quarta-feira, 27 de agosto de 2008

"Isto em desporto é assim"

O 46.º lugar de Portugal em 204 países participantes nos Jogos Olímpicos. A maior delegação portuguesa de sempre. Uma medalha de ouro, outra de prata e vários diplomas. A existência de países europeus (Suécia, Bélgica, Irlanda, Grécia e Áustria) com piores resultados que Portugal. São tudo dados que se podem recolher numa primeira leitura de balanço da nossa participação nas olimpíadas.

Mas os números valem o que valem e podem ser interpretados de diversas perspectivas e à luz de diferentes enquadramentos analíticos, mais ou menos científicos. Foi um pouco isso que temos vindo a assistir nestes dias.
Muita gente que nunca pôs os pés numa prova de esgrima, badminton ou judo. Que ignora as regras dessas e de outras modalidade olímpicas, e do que é a preparação de um atleta de alta competição, não se coíbe de criticar a representação dos nossos atletas insistindo nas carências de uma cultura de excelência, de rigor, de trabalho e de responsabilidade que marcam o nosso fado. Como se o desporto enquanto fenómeno social tivesse de ser diferente dos valores, idiossincrasias e atitudes que dão forma à nossa identidade sócio-cultural.

Do outro lado, o lado dos atletas, técnicos e dos apaixonados do desporto - daqueles que diariamente vivem o esforço, a superação e a dedicação dos atletas e de quem os acompanha –, um sentimento de revolta e mau estar face às criticas, porventura injustas, desrespeitosas e mesquinhas, que vêm reflectidas na opinião pública. Como se os atletas deste nível não tivessem de estar preparados para todos os condicionalismos da exposição mediática. Como se atletas com marcas pessoais francamente superiores às obtidas nos jogos devessem passar incólumes a qualquer tipo de escrutínio publico, mais ou menos qualificado para o efeito.

Num outro quadrante alinham-se aqueles que precipitadamente pedem a cabeça do presidente do COP, desconhecendo ou não querendo acreditar no emaranhado de interesses e compromissos políticos existentes na cúpula do desporto nacional.

Mas os jogos são um happening que enche a agenda de colunistas e opinion makers neste período estival. Com o passar dos dias outros assuntos preenchem a agenda noticiosa e os nossos atletas poderão voltar para a tranquilidade da sua rotina de treinos, bem longe deste vendaval mediático. O caminho cruzado nestas semanas entre a opinião pública e os seus atletas volta daqui a quatro anos. Até lá continuarão a ignorar-se mutuamente. Salvo as excepções dos atletas que entraram na gloria do Olimpo.

E nesta superficialidade, própria de um país com enorme deficit de cultura cívica, desportiva e democrática, se perde mais uma oportunidade de questionar e reflectir aprofundadamente a estratégia, governabilidade e sustentabilidade do modelo de desenvolvimento desportivo deste país. De abordar tudo o que está a montante dos resultados e da preparação para os Jogos Olímpicos.

Mas acontece que, ao contrário de todos os projectos anteriores de preparação olímpica, existe um contrato entre os cidadãos portugueses, legitimamente representados pelo seu Governo, e o movimento olímpico, representado pelo presidente do Comité Olímpico de Portugal onde estão claramente definidos os objectivos desportivos a alcançar:

Cinco medalhas
Doze diplomas (até ao 8.º lugar)
Dezoito modalidades presentes nos Jogos Olímpicos
.

Ora, foi com base nestes resultados, e não em quaisquer outros que anteriormente se aludiu, que os portugueses acordaram a transferência de um envelope financeiro de dezena e meia de milhões de euros para a preparação de Pequim.

Daqui resulta que os objectivos não foram alcançados. Por mais volta que se queira dar. Tratam-se de factos. Com o valor que deve ter a sua formalização num contrato. Contrato assinado com todos os portugueses.
É neste ponto que considero ser importante centrar a discussão. Na gestão política deste processo e no regime de prestação de contas em políticas públicas.

A definição de objectivos e a sua contratualização é um instrumento essencial em qualquer política pública, em qualquer domínio da vida em sociedade, do desporto à saúde, educação ou obras públicas. E isto encontra-se em qualquer manual de gestão pública e ciência política. A política, a democracia e as políticas públicas assentam no conceito de contrato social, seja ela através do voto e respectivo mandato ou da formalização em documento de natureza obrigacional, entre os cidadãos e quem os representa.

Mas o Secretário de Estado do Desporto parece não acreditar que somos herdeiros de Rousseau e apressou-se a considerar inadequadas as bases do contrato-programa realizado pelo COP com o anterior Governo. ' Não faria um contrato com essas condições. Nós só devemos contratar e subscrever aquilo pelo qual somos responsáveis', concluiu.

E a partir destas palavras passa-se para a prestação de contas. A fazer fé em Laurentino Dias a responsabilidade morre solteira, porque no desporto só os atletas são responsáveis pelo seu desempenho. Talvez fosse bom dar uma vista de olhos no que os nossos velhos aliados entendem por responsabilidade em matéria de politicas desportivas e ter em atenção a sua progressão em resultados olímpicos.

Este é um traço da nossa matriz cultural que o Secretário de Estado se limita a reproduzir na hora da prestação de contas aos portugueses, como tantos outros já o fizeram antes. A accountability, o escrutínio detalhado de actos de gestão pública e o apuramento conclusivo de responsabilidades civis, financeiras, penais ou políticas, são excepções que confirmam a regra no país de Sá Carneiro, de Maddie, da Universidade Moderna, dos hemofílicos, das derrapagens financeiras do Metro e tantos outros.. Porque é que o desporto haveria de ser diferente?

