terça-feira, 28 de junho de 2011

Mestre ao leme

A escolha de Alexandre Mestre para novo titular da secretaria de estado do desporto é uma excelente escolha para quem manda. Fica por demonstrar que o é também para quem é mandado.
A quem manda é sempre bom ter alguém leal, disciplinado, sempre elogioso, trabalhador incansável, metódico, pronto para tudo. E que não levante problemas. E que se fascine e idolatre quem o nomeou. A ponto de Passos Coelho ou Miguel Relvas correrem o risco de terem direito a foto na secretária do novel secretário de Estado. No que, se acontecer, não serão os primeiros. Neste sentido o governo não podia ter escolhido melhor.
Quem é mandado precisa de ser bem tratado. De ser ouvido. Dispensa bem a pose institucional e os formalismos do exercício do poder.Basta perceber que quem está do outro lado está lá para servir e não para agradar a quem manda. Sem truques. Que não trata os que estão em baixo com despotismo.Com desconfiança.Com insegurança. Que se preocupa menos com o que dizem dele e mais do que o que diz aos outros. Que perceba que nem sempre, quem manda governa. E que para governar é preciso saber mandar. Que entenda o que é o serviço público para além das mordomias e dos protocolos. E aqui o novo homem do leme vai ter de prestar provas.Com inteligência e sem sectarismo. Sabendo vencer o medo.
Nos últimos anos o PSD tratou as questões do desporto com vacuidade e ligeireza. Não se conhece um texto, uma opinião, um pedaço de doutrina que permita perceber qual é o entendimento que o partido que lidera o governo tem sobre os problemas desportivos do país. A sua produção é nula. A oposição à governação socialista ausente. E o programa com que se apresentou às eleições um mar de lugares-comuns. Nas palavras de um antigo governante (Hermínio Loureiro), o novel secretário de estado é um homem com um “pensamento estruturado” e com “uma visão estratégica sobre o desporto português”.Não sabia. É uma surpresa. Nunca li ou ouvi algo sobre a matéria. Mas não faltarão oportunidades para conhecer esse pensamento e essa visão, seguramente, do conhecimento, até à data, de um círculo restrito de pessoas.
De resto é curioso perceber a ideia pateta e provinciana ,já presente no programa eleitoral do PSD de que basicamente se trata de replicar internamente o designado modelo europeu de desporto – em crise na generalidade dos países europeus –o que significa preguiça intelectual e incapacidade de perceber que não é possível ser liberal na economia e estatista no desporto.
Resta aguardar pelo programa político para perceber ao que vem e ao que se propõe. Pode ser que o futuro nos traga surpresas. E que o leme entregue ao mestre, signifique também um mestre na arte de dirigir o leme.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Poupar

