terça-feira, 27 de abril de 2010

O que dá Turismo mais Desporto?

Não será novidade para ninguém nem a primeira vez que alguém o dirá ou escutará. Que a ‘saída’ do país pode e deve estar – pelo conjunto de potencialidades naturais e algumas culturais – no Turismo. E num Turismo que reúna essa mesmas potencialidades, na parte da gastronomia, oferta paisagística, especificidades do nosso clima, etc.

Também não é nenhuma novidade relativamente à mais valia que poderá advir da junção do Turismo e Desporto. Mas que Turismo e Desporto juntar já é outra questão, também ela muito pertinente. Tal como a terminologia que a mesma deve ter: Turismo Activo? Ou isto é apenas uma faixa do Turismo mais Desporto? Esta temática tem sido a abordada e utilizada em diversos locais bem como mercados, como o Ensino ou nas Empresas de Animação Turística, ou na concentração e centralização no Instituto de Turismo.

A questão que colocamos é que tipo de actividade desportiva juntar ao fenómeno do Turismo. Uns focam-se nos grandes eventos. Outros nos desportos que de alguma forma têm uma grande procura por parte dos turistas, como p.e. o Golfe. Outros dizem que qualquer Turismo pode abranger e incluir a simples actividade desportiva como aposta na diversidade no serviço prestado e oferecido. Algumas localidades no nosso país afinam estratégias para que sejam reconhecidas e se coloquem no mercado como potencialidades em Desporto, seja ele de neve, natureza, aventura, activo, locais de estágio, boas localizações, etc. Umas com retorno (e que retorno? mensurável?) outras com menor retorno.

Definindo-se como uma das maiores potencialidades do país, a oferta ou a criação de produtos e serviços que possam conjugar a vertente turística e desportiva assume uma responsabilidade a diversos níveis: social, económica, financeira e saúde. O posicionamento desta actividade desportiva específica, com as particularidades que o próprio mercado turístico e desportivo deve assumir, remete-nos para as problemáticas transversais de gestão, planeamento e organização de projectos desportivos que o sistema desportivo vivencia há largos anos.

Certos que a junção do Turismo e Desporto deve proporcionar maior qualidade vivencial para quem a procura, seja uma simples caminhada ou algo mais complexo até aos eventos de grandes dimensões, também aqui a oferta tem de conjugar uma série de conhecimentos técnicos e comportamentais. E na oferta e constituição de técnicos profissionais com a respectiva especialização vai-se observando também a oferta do ensino e formação que existe, que vai crescendo em termos quantitativos. Mas que retorno será desejado e como o podemos medir também é algo que deve 'concentrar' as atenções de quem promove e organiza.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O senhor dos anéis

Pierre Coubertin era um homem rico quando iniciou a saga do movimento olímpico.Quando morreu estava pobre. A fortuna gastou-a no desporto e nos seus ideias olímpicos. De então para cá muita coisa mudou. Ao nível do dirigismo , agora, é difícil sair mais pobre que quando se entra. E a regra é passar a ganhar o que se não ganharia se não tivesse entrado: dinheiro, visibilidade pública e poder. Graças a Samaranch. Porque, com ele, o movimento olímpico transformou-se.
Em troco da grandiosidade que conseguiu dar ao movimento olímpico e desportivo internacionais Juan António Samaranch governou como muito bem quis e dando as explicações que entendeu. O seu consulado, e as polémicas em que se envolveu, está de resto, bem traduzido num invulgar número de obras que analisam o que foram os anos de gestão do Comité Olímpico Internacional e do seu percurso político.
Existe muitas vezes a ilusão de que as organizações são propriedade dos que contigencialmente as lideram. E que terão uma espécie de autoridade divina e para todo o sempre imune à crítica e ao escrutínio público. Coubertin terá sido porventura o maior autor de temas desportivos e olímpicos que o mundo já conheceu. Foi a todas as polémicas e enfrentou todos os poderes.Com duas armas : a palavra e alguma diplomacia. Acreditava convictamente no desporto. E pagou do seu bolso os devaneios a que se dedicou. Mas morreu e acabou. O movimento olímpico seguiu outro caminho. E dele recorda-se uma ou outra coisa polémica. A generalidade dos dirigentes desportivos ou ignora o seu legado, ou diz umas banalidades.
Com Samaranch vamos ver. A autoridade e o poder conquistados derivam do dinheiro que conseguiu canalizar para a sua gestão. A diplomacia, cujos meandros ele conhecia bem, veio depois. E com o caminho bem almofadado pelos confortáveis negócios que conduziu a favor do CIO.E pelo que passou a oferecer à sua organização e aos dirigentes nacionais e internacionais: poder, estatuto, viagens, despesas de representação, eventos, etc. E muita “solidariedade olímpica”. Como o conseguiu pouca interessa. O que conseguiu é tanto e tão bem distribuído, para quê estar a levantar a questão? O temor reverencial que Samaranch incutia a todos quantos dele dependiam é mérito seu. Mesmo que tenha sido construído como o são todos os grandes impérios não democráticos: com mão de ferro. E sem tolerância e com liberdade e fraternidade quanto baste. O que lhe permitiu passar bem pelos escândalos que envolveram a sua gestão. Nos casos de corrupção e de dopagem. Com uma receita simples: aguentar enquanto é possível; deixar cair quando é insustentável. Sempre sem ser atingido.
Quem pretender escrever em cima dos acontecimentos corre o risco de se equivocar. A história precisa de tempo. A liderança de Jacques Rogge dá sinais de querer restituir ao movimento olímpico internacional uma transparência que de há muito perdeu. De fazer corresponder os actos às palavras. Veio para ficar? As organizações vivem de equilíbrios. Reagem mal a mudanças repentinas. Ainda para mais quando se trata de organizações centenárias e onde o poder se sacralizou. O CIO parece, apesar de tudo, uma organização mais aberta. Em certo sentido menos autocrática. Resta aguardar.
Juan António Samaranch deu ao longo dos seus mandatos provas de inequívoco apoio a Portugal. Segundo o jornais A Bola e Record na hora do adeus e do prestar da última homenagem ao dirigente desportivo olímpico apenas uma presença portuguesa: Rosa Mota.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Clubismo, Clubite e Claques

