sexta-feira, 31 de agosto de 2012

J.Paralímpicos: "Os nossos mais válidos..." (II)


Há 4 anos foi com este título que me dirigi à participação da nossa delegação nos jogos paralímpicos.
Volvido este tempo, assistimos à constituição ex-legis do Comité Paralímpico de Portugal (CPP) em 2008 (vide a sua imposição antes da sua criação na Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto), e consequentemente ao primeiro ciclo paralímpico organizado e liderado sob a sua responsabilidade, missão anteriormente assumida pela Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência. Não poderemos assim exigir da delegação portuguesa muito para além do já excelente desempenho obtido em Pequim:  representação de 33 atletas, em sete modalidades, com a conquista de sete medalhas - uma de ouro, quatro de prata e duas de bronze -, nas modalidades de atletismo, boccia e natação.

Na verdade o CPP está a construir o seu edifício organizacional e a estabelecer as suas pontes para dar cumprimento ao seu lema “Igualdade, Inclusão e Excelência Desportiva”, entendendo, contudo, que cabe aos clubes e federações desportivas o papel decisivo na massificação da prática desportiva para deficientes. Na verdade, esta não pode estar dependente apenas das suas organizações especializadas, daí a nota positiva para o projeto inovador do andebol em cadeira de rodas levado a cabo pela Federação de Andebol de Portugal.

Destaca-se na atividade do CPP, para além do contrato-programa tripartido a quatro anos, que envolveu os Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) e o Instituto Nacional da Reabilitação (INR), a manutenção do principal patrocínio com a Fundação Galp Energia, o patrocínio institucional com a Câmara Municipal de Loures, a parceria com a Transportadora Aérea Nacional e com a Autoridade Antidopagem de Portugal, a aprovação do Regulamento de Apoio ao Desenvolvimento Desportivo (inédito na história do desporto paralímpico e surdolímpico português), a realização do Campeonato Mundial de Boccia em 2010 (Lisboa) e a candidatura à organização do Campeonato do Mundo de Atletismo de 2015. Registo ainda os protocolos de cooperação com a Universidade de Évora e com a Faculdade de Motricidade Humana e para a Revista bilingue “Paralympic News” com a primeira edição em julho de 2010.

Fazemos votos para que quem acompanha este blogue e tão ferverosamente contribuiu para as últimas discussões (uns com registos e contribuições muito enriquecedoras, outros, principalmente alguns dos anónimos, com propósitos de maledicência gratuita e escabrosa), não olvide a participação paralímpica que decorrerá até ao próximo dia 6 de setembro. A Simone Fragoso, 7.º classificada na final dos 50m livres S5, e todos os demais merecem que exaltemos os mais nobres sentimentos humanos em detrimento das declarações que nos aviltam, envergonham e estupidificam.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

As pegadas laranjas

Ao contrário da afirmação inicial do Governo de uma certa contenção na produção de actos legislativos tendo por objecto a actividade desportiva, tem-se vindo a assistir a um crescendo de emanações de regulação jurídico desportiva pública.

Para trás ficam, como sempre, as intenções formais de que o que é verdadeiramente necessário é que a lei seja aplicada, de que é preciso dar tempo e colocar à prova as soluções existentes.

Quando já se perfila num horizonte próximo novos diplomas, o Diário da República de ontem, presenteou-nos com “três textos estruturantes” (são sempre assim).



Em primeiro lugar, uma nova antidopagem no desporto, que revoga a anterior, de 2009 (Lei nº 38/2012, de 28 Agosto).
Depois, segue-se a Lei nº 39/2012, de 28 de Agosto, que aprova o regime da responsabilidade técnica pela direcção das actividades desportivas desenvolvidas nas instalações desportivas que prestam serviços desportivos na área da manutenção da condição física. Revoga-se, neste caso, um diploma também de 2009.

Por fim, temos a Lei nº 40/2012, de 28 de Agosto, que veio estabelecer (uma vez mais) o regime de acesso e exercício d actividade de treinador do desporto. Vai morrer, assim, um decreto-lei de Dezembro de 2008.


 
Apaga-se, deste modo, as pinceladas cor de rosa de parte da legislação desportiva nacional.

Renovam-se procedimentos, alteram-se percursos, por vezes ainda mal os outros se encontravam percorridos.

