segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Exame de Consciência

Declarações recentes de dirigentes desportivos e responsáveis políticos após mais um caso de violência num estádio, desta vez numa competição profissional, voltaram a agudizar a polémica em torno do policiamento de eventos desportivos.

Em texto anterior procurou-se, no âmbito técnico, situar os circunstancialismos em torno do novo quadro regulador nesta matéria, antecipando, aliás, o avolumar de episódios que hoje ocorrem em diversas contextos de competição dada a previsível leitura economicista que logo veio a ser feita pelos seus organizadores, a qual se acentua na conjuntura que o país atravessa.

Desta forma, vários foram os casos onde os clubes anunciaram abdicar ou reduzir o contingente policial nos seus jogos. Noutra vertente, menos noticiada, concretamente em modalidades praticadas na via pública (atletismo, ciclismo, triatlo, etc.) reduziu-se o calendário de provas, ou diminuíram-se as comparticipações para acudir ao aumento dos encargos de policiamento…

Porém, o problema antes de ser técnico, é um problema de cariz político e conceptual. Trata-se da politica desportiva definir, em matéria de segurança e combate à violência associada ao desporto, onde terminam as responsabilidades dos organizadores das competições e começa a salvaguarda da segurança pública, para, posteriormente, o quadro normativo traduzir tais opções, no respeito, não o esqueçamos, de convenções europeias rubricadas pelo Estado português.

Ou seja, a partir dessa concepção - a qual não pode ser naturalmente alheia de uma abordagem politica integrada da situação desportiva e económica do país, bem como da disponibilidade dos efectivos policiais no território nacional – importa afectar os recursos e as competências necessárias para garantir o cumprimento das disposições legais, no domínio preventivo, repressivo e sancionatório, clarificando à partida quais os níveis competitivos onde os dinheiros públicos comparticipam o policiamento - se é que tal comparticipação se justifica – e onde, e como, são exigidas maiores responsabilidades ao movimento desportivo e aos agentes educativos.

Ora, pela voz do titular da pasta da Administração Interna (!?), esclarece-se a orientação estratégica de politica desportiva a este propósito:

«…"Quem organiza o jogo é responsável pela segurança e sempre foi assim. Pode requisitar ou não o policiamento, e sempre foi assim".
(…) o objetivo da nova legislação - "à semelhança, aliás, do que acontece noutros países europeus" - é apenas "caminhar progressivamente para a dispensa de policiamento nos escalões mais baixos, dos infantis e juvenis".
Atribuindo essa estratégia à intenção de reduzir as despesas dos clubes, o governante refere que a medida tem também carácter pedagógico, procurando impedir que, no período de formação da personalidade dos atletas mais jovens, o universo do desporto fique associado à imagem das autoridades policiais.
"É para não associarem, desde a mais tenra idade, a prática desportiva a questões de segurança", explicou o ministro(…)»

A legislação actual tipifica, em três níveis sancionatórios (penal, mera ordenação social e disciplinar) o espaço de intervenção dos agentes judiciais, administrativos e desportivos. A todos eles são atribuídas responsabilidades para agir neste âmbito. Terão os meios necessários para o seu competente exercício? A realidade tem falado por si.

Ora, desconhecendo-se uma intervenção consistente de prevenção sócio-educativa no combate a estes fenómenos de violência junto de adeptos e da população em idade escolar e mantendo-se as disfuncionalidades ao nível sancionatório - começando na extinção do Conselho para a Ética e Segurança no Desporto, passando pela aguardada alteração ao regime jurídico do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos anunciada no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 266-A/2012, e terminando nas crónicas limitações das autoridades judiciárias e de policia criminal em aplicarem, "à semelhança, aliás, do que acontece noutros países europeus", as medidas de interdição de acesso a recintos desportivos – afigura-se essencial nas decisões que se tomam, nas medidas que se anunciam e nas declarações que se proferem, caso realmente se pretenda traçar uma rota de mudança, ter isto bem presente no seu espectro de intervenção e assim proceder a um exame de consciência a partir da seguinte questão:

Alguém que habitualmente frequente os espaços de prática desportiva deste país, nos seus vários níveis de competição e modalidades, acredita estarem reunidas as condições mínimas para, no presente contexto desportivo e socioeconómico, generalizar-se o arbítrio para a dispensa de policiamento, procedendo-se à efectiva responsabilização dos promotores e à punição dos prevaricadores, de modo a progressivamente tornar estes espaços, não apenas locais seguros mas também palcos privilegiados para potenciar o retorno económico dos eventos e se manifestarem os valores culturais e educativos que dão forma ao desporto enquanto instrumento de formação cívica que importa estimular?



domingo, 24 de fevereiro de 2013

Boavista


Texto publicado no Público de 24 de Fevereiro de 2013.