Mais um texto de Luís Leite, que se agradece.
Sendo os clubes a célula base da organização desportiva, não só em Portugal mas em toda a Europa, não é possível pensar em reformas que conduzam a um maior nível de desenvolvimento do nosso Desporto, sobretudo o formal, federado, sem ter em consideração esta realidade de contornos eminentemente sociais.

Uma questão que sempre me intrigou foi o porquê de se “ser” de determinado clube, pese embora a tradição familiar e regional que estão certamente na origem da maioria das opções de cada um e que acabam por ficar para toda a vida. Assim, é curioso como são raríssimos os casos de pessoas que mudaram de preferência clubista ao longo da sua vida.
A adesão metafísica e mais ou menos irracional a um clube “grande”, é feita quase sempre na infância e é vulgar não se ser capaz de explicar por que razão se aderiu a este e não a outro.
Também é habitual, sobretudo fora dos grandes centros urbanos, existirem duas preferências clubistas: uma ligação (perfeitamente natural) ao clube da terra e uma ligação (mais ou menos lógica) a um dos chamados “grandes”. Mas isto não é regra, já que também existem apaixonados por clubes de dimensão média, em regime de exclusividade.

Quanto aos níveis de intensidade de adesão, também são muito variáveis e vão da simples “simpatia” até à “paixão grupal, descontrolada e violenta” de certas claques, passando por outros intermédios (praticante, praticante profissional, filiado pagante normal ou sofredor, dirigente benévolo, dirigente profissional, etc.).
O Desporto português deve muito, mesmo muito, a uma imensidão de dirigentes e treinadores carolas que nos clubes, e na maioria dos casos sem vantagens pessoais, promoveram e promovem a prática desportiva, numa atitude cívica notável.

Dito isto, entramos no problema, sem dúvida complicado, da “clubite”.
Não sendo eu profissional das áreas da Psicologia, Psiquiatria ou Sociologia, costumo dizer que a clubite é uma espécie de infecção cerebral, para a qual não há antibióticos que resultem.
A clubite é uma atitude basicamente irracional. É uma paixão desmesurada e desproporcionada por uma entidade imaterial ou pelo menos com contornos pouco definidos, de natureza simbólica (?).

Em Portugal, infelizmente, a clubite atingiu, há muitas décadas, o grau patológico de epidemia. E o mais grave é que uma percentagem certamente elevada da população masculina (pelo menos) está fortemente contaminada. E este fenómeno é visível em todas as classes sociais.
Só assim se compreende o tipo de abordagem jornalística que hoje é praticada em todas as áreas da Comunicação Social e que dificulta, ou mesmo impede, um entendimento saudável e natural da competição desportiva.