Há os que saem. E os que se preparam para entrar. Quem sai, sabe o que deixa. Quem entra, sabe o que vai encontrar? Como o primeiro-ministro declarou que a regra é a de não encontrar desculpas com o passado, só resta, a quem entra, governar. E fazê-lo bem.
Pode-se perguntar se quem entra já sabe o que vai fazer. Se tem alguma noção do quadro da realidade do sector. Se tem uma opinião sobre o trabalho político realizado pelo anterior executivo. Vamos acreditar que a resposta é afirmativa. E que sabe o que fazer. E por onde começar.
A generalidade dos comentadores considera que a margem do governo é escassa. Tudo quanto tem a fazer está definido nos acordos com a troika. Mas como esses acordos incidem sobretudo no controle das contas públicas e nos sectores que para esse efeito mais concorrem há, ainda, um vasto conjunto de áreas que estão para além dessa definição de políticas. É o caso do desporto. E a pergunta a colocar é esta: qual é o efeito sobre o desporto das políticas a que o país se vai sujeitar.
A resposta é bem mais importante do que discutir onde organicamente o desporto fica colocado. Boas políticas e uma estratégia, que é a questão substantiva, sobrelevam sobre a formal, que é o modo como no aparelho de estado se articula a relação entre o decisor político e o executor. Não é irrelevante, mas também não é a questão critica fundamental.
O critério político sobre modos de garantir a governação pública do sector vai viver com problemas que se conectam: crise das finanças publicas, recessão económica e sustentabilidade. O erro será pensar que o risco de sustentabilidade é consequência directa das outras. Agrava-a, mas é-lhe anterior. Pelo que o mais avisado será o de não esperar que o equilíbrio das contas públicas e a retoma económica disponibilizem mais meios para o desenvolvimento do desporto. Enquanto isso não ocorre será necessário reformar/alterar modos de funcionamento em que assenta o sistema desportivo. Falamos intencionalmente em modos de funcionamento e não em mudanças de modelo, porque não há, nos decisores políticos ou nos actores desportivos, qualquer sinal de que percebam o equívoco em que caminha a Europa e o impropriamente designado modelo europeu do desporto.
O que é possível mudar ainda é muito e todos devem ser chamados: Estado, Autarquias, federações e demais organizações desportivas. E mais do que grandes alterações normativas o que se pede é uma outra forma de governance pública e associativa do desporto. Com uma regra a que não há como fugir: poupar,gastar menos. E deve ser o Estado a dar o exemplo. Sendo transparente no modo como gere os dinheiros públicos.E não gastando onde não acrescenta qualquer valor. Três exemplos.
As políticas sectoriais da juventude e dos tempos livres dos trabalhadores (Inatel) não podem continuar configuradas em lógicas de administração autónomas (Instituto público e fundação) replicando politicas sectoriais que bem cabem em outros segmentos da administração pública. É um puro desperdício de meios e de desregulação de politicas que haja três instâncias públicas a definir politicas desportivas. È perfeitamente possível uma economia de custos de funcionamento com o Estado através de uma redefinição de toda a administração pública desportiva acolhendo as competências de outras instâncias cuja extinção é possível com evidentes ganhos de eficiência
É desejável, sem prejuízo da respectiva missão, deixar de ser o Estado central a gerir equipamentos desportivos, centros de estágio e de alto rendimento. Não pode o Estado continuar a pagar deslocações às regiões autónomas de atletas e equipas, que não competindo formalmente em quadros profissionais, na realidade outra coisa não são.
As estruturas orgânicas das autarquias devem caminhar rapidamente no sentido da sua redução e leveza administrativa. E deverão repensar todo o quadro do sistema empresarial local e só manter as empresas que obtém ganhos de economicidade em comparação com os resultados alcançados caso o objecto da sua acção estivesse integrado nos serviços camarários.
Nas circunstâncias actuais, a tarefa é muito exigente. E com um direito administrativo público cheio de armadilhas e alçapões, mais do que exigente, comporta um elevado grau de risco. Mas não há como o evitar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O futuro do desporto em Portugal


Horácio Lopes envia novo texto para a Colectividade o que se agradece.


O Estado gasta anualmente perto de 60M€ a financiar Federações que se dedicam a promover campeonato nacionais e representar o país no estrangeiro.
Das várias FDN que conheço por dentro, uma grande parte deste dinheiro é gasto, não é investido. As FDN têm uma estrutura frágil, assente em pessoas com muito boa vontade mas parcos conhecimentos do que é GERIR DESPORTO e quase nada de GERIR. Quando se adianta que a nível da União Europeia a contribuição do desporto para o PIB está no intervalo 1,5% a 3%, a minha pergunta só pode ser uma:
Quando se vai dotar o deporto de uma estrutura de gestão DIGNA, CAPAZ e com KNOW HOW?

Portugal tem sido governado por pessoas com 80% de política e 20% de conhecimento/formação sobre os assuntos onde intervêm. A solução passaria por ter pessoas que “SABEM FAZER COISAS” como Secretários e Assistentes. Na verdade, todos sabemos que não tem sido assim. Os secretários e assistentes não são pessoas com capacidade técnica mas políticos de 2ª linha…E também há os de 3ª linha e por ai adiante… chegando mesmo a atingir os operacionais que implementam os serviços, que, por incrível que pareça, alguns deles também são políticos, escolhidos dentro dos partidos.