O desporto só é diferente no seu espaço de intervenção política. É uma reserva territorial de dirigentes institucionalizados, muitos deles com uma perspectiva do desporto desfasada das dinâmicas de uma sociedade global, e avessos à intromissão política, constantemente reclamando da sua autonomia e especificidade, mas que necessitam do beneplácito político para solidificarem o seu peso institucional, ou, no caso dos políticos, para oportunamente colherem dividendos resultantes do mediatismo desportivo.

E neste panorama vão funcionando os jogos de compromisso, o contorcionismo político e as manobras de bastidores.

Só quem não se apercebe disto é que tem dificuldades em perceber a entrevista de Vicente de Moura à RTP. Um dirigente desportivo é e será sempre também um actor político, por mais que diga o contrário. O que pode estar em discussão é a habilidade do comandante em representar frente às câmaras.

E de um movimento federativo anquilosado e fechado sobre si mesmo, que recebeu o maior apoio de sempre para Pequim, não se espera outra coisa que não sustentar uma vaga de fundo para Vicente de Moura reconsiderar. É sempre melhor confiar no que já se conhece...

De um político não se espera outra coisa que não abster-se de comentar esta situação e dizer o óbvio: “Não é nomeado ou designado pelo Governo, mas eleito pelas federações”.

Dos cidadãos espera-se que não esqueçam as palavras do político e saibam mobilizar-se para exigir um esclarecimento publico e as devidas consequências:
atletas, treinadores, dirigentes, comité olímpico e o próprio Governo devem fazer uma avaliação” da participação portuguesa em Pequim2008

Essa avaliação deve “acontecer tranquilamente quando os Jogos acabarem”, mas dela devem-se “retirar consequências”.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Karaoke

Os espectáculos das cerimónias de abertura e de encerramento dos jogos olímpicos foram isso mesmo: espectáculos. Que como todos os grandes espectáculos viveram, em parte, da ilusão que criaram nos espectadores. Nos presenciais e nos televisivos. "Fizemos o possível para que parecesse real", afirmou o porta-voz da empresa responsável pelos efeitos especiais, Lei Ming, ao jornal Beijing Times, a propósito da cerimónia de abertura." A maioria das pessoas não notou a diferença", concluiu. Viram-se coisas que não aconteceram. Uma sobre-realidade servida como se fosse realidade. Não sei se Shen Wei plagiou, como é acusado pelo italiano Enzo Careabianca. Mas esteve ao nível de David Copperfield ou de Kubrick e seus seguidores. O duplo a substituir o real. Os efeitos especiais. O não – acontecimento servido como acontecimento. Á frente dos nossos olhos sem que do facto nos apercebamos. Como na contrafacção, tudo parece natural. Mas um “natural” que pela sua expressividade e grandiosidade nos deixa boquiabertos: como é possível? É possível como nas malas da Louis Vuitton ou nos pólos da Ralph Lauren. São imitações perfeitas. E no caso da cerimónia de abertura dos jogos foi possível porque estivemos a ser conduzidos para uma realidade em parte assente numa ilusão. Uma ilusão que se prolongou. Nos recintos desportivos - de algumas competições - cheios através do recurso à mobilização de voluntários. De espectadores forçados. De gente que está lá não porque as provas desportivas os atraem, mas porque para tanto são obrigados. Aparentam o que não é. E escondem o que seria. Por que razão um espectáculo desportivo deveria ser diferente? Apenas porque entendemos que o que assistimos em directo não deve ter “truques”? Ou precisamos previamente de o saber para que ocorra uma espécie de aceitação tácita como no cinema, na magia ou no wrestling? O que se passou e depois se soube não esvanece a grandiosidade que atribuímos ao que assistimos. O ter havido “truques” não foi suficiente para destruir a percepção de grandiosidade e de excelência com que o percepcionamos. Foi uma ilusão. Uma falácia lúdica. Mas foi esmagadora. Mesmo sabendo-se que toda aquela estética e coreografia obedeciam á glorificação do poder politico autocrático da China. Como em Berlim em 1936. No Ninho do Pássaro quem se recordou da China dos direitos humanos? O belo é sempre belo. Nos Estados Unidos ou na China. De tal modo que iniciadas as competições o caso passou a um não –caso. O que fica das cerimónias é que a China “ganhou” à concorrência. Mesmo que depois os apóstolos coubertianos nos venham perorar que os jogos olímpicos são competições entre atletas e não entre países. Está-se mesmo a ver! Como hoje se escreve em muita imprensa os Jogos mostraram ao mundo o poder da China comunista que escolheu o capitalismo como via para o desenvolvimento. Marx deve mexer-se no túmulo mas a realidade é o que é, e não aquela que ele previu.Manipularam o clima impedindo que não chovesse? Há truques e truques! Comos os de Ben Johnson. Como todos os outros Ben Johnsons. Os que como tal foram identificados. E os que escapam. É diferente? É. Mas não tem nada de similar? Tem. A comparação não serve para desculpabilizar?Não. Mas ajuda a relativizar. A procura de alcançar resultados recorrendo a meios artificiais não é um exclusivo dos atletas ou da estética cirúrgica. Está aí por todo o lado. No desporto e fora dele. Nas nossas vidas. O meu Patek Phillipe é da China. E pedi para que me trouxessem um Berguet. Na ora de glorificar uns, os legítimos, e condenar outros, os proibidos, deve haver lugar a perceber que somos demasiado imperfeitos para exigir a moral da perfeição aos outros. Na competição do desporto ou da vida.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

JO: "Heroínas e Guerreiros..."