1. Neste espaço, ao logo dos últimos anos, e em declarações públicas diversas, fomos acompanhando o desenrolar do “Caso Boavista”, não dominando, todavia, todos os necessários pormenores do processo (ou processos).
Nunca nos pronunciámos sobre a questão material, ou seja, se o Boavista e os seus dirigentes praticaram ou não as infracções disciplinares pelas quais vieram a ser sancionados na “Noite das facas longas”, em 2008.

2. O desenrolar dos processos oriundos do “Apito Final”, fundamentalmente em tribunal, mesmo os relativos a outros agentes desportivos, foi nos dando indícios que, independentemente da questão de fundo, temas tão importantes como os meios de prova utilizados no processo disciplinar desportivo precipitavam um final contrário às intenções da acusação, colocando em crise as próprias decisões sancionatórias.

3. Sempre, ao longo deste mesmo período, fui sustentando que, caso a “razão” assiste-se ao Boavista, o direito à participação na I Liga deveria ser equacionado, repondo-se a situação competitiva da qual foi afastado.

4. Confesso, agora, que não esperava que esse resultado fosse alcançado no âmbito da justiça desportiva e – lá está a necessidade de conhecer os processos em detalhe – com fundamento na prescrição do procedimento disciplinar.

5. Da decisão do Conselho de Justiça resulta, a nosso ver, um efeito imediato: a participação do Boavista na próxima época desportiva na I Liga. Tal vai exigir uma resposta excepcional, dadas as circunstâncias, por parte da Liga, com o sentido de executar a decisão sem colocar em crise expectativas e interesses dos clubes que nesta época disputam as duas competições desportiva profissionais, eventualmente irradiando efeitos para as não profissionais.

6. Depois, e não é pouco, fica a questão da eventual responsabilidade civil pelos danos que o clube terá sofrido.
Pode parecer estranho ao leitor mas, neste momento, sem conhecer todos os contornos de quase cinco anos de processos, ao contrário da minha convicção quanto ao efeito desportivo, afigura-se-me mais complexa a questão civil.

7. Não faltarão opiniões, mas convém, pelo menos, que quem as profira leia as decisões, “perca tempo” e, em alguns casos extremos, estude Direito.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Federação de canoagem tem razão: IDP revela habitual incompetência

Um texto de Luís Leite que se agradece.

Despacho nº 3203/2009

Nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 3 do artigo 26.º e no artigo 64.º, ambos do Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de Dezembro, ouvido o Conselho Nacional do Desporto, determino: São modalidades desportivas colectivas o andebol, o basebol e softbol, o basquetebol, o corfebol, o futebol, o hóquei em campo, a patinagem, o rugby e o voleibol;

 São modalidades desportivas individuais, todas as restantes.

14 de Janeiro de 2009. - O Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino José Monteiro Castro Dias

 (in “A Bola” de 15/02/2013)

Depois de Emanuel Silva ter mostrado a sua indignação por ter de dividir com Fernando Pimenta o prémio de 22500 euros pela conquista da medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres, a Federação portuguesa de canoagem sai em defesa dos dois canoístas.

 Segundo a Federação, Emanuel Silva e Fernando Pimenta não têm de dividir o prémio mas sim receber 22500 euros cada um.

«No entender da FPC é claro que a canoagem é uma modalidade individual. E se duvidas houvessem, esclarecidas foram no novo regime, na nova lei, no qual foi definido por despacho em 2009 (n.º3203) as modalidades desportivas coletivas e as individuais. A portaria n.º 211/98 define os prémios e é claro o valor (4.500 contos, no caso 22.500 euros) para as modalidades individuais», afirma Mário Santos, presidente da Federação.

 «Neste momento não há dúvidas de que a canoagem é modalidade individual e estes atletas têm direito a 22.500 euros cada um», reforçou.

 A A BOLA, Emanuel Silva já tinha dado conta do seu descontentamento:

 «Depois dos Jogos foi-nos dito que receberíamos 22500 euros de prémio pela medalha, mas ontem (quinta-feira) fomos informados de que afinal o valor que o IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude) nos atribui será a dividir pelos dois. Incomodou-me bastante, fiquei de rastos.»