E existem políticos com conhecimentos? Claro que sim! Mas o seu estatuto de políticos, e não de especialistas nesta ou naquela matéria, impede-os de tomarem decisões pensadas a prazo, empurrando-os para a decisão fácil, de curto prazo e grande aceitação. Apesar da velocidade a que se vive actualmente, um país não se gere a um mês ou um ano. É indispensável existir um sólido plano a prazo para o desporto. Quanto às inflexões e obstáculos que apareçam, ultrapassam-se sem perder o rumo, porque existe um plano!

Um país gere-se com ALGUNS políticos a “politicar” as decisões e a fazer o seu trabalho – discutir, falar, exercer influências, pressionar… e, com MUITOS OPERACIONAIS – GENTE QUE SABE FAZER COISAS. Portugal tem sido vítima de uma imigração qualificada nos últimos anos sem precedentes.

As pessoas que SABEM FAZER COISAS estão a fugir! Já se perguntaram porquê? Naturalmente porque os cargos estão todos ocupados com políticos! Gente que fala, fala, mas não sabe FAZER COISAS. Por esse motivo, os que sabem fazer qualquer coisa com qualidade procuram locais onde esses conhecimentos sejam valorizados e utilizados para algo, enquanto no nosso país se continua a falar, falar, mas a fazer COISA NENHUMA.

É tempo de colocar pessoas que saibam fazer coisas a trabalhar! É preciso aplicar soluções a médio e longo prazo para o desporto! O desporto não são apenas medalhas, o desporto é uma forma de estar na vida, é uma parte da cultura de um povo. Um investimento a prazo em desporto potenciará indirectamente o investimento à vista que actualmente se faz em medalhas. Para que o desporto em Portugal seja uma mais-valia para a nossa sociedade potenciando todos os benefícios que muito se divulgam, é necessário dotar o mesmo das pessoas ADEQUADAS para a sua promoção, enquadrando os vários especialistas nas suas áreas de formação. Professores a ensinar, treinadores a treinar, psicólogos a consultar, médicos a tratar, …, gestores a gerir!”

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Profissionais e voluntários

No início do século XIX, nos partidos operários sociais-democratas e nas organizações sindicais europeias, viveu-se um problema que suscitou violentas discussões. A acumulação de poder num pequeno número de indivíduos eleitos cujo grau de exclusividade levou a que fossem remunerados. E que se iam perpetuando no poder. Mas tinham dificuldades em assumir essa profissionalização Um problema que chegou até aos dias de hoje. Nos políticos profissionais e sindicais, pessoas que de há muito deixaram as profissões que exerceram para se dedicarem à vida politica e sindical de modo exclusivo, é habitual indicarem nas respectivas biografias a profissão que um dia tiveram. Não a que têm e de há muito exercem. Existe uma espécie de pudor.Com os dirigentes desportivos que optaram, em detrimento da sua profissão pelo dirigismo desportivo há algo de similar. Será raro quem, quando interrogado sobre a profissão, indique o que de facto faz. Normalmente indica o que fez. Mesmo quando o que fez é bem menor, em tempo de ocupação, do que aquilo que faz.
O facto de se não ser voluntário no exercício de funções dirigentes no movimento associativo desportivo nada tem de censurável. É normal. Um dirigente desportivo remunerado é tão digno como um outro que o não é. A sua actividade não desmerece pelo facto de ter uma relação profissional com a direcção de uma organização desportiva. É preferível que seja remunerado e só isso, do que apresentar-se como benévolo e usar o cargo para actividades conexas com a profissão que exerce ou para tráfico de influências. Mas, no plano dos princípios, entre um e outro dos casos, existem situações híbridas: o da remuneração encapotada. O estatuto de voluntariado é assumido para consumo externo mas na realidade do que se trata é de um verdadeiro emprego. Que explica, muitas vezes, as dificuldades de renovação do dirigismo, porque é normal que quem tem um emprego e uma remuneração só pretenda deixá-los se tiver outra alternativa.
Qual é a razão para um procedimento tão comedido e em que se não aceita a profissão que se exerce? A dificuldade pode estar ligada à tradição desportiva e ao lugar que o amadorismo -conceito equívoco - e o voluntariado ou benevolato assumiram na construção do sistema e das práticas desportivas. Até numa relação incómoda com o dinheiro. Mas a situação só ganha em ser enfrentada com transparência e sem qualquer reserva mental. Quem é voluntário e não é remunerado pelas tarefas desportivas a que se dedica e quem o não é.Com transparência e com a obrigação de cumprir os procedimentos previstos no ordenamento jurídico em matéria de relações laborais e de contrato. Um e outros são a consequência natural do grau de desenvolvimento das organizações desportivas.
O governo que agora termina funções introduziu alguma disciplina neste domínio. No que lhe era possível. E fez bem. Porque em muitas organizações desportivas de topo são recursos públicos que estão em causa. Mas não chega. Um funcionário público aposentado carece de um autorização especial do primeiro-ministro para poder acumular uma eventual actividade remunerada de uma entidade pública. Por que razão numa entidade privada, mas que cujo orçamento é composto basicamente por recursos públicos deve estar livre desse procedimento? Mas a principal obrigação de disciplina pertence às próprias organizações desportivas. Assumir com frontalidade e responsabilidade que optaram por um regime de profissionalização nos termos gerais do trabalho. E não em esquemas onde a remuneração, por que é disso que se trata, está eufemisticamente considerada como compensações por perdas ou outras designações equivalentes e, muitas vezes, fiscalmente censuráveis.
Em Ano Europeu das Actividades Voluntárias que Promovam uma Cidadania Activa, o desporto, que tem a seu crédito um enorme historial a favor da comunidade bem podia, através das suas organizações representativas, valorizar o debate e as iniciativas nacionais sobre o voluntariado. Sem anátemas para quem o não pratica e valorizando quem o continua a praticar.

