não juntamos as nossas forças para pacificamente os derrotarmos?
Esse não é o alvo exterior que devíamos atacar, isto é, com quem devíamos «negociar»?

A caraterística (cultural) da agressividade portuguesa (não ponho a bibliografia para que alguns não se sintam ofendidos) é virarmos essa energia para dentro. Em vez, como noutras Culturas, de escolhermos um alvo fora. Os «brandos costumes» são apenas a expressão de uma aparência. Dada por estarmos habituados derrotarmo-nos a nós próprios.
Esta mudança cultural é mais difícil de concretizar, e não se faz com eleições. Sermos mais competentes Coletivamente (como o são outros países) também passa por esta Mudança que nenhuma Folha A4 consegue resolver.
Alguns dizem que o orgulho português morreu todo com a tragédia Sebastianista, e que só ficaram cá os Fadistas e os seus descendentes.
Não haverá por aí alguém que tenha sobrevivido a este Fado, e queira trilhar esse novo caminho da «competência coletiva»?
Quando?

Talvez

Anónimo disse...

Dr. Tenreiro:
O Dr. Manuel Brito com o apoio da máquina socialista já se está a afiambrar.
Claro que o Arq. também pode ser um candidato da direita CDS. Até já excluiu o Dr. Constantino um candidato apoioado naturalmente pelo PSD.
Mas, se virmos bem, o Dr. Fernando Mota também espreita a sua oportunidade. O homem já não tem para onde ir e 4 anos ou mais de COP devem-lhe estar a abrir o apetite.
Vamos ver.

Fernando Tenreiro disse...

O António Saraiva é o Patrão dos Patrões.

Podemos gostar ou não do que ele diz.

Uma coisa é certa: os Patrões andaram divididos durante décadas em milhentas organizações até que recentemente elegeram uma instituição representativa e um líder.

Gostemos ou não António Saraiva é o líder dos patrões e essa imagem passou para a sociedade.

Em cada ocorrência que lhes diga respeito, como as medidas do Governo, deste e daquele ministro ou da União Europeia aparece o AS na televisão ou na rádio e com ponderação afirma a posição do seu sector.

O desporto não tem esta instituição e não tem esta imagem social.

Desde quando a opinião de um marginal como eu pode queimar um candidato?

Não será o modelo de Governance vigente no desporto português mais mortífero do que aquilo que se pode afirmar num blogue qualquer?

O desporto português está destruído não por aquilo que se diz nos blogues mas pelos instrumentos e comportamentos reais que usa e pela incapacidade dos decisores em criarem soluções viáveis para Portugal no competitivo desporto europeu.

Aprecio o que me parece o seu esforço de me pressionar a calar e a não fazer propostas ou veicular ideias.

Fernando Tenreiro disse...

Não me preocuparia com as máquinas e a experiência e modus operandi deste e daquele.

A questão relevante é que as soluções para o século XXI são nossas e esse debate cabe a todos.

Aliás essas máquinas são úteis para o desporto ir mais longe e o saber-fazer de alguns dirigentes deveria ser valorizado e colocado ao melhor serviço do desporto.

Como fazer isso?

A conversar é que a gente se entende, diz-se.

É difícil falar de um possível líder para o COP sem falar de uma série de nomes.

Mas creio que o instrumental da eleição deveria passar pelo debate de ideias que o COP está a deixar passar, propositadamente ou não.

Temos que proteger o desporto e todos os candidatos que se possam falar por aí são um capital humano raro que o desporto português tem e que não sabe usar atirando uns contra os outros, em vez de os categorizar e usar bem de acordo com objectivos distintos, e isso é uma das nossas catástrofes.

Luís Leite disse...

Fernando Tenreiro:

Você interpretou-me mal.
Você não é um marginal.
JMC não é candidato (que eu saiba).
Se JMC fosse para lá, iria ficar arranhado e chamuscado.
O que seria chato. Não merece.
É apenas uma opinião.
A minha.
Se é para mim, não tenho o mínimo interesse em fazer nada do que você diz que lhe parece.
Com o devido respeito.

Anónimo disse...

O Manuel Brito ?
Outra vez ?
Vas Exas têm a noção do que foi o mandato como presidente do ID ou lá como se chamava na altura ?
Conhecem alguma obra do senhor ?
Ou conhecem as barracas internas que pela infante santo se viveram ?
Olhem lá......se fosse ao PS não arriscaria....
Antes o Fanha Vieira :-)

Anónimo disse...

O Fanha é um tipo bestial mesmo, bestial mesmo bestial, ... Fanha o bestial!

Anónimo disse...

Atenção, se começam a mandar cá para fora o nome do Arquiteto, ele vira candidato. Isso não, por favor.
JMC é um excelente escritor, analista do que é o desporto, mas quando lá esteve não acrescentou muito.
Fanha? Não me parece. Talvez Mário Santos? Quem sabe.

Bestial

Anónimo disse...

Manuel Brito? Fernando Mota? Vicente Moura?
As Federações vão continuar a viver juntas e a ter vidas separadas.

Luís Leite disse...

Ó Sr. Bestial,

Eu até aceitava que você não quisesse que eu fosse eleito.
Agora não querer que eu seja sequer candidato?
Acho que é não querer demais.

Seja como for, esteja descansado, porque eu não sou candidato a nada a não ser a gozar a minha reforma o melhor que puder, enquanto puder.
E usufruir da companhia do meu netinho, que faz amanhã um ano.

Agora calarem-me, não é fácil... Muito menos anónimos.

Anónimo disse...