 TERÇA-FEIRA, 19-02-2013, ANO 14, N.º 4770 (in “A Bola” de 15/02/2013)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A decisão do Conselho de Disciplina da FPF


Texto publicado no Público de 17 de Fevereiro de 2013.


1. Uma decisão de qualquer órgão que aplica a lei – seja ela a estatal ou a desportiva – é algo que, por via de regra, não agrada a todos. Tem esse especial condão. Quem “ganha” fica bem; quem “perde” critica.
A essa natureza adiciona-se, no tempo presente, um espaço comunicacional poderoso que, debruçando-se sobre a decisão, amplifica o resultado e permite o surgir de análises diversas e repletas de motivações diferenciadas. Daí a perder-se a serenidade e a objectividade vai um ínfimo passo. Muitos que abordam as decisões, oralmente ou por escrito, nem as lêem, preocupados que estão em delas retirar outros dividendos. Não é esse o nosso caminho, nem nunca o foi.
2. Bem cedo, neste caso da participação do FC Porto na Taça da Liga, expressamos a nossa opinião, com os riscos ditados pela urgência dos pedidos: existiu infracção disciplinar do clube e dos seus jogadores.
Assim não o entendeu o CD da FPF na decisão agora em recurso – do Vitória de Setúbal – para o Conselho de Justiça.
3. Este espaço, como bem se compreende, não é o adequado a uma leitura crítica total dos fundamentos do CD.
Assim sendo, quedemo-nos por adiantar algo sobre um aspecto essencial: a limitação quanto à utilização de jogadores que joguem na equipa B vale ainda para os jogos da Taça da Liga? Por outro lado, fique claro ainda, não curamos de saber dos termos concretos da acusação, que porventura poderá ter tido influência na decisão do CD.
4. O CD assenta a sua decisão – para afastar a existência de infracções disciplinares, por não se encontrarem tipicamente descritas no Regulamento das Equipas B”- numa especial ponderação da letra das normas regulamentares. Se o regulamento se intitula “Regulamento de Inscrição e Participação de Equipas “B” na II Liga por clubes da I Liga “ e se o artigo 1º vem estabelecer que ele regula a participação das equipas “B” no campeonato da II Liga, logo, é por que não se aplica à Taça da Liga. Logo, novamente, estando em causa sanções e nada a esse respeito constar do regulamento, segue-se o arquivamento da acusação.
5. Mandam os cânones da interpretação da lei que o elemento literal, devendo estar presente, não é o único e nem sequer o decisivo para apurar o real sentido das normas a aplicar. Neste caso foi-o claramente e, mesmo assim, sem cuidar de mirar outros contributos literais existentes no mesmo regulamento de sinal contrário.
Registemos apenas dois aspectos.
6. Que título e âmbito de aplicação queria o CD que fosse afirmado no regulamento? Ambas as expressões são, como da natureza das coisas, tanto mais que as equipas “B” não podem participar, enquanto tais, na Taça da Liga. A questão não está nas equipas “B”; radica antes na utilização dos jogadores nessa equipa e na equipa principal, dispute esta a competição da Liga que disputar.
Depois, se mirarmos as normas do Regulamento de Competições da LPFP, as normas da Taça da Liga e as da utilização das equipas “B”, resulta “literalmente” uma conexão da utilização dos jogadores da equipa B na Taça da Liga e a aplicação directa - sem supletividade e muito menos recorrendo à analogia (essa vedada) - do Regulamento Disciplinar da LPFP.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O COP e a “dominação masculina”


Além do facto de o homem não poder sem se rebaixar submeter-se a certas tarefas socialmente designadas como inferiores (entre outras razões porque se exclui que as possa realizar), há tarefas que podem ser nobres e difíceis quando são efetuadas por homens, mas que se tornam insignificantes e imperceptíveis, fáceis e fúteis, quando são feitas por mulheres (...)

(Pierre Bourdieu, 1999)


Ao ler na imprensa nacional a lista candidata aos órgãos sociais do Comité Olímpico de Portugal (COP), liderada por Manuel Marques da Silva, logo se tornam evidentes alguns mecanismos e culturas que continuam a fundar a dominação masculina no espaço social desportivo.

Será compreensível que numa sociedade que se arroga democrática, justa, equitativa, que deve obediência às disposições constitucionais e infraconstitucionais da igualdade entre os sexos, possa vir a ser eleita uma lista que integra exclusivamente homens para presidir a uma das organizações desportivas com maior responsabilidade no domínio social desportivo?
Obviamente, não será nem compreensível, nem aceitável!