Passei a última semana a visitar um País estrangeiro e a conviver durante esse tempo com ex-atletas, treinadores e dirigentes de enorme prestígio nacional e internacional. E como foi bom aprender e emocionar-me até às lágrimas com as alegrias e as tristezas de um outro povo, coisa que até há bem pouco tempo pensava impossível dado o meu apego exageradamente nacionalista aos feitos e às gentes da nossa terrinha…
Provavelmente, quem nunca praticou desporto e particularmente o federado, o competitivo, não compreenderá cabalmente o que vou tentar explanar, mas assumo os custos de quem se expõe publicamente e nem sempre se consegue fazer compreender ou interpretar como gostaria.

De 4 em 4 anos direcciono o meu período de férias para a maior dedicação possível ao espectáculo dos Jogos Olímpicos, não apenas por necessidade ou imposição profissional, mas sobretudo pelo muito que vibro e me extasio com "as heroínas e os heróis, com as guerreiras e os guerreiros” do desporto.
São já algumas as Olimpíadas que acompanho e persigo loucamente: Montreal (1976), Moscovo (1980), Los Angeles (1984), Seul (1988), Barcelona (1992), Atlanta (1996), Sydney (2000), Atenas (2004) e Pequim, (2008). De todas elas retenho recordações e emoções ímpares, mas confesso, estou a ficar muito cansada e a perder muito do nacionalismo que com inocência, ou não, fui alimentando ao longo destes mais de 30 anos.

- Que País é o nosso, que género de pessoas são os portugueses que, em vez de jubilar com a dedicação, o esforço, a superação e a emulação de atletas que dedicam parte da sua melhor vida, a juventude, a uma causa tão nobre, esgotando as suas energias continuamente ao ponto de “morrerem no campo de batalha”, os despreza, os amesquinha, os desperdiça, os abate, os faz voltar para casa…?
- Que País é o nosso que alimenta em pleno auge da prestação internacional dos nossos melhores atletas, a “fogueira das vaidades” de quem exerce legitimamente o poder, a liderança do desporto nacional, em vez de aplaudir os sucessos desportivos, compreender e perscrutar os insucessos, apenas e tão só para os repetir, melhorar, ou então, remediar e contrariar no futuro?
- Que País é o nosso que perpetua nos poderes técnico, dirigente e político, anos a fio, os mesmos protagonistas e na hora da exposição pública, nua e crua dos nossos atletas, daqueles que verdadeira e dignamente se revelam perante nós, não escreve uma linha, não faz uma reflexão, não aponta uma crítica acerca do papel dos treinadores, dos dirigentes, dos políticos, quer sejam amadores ou profissionais, que foram e continuarão a ser os principais responsáveis pelas nossas prestações desportivas nacionais e internacionais?
- Em que País se transformou Portugal que, quando ao invés de continuar a assistir como sempre assisti, à união, à solidariedade, ao companheirismo, ao abraço no momento da felicidade ou da angústia, ouço e presencio a crítica gratuita entre colegas, o desrespeito pela individualidade, pelos maiores ou menores sacrifícios de cada um, sem que quem de direito intervenha pondo um ponto final na imaturidade, na arrogância e na crueldade?

NÃO, NÃO, não foi a este Desporto que eu há muitos anos aderi incondicionadamente! Não é este desporto que eu quero ensinar, aplaudir, e muito menos o desporto que quero para o meu filho e para as muitas crianças e jovens que, ao meu lado e longe de mim, têm partilhado estes dias da festa mais célebre do desporto mundial.

Já não alimento o sonho de poder na minha geração "dar a volta ao desporto nacional", mas não posso me eximir das minhas responsabilidades do dia a dia.
Entre muitas outras coisas, é hora de agora sim, se FAZER UM CONGRESSO DO DESPORTO NACIONAL sério, comprometedor e que aponte soluções realistas e eficazes para o futuro e não apenas, como é óbvio, para o desporto federado. Já perdemos demasiado tempo, 2009 e os anos que se seguem merecem mais e melhor Desporto, mais e melhor seriedade, mais e melhor qualidade de vida para todas e para todos os portugueses…!!!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A Muralha da China - II

O saltador português Nélson Évora conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Pequim 2008, com um salto de 17,67 metros.
Dezassete metros e sessenta e sete centímetros constituem uma medida fundamental bem para além da sua simples aparência métrica.
Com efeito, na capacidade do saltador, muito se encontrava em jogo que pouco ou nada tinha a ver com o seu objectivo desportivo pessoal.

Laurentino Dias já declarou que chegou a recear que Nélson Évora não aguentasse a pressão e falhasse a conquista de ouro para Portugal no triplo salto:”Uma medalha de ouro olímpica é importante em qualquer país e em qualquer modalidade mas, nas circunstâncias difíceis em que esta missão estava a decorrer e de algumas das esperanças que tínhamos não se terem realizado, Nélson carregava um fardo muito pesado. Carregava um país inteiro e receava que ele não pudesse aguentar.”Que alívio – foram saltos de alegria incontinente com Rosa Mota - para o Governo.
Nélson Évora carregava, isso sim, a redenção de Laurentino Dias. E isso, é justo dizê-lo, não é tarefa fácil.