domingo, 12 de junho de 2011

“Idade é só um número”


Como me fui habituando desde os 13 anitos, de vez em quando paro tudo só para treinar, dirigir ou apenas observar andebol. E foi o que voltei a fazer hoje para ver o jogo Polónia vs Portugal. Para além de admiradora de muitos jogadores portugueses, fui fã do Bogdan Wenta (hoje voltou a demonstrar que quem sabe nunca esquece). Quanto ao resultado e às suas consequências palavras para quê? Como bom seria se o nosso ex-primeiro ministro fosse, como já se alvitra, estudar filosofia para Paris e levasse para o assessorar algumas pessoas que do andebol só se andam a aproveitar há já muitos anos...


Mudemos de assunto a bem da minha sanidade mental.


Ontem vibrei com a vitória da Ana Hormigo, hoje leio radiante num jornal desportivo: “Ana Hormigo teve motivos para sorrir na Taça do Mundo. E “saltou” do primeiro lugar do pódio para os braços do filho.”


Costumo comentar entre amigos/as que o melhor doping do mundo para qualquer praticante, treinador/a, ou dirigente é ter a sua família junto nos momentos desportivos importantes. Tal como ter bons amigos/as, independentemente de valia de contar com mais ou menos “massas associativas”. Bem sabemos como é diferente competir com assistências de meia dúzia de espectadores ou com milhares deles, mesmo que por vezes surjam destes assobios em detrimento dos aplausos que nos catapultam para melhores desempenhos. Mas mesmo com pouca assistência se contarmos com os que diariamente convivem, sofrem ou jubilam connosco já não nos sentimos sós e as nossas fraquezas tornam-se em ameaças para qualquer adversário.


Imaginem, pois, a felicidade que muitos dos agentes que acima mencionei terão ao dispor das presenças dos/as filhos/as nos palcos desportivos assistindo às competições, acompanhando os treinos ou estágios.


Se este é um cenário que comecei a presenciar há muitos anos a nível internacional, entre portas são raros os exemplos vindos sobretudo das mulheres do alto rendimento. Assim, por mais esta vitória, isto é, pela compatibilização entre a prática do alto rendimento e a maternidade, parabéns em dobro para Ana Hormigo e para todas aquelas que, sem qualquer suporte específico e cultura propicia a tal, conseguem permanecer, parar e voltar e ter uma prática desportiva prolongada e feliz, como é bem evidente em mais um bom exemplo recolhido de quem é líder no desporto mundial. Vejam que bonito é...