Mas, o que verdadeiramente interessa ao PS e ao PSD, é caiar o edifício, independentemente dos custos para a comunidade, para a segurança jurídica e para o erário público. Nada mais do que isso.

Somos marionetes a que quem puxam cordelinhos.

E não venha nenhum economista – caso flagrante de Fernando Tenreiro – culpar agora os juristas.

Haja pachorra.



terça-feira, 28 de agosto de 2012

O efeito limite

É comum à generalidade dos países discutir os resultados que cada nação alcança na edição quadrienal dos Jogos Olímpicos. E multiplicarem-se os estudos e os critérios de avaliação obedecendo aos mais diversos indicadores. E o tema, como é próprio dos temas de elevado grau de mediatização, suscita a escrita e o debate de imensas pessoas. Umas preparadas, outras menos preparadas e outras claramente impreparadas. Mas, repito, isso não é exclusivo desta temática, mas algo comum a temas que num determinado momento marcam as agendas mediáticas. Sabemos também que este frenesim é passageiro e que rapidamente o assunto regressa a águas mornas ocupado que seja por temas e debates de outra natureza.
Portugal não escapa a este afã e todos quantos estão ligados ao desporto são sensíveis aos resultados que os atletas nacionais alcançam. E aos debates e polémicas suscitadas a esse propósito. É natural que sobre o ocorrido surjam várias leituras. Uma dessas leituras remete até para um simplismo explicativo: qualquer êxito alcançado seria mérito dos atletas e qualquer insucesso culpa da política desportiva, do Governo, dos dirigentes desportivos ou de qualquer outra causa que prejudica o trabalho de participação e representação desportivas dos atletas. Não quero polemizar sobre este assunto mas chamar atenção que a matéria pedirá uma outra dimensão para a reflexão.
O desporto de alto rendimento ( e por arrasto uma preparação olímpica) são atividades de custos muitos elevados. Operando num contexto internacional a competitividade atingida pelo alto rendimento é muito determinada pelas economias dos respetivos países e o que elas libertam para a respetiva preparação desportiva. Não existe determinismo entre o valor da competitividade das nações e a sua riqueza ou poderio económico mas é um fator condicionante. A consulta a qualquer relatório sobre as despesas dos Estados (publicas e/ou privadas) comprova-o. E permite verificar que há países que gastam com uma modalidade o que outros gastam com toda a preparação olímpica. O que Portugal gasta é comparativamente a outros uma ninharia. Mas é o que a economia e a riqueza do pais e as opções políticas possibilitam. Pelo que o centro da reflexão se deveria centrar mais em saber se pode ou não o desporto português progredir e alcançar um outro plano de excelência-nacional e internacional- compatível com os recursos que o país pode dispensar. E nesse caso se as limitações existentes esgotaram o potencial de crescimento desportivo do país. Ou, pelo contrário, ainda é possível, com o mesmo nível de recursos fazer melhor.
O que temos dito e escrito sobre a matéria é que o potencial de crescimento do desporto nacional não atingiu o seu limite. Porque existem desperdícios que podem ser evitados. Se houver melhor concentração de meios. Mas isso obrigaria ao preenchimento de três quesitos: a definição de prioridades em matéria de política desportiva e de competitividade externa; a concentração prioritária de meios à volta desses objetivos; a definição do efeito limite sobre o nível desportivo do país imposto pela sua realidade concreta em matéria de recursos disponíveis (económicos,financeiros,oragnizacionais,demográficos,culturais,etc.).
A definição anterior não dispensa uma outra reflexão: a de saber se com todas as limitações existentes os resultados não poderiam ser outros se o modelo organizacional e de funcionamento fosse distinto. Alguns participantes neste espaço de opinião têm defendido essa solução. O assunto merece reflexão. A obsessão normativista que tem modelado o sistema desportivo nacional criou mecanismos de relacionamento entre o Estado e os entes privados e associativos que bloqueiam muita iniciativa. A cultura do Estado no modo como monitoriza os apoios que concede estrangula e complica. E a necessária sinergia entre o governo, o poder local e o movimento associativo no sentido de uma atuação estratégica e concertada em matéria de políticas de promoção e desenvolvimento desportivo está longe de ser devidamente aproveitada. A atuação sinérgica, ou melhor a sua ausência é um dos males crónicos do sistema desportivo português.Com recursos escassos, os ganhos só podem vir do lado das poupanças. Limitando o que sendo oneroso não acrescenta valor. E maximizando as economias de escala que a colaboração sinérgica permite obter.