Por seu turno, o presidente do Comité Olímpico de Portugal, bem profícuo em declarações sobre a falência do projecto e do sistema desportivo nacional, e bem firme – não obstante o branqueamento mediático que prontamente encetou com o beneplácito, mesmo cumplicidade, de alguns jornalistas (é exemplar, a esse respeito, o papel de Vítor Serpa) - no legítimo propósito em não se recandidatar à liderança daquela organização desportiva, surge, agora, não só a admitir essa recandidatura, mas a apresentá-la rodeada de condições, onde não falta a exigência de mais poder.

Dezassete metros e sessenta e sete centímetros é, bem vistas as coisas, um alívio para todos aqueles que têm vindo a cavalgar no dorso dos resultados desportivos de atletas nacionais.
Dezassete metros e sessenta e sete centímetros são a distância a percorrer entre um sistema que existia e o sistema do próximo futuro que dele nada diferirá.
Em Londres, há-de surgir um outro atleta de eleição e uma nova medida, para alimentar convenientemente um poder insaciável.

Mas isto, claro está, são disparates meus.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A Muralha da China - I

Como uma parte importante deste país desportivo e olímpico não se pronuncia sobre aquilo que um jornalista já designou como o II Saltillo, rodeando-se de argumentos de serenidade, de cautelas, pois as “contas fazem-se no fim”, eu que pouco sei do tema desportivo, como que me encontro livre para exercer o meu direito ao disparate.

Pequim tem muito por onde pegar. Muitos caminhos foram dar a Pequim e muitos deles podem trazer-nos de lá. Hoje, depois de um suceder vertiginoso de notícias, de declarações, de críticas, de repostas a críticas e de tantas manifestações de desnorte, somente trago a esta colectividade duas breves observações.
Em primeiro lugar, começo a ficar preocupado com a ansiedade das pantufas de Vicente Moura.
Com efeito, tudo parecia levar a crer que começariam a ter uma utilização mais condigna num próximo futuro, tais as impressivas declarações do presidente do Comité Olímpico de Portugal quanto à sua definitiva não recandidatura a esse cargo.
Declarações e suas motivações.
Contudo, o jornal A Bola, na edição de hoje, reproduz uma entrevista com Vicente Moura, com chamada de primeira página, onde o jornal adianta que existe a possibilidade de Vicente Moura rever a sua posição nos próximos tempos.
Lendo a entrevista fica no ar a utilidade da sempre presente “vaga de fundo” e a necessidade de se sentir a “compreensão e o apoio do Governo”.

Em segundo lugar, devo confessar que começo a ficar cansado – farto – da ideia de que existe em Portugal uma superatleta, que é igualmente uma superjovem, uma supermulher, um modelo para a juventude, para o país, uma medida de brio e empenho, de esforço, de nacionalismo, de solidariedade.
Chama-se Vanessa Fernandes e se nos portarmos como ela temos o Céu garantido.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Cisnes negros