Um dia, quem sabe, também nós chegaremos a padrões elevados de compreensão pelos direitos humanos e pela paridade na cidadania...!!





quinta-feira, 9 de junho de 2011

Equívocos

O tema da responsabilidade social das empresas encerra um enorme conjunto de equívocos. Muitas vezes associada a uma lógica caritativa esquece o fundamental: a primeira responsabilidade social de uma empresa é criar riqueza, garantir emprego, pagar justos salários e cumprir as suas obrigações fiscais. E se para além destes objectivos estender a sua acção a outras áreas sociais que o faça. Não para obter vantagens. Não para exercício de marketing, de construção de imagem ou outro tipo de benefícios, incluindo os fiscais. Mas porque encontra sinceras razões de índole social para assim proceder.
A lógica da responsabilidade social tem sido progressivamente capturada por uma estratégia de negócio. Não são acções desinteressadas ou altruístas, mas iniciativas que em nome da responsabilidade social escondem lógicas comerciais. O carácter genuíno e desinteressado da acção é falso. E este tipo de actuações chegou também ao desporto. Muita festa, muita gente colunável, políticos e afins, muita imprensa, muito Portugal positivo e solidário. E lá dentro negócio.
Quem não é sensível a uma iniciativa desportiva cujos fundos revertem para uma causa social? Ou para um sociedade que luta contra uma doença? Ou para uma instituição de solidariedade social? Ninguém ousará contestar o mérito de uma medida deste tipo. Porque na grande maioria dos casos não tem condições de avaliar se por trás da acção benemérita se alberga um negócio. E em muitos casos é disto que se trata. Uma parte vai para a entidade beneficiada, mas a outra fica com a entidade organizadora que pelo carácter supostamente altruísta da iniciativa recebe ainda sobre forma gratuita bens e serviços que em outras circunstâncias teria de pagar. Não é uma acção de apoio social. É um aproveitamento indevido com o pretexto de apoio a uma causa social.
O que está errado em tudo isto? A falta de transparência. Que uma entidade que venda bicicletas promova iniciativas de uso da mesma nada há a censurar. Mas que o faça com recurso a meios públicos e embrulhando a promoção em objectivos de recolha de fundos para esta ou aquela acção social é uma mistificação. É uma aldrabice. E o mesmo sinal pode ser replicado pela acção generosa de alguns agentes do desporto que sempre ofereceram um chouriço na esperança de receberem um presunto. Bem sei o melindre que a situação comporta. E quem organiza este tipo de eventos conta com o desconforto que é denunciar este tipo de situações. E por isso multiplicam-se as iniciativas desportivas com supostos fins de solidariedade social.
Não podemos daqui concluir que todas as organizações que organizam eventos desportivos no âmbito de os programas de responsabilidade social o não façam de forma legítima,lícita e sincera. Mas é preciso estar atento.E separar o trigo do joio.Porque há muito negócio que se montou à volta do desporto em nome de causas sociais.E para essse peditório quem quer dar,que dê.Mas que o faça devidamente informado.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Vamos finalmente trabalhar em equipa?

Nos últimos dias ouvimos diversas vezes apelar à capacidade de trabalharmos todos juntos, alinhados, com um objectivo comum e, concordando ou não, a 'remar' todos para o mesmo lado. Como uma equipa, certo? De acordo!

Mas porquê agora? Ou sempre foi e de alguma forma, essas palavras diluíram-se por interesses e objectivos individuais, desalinhados e sem qualquer estratégia de inclusão de todas as partes que devem estar envolvidas?

Observando com mais atenção, deparamo-nos com diversos tipos de organização:

- As que já trabalhavam, trabalham e querem continuar a trabalhar em equipa apesar de terem consciência que não é uma solução mas uma ferramenta, e como tudo, existem momentos em que os resultados não são os desejados e mesmo assim, não desistem de os alcançar em equipa;

- As que afirmam desejar trabalhar em equipa e por ‘ondas sociais’, consideram que em alguns momentos é bem aceite socialmente o apelar a trabalhar em equipa, alinhados, objectivos comuns, mas apenas nos momentos mais difíceis da sociedade, organizacional ou grupal;

- As que trabalhar em equipa vai contra tudo o que está institucionalizado individual e organizacionalmente, mas, quase obrigados, afirmam que trabalhar em equipa pode ser uma das receitas que já são utilizadas por outras, pelo sim pelo não, deixa cá ver o que dá isto!