terça-feira, 21 de agosto de 2012

O labirinto ou como sair dele


Quando as coisas correm mal ao futebol (refiro-me a resultados em competições internacionais) não me recordo de ouvir dizer que o problema é de não haver futebol na escola. Invocam-se outras razões que não aquela. E o futebol nacional, tem no plano internacional, um elevado grau de competitividade. Num momento em que os Jogos Paralímpicos se vão iniciar e com eles a saga das medalhas conquistadas pelos nossos atletas, também não é de esperar que a excelência alcançada venha a ser atribuída à qualidade do desporto que esses nossos concidadãos praticam na escola. Com as outras modalidades a coisa muda de figura. E no rescaldo das grandes competições desportivas internacionais, em que os resultados alcançados ficam aquém do desejado, é comum responsabilizar a escola pelo atraso verificado na situação desportiva nacional. É um exercício a que se dedicam políticos, dirigentes e toda a espécie de comentadores.
O que pode ajudar a explicar esta situação? Que o futebol não precisa da escola para recrutamento e formação de praticantes, mas que as outras modalidades sim? Que o futebol, desde o tempo da Mocidade Portuguesa em que era proibido nas escolas, sempre teve alternativas à formação escolar e as outras modalidades não? Mas quantas modalidades são possíveis de praticar na Escola? Que a excelência do desporto paralímpico tem outras razões para o sucesso que o dispensa na escola? É possível ter resultados de excelência sem o contributo da escola?
As perguntas anteriores e este modo de colocar o problema são necessariamente provocatórios. Pretendem apenas chamar atenção de que o sistema desportivo comporta vários segmentos e que nem todos obedecem às mesmas lógicas de desenvolvimento. Em tese é fácil de sustentar que a evolução desportiva de um país será sempre proporcional ao que for a evolução físico-motora da sua população infanto-juvenil. Compreende isto a sua literacia motora, o desenvolvimento das capacidades e qualidades físicas gerais, em suma, a elevação da condição física das crianças e dos jovens. E neste contexto a escola é um dos espaços privilegiados para o acesso dos jovens à prática do desporto.
Contrariamente ao que se diz e escreve não partilho a ideia de que o desporto escolar não existe. Conheço excelentes experiências locais. E até programas nacionais de colaboração com federações desportivas nacionais e com autarquias. Com bons resultados. E a percentagem dos que hoje estão integrados nos quadros competitivos escolares é bem maior que no tempo da Mocidade Portuguesa, num contexto, convém recordar, em que a escola era então apenas para alguns e não para todos e onde a prática desportiva feminina era inexistente. O problema é outro.
Para além de medidas governamentais de desvalorização da disciplina de educação física- de que a questão da carga horária ou da notação para efeitos de acesso ao ensino superior são apenas alguns factos recentes que o evidenciam -a escola, em relação a várias aprendizagens sociais, perdeu atratabilidades e protagonismo. E no desporto também. Mas não só. O modo como a escola abordou a educação física e o desporto esteve muitas vezes subjacente, e ainda está, uma questão de natureza ideológica e doutrinária - que é permanentemente subestimada - e que se prende com a perspetiva com que os responsáveis educativos e os professores equacionam essa relação. Num número significativo de casos, constituiu um fator adicional de bloqueio à exata compreensão do problema. No desporto, a escola argumenta que a sua função não é formar “campeões”, sequer “atletas” e mantém em relação à competição desportiva formal uma indisfarçável reserva. Permaneceu em muitos professores e em algumas escolas de formação, uma “cultura de desconfiança” em relação ao desporto formal, designadamente ao que se convencionou chamar de “desporto federado”.
Contudo, e isso é importante também ser reconhecido, no quadro atual é difícil pedir à escola resultados significativos sabendo que o empenhamento motor que os alunos têm durante um ano é, no geral, o equivalente a um mês de treino e competição num clube desportivo, praticando a modalidade de que gostam. Pelo que se não deve alimentar expetativas exageradas em relação ao que a escola neste momento pode oferecer. Por outro lado, o desenvolvimento desportivo é de origem multipolar e não tem origem num centro único, qualquer que ele seja, incluindo a escola.
Mas se a escola pretende, para além de aspetos de formação geral e generalização da prática do desporto ajudar a detetar uma criança ou um jovem que demonstrem possuir aptidões especiais para uma carreira desportiva, então várias questões se colocam. É possível beneficiar, se esse for o seu interesse, do necessário acompanhamento técnico e pedagógico que conduza à sua integração na disciplina desportiva para o qual se encontra mais vocacionada? A escola pode constituir-se como um local de valorização dessa excelência? Deve assumir-se como reveladora desse talento, fazendo dele, não apenas um motivo de orgulho, mas também de mobilização desportiva da população escolar?
Se as respostas, às questões anteriores, forem positivas isso obrigaria a reformular e a recentrar o papel que a escola pode ter perante a educação e a formação desportivas das crianças e dos jovens. O que vale por dizer que não basta mais do mesmo. Seria preciso fazer diferente. E então sim, a escola poderia ter um papel ativo no desporto nacional se articulada a sua ação com os restantes fatores de desenvolvimento.