Nassim Nicholas Taleb dedicou-se à investigação das questões da sorte, da incerteza e da probabilidade. Criou o conceito de cisne negro. Um acontecimento altamente improvável que reúne três características principais: é imprevisível; produz um enorme impacto; e, após a sua ocorrência, é arquitectada uma explicação que o faz parecer menos aleatório e mais previsível do que aquilo que é na realidade. Parte dos êxitos desportivos nacionais em contexto internacional cabem bem nesta categoria. Coisa que poucos acreditam. E têm para isso as suas teorias. Difícil, como o é qualquer boa teoria que se preze, mas teoria. Ciclicamente – sobretudo quando ocorrem competições desportivas que de algum modo permitem comparar em termos internacionais o valor da expressão competitiva do pais, como é o caso dos Jogos Olímpicos - fala-se de política desportiva .Mas é sol de pouca dura. Fala-se com a mesma intensidade e profundidade com que, de repente, se deixa de falar. E enquanto se fala repetem-se os habituais lugares-comuns. Não vem grande mal ao mundo. Mas é sintoma de um problema profundo. Esse sim, a poder merecer alguma reflexão: o de existir um pensamento político pouco estruturado em matéria de política desportiva. Se existe não tem expressão orgânica ou funcional. É como se não existisse. Na generalidade dos casos os dirigentes políticos e desportivos vivem bem com o desporto que têm. Quero dizer: não vivem suficientemente mal para o pretenderem alterar. Mudar a “organização desportiva” é tarefa muito aborrecida. Mais do que aborrecida é um incómodo. Não se sabe onde levaria. Num certo sentido poderia levar a mudar os protagonistas (políticos e desportivos). Levar a concluir que o problema dos resultados, quando não aparecem “cisnes negros”, é, em certa medida, um reflexo das “políticas organizativas “. E que estas são inseparáveis de quem as protagoniza ou por elas é responsável. É preferível deixar as coisas como estão. As pessoas ao fim e ao resto gostam deste “sistema”, mesmo quando o criticam. Não é um defeito da espécie, mas antes uma das suas características. Existem momentos menos felizes é certo, mas que apesar de tudo são compensados por algum poder/visibilidade que não ocorreria em outras actividades. Os dirigentes políticos e desportivos não desejam rupturas. E não apreciam os que as propõem. Detestam idealismos rebeldes. E radicalismos. Gostam do que têm. Se possível com mais “apoios”. Aqui reside tudo: mais apoios. Uns dizem que faltam. Outros dizem que nunca houve tantos como agora. Mas uns e outros unidos sobre a magna/magia questão dos apoios. Garantidos que sejam até admitem uns luxos teóricos. Porque o “glamour” pelas reformas é um devaneio que não resiste ao impacto das primeiras medidas. Esta debilidade no pensamento político/desportivo não pode deixar de ter consequências nas “ políticas”. O que explica, por exemplo, uma clara desconformidade entre as “políticas”-o “que se faz”- e a matriz ideológica que supostamente as inspiraria. Não é um problema actual ou deste ou daquele governo. Os governos, em parte, são aquilo que as oposições e os governados condicionam. Estão para alem da conjuntura. Basta recensear as temáticas e a qualidade dos debates parlamentares. Ou a agenda do “movimento associativo”. É um problema que se prolonga no tempo se excluirmos o período imediatamente a seguir ao 25 de Abril por razões naturais. É isso também que explica os sobressaltos (e os saltos…) de inquietação política. Numa determinada altura situam-se no âmbito do desporto na escola, passam para os problemas do sedentarismo, migram para a saúde,para o desporto para todos, para a formação dos técnicos ou para as infra-estruturas. Há para todos gostos e épocas. Cada governo tem o seu “mini-cluster”e o seu “factor crítico” para o sucesso. Abraçados com a mesma intensidade com que passado algum tempo são, depois, abandonados. Somos, de facto, como diz o insuspeito homem do leme da governação desportiva,“10 milhões de habitantes, uma economia débil, uma formação técnica débil, poucos técnicos qualificados, poucos jovens na prática desportiva e somos um país pequeno na Europa, a que pertencemos”.E, acrescento, com governantes que não são excepção ao nível descrito. O problema não é esse. É saber se atingimos os limites que essa situação permite. Ou se pelo contrário e apesar dessa realidade estamos longe, em matéria de indicadores desportivos, de ter atingido o chamado “efeito de tecto”.E aqui há uma “questãozinha”: há países que têm níveis de desenvolvimento económico, demográfico e social equivalentes ou inferiores aos nossos mas apresentam resultados e indicadores desportivos superiores. E das duas, uma: ou investem verbas superiores nas políticas públicas desportivas, o que em alguns casos não ocorre; ou têm níveis superiores de organização e qualidade desportivas o que lhes permite maximizar os recursos disponíveis. Vale a pena pensar nisto ou vamos aguardar pelos “dias de maior sorte”segundo o apelo do homem do leme??? Como diz uma amiga minha nos governantes há qualquer coisa de mágico que não está ao alcance do comum dos mortais. Será isso?

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mostrar obra!

As infra-estruturas desportivas constituem uma tipologia de equipamentos sociais bastante apetecível aos autarcas para edificarem a “obra do mandato”.

Quem contacta com empresas desta área rapidamente se apercebe que as empreitadas e encomendas se avolumam com o aproximar das eleições do próximo ano.

É normal que assim o seja, considerando o impacto do desporto e dos seus equipamentos na comunidade local. No entanto, quando se analisa com mais profundidade o processo de planeamento e concepção de instalações desportivas que subjaz à intervenção no território desportivo são várias as lacunas na sua gestão política e técnica.

Desde logo no diagnóstico da situação desportiva local. São inúmeras as instalações desportivas no país que não se encontram dimensionadas à procura desportiva dos seus territórios. O desenvolvimento de instalações desportivas, é elaborado - quando o é - na lógica da oferta. São poucas as cartas desportivas que têm em conta o estudo da procura desportiva dos munícipes. São poucos os instrumentos de gestão territorial que englobam as recomendações definidas nas cartas desportivas.

No planeamento do território, não raras vezes se assiste à falta de articulação entre equipamentos que deviam ter um grau de proximidade e acessibilidade relevantes entre si, em particular os espaços escolares, culturais e recreativos. Conjuntura que desfragmenta a malha urbana, com maior destaque em áreas densamente povoadas e com poucos espaços disponíveis para edificar.

Na projecção das instalações desportivas encontram-se as maiores e mais diversas debilidades, com importantes consequências para a sustentabilidade das instalações. O recurso a concursos de concepção-construção naquilo que ganha em celeridade processual e liberta os recursos técnicos das autarquias para outras tarefas, perde num escrutínio rigoroso e profundo na eficiência do projecto. É evidente que quem está no mercado não quer perder dinheiro e toma as decisões economicamente mais vantajosas para vencer concursos quando se lhe apresentam cadernos de encargos que se limitam a generalidades. Os problemas vêm depois.

E vêm na escolha de materiais claramente desadequados para um espaço desportivo. Vêm na projecção de instalações por arquitectos que valorizam a estética face à funcionalidade, olvidando aspectos essenciais da prática desportiva, como a separação de circuitos de passagem dos atletas e do público, circuitos autónomos para a comunicação social, proximidade do estacionamento das equipas da zona de balneários, orientação de espaços descobertos face ao movimento do sol (fundamental em campos relvados) e ventos dominantes (pistas de atletismo), instalação de fluxómetros nos balneários, projecção de um mínimo de 4 balneários em instalações vocacionadas para a competição desportiva, altura dos chuveiros em instalações onde se pratiquem modalidades onde a estatura dos atletas é elevada, e por aí em diante...