O factor ‘trabalho de ou em equipa’ entrou claramente no nosso vocabulário. Associado a bons resultados empresariais e desportivos, o processo de trabalho em equipa está invariavelmente no nosso discurso quando desejamos premiar um conjunto de pessoas que conseguem atingir bons resultados. São vários os exemplos em discursos de motivação colectiva ou como factor crítico de (in)sucesso para determinados resultados ou o alcançar dos mesmos.

E para além de ter entrado no nosso dia-a-dia, criou-se a ideia de que em equipa tudo se torna mais fácil e por vezes, até de forma célere. Não direi que a ideia está 100 % correcta ou incorrecta, mas como poderá ser comprovado através de diversos exemplos, o processo de trabalho em equipa é dinâmico, desafiante, dependente de inúmeros variantes e exige o domínio de bastantes ferramentas. Não consigo dizer o que pesa mais na balança do trabalhar em equipa, se o querer ou o conseguir. Mas parece-me sinceramente que muito se fala, mas pouco se quer.

A actual situação social que inclui dificuldades no campo organizacional, empresarial e focado muito na 'crise' económica e de valores comportamentais e sociais que estamos a viver (provavelmente bem mais grave que a económica ou financeira), potencia ainda mais a temática das equipas como o ponto ‘salvador’ dos processos e de alavancar melhores resultados.

Porque queremos formar equipas? Na verdade, exige bastantes esforços para constituir uma equipa. Crescer de um aglomerado de pessoas ou de um grupo para uma verdadeira equipa, com tudo o que está inerente à dinamização e gestão de equipas. Esforços temporais e dedicação de recursos que naturalmente pesam nos bolsos de quem suporta a durabilidade dos processos de grupo. E claramente não vale a pena considerar essa hipótese se não soubermos o que de positivo a mesma pode proporcionar para o grupo de trabalho e para alcançar os objectivos propostos. E muito menos, por ‘modas sociais’.

E é nas vantagens das equipas que surge outra questão tão ou mais relevante: o que faz funcionar uma equipa? A liderança das mesmas? Os elementos que a perfazem? Competência? Respeito? Comunicação? Que processos de grupo a organização e o líder utilizam para potenciar os recursos, alinhar objectivos, comprometer as pessoas e alcançar o tão famigerado, mas sempre subjectivo, sucesso.

Lembrar-nos de copiar os bons exemplos ou boas práticas só quando as coisas correm mal é tipicamente português. Não raciocinarmos sobre a razão das coisas leva-nos a copiar sem compreender o conteúdo das práticas. O não raciocinar leva-nos a não ter capacidade de reflectir sobre as práticas, sejam elas correctas ou incorrectas.

Para terminar deixo uma definição de equipa, não porque seja muito melhor que outras, mas porque possui uma característica que nos falta, a capacidade de reconhecer: «Uma equipa não é um conjunto de pessoas com vários títulos ou descritivos funcionais. É uma congregação de individualidades, na qual cada uma tem de assumir um papel que é reconhecido pelas outras.» A frase é de Raymond Meredith Belbin em «Team Roles at Work».

Por último, Ken Blanchard faz uma relação das razões porque falham as equipas:
- Mau ou inexistência de planeamento;
- Poucos incentivos no que diz respeito à criatividade, superação e na excelência dos resultados;
- Inexistência de responsabilização, alinhamento e envolvimento de todas as partes no processo;
- Escassos recursos e má definição de prioridades na identificação da necessidade desses mesmos recursos (tempo, financeiros, espaços, etc.);
- A não aposta em formação para os elementos da equipa;
- Má gestão emocional e de conflitos;
- Inexistência de responsabilização e distinção por falta de acompanhamento e apoio de quem lidera perante quem operacionaliza;
- Estilos de liderança desadequados do ambiente e contexto e incapacidade de liderança situacional;
- Má definição de objectivos e tudo o que engloba os mesmos serem concretizados;
- Má ou inexistente definição das tarefas de todos os elementos da equipa, o porquê das mesmas e o que se pretende que as mesmas contribuam para uma acção colectiva.

domingo, 5 de junho de 2011

Velhos hábitos

Um dos fundamentos da independência de uma organização - neste caso de uma autoridade desportiva - assenta na possibilidade de tomar decisões racionais fundadas em objectivos bem definidos, com vista a promover os interesses da actividade que governa ou regula, em particular dos seus agentes (atletas, técnicos, clubes), sem a intromissão de interesses terceiros nos resultados das suas decisões.