A consequência mais grave da clubite é a existência das mais radicais claques desportivas, grupos organizados e patrocinados pelos próprios clubes, as quais, indo muito além do natural incentivo e apoio durante os jogos e competições, se dedicam essencialmente à agressão física, ao vandalismo e à mais grosseira ordinarice no uso da linguagem.
Curiosamente, o Estado, em vez de proibir estas organizações anti-desportivas e muitas vezes reconhecidamente criminosas, tolera-as como parte integrante e fundamental do espectáculo desportivo.
Para tal, mobiliza quantidades enormes de agentes de segurança que, não sendo visíveis no dia-a-dia na prevenção do crime nas avenidas e ruas das nossas localidades, aparecem nas competições desportivas, tentando minorar os efeitos da javardice, sendo para tal disponibilizados recursos humanos e financeiros incompreensíveis num país dito civilizado.

Não há coragem para acabar com isto?
Não.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Dormir na forma

A insónia é uma perturbação do sono que se traduz na dificuldade em adormecer. Á insónia também se chama espertina. Todos, uns mais, outros menos, já sofremos desta perturbação. Querer adormecer e não ser capaz. Dar voltas e mais voltas na cama e permanecer acordado.
A insónia é considerada um problema de saúde pública. Estudos realizados em vários países apontam que, pelo menos dez por cento da população, identificam os seus problemas em dormir como recorrentes e sérios. Nas causas associadas à insónia estão factores como a depressão, a ansiedade, a obesidade, as alterações horárias, o abuso de café, chá ou tabaco, stress, barulho, vida agitada e ritmos poucos saudáveis.
A falta de um sono reparador causa distúrbios graves como a falta de concentração, a baixa rentabilidade no trabalho, o cansaço físico constante, a irritabilidade, o nervosismo, a ansiedade e até a depressão e perturbações do metabolismo alimentar. Em certo tipo de personalidades dá para que apresentem um ar enfadado e sobranceiro.
Este tipo de problemas é frequentemente tratado com químicos com efeitos sedativos. Muitos dos que sofrem de insónias conhecem-lhes os nomes e têm-nos por companheiros inseparáveis. Mas também existem terapias mais ligadas a alterações do estilo de vida que parecem ter um efeito salutógénico sobre o sono. Dizem que o exercício físico é uma boa terapia. E outras práticas que ,por decoro, se não referem.
Mas o sono e as doenças que lhe estão associadas são um registo ambivalente: a doença do sono é sono a mais; a insónia é sono a menos.
Uma e outra daquelas doenças têm as suas ramificações metafóricas: os que dormem em pé , os que dormem à sombra da bananeira e os que dormem acordados. Nestes casos não é nem falta de sono, nem sono a mais. É apenas dormir na forma.
Receio bem que, o dormir na forma, seja o que se esteja a passar com as politicas públicas desportivas. E sem razão aparente. Porque há mais razões para a insónia do que para dormir na forma.
A insónia pode bem ser o resultado de receios, de medos, de se não dominar o futuro, de não saber o que aí vem. Mas o dormir na forma é preguiça. Há muito trabalho por fazer e há muita iniciativa política por completar.
Estranha-se a letargia de que o governo parece possuído ou de quem, aparentemente, esgotou a sua capacidade reformadora. O pior que pode suceder a qualquer governação é entrar numa espécie de gestão corrente esperando que um outro ciclo (uma outra maioria? )o acorde do torpor em que caiu. Como há dias dizia uma amiga até nos comentários a este blogue se regista essa hibernação.
O programa de governo é extenso. E importa começar a cumpri-lo. E não cair na tentação de fazer da governação politica uma extensão da administração pública. Esta serve para gerir. A governação serve para facilitar a gestão e adequá-la a um propósito político. O pior que podia suceder à política é permanentemente estar a gastar tempo a alterar o que ela própria produziu. Porque concluiu que complica a gestão. E não parece muito elogioso estar permanentemente a alterar o que se produziu. Sobretudo por parte do governo que sempre anunciou que sabe o que quer e para onde vai.

domingo, 18 de abril de 2010

Quantas suspensões de utilidade pública desportiva?

Quando se anuncia a publicação em Diário da República do primeiro despacho de suspensão do estatuto de utilidade pública desportiva, ao abrigo do novo regime jurídico das federações desportivas, a uma federação desportiva – no caso a Federação Portuguesa de Futebol -, dediquemos algum espaço a essa figura.
Seja-nos permitido, porém, relembrar o «penoso processo» que percorreu todo o ano de 2009.
Em breve, dir-se-á que, fruto da publicação do novo regime jurídico das federações desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva, as federações existentes viram-se vinculadas a um dever de adaptação dos seus estatutos às novas disposições legais relativas à sua organização e funcionamento.
Sobre os valores e desvalores dessas normas legais já muito adiantámos, em momentos, espaços e locais bem diferenciados. E não fomos os únicos. Não iremos, agora, repisar argumentos e opiniões.