Mas se as equipas de projecto apresentam carências na interpretação do que deve ser um espaço desportivo, aos donos da obra cabe importante papel no processo de tomada de decisão.

Em quantas instalações desportivas o dono da obra está em condições de definir claramente, na fase de projecto, qual a população a servir pela infra-estrutura? Qual o modelo de gestão a implementar? Que tipo de prática desportiva e modalidades desportivas irá oferecer? Quais os encargos de manutenção previstos? Quais as fontes de receita previstas? Em que medida a infra-estrutura irá oferecer outras valências que não desportivas?

O adiar das respostas a estas e outras questões paga-se muito caro. Paga-se no endividamento dos municípios. Paga-se no encerramento de instalações, ou abertura sazonal, devido ao enorme valor da factura de manutenção. Paga-se na rápida degradação do parque desportivo. Paga-se no valor final das infra-estruturas, após a intervenção dos técnicos, à qual o empreiteiro cobra como trabalhos a mais, dado que os cadernos de encargos são omissos. Paga-se na insatisfação dos utentes e cidadãos e na insustentabilidade destes investimentos.

É certo que com o passar dos anos todos vão aprendendo, a diferentes velocidades, com os erros dos “elefantes brancos”. As decisões políticas tendem a ser mais fundamentadas tecnicamente no que se constrói de novo, em especial quando estão em jogo fundos comunitários.

No entanto, importa centrar a discussão em algo de preocupante e que salta à vista em quem passeia nas nossas cidades. A reconfiguração do parque desportivo existente e dos espaços desportivos de proximidade (campos de jogos exteriores, polidesportivos e logradouros que se degradam à vista de todos), face à dinâmica das práticas desportivas que se orientaram do exterior para o interior, do formal para o informal, do artificial para o natural, do codificado para o espontâneo.

É importante também discutir e realçar o esforço e o trabalho diário de técnicos e gestores desportivos. Não apenas daqueles que gerem espaços criados ex novo, mas de todos aqueles que procuram manter de pé e adaptarem soluções de viabilidade para os “elefantes brancos” quando os custos são elevados e os recursos são escassos.

Seria importante a prestação de contas sobre o desperdicio de dinheiros públicos e sustentabilidade destas "obras do mandato". Poderia-se começar em saber o custo real, ambicionando um dia vir a saber o valor real. O justo valor real.

Porque, apesar de tudo, o valor desportivo dos municipios se assume cada vez mais com maior preponderância no desenvolvimento desportivo deste país.

domingo, 10 de agosto de 2008

JO: Sara Oliveira, estreia brilhante!

Quem se move pela paixão do Desporto não perde a oportunidade de, 4 em 4 anos, assistir ao evento de maior magia e espectacularidade do mundo. São muitos e diversificados os condimentos e os interesses em presença antes, durante e após a realização e transmissão desta competição desportiva. Em Pequim, desfilaram 204 representações nacionais, 10.624 atletas, ciosos de realizarem as suas melhores prestações desportivas e de "viverem o seu momento", e estima-se que 4 milhões de espectadores assistirão a este Jogos. Pela sua magnitude, e sobretudo pelo carácter imprevisivel dos resultados que cada atleta ou cada equipa pode obter, não há qualquer outro espectáculo que se lhe assemelhe.
É a capacidade de superação, a resistência e a persistência de verdadeiros campeões e campeãs que maravilham o mundo com novos records, novas proezas, sempre introduzindo inovações técnicas e tácticas que nos fascinam.
Foi assim, que a Sara Oliveira, mais uma vez, surpreendeu e maravilhou os seus admiradores e registou um grande feito na sua estreia nos Jogos na prova dos 100m mariposa. Só uma atleta excepcional consegue, ainda por cima logo no começo desta competição, não se amedrontar com aquele extasiante ambiente, com a pressão competitiva de ver e estar com atletas que com ela competirão cujas condições de treino e de vida são incomparavelmente melhores e mesmo assim se supera, ao ponto de retirar 18 centésimos de segundo ao seu record nacional absoluto. Simplesmente brilhante!
Porém, não é apenas a atleta de excepção que nos impressiona. É também a estudante cumpridora, serena e exemplar, finalista do curso de Desporto da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, é a colega e amiga muito estimada e respeitada pelos demais, e é naturalmente, e acima de tudo, a mulher que nesta campeã desperta e que nos continuará a proporcinar muitas alegrias e façanhas. Parabéns para a Sara, para os seus técnicos e dirigentes e, claro está, para os seu pais e familiares.
Que nunca as forças lhe faltem, a motivação não finde e o sorriso de felicidade contagiante com que nos presenteia não esmureça. Força Sara, na próxima terça feira, e pela vida fora, estaremos aqui para te aplaudir.


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O torrão de açúcar

Eis se não quando, o Governo despertou para as necessidades dos atletas de alta competição/ alto rendimento. Mesmo nas vésperas do início dos Jogos Olímpicos. Contudo, não por causa deles, temos por certo.
No passado dia 6, numa nota à comunicação social e suportado em muito trabalho de assessoria de imprensa – para obter ampla divulgação –, o Governo deu conta que decidiu “consagrar no Código Contributivo, um novo regime que, pela primeira vez, garantirá aos praticantes desportivos de alto rendimento a sua integração na segurança social”.
Tudo isto, claro está, em conformidade com o artigo 41º da Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto – Lei nº 5/2007, de 16 de Janeiro – que estabelece que “o sistema de segurança social dos praticantes e demais agentes desportivos é definido no âmbito do regime geral da segurança social, e no caso dos praticantes profissionais e de alto rendimento, respeitando a especificidade das suas carreiras contributivas”.
Tudo isto, é verdade também, em gritante desconformidade com o artigo 51º da mesma lei: a presente lei, nas matérias que não sejam reserva da Assembleia da República, deve ser objecto de regulamentação, por decreto-lei, no prazo de 180 dias.