Nem sempre o sucesso nos resultados se encontra de mão dada com a independência - nomeadamente a independência política -, bem pelo contrário. Porém, quando uma organização toma decisões lesivas e se acumulam suspeitas sobre a sua probidade, numa mistura explosiva de incompetência e corrupção, os efeitos são devastadores.

A cronologia recente de acontecimentos durante as eleições para a FIFA espelham este facto, com a exploração mediática dos escândalos de corrupção e compra de votos. A promiscuidade entre politica e desporto é tão velha quanto as normas que a proíbem. Não é pela sua consagração estatutária ou regulamentar, como recentemente se constatou no movimento olímpico português, que usualmente se olvida tal princípio de independência, até ao momento onde os interesses colidem. Várias das grandes organizações desportivas passaram por momentos críticos semelhantes. Os bastidores do poder, no caso concreto da FIFA, encontram-se documentados, provavelmente com o rigor de nenhuma outra instituição federativa internacional, em diversas obras. O jornalista americano Grant Wahl, que assumiu inicialmente a sua candidatura ao cargo de presidente do organismo que superintende o futebol mundial, descreveu, por dentro, o funcionamento de todo o sistema.

Compreende-se e justifica-se o interesse jornalístico, no exercício da sua função de “watchdog” numa sociedade moderna, lamenta-se contudo, salvo raras excepções, que a análise se tenha focado apenas no domínio ético e se tenha afastado de um elemento decisivo que alimentou aquele que pode ser o maior caso de corrupção na história do desporto moderno, concretamente a incapacidade dos quadros dirigentes em adaptarem a governação das suas organizações a uma sociedade globalizada, com os novos desafios políticos, económicos, culturais e sociais que hoje atravessam o desporto, desde a sua vertente profissional até ao mais singelo praticante informal.

Blatter perdeu a face na guerra que comprou com a União Europeia na sua proposta, inviável, da regra “6+5”, tomou posições sexistas e homofóbicas que debilitaram o prestígio da organização que dirige. Foi incapaz de modernizar a estrutura do futebol, compreender os sinais dos tempos, alterar os vícios do seu modelo de gestão ou apresentar uma agenda reformista quando todos os analistas há muito anteviam um desfecho como o sucedido.

Não se liberta tão cedo do libelo de clientelismo político, da teia de pequenos favores em que enredou a FIFA e da falta de cultura democrática na sua liderança, denunciado por grupos influentes que pugnam por uma reforma radical da instituição, ou por entidades representantes dos clubes e patrocinadores que reclamam medidas de fundo.

Para já quais as intenções do novo presidente eleito? Recomendar um político com um passado cristalino (!?) como Kissinger para pôr ordem na casa e contratar um antigo quadro do FBI para investigar as ocorrências… Tudo isto enquanto florescem os casos de viciação de resultados.

Acresce, no caso da FIFA, mas também de outras federações internacionais, que a atribuição da organização dos seus eventos de maior nomeada a economias emergentes e países da antiga esfera soviética, no intuito de abrir novos mercados e, em alguns casos, obter, entre outras garantias, decisões mais céleres devido à falta de escrutínio democrático, acarretou, obviamente, um enfraquecimento dos países ocidentais na cadeia de poder das grandes organizações desportivas e a maior influência de outras latitudes, cujos países não são propriamente o paladino de independência e transparência, como é o caso da Rússia ou do Qatar.

Por outro lado, são ainda os países do chamado mundo ocidental que concentram a maior fonte de receita de patrocínios e direitos de transmissão, essenciais à valorização económica das grandes competições. No caso do futebol, 90% das receitas provêm ainda da Europa. Mas o velho continente não irá acolher as próximas três edições…Ou seja, os elevados volumes de receita poderão vir a ter os dias contados.