Dezoito homens integram a predita lista (comissão executiva: 1 presidente, 5 vice-presidentes, 1 secretário geral, 1 tesoureiro, 7 vogais; conselho fiscal: 1 presidente, 1 secretário, 1 relator). Não me movem reparos negativos de ordem pessoal relativamente a qualquer integrante desta lista, movem-me apenas posturas e pensamentos redutores e ilustrativos de discriminações intoleráveis. Move-me a convicção eleitoral absolutamente repugnável de olvidar por completo as mulheres da intervenção decisória e da liderança do desporto nacional.

Como poderão as praticantes desportivas (mais de 40% da delegação olímpica de Londres 2012), as dirigentes, as treinadoras, as árbitras/juízas e todas/os os demais agentes desportivos integrantes do desporto nacional e do desporto olímpico rever-se numa lista que oblitera a representatividade feminina e a sua participação nas políticas e programas que lhes digam respeito, assim como na contribuição para um melhor desporto nacional?

Como poderá tal lista ser depositária da confiança das federações olímpicas e não olímpicas e do restante colégio eleitoral, se os que querem presidir aos desígnios do COP fazem tábua rasa das Resoluções das Conferências Mundiais do Comité Olímpico Internacional sobre Mulheres e Desporto? Como é consabido, já desde a primeira destas conferencias (1996) que é reconhecido que “o ideal olímpico só pode ser completamente atingido com a igualdade entre os sexos e com a aplicação deste principio no seio do Movimento Olímpico”, daí que tanto na Conferência de 2000, como de 2004 tenham sido fixadas metas de 20% de representação de mulheres nos postos de decisão até ao ano de 2005.
Se para muitos os ditos 20% ainda são muito insuficientes para a igualdade de oportunidades que se deseja, como poderemos, em 2013, pactuar com retrocessos brutais no que respeita ao desenvolvimento e aos direitos humanos no desporto nacional? 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Os dilemas do futebol



Texto publicado no Público de 10 de Fevereiro de 2013. 


1. Situemo-nos para além da circunstância nacional.
Os últimos dias ofereceram largos motivos de ponderação para a “governança” (adoro este termo) do futebol.
Sem pretendermos ser exaustivos, mas que para o leitor não perca a memória dos factos e para que os dirigentes atentem nos sinais dos tempos, elenquemos alguns dos mais significativos registos destes dias.
2. A UEFA publicou o seu quinto relatório sobre o licenciamento dos clubes de futebol, abrangendo 670 clubes de 53 federações nacionais, já em ambiente de fair play financeiro, com dados bem preocupantes sobre os problemas financeiros dos clubes.
3. Investigadores da Europol identificaram mais de 380 jogos de futebol manipulados na Europa, incluindo dois encontros da Liga dos Campeões e partidas de qualificação para o Europeu e o Mundial, bem como “jogos de topo nas Ligas europeias”, tendo sido identificadas 425 pessoas, em 15 países (jogadores, dirigentes, árbitros, membros das organizações futebolísticas, etc.).
4. Blatter afirmou: "Estamos a falar de jogos e nos jogos há sempre batota. Nunca deixará de existir."
5. Em França é noticiado o denominado Quatargate, relativo à escolha do país para a realização do Campeonato do Mundo de 2022. A FIFA endereça a denúncia, para investigações, para o seu Comité de Ética.
6. O presidente do Comité de Ética, Mark Pieth, por sua vez, em entrevista a jornal alemão, segundo o noticiado, adiantou que simpatia por ditadores, uma boa dose de sexismo e nenhum desejo de se reformar a sério, fazem parte do ADN da cúpula dirigente do futebol mundial. Ups!
7. É neste contexto que, no passado dia 7, a Comissão Europeia publicitou o estudo sobre os aspectos económicos e jurídicos das transferências de jogadores.
Estamos perante um estudo de fundo a necessitar de leitura atenta e imprescindível para os decisores. Ele termina com a apresentação de 21 propostas de medidas bem concretas, dirigidas às ligas, federações nacionais, UEFA e FIFA, por exemplo. Ele detecta insuficiências jurídicas e formas de controlo.
8.Mas, bem para além das qualidades do estudo, o que deve fazer pensar os dirigentes do futebol é que a União Europeia, mediante a realização destes estudos, não deixa de estar a marcar a sua agenda política no desporto. Ela não se limita, como pode parecer à primeira vista, a potenciar a análise dos problemas. Ela vai como que dirigindo orientações e guidelines ao movimento desportivo, de forma indirecta, é certo, mas que, mais tarde, acabarão por se projectar no juízo que alcançar sobre a dita governança desportiva, sem que seja ainda de desprezar a irradiação desta leitura científica naquilo que podem vir a ser, no futuro, as decisões dos tribunais da União Europeia.
8. É tempo de estudar e de agir.
Vem a minha erudição: o tempo não se ocupa em realizar as nossas esperanças: faz o seu trabalho e voa (Eurípedes). E esta?