Certo é – parece-nos objectivamente indesmentível – que o processo de adaptação estatutária conheceu contornos muito especiais.
Num primeiro momento, em 14 de Agosto de 2009, o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, em acção de propaganda, sublinhou o seu contentamento pelo facto de um número bem significativo de federações desportivas ter procedido à revisão estatutária. Nessa altura (pré – eleitoral) de nada interessava aquilatar se as novas normas estatutárias estavam ou não conformes à lei. Satisfazia-se o poder político com a forma, não com a substância.
Mais tarde, após as eleições legislativas de Setembro, é que se veio a tornar público que os tais elogiados estatutos federativos continham normas contrárias à lei. Daí seguiu-se uma «segunda de mão», levada a efeito por inúmeras assembleias gerais das federações desportivas.
Terão, ainda assim, ficado algumas pinturas borradas? Ver-se-á com o decorrer do tempo.

De todo o modo, criou-se a convicção que a suspensão do estatuto de utilidade pública desportiva era medida sancionatória que só seria tomada pelo Governo no caso das federações desportivas não apresentarem estatutos retocados.
Nada de mais errado.

Na verdade, se é correcto afirmar que é no regime jurídico das federações desportivas que encontramos o núcleo dos fundamentos que levam à suspensão da utilidade pública desportiva, aliás disperso por mais de uma norma, não menos verdade é que tal medida aparece prevsita em outra legislação.

São três, para já, os diplomas legais que destacamos.
O primeiro é o Decreto-Lei n.º 248-A/2008, de 31 de Dezembro, que estabelece o regime de acesso e exercício da actividade de treinador de desporto.
O artigo 12º, nº 2, estabelece deveres de regulação às federações desportivas, a cumprir no prazo de 180 dias (propostas a enviar ao IDP) e adopção de normas de regulamentares, após a validação do IDP, no prazo de 90 dias. Se as propostas iniciais não forem apresentadas pelas federações no prazo estabelecido, incumbe ao presidente do IDP, após audição do Conselho Nacional do Desporto, concretizar a regulação.
Por seu turno, o artigo 26º, nº 1, estipula que às federações desportivas titulares do estatuto de utilidade pública desportiva que não cumpram o disposto no artigo 12.º do decreto-lei aplica -se o disposto nos artigos 21.º, 22.º e 23.º do Decreto -Lei n.º 248-B/2008, de 31 de Dezembro. Logo, o regime de suspensão da utilidade pública desportiva.
Tendo o diploma entrado em vigor 90 dias após a data da sua publicação, quantas federações cumpriram os seus deveres na regulação da actividade de treinador? Haverá alguma que não tenha apresentado, em devido tempo, as propostas que lhe são exigidas? Em caso afirmativo, quantos despachos fundamentados estão a ser preparados?

Segundo diploma: Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho, que estabelece o regime jurídico do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança.
Aqui, no artigo 5º, estabelecem-se deveres de regulamentação para as federações desportivas e ligas profissionais (regulamento de prevenção da violência). Esses regulamentos estão sujeitos a registo junto do CESD, que é condição de validade.
A não aprovação e a não adopção da regulamentação prevista, bem como a adopção de regulamento cujo registo seja recusado pelo CESD, implicam, enquanto a situação se mantiver, a impossibilidade de o organizador da competição desportiva em causa beneficiar de qualquer tipo de apoio público, e, caso se trate de entidade titular de estatuto de utilidade pública desportiva, a suspensão do mesmo (cá está ela de novo).
Por sua vez, o artigo 50º, nº 1, determina que a adopção de tais regulamentos deve (deveria) ocorrer até ao início da época de 2009-2010.
Qual serão «saldo» neste domínio?

Por fim, um terceiro caso: a Lei n.º 27/2009 de 19 de Junho (Estabelece o regime jurídico da luta contra a dopagem no desporto).
É o artigo 12º que consagra um dever de regulamentação federativa antidopagem, a registar junto da ADoP.
O incumprimento do disposto implica, enquanto o incumprimento se mantiver, a impossibilidade de as federações desportivas serem beneficiárias de qualquer tipo de apoio público, sem prejuízo de outras sanções a aplicar.
O artigo 76º, nº 1, prevê um prazo para a adaptação dos regulamentos federativos ou das ligas profissionais ao disposto na lei: 120 dias a contar da data de entrada em vigor da lei.
A lei entrou em vigor no dia 20 de Junho (artigo 78º).
Que federações cumpriram esse dever?
É que, retornemos ao regime jurídico das federações desportivas, constitui fundamento para a suspensão do estatuto de utilidade pública desportiva, o não cumprimento da legislação contra a dopagem no desporto [artigo 21º, nº 1, aliena b)].