É cedo para apreender todas as virtualidades e benefícios desse regime. Há que esperar para ver o concreto conteúdo das novas normas.
O que neste momento deve ser destacado é a gritante demagogia, oportunismo e hipocrisia do Governo. Cerca de 19 meses depois da previsão legal da Lei de Bases, ao fazer as malas para Pequim, o Governo decidiu.
Laurentino Dias falou: Eles merecem um presente e um estímulo.
Foi mais longe o governante (?):
"Para um país como Portugal, os Jogos Olímpicos são uma tremenda aventura. Porquê? Porque nós somos o país que somos: 10 milhões de habitantes, uma economia débil, uma formação técnica débil, poucos técnicos qualificados, poucos jovens na prática desportiva e somos um país pequeno na Europa, a que pertencemos. E no Mundo, então, somos um país muito pequeno".

Uma coisa é certa e subliminarmente se depreende das palavras de Laurentino: se há algo em que não somos fracos é em políticos e governantes.

É pena que todos os anos não sejam anos de Jogos Olímpicos.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A ekcheiria

O olimpismo moderno foi (e é…) a continuação da política por outros meios. Primeiro dos cavalheiros(e cavaleiros) da corte e dos aristocratas. Depois dos militares. E só para homens. Mais tarde para todos. Democrático q.b. na base. Gerontocrático e elitista no topo. O desenvolvimento e internacionalização do capitalismo ajudaram á sua divulgação. A televisão colocou-o na casa de cada um de nós. A partir da Europa e pelo mundo, constituiu-se, neste particular, como um dos primeiros movimentos de globalização. As perspectivas apologéticas de um olimpismo sem política são o equivalente a um desporto onde ela fique à porta. Coisa bem difícil. A trégua (a ekcheiria), quando o foi, significou não o fim dos conflitos, mas um intervalo para continuar depois. E depois, como politica por outros meios, o olimpismo longe de perder alcance, ganhou-o. E ganhou-o porque é política sem parecer que o é. Aqui reside parte da sua força. Se os jogos olímpicos se resumissem a umas competições desportivas o seu interesse seria bem menor. O que lhe dá um acrescido significado social é serem muito mais do que uma competição desportiva e uma manifestação cultural. É o serem ambas as coisas e o maior acontecimento político á escala global. Nem vale a pena recensear muitos factos. Os casos conjunturais: Berlim, Moscovo ou Seoul. Uma tendência que se prolongou no tempo: o sucesso desportivo como forma de legitimação externa da superioridade da organização de países e sistemas políticos. Ou os motivos do presente: organizar os Jogos como forma de alavancar a visibilidade externa dos países ou das cidades. O olimpismo é credor de muita coisa importante.Com ele o desporto afirmou-se como um fenómeno social de expansão mundial. As bases científicas da preparação e do treino desportivo foram lançadas e desenvolveram-se. A alta competição afirmou-se com uma autonomia crescente. As capacidades e limites do rendimento corporal humano foram questionados. Os resultados atingidos permanentemente ultrapassados. A medicalização do rendimento desportivo um factor de tal modo presente que obrigou a regulamentar os seus limites. É certo que o comércio, o poder das marcas e das televisões, a farmacologia, os subornos –de votos e de decisões - sombreiam o maior espectáculo dos tempos modernos. Era inevitável? Afinal o olimpismo viveu (e vive…) o seu tempo. Um tempo de contradições, de tensões e de conflitos. Mas um tempo que teima em não dar razão aos que profetizavam o seu declínio face ao gigantismo e comercialização atingidos. Ou se proferir à sua crescente politização. Pelo contrário. O olimpismo, conceito onde cabe tanta coisa (já lhe chamaram uma religião…) incluindo alguma que lhe foi estranha na sua génese, afirma-se procurando responder o melhor que pode. Também não se pode pedir ao desporto e ao olimpismo que surjam como solução para os problemas do mundo. A sua tradicional cultura conservadora e situacionista não dão grande margem. Mas pode-se ainda pedir ( e esperar…)que através da força congregadora que mobiliza, aproxime pessoas, povos, países e nações facilitando o diálogo e a interlocução mundiais.Nessa tanta coisa que é actualmente o olimpismo os deuses devem sobretudo proteger os que protagonizam o espectáculo: os atletas, os treinadores e as organizações de onde emanam. E os espectadores, sem os quais - como na ópera, no concerto ou no teatro - o espectáculo não é espectáculo.Com poluição ou sem ela.Com liberdade ou assim-assim.Não para que a política meta férias. Mas para que não estrague o espectáculo.



domingo, 3 de agosto de 2008

“Changer la vie”, cultivemos “Las ganas”…

Espanha está em grande, desportivamente falando!
Acaba de ganhar o 5.º campeonato consecutivo da Europa de Hóquei em Patins, ganhou novamente o Tour de França, “pelos pedais e sobretudo com las ganas” de Carlos Sastre, que orgulhosamente passeou a bandeira e o brio espanhóis por Paris. Rafael Nadal “dá cartas” pelo mundo como se viu vencendo o Masters de Toronto e como se verá nos Jogos Olímpicos que se avizinham. E assim poderíamos continuar referindo muitos outros atletas, não olvidando naturalmente os paralímpicos, e muitas outras modalidades desportivas como o basquetebol, o atletismo ou, claro está, o futebol.