O problema do Governo são os Miguéis Relvas por trás do Miguel Relvas e o desporto tem destas 'matrioskas', umas dentro das outras, chamem-se António Arnaut, João Lagos e o BES, o futebol com e sem Pinto da Costa e os seus lugares-tenente ou os cérebros da PLMJ e chega-se à conclusão que o Alexandre Mestre é irrelevante ao ponto de poder sobreviver ao ministro que o nomeou.

Anónimo disse...

Assim não.

Notícia «Lusa»:

Cena 1: O consultor do Governo para as privatizações, António Borges, defendeu hoje que a Taxa Social Única (TSU) é uma medida "inteligente" e acusou os empresários que a criticaram de serem "ignorantes".

Cena 2: “O presidente da Logoplaste, Filipe de Botton, defendeu que António Borges, que acusou os empresários que criticaram a redução da TSU de serem "ignorantes", tem "uma atitude que demonstra total ignorância do que é o tecido empresarial português". "Está a ter uma atitude que demonstra total ignorância do que é o tecido empresarial português", reagiu o empresário Filipe de Botton, defensor de que a redução da Taxa Social Única (TSU) para as empresas "não faz qualquer sentido" e revela uma "insensibilidade social perfeitamente inaceitável".

Talvez esteja na altura de se ter bom-senso, e estancar as críticas «internas».

Ou não?

Talvez

Anónimo disse...

Assim não.

Em declarações à Lusa, Filipe de Botton disse que "é pena que [António Borges] fale sem conhecimento", acrescentando que o consultor do Governo em matéria de privatizações "nunca trabalhou na vida, nunca teve de pagar salários e não sabe do que está a falar".

O presidente do grupo Kyaia, Fortunato Frederico, afirmou este sábado que ficou "ofendido" com as afirmações de António Borges, que acusou os empresários que criticaram a redução da TSU, de serem "ignorantes", acrescentando que, "às vezes, dá vontade de desistir".

O presidente da CIP, António Saraiva, considerou hoje "infelizes" as afirmações de António Borges, que acusou os empresários que criticaram a redução da TSU, de serem "ignorantes", realçando que a maioria das empresas não contrataria o consultor do Governo.

Porquê?
Tal como referi aqui, não faz sentido resolver uma insensatez com outra insensatez. A insensatez de 30 anos de dívidas não se resolvem com a insensatez de as quererem resolver num ano ou três.
É preciso coragem para nos unirmos para dizer aos credores que pagamos, mas pagamos em 10 anos.

Quando essa coragem substitui esta luta fratricida a que assistimos?

Talvez

Anónimo disse...

Atenção.

“O economista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Daniel Vaughan-Whitehead considera que o setor público português deixou de ser atrativo para os jovens mais qualificados e que a austeridade poderá comprometer a qualidade dos serviços públicos.

"O que nós vemos é uma redução do capital humano no setor público, os trabalhadores mais qualificados estão a reformar-se e a ser substituídos por funcionários com menos qualificações porque o setor já não atrai os jovens mais qualificados", disse o economista em declarações à agência Lusa a propósito de um estudo da OIT ainda a publicar sobre o impacto das medidas de austeridade sobre a Administração Pública.
Para Daniel Vaughan-Whitehead, o principal autor do estudo, o objetivo dos cortes no setor público português é "pagar menos e conseguir mais".
"No entanto, se estes ajustamentos não forem realizados corretamente, irão custar muito dinheiro e, no final, o Estado pagará mais para conseguir menos", alerta.
Para o responsável da OIT, é necessário, desta forma, que as reformas na Administração Pública "contemplem os efeitos de longo prazo e que analisem quais os serviços e que tipo de sociedade queremos ter no futuro".
O estudo com o título "Public Sector Shock: The impact of policy retrenchment in Europe", que conta com a colaboração de especialistas de vários países, caracteriza uma Europa que desvaloriza cada vez mais os funcionários públicos.”

Talvez

joão boaventura disse...

Anda tudo baralhado como o cego que apalpa um elefante e descobre que é outra coisa.

E eu, como sou cego, tateei a fotografia e descobri tudo: representa um coro governamental cantando ritualmente todos os dias, às seis da manhã, ao Chefe Iluminado, o célebre Amigos para Siempre

Anónimo disse...

Prezado João Boaventura, para amenizar a insensatez apetece espicaçar os Jovens. Não espicaçá-los por causa da falta de coragem política demonstrada até ao momento por todos os partidos, por preferirem a luta fratricida à luta contra o verdadeiro «inimigo». Aquele que lucra com a crise milhões de milhões em juros, e que só ele decide a seu bel-prazer sem qualquer escrutínio, ao que ainda lhe acresce o bónus de obter a subjugação da soberania, essa que não devia ser vendida a nenhum preço.
Provocar os Jovens perguntando se o «inimigo» não quer outra coisa. Uma coisa que Portugal tem. E que o faria rico e próspero. Refiro-me, passo a citar: “Vulcões de lama com metano. Fontes hidrotermais que expelem água com ouro e cobre, ou crostas no chão-marinho com cobalto e níquel. Tudo recursos já encontrados no mar português, que vai crescer até termos um território do tamanho da Índia.”.
Porquê só em 2005? Concretamente a partir da CIAM (de que tive a honra de ser membro) se começaram a calcular e explorar essas «reservas»?

Talvez haja Futuro. De certeza que há, se soubermos não nos derrotarmos uns aos outros com este truque estrangeiro da insensatez que venho repetidamente referindo há muito.

Talvez