Existe, pois, mais «suspensão de utilidade pública desportiva» do que se pensa. Haverá Estado para tanta?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Rumo a uma posição comum

A competência conferida pelo Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) no domínio do desporto constitui um ensejo para a definição de uma política desportiva da União com vista à implementação do texto estipulado no art.º 165.º

Prevendo-se para o Outono uma comunicação política da Comissão sobre o impacto do TFUE no desporto, com uma proposta de programa europeu para o sector, bem como uma avaliação da concretização das orientações do Livro Branco sobre o Desporto, incluindo dois itens adicionais – os direitos de propriedade intelectual e a fixação de resultados -, está em marcha o processo para determinar as bases da política da UE para o desporto.

Desta forma, com o propósito de recolher contributos, aprofundar a análise de áreas específicas e de mobilizar interesses na definição das principais prioridades da União, acentuam-se os mecanismos, formais e informais, de condicionamento da agenda no cenário institucional europeu nesta fase inicial e decisiva da formulação política.

O movimento desportivo e olímpico não perdeu tempo e apresentou desde logo, a partir da sua representação de interesses em Bruxelas, a sua posição comum, com o respectivo caderno de encargos, em relação à aplicação do TFUE. No entanto, o mundo do desporto vem cada vez menos falando a uma só voz. Recentemente os representantes dos atletas europeus de elite tomaram também a sua posição comum. Uma leitura cruzada destes dois documentos atesta diferenças assinaláveis sobre a acção da UE no futuro político do desporto, bem resumidas na perspectiva sobre o modelo de governação e regulação que os atletas propõem na seguinte frase:

Qualquer movimento para promover a especificidade do desporto não deve comprometer os direitos fundamentais dos desportistas como cidadãos e empregados ou trabalhadores. É essencial que os desportistas continuem a ter recurso aos tribunais nacionais e europeus para salvaguardar os seus direitos fundamentais

As práticas discriminatórias são um tema que preocupa a Comissão, o qual pretende aprofundar de modo a criar uma base de conhecimento sólido para ulteriores decisões. Desta forma, cumprindo o itinerário típico para a definição de políticas europeias, contratualizou um estudo nesta área especifica afim de elaborar um conjunto de recomendações até ao final do ano para limitar este tipo de práticas pelas federações desportivas.

Também os aspectos em torno da integridade desportiva, à qual faz referência o TFUE, se encontram na ordem do dia. Uma plataforma representando diversas federações desportivas, sedeada em Bruxelas, identificou em relatório tornado público no Parlamento Europeu dez ameaças, com exemplos daquilo que pode ser feito para as minimizar. Sublinhou, na senda do que a Comissão vem referindo, as carências de dados disponíveis, com excepção do doping e da fixação de resultados. Com vista a prevenir este ultimo factor de risco a indústria do jogo, em parceria com representantes dos atletas europeus e a Associação para a Segurança dos Desportos Europeus lançou um código de conduta para os atletas sobre apostas desportivas.

No âmbito dos mecanismos de consulta e “diálogo estruturado” com os responsáveis desportivos e os governos nacionais estes são temas específicos de áreas de intervenção onde a competência complementar da UE, através da acção da Comissão, poderá trazer valor acrescentado. Estão referenciados para discussão brevemente, no Fórum de Desporto da UE 2010, na reunião informal de ministros responsáveis pelo desporto e, finalmente, no primeiro encontro formal de acordo com as novas orientações durante a reunião do Conselho “Educação, Juventude e Cultura”.

Até 1 de Junho cabe também aos cidadãos interessados uma palavra e um contributo na preparação do futuro programa e politica da UE para o desporto.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Opções