Uns dias em Espanha, junto ao mar e com passagem por Madrid, permitiram-me, como já há uns anos a esta parte, aperceber-me mais conscienciosamente do pouco que nos aproxima e sobretudo do muito que já nos distancia de nuestros hermanos
Velhos tempos, os da minha infância, nos quais a viagem rotineira ao norte da Espanha para as compras era tristonha e nos fazia sentir poderosos…
À chegada fomos logo convidados para a festa, neste caso para a visita à Exposição Internacional de Zaragosa. Do aliciante para estes eventuais 93 dias de festa contínua, passamos para o contínuo viver festivo dos nossos vizinhos. Como eles sabem VIVER…e como eles VIVEM e AMAM o Desporto, com prazer, com competência, com sucesso, com orgulho, acarinhando os campeões e os não campeões, mas lutando…sempre…sempre e com as “ganas” que caracterizam aquele povo.

Mesmo a banhos não prescindi das leituras informativas diárias. Ainda que em leitura fugaz, apenas com o intuito de estarmos ao corrente da realidade, íamos folheando os diários desportivos e não desportivos espanhóis. Deles retirávamos prazer, algum tédio também e sobretudo o que nos admirava nos domínios sociais, culturais, económicos e desportivos. Numa breve pincelada pelo desporto, da "Ronaldomania" já nem será preciso escrever, dos problemas do incumprimento salarial de muitos clubes de futebol muito menos, da pouca importância em termos de espaço disponível nos jornais para as outras modalidades idem aspas (o mal como é consabido não é apenas nacional)…!!

Interessante para relatar, mas que provavelmente os/as leitores/as já constataram há muito, seria a percepção que reiterei in loco - no plano desportivo, praticamente em todos os domínios, a Espanha já está "anos luz" à frente da realidade desportiva nacional. Como isto me entristece, não por eles crescerem, mas por nós não os termos acompanhado e até em muitos sectores estagnado e retrocedido.

À crise espanhola, não me reportarei, é evidente que não é apenas Portugal (nem sequer apenas a Europa...) que aperta o cinto e não vê resultados, Espanha debate-se igualmente com graves problemas sociais e económicos. A grande diferença é que nestes dias não senti a população preocupada, triste, decepcionada, tão pouco revoltada ou anestesiada… A crise não perpassa o VIVER QUOTIDIANO. Na cara das pessoas, nas conversas de rua e de café, quer sejam elas na praia, quer sejam no centro de Madrid, sentimos optimismo e vontade de seguir vitoriosamente em frente, sempre a superar as adversidades.

De facto, os espanhóis e as espanholas são valentes, guerreiros, bem dispostos, solícitos, bem cheirosos e apresentados, carinhosos, sorridentes, etc…etc.. mas como não há bela sem senão, são e estão MUITO GORDOS! E este foi o meu maior ESPANTO destes dias.

Bem sabemos que o grave problema da obesidade abrange muitos países e continentes. No mês passado informava-nos o jornal Público: aos 11 anos, as crianças portuguesas são "significativamente mais baixas" do que a maior parte das suas congéneres da União Europeia e também mais pesadas do que o padrão de referência para a idade. Deste cruzamento resulta que, em conjunto com as crianças espanholas, as portuguesas são aquelas que têm um Índice de Massa Corporal mais acima da norma para a idade, segundo revela o estudo europeu Pro Children, financiado pela UE e concluído em 2007.
Por isso, tendo observado parte da população do país vizinho durante uns dias atentamente, não insistamos nos mesmos erros que são nossos, deles e de muitos mais, mas tenhamos a noção clara que temos de mudar de vida. Eles já o estão a fazer, o desporto infiltra-se por todos os poros da sociedade. Na praia todos os dias assisti a actividades desportivas e físicas promovidas pela entidade política local, nas televisões os apelos e a informção a este nível são constantes. Entre nós fazem-se uns esforços...

Aproveitemos bem o mês de Agosto (pensando que é o mês tendencialmente de férias). Parafrasenado Luiz Pacheco é necessário "CHANGER LA VIE". Relaxar, descansar não deverá ser apenas dormir, comer e deliciarmo-nos com os Jogos Olímpicos. E mesmo que apenas queiramos descansar, nos intervalos podemos e devemos ser activos, por isso mexam-se, por favor.

Há dias passou por Lisboa "um dos cantores da minha vida". Não pude ir ao seu concerto, mas amigos já me ofereceram parte deste no You Tube. Realmente é como nos canta"o velhinho" e não obeso Leonard Cohen (Closing time): todo o novo começo vem do fim de algum outro começo.
Por isso caros/as bloguistas alteremos os nossos hábitos quotidianos, ou persistamos neles se já forem bons, mas com muitas "ganas" para sermos mais felizes e mais saudáveis.
Se o fizermos também pelo e com o DESPORTO tanto melhor.
Boas férias! E espero que comece a divertir-se com a música que aqui lhe deixo, apenas e tão só com esse propósito e para não sair do cantor anteriormente invocado...