Uma entrevista a ver e repetir: François Pienaar, ex-capitão da selecção de Rugby de África do Sul

Na passada 5ª feira a RTP teve a felicidade de passar uma entrevista com o capitão da selecção sul africana de Rugby François Pienaar no célebre Mundial na África do Sul. A entrevista é deveras interessante para quem gosta de desporto, de liderança, da sociedade, da magia que é Nelson Mandela, do encontro com a selecção portuguesa no Mundial de Futebol em 2010 também ele realizado na África do Sul.

Deixo-vos o link http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=626281&tm=7&layout=122&visual=61

Interessante a sua visão da selecção de futebol de Carlos Queiroz. Da nossa situação social. Das vantagens de ter uma liderança como Nelson Mandela. Da confiança que considera que deve existir para superar as situações que os países vão passando. Aqui vai!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal



Texto publicado no Público de 3 de Fevereiro de 2013


1. Não sou adepto sportinguista e, em bom rigor, embora rodeado de leoninos (em casa e no trabalho, embora com esperança no pequeno Tomás, de sete anos), a minha equipa é o Direito. Fraca equipa, eu sei, neste infeliz país. Jogo nela, como atleta polivalente (avançado, médio, mesmo guarda-redes) e, por vezes, fico mesmo no banco. É nessa diminuída qualidade – de praticante que conhece os seus limites, inserido numa equipa bem fraca – que ouso exprimir a minha opinião sobre um ou outro aspecto dos que rodeiam a próxima (?) Assembleia Geral do SCP. Não valerá muito, eu sei, mas é a minha opinião.

2. Ponto único: Discutir e votar a revogação colectiva com justa causa do mandato dos membros do Conselho Directivo, É este o objecto da reunião magna aprazada para o dia 9. É, ninguém duvidará, matéria muito séria e grave na vida de qualquer instituição. Está em causa pôr termo às funções dos do órgão executivo do SCP.
Ora, para além de algumas imprecisões nos próprios estatutos do clube, ultrapassadas, nesse aspeto, pelo parecer provindo do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD), resulta seguro que os membros do Conselho Diretivo apenas podem ver “revogado” o seu mandato ocorrendo justa causa.

3. Tudo se joga, pois, neste conceito. O que é justa causa? Quem aprecia e determina a justa causa? Existe algum procedimento a cumprir para alcançar tal sentido?
Entendemos, desde logo que, pelo menos na situação que se apresenta, a justa causa implica necessariamente um agir – ou um não agir – culposo por parte dos dirigentes em questão. Não bastará indicar – muito menos indiciar – um conjunto de atos que se entendem como contrários aos interesses do clube. Haverá, ainda, que os relacionar com condutas culposas dos seus autores.
Por outro lado, toda esta “operação” insere-se, como é bom de ver, em ambiente sancionatório. “Revogar o mandato”, como sanção por esse atuar culposo.

4. Aqui chegados, não cremos que a assembleia geral do SCP possa, sem mais, atingir validamente esse juízo de «justa causa».
O caminho seguido até ao momento não se nos afigura como o mais correcto, lidos os estatutos do clube.
Vejamos se a nossa alternativa faz sentido.

5. Haverá que ter em conta as competências do CFD, elencadas no artigo 58º dos estatutos do SCP.
Nos termos da alínea h do seu nº 1, tem esse órgão o primado do poder disciplinar, mesmo relativamente aos membros dos órgãos sociais. E, em conforto do que se propugna, o nº 2 adita que quando estiver em causa irregularidade imputada a membro do Conselho Diretivo, e sem prejuízo do competente processo disciplinar, o CSD participará o facto ao presidente da Assembleia Geral.

6. Resumindo, atenta a necessidade de garantir a defesa daqueles relativamente aos quais se imputa uma justa causa visando a sua destituição, julgo que o procedimento que deveria ter sido seguido implicava, necessariamente, e perante as queixas apresentadas, a instauração de um processo próprio no CFD, com todas garantias de defesa daqueles a quem se assacam condutas e omissões culposas, para, a final, nessa sede, se alcançar se havia ou não justa causa. Só depois, em caso afirmativo, se passaria à reunião magna.