O ultimo texto do Luís Leite enumera um conjunto de compromissos políticos que, nuns casos, tardam em se concretizar, ou que, em outros, foram aparentemente abandonados. Não disponho de elementos que permitam sobre o assunto ter uma opinião fundamentada. Mas a experiência diz-me que em matéria de obras de iniciativa pública a regra é o constante deslizar dos prazos de execução. E se for apenas isso não se trata de promessas e objectivos incumpridos. Mas apenas de prazos. Apesar de tudo é uma diferença significativa entre algo que se concretiza ainda que em prazo diferente do anunciado de um qualquer projecto que se anuncia e depois se abandona. E esta observação não envolve qualquer juízo de mérito em relação a uns ou a outros.
Questão substancialmente diferente é dizer hoje uma coisa e amanhã uma outra.
Por exemplo: o ministro Teixeira dos Santos disse na comissão de orçamento e finanças que "há um risco sério de enfrentarmos dificuldades significativas no financiamento da economia portuguesa, se não formos capazes de dar sinais claros de controlo do défice e da dívida pública”.Mas ao contrário do que defendeu o Teixeira dos Santos que depôs no Parlamento, o Teixeira dos Santos ministro defendia ainda há alguns meses atrás, à beira de eleições e mesmo depois delas, que a economia portuguesa não corria qualquer risco significativo de financiamento e que até dava sinais de recuperação de fazer inveja a outros. O défice estava controlado o endividamento público não lhe dava dor de cabeça alguma porque outros o tinham maior.
Durante algum tempo glosou-se a afirmação de um dirigente desportivo que em tempos afirmou ”que no futebol o que hoje é verdade amanhã é mentira”. Esse dirigente a ser criticado só o pode ser por ter vistas curtas. É que o futebol, afinal, não tem esse exclusivo. E os dirigentes desportivos têm os seus alter-egos em muitos outros dirigentes públicos. Ou vice-versa.
O estado social não acaba só porque os neo-liberais o capturam. Um das formas de acabar com ele é levá-lo à falência. A outra é destruí-lo através da descredibilzação dos agentes políticos que o suportam. As duas em simultâneo são desastre à vista. Não é seguro que não corramos esse risco.
Gonçalo M. Tavares na conferência do 70º aniversário da FMH defendeu que a falta de memória política deveria ser considerado um crime. E fê-lo num quadro transversal de um conhecimento e de uma quotidianidade para quem o presente nunca é explicado pelo passado, antes serve para projectar o futuro. Churchill comentava que a habilidade politica está na capacidade de prever o que vai acontecer amanhã, na próxima semana e no próximo ano e depois explicar porque é que assim não aconteceu. Não nos faltam exemplos. É certo que a política é o mais inexacto de todos os saberes. Mas o facto não explica tudo. Há muita falta de decoro e de vergonha
Os países não são o que quiserem ser. São o que podem ser a partir da sua história e das suas circunstâncias. E o do desporto não escapa.
Os problemas da realidade portuguesa e os seus constrangimentos desportivos estão hoje na economia. É estimulante discutir as prioridades do investimento e da despesa corrente. Mais do que estimulante é necessário. Porque não há só um caminho . A questão central é saber se não é possível com o actual estado da economia pedir um desporto diferente. Seria um grande avanço se o desporto e os seus responsáveis políticos pudessem esclarecer qual o contributo que pretendem para o plano de estabilidade e crescimento. Em que é que as politicas públicas desportivas vão ajudar na consolidação orçamental e no crescimento da economia É que contrariamente a outras áreas sociais a despesa pública do Estado central no desporto com origem na arrecadação fiscal é ínfima. E por isso o seu contributo à redução da despesa é marginal. O grosso resulta de verbas consignadas com origem nos jogos sociais. Uma diferente ordem de prioridades no escalonamento da aplicação desta receita bem poderia ser um bom contributo às economias associadas ao desporto. Ou não. Depende das opções.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Jamor, o atletismo e a manhã de nevoeiro

Um novo texto de Luís Leite que a Colectividade Desportiva agradece.


Entrando no portal da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto ou no “site” do Instituto do Desporto de Portugal e procurando na “Medida 6 – Centros de Alto Rendimento” e a seguir clicando em “Centro de Alto Rendimento do Jamor – Atletismo”, pode ver-se um filme justificativo da iniciativa e dois quadros explicativos sobre as características dos equipamentos e das obras a executar.
Este Centro de Alto Rendimento, resposta do anterior Governo à luta do Atletismo Português, numa reivindicação antiga e continuada por condições de apoio aos atletas no “Regime de Alta Competição”, semelhantes às que existem em toda a Europa há décadas, foi apresentado com grande pompa e circunstância mais do que uma vez em anos transactos, no auditório do Complexo de Piscinas do Jamor.

Nos quadros explicativos encontram-se claramente definidos os valores das obras e os prazos para conclusão das mesmas.
Confrontemos, em análise rápida, o prometido com o executado, tomando como momento referencial o início de Abril de 2010:

Pista de Atletismo nº 1 – Estádio de Honra
Conclusão prevista: Julho de 2009.
Situação actual: nada foi feito, tendo-se desistido da obra.

Pista de Atletismo nº 2 (recuperação)
Sem referência a data de conclusão.
Situação actual: a obra encontra-se aparentemente concluída, embora sem arrecadações para o material, com algumas deficiências construtivas e sem estar apetrechada. A iluminação foi esquecida, mantendo-se a antiga, muitíssimo insuficiente.

Pista de Crosse
A integrar no Centro de Alto Rendimento de Golf/Campo de Golf.
A pista continua felizmente a existir, mas quanto a Campo de Golf, nada.

Edifício de Balneários
Conclusão prevista: 30 de Maio de 2008.
Situação actual: o edifício existe há bastante tempo, mas continua sem condições para ser utilizado, por razões não divulgadas, que se prendem com erros diversos e com o atraso na construção da Nave Coberta.