Avolumam-se assim os riscos de uma intervenção mais incisiva do poder político, como ocorreu recentemente através do Parlamento Europeu, e pode também repetir-se sempre que a auto-regulação não se realizar através de “princípios de boa governação”, conforme a União Europeia assume no Livro Branco sobre o Desporto.

A propósito de tais princípios, na plêiade de informação que tem vindo a ser produzida no Reino Unido, aproveitando o ensejo da realização dos Jogos Olímpicos para reflectir sobre o futuro do desporto britânico, aqui fica uma aplicação prática e concisa, para adaptar as organizações desportivas e a cultura de quem as dirige a um quadro de governação ao nível das exigências e expectativas que a comunidade nelas deposita.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A regulação

Os sistemas ( sociais)carecem de regulação. É esta que determina o modo de funcionamento das suas diferentes variáveis. E que lhes assegura a respectiva eficácia. As funcionalidades dos sistemas obedecem a regras que, por sua vez, se declinam em princípios de organização e modelos sociais. O mérito das regulações está sempre a jusante. São os resultados alcançados que permitem aferir a oportunidade/pertinência e qualidade das regulações. Elas justificam-se para garantir que os objectivos dos sistemas sejam atingidos.
O sistema desportivo é regulado por normas de origem pública e de origem privada. Umas e outras devem convergir para garantir eficiência ao sistema. Que se avalia pela produção de resultados. O maior ou menor grau de regulação, público ou privado, deve estar sempre associada à missão das organizações do sistema. E é essa missão que deve ser avaliada. Regulação que não introduza melhoria de resultados é dispensável. Porque não acrescenta valor. É uma sinergia onerosa. Mas se a produção de resultados do sistema ganha como novos modos de regulação ela é bem vinda. A discussão não deve ser entre mais ou menos regulação, que é uma discussão técnica, mas sobre que objectivos para o sistema desportivo que é uma resposta do âmbito da política. A questão só a passa ser técnica quando definidos os modos do sistema produzir melhores resultados há que interferir ao nível da regulação e é necessário elaborar os respectivos instrumentos.
Uma deficiente/insuficiente técnica de elaboração de um instrumento de regulação não deve ser motivo bastante para o alterar/mudar. Só o deve ser se essa alteração for crítica para alteração do padrão de comportamento e de resultados do sistema. Porque se assim não ocorresse a alteração dos instrumentos de regulação seriam permanentes. Por norma, o ajustamento de um sistema a um modo de regulação tem sempre partes difusas, aspectos menos conseguidos ou até efeitos não previstos. Mas que podem não colocar em risco o essencial do sistema/organização que se pretende regular. Em todos os sistemas, e o desportivo não foge à regra, há produção de regulação ineficiente e dispensável. E outra que seria necessária.
Quando se avalia de forma crítica a produção legislativa, com origem em entes públicos ou privados, deve evitar-se fazê-lo apenas por um avaliação quantitativa. O essencial é avaliar, se sim ou não, o objectivo previsto na iniciativa reguladora foi atingido e com ela se elevou o grau de eficiência do sistema desportivo. Uma prolixa inovação reguladora não é um bem si mesma. Só o é se dela resultar vantagens para o grau de eficiência do sistema desportivo. Razão pela qual a avaliação analítica desta ou daquela iniciativa reguladora é pobre se ignorar a avaliação sistémica. Numa linguagem simplificada se ignorar qual o contributo da parte para o todo.
Essa avaliação é complexa. Os instrumentos de regulação são matéria de interpretação. Por vezes de várias leituras. E de muita polémica. Têm os seus crentes e as suas igrejas. E todos com argumentos de peso. Razão porque devemos desdramatizar as polémicas em torno destas matérias. São naturais. Os sistemas desportivos são sistemas abertos, dependentes de muitas variáveis com elevada rapidez de alteração, impossíveis de ser acompanhados pela lógica da produção reguladora. E o sistema colapsava se não tivesse uma boa dose de mecanismos de auto regulação.
A questão central a quem produz instrumentos reguladores é sempre o de optimizar os seus efeitos. E é sobre os efeitos que a avaliação se deve centrar. O resto é irrelevante. É pura perda de tempo.