Edifício de Apoio Administrativo e Técnico
Conclusão prevista: Setembro de 2008.
Situação actual: Integrado no edifício dos balneários, também continua sem condições para ser utilizado.

Nave Coberta
Conclusão prevista: Agosto de 2009 (na apresentação pública Abril de 2009, posteriormente Setembro, Outubro, Fevereiro e Abril de 2010).
Situação actual: a obra encontra-se muito atrasada, podendo prever-se que a sua conclusão nunca será possível antes do Verão de 2010.

Instalações para o Departamento Médico da FPA
Não previstas inicialmente.
Situação actual: aparentemente a obra estará concluída, mas sem condições para ser utilizada.

Resumindo:

Após décadas de luta para dotar o Atletismo português de um verdadeiro Centro de Alto Rendimento com uma Nave Coberta para treino de Inverno e outras valências indispensáveis, o Governo anterior avançou finalmente com projectos e obras.
Tendo ficado acordado com o Secretário de Estado que a FPA, além de fornecer o Programa Preliminar da Nave Coberta e do Departamento Médico, daria aconselhamento técnico durante as fases de projecto e obra, o IDP nunca mais quis a ajuda da FPA, com três excepções:
uma reunião do signatário com o arquitecto responsável pelo Projecto de Arquitectura, convocada pelo Director de Serviço do IDP, onde foram solicitadas pela FPA diversas alterações ao Estudo Prévio;
a entrega pela FPA ao IDP de listas com os apetrechamentos para a pista 2 e para a Nave Coberta;
a entrega pela FPA ao IDP do novo layout da Pista nº 2, com pequenas alterações ao existente.

A FPA e o signatário nunca mais foram contactados. A falta de acompanhamento técnico originou o aparecimento de erros projectuais mais ou menos graves. A FPA e o signatário acabaram por receber, após várias insistências e tardiamente, o Projecto de Arquitectura.

Desconheço o que se tem passado após a minha demissão da FPA em 29 de Julho de 2009, apesar de ter continuado a visitar, por fora, a obra.
O Atletismo Português continua pacientemente à espera do Centro de Alto Rendimento, que será inaugurado, certamente, numa manhã de nevoeiro de um dia, mês e ano desconhecidos.

Entretanto, Nelson Évora, Naide Gomes, e todos os melhores atletas portugueses continuaram a treinar no Inverno à chuva e ao frio, acumulando lesões.
Lisboa continua e continuará na próxima década, a não ter uma pista coberta para competições oficiais, 9 anos após o Mundial de Pista Coberta no Pavilhão Atlântico, apesar das eternas promessas dos sucessivos Governos e Executivos Municipais.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Estudar o sucesso

A optimização procura retirar o máximo de rendimento de uma capacidade ou de uma acção. É um esforço útil. E nunca está terminado. Porque faltará sempre algo. E a dúvida sobre se não seria possível fazer mais. Mas a optimização é também um risco. Em seu nome pode-se adiar uma decisão, não definir uma opção. É o caso dos perfeccionistas. Adiam o que fazer em nome de uma perfeição jamais alcançada. Convivem mal com a grandiosidade do que pensam comparada com a frugalidade do que realizam. Mas pior do que isso são as modas que, por tudo e por nada, procuram a excelência.
O palavrão entrou no jargão de tudo e mais alguma coisa: no desporto, na gestão, na psicologia, na política. Todos procuram a excelência que é assim a modos que um misto de Bill Gates (ter sucesso) com meditação budista (pensar positivo).
Os partidos políticos e os governos, sempre em cima do acontecimento, capturaram a tendência e também eles procuram a “excelência”. O que é, como se mede e onde está ela, é coisa que os livros dizem que ensinam. E quem não queira queimar as pestanas a ler tem à sua disposição um menu variado de cursos, seminários, fóruns e outros encontros do género. E, claro, as redes sociais que é óptimo para a saúde ocupacional. Hoje, estar actualizado, é procurar a “excelência”. E se a não encontra há que persistir e inspirar-se nos portugueses “que pensam positivo”
A “procura da excelência”tornou-se assim um novo “sound byte” das pessoas supostamente criativas. Um autor conceituado, Jim Collins, escreveu um livro Good to Great que em Portugal foi traduzido para Do bom ao Excelente. A onda pegou. Mas como em tudo na vida, o senso e o equilíbrio são a boa mistura.
A superação, a transcendência, a capacidade de fazer melhor é um desígnio humano. Mas a chamada “procura da excelência” é uma figura de retórica que, com tanta banalização, corre o risco de ser imaterializável. Ou então, medida à escala dos interesses próprios. A sua simples enunciação seria suficiente de que estaríamos num patamar superior.
Respigando programas, projectos e iniciativas desportivas, assistindo a seminários e outro tipo de acções de formação encontramos invariavelmente a ”procura da excelência”. O responsável governamental pelo desporto não a dispensa. Mesmo que não diga, nem saiba, em que se traduz e que indicadores a revelam. Passa a ser uma espécie de “estado de espírito”. Anda por aí e deve ser reconhecida!
Tal como os governos consideram que progredimos fazendo mais leis, também algumas tendências da gestão do desporto consideram que se muda a realidade alterando as terminologias e inundando os discursos profissionais de “clichés” e novidades terminológicas. Que se agravou com a chegada à dimensão comunicacional de muitos marqueteiros, para quem as estratégias se resumem a acções de gestão/comunicação mediática.
As organizações desportivas não deviam perder muito tempo com a procura “excelência”. Seria preferível estudarem os factores inibidores da acção e das escolhas. Tentar compreender o desvio entre o previsto e o realizado. E perceber um desporto que parece avançar mais rapidamente que o conhecimento que temos sobre ele e sobre o modo de o organizar.
Mais importante que a actualização do léxico da gestão é estudar os projectos, as organizações e os países que obtêm resultados e alcançam sucesso. Talvez isso ajude a explicar que no Brasil o mesmo livro de Jim Collins tenha tido como titulo Empresas feitas para vencer. É que, porventura, estudar o sucesso é bem mais importante. E constatar que ele ocorre nas organizações onde existe modéstia das palavras e dos propósitos. Mas uma clara definição das opções - poucas mas bem determinadas -uma clara focalização nas prioridades e a existência de estabilidade nas lideranças e nas políticas. Em que contam os resultados e não as intenções. Não é tudo. Mas ajuda muito.

domingo, 4 de abril de 2010

Maputo e Obesidade Sarcopénica

Dias antes de viajar para Maputo tinha visto uma excelente reportagem da jornalista Cândida Pinto intitulada "Eu e os Meus Irmãos" que relata as vidas dos órfãos de vítimas de sida em Moçambique. Despertou-me, ainda mais, a curiosidade para a realidade social que me esperaria neste país tão longínquo, mas tão familiar devido às recordações e memórias invocadas por vários amigos que lá viveram.

Foi, por conseguinte, o XIII Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa, realizado no Centro de Conferências Joaquim Chissano, designadamente algumas das intervenções deste evento, assim como alguns recortes da vida moçambicana, que me inspiraram uma ou duas ideias para partilhar nesta colectividade. A primeira prende-se efectivamente com a cidade de Maputo e as suas gentes. Estar no estrangeiro e ouvir e falar português proporciona um bem-estar, uma serenidade e uma felicidade incomensuráveis, ainda muito mais acrescidos quando os anfitriões são doces no trato e nos olham meigamente como é o caso dos moçambicanos. Neste particular, também a reportagem acima invocada evidencia bem esse olhar sublime de candura e doçura deste povo.
Porém, apesar dos progressos, continuam bem evidentes nas casas, nos transportes, nos hábitos, nos comércios de rua, no salário mínimo (a rondar os 30 euros), os sinais que reflectem uma realidade pobre e que persistem em colocar Moçambique na cauda dos países mais pobres do mundo (posição 172 de 177 no Índice de Desenvolvimento Humano de 2007/2008).
Dados relativos à esperança média de vida dos Países de Língua Portuguesa indicam Moçambique com os valores mais baixos (cerca de 43 anos), aumentando na cidade de Maputo para valores médios de 62 anos para os homens e de 55 anos para as mulheres.

Daí que algumas intervenções neste congresso, nomeadamente as que incidiam sobre o envelhecimento e ainda por cima associados à obesidade sarcopénica (aumento da massa gorda e redução da quantidade e da qualidade muscular que conduz a uma baixa qualidade muscular e aptidão física geral reduzida), tenham sido um dos paradoxos patentes entre a investigação e a vida real dos Moçambicanos. Porém, os temas, os trabalhos e investigações apresentados neste congresso patentearam bem o espaço diferenciado que é a lusofonia e que reclama, necessariamente, reflexões e estudos específicos e não apenas os que sobrelevam das academias americana e europeia.

Por fim, um último registo para nomes de desportistas, dirigentes e técnicos invocados em conversas amenas com diversos Moçambicanos e que perduram na nossa história desportiva, tais como Mário Coluna, Eusébio, Fernando Adrião, Dulce Gouveia, Mirandela da Costa, João Boaventura, Hermínio Barreto. E como eles continuam a ser referências, estimados e queridos…lá como cá!