domingo, 19 de agosto de 2012

Pedido:período de nojo

Antes quem falava de desporto, particularmente de futebol e hóquei em patins, eram os funileiros, latoeiros, barbeiros, serralheiros e pedreiros, os operários, funcionários e artesãos dos mais variados misteres e ofícios. Falavam e discutiam sobre o assunto de modo apaixonante, encantatório e incandescente.
Os pseudointelectuais queriam-se distantes do fórum desportivo; rotulavam-no de ópio e alienação do povo. Mas os tempos mudaram e, aos poucos, descobriram que é muito rentável arengar e perorar acerca dele, usando o dialeto do ‘futebolês’: não custa nada, ninguém lhes pede responsabilidades e estão garantidos ganhos de grande notoriedade. E então vieram às carradas, por grosso e atacado, empinados como papagaios de pirata. Foi um ver se te avias! Cineastas, cirurgiões, musicólogos, sociólogos, professores feitos a martelo e à pressa e não sei quantos mais doutores na mestria do verbo fácil e da língua afiada entregaram-se a transformar o desporto em pantomina e gaudio circense.
Como se estes não bastassem, a toda a hora arribam ao espaço mediático nomes sonantes das mais diversas cátedras, incluindo até a da sexologia, quiçá ávidos de exibir presteza a fazer filhos em mulher alheia.
O que é que leva tais ‘sumidades’ a aceitar o convite para serem comentadores de uma área em que não são especialistas? Admitiriam elas que alguém cometesse a imprudência de se arriscar a dar palpites sobre a matéria em que são reconhecidos como peritos? O que é que move a eminente gente a engrossar e formatar a vox populi com estereótipos do senso comum? Terão tão ilustres e sapientes personalidades pelo desporto o respeito que a relevância social e humana deste fenómeno exige? Terão verdadeira consciência do papel que estão a cumprir, ao acumularem uma função para cujo desempenho nobilitante lhes falta conhecimento bastante?
Quem responder a estas perguntas e puser ao léu as razões e motivações de uma situação deveras aberrante e estapafúrdia fará simultaneamente um diagnóstico sobre o estado do nosso desporto.
É provável que, nos próximos tempos, esta estirpe de comentadores se mostre lesta e felina a cavalgar a onda do descontentamento doméstico; e queira encharcar os ouvidos e olhos da opinião pública com análises vulgares do comportamento lusitano nos Jogos Olímpicos findos e com uma ementa de receitas para os próximos.
Se têm alguma réstia de apreço pelo desporto e pelo nosso País, atendam este pedido: Os Jogos Olímpicos são uma ‘coisa’ sublime e maravilhosa; ninguém se deve masturbar à custa deles. Urge guardar um período de nojo e não proceder a balanços levianos daquilo que se passou em Londres, nem tecer malhas puídas no tocante aos Jogos do Rio.
Mais, o nosso futuro como nação independente não será longo, se não for suportado por uma estreita conexão com o Brasil. Os mastros das duas bandeiras devem estar cada vez mais juntos. Por isso mesmo a participação nos Jogos do Rio é parte de um amplo desígnio nacional, patriótico e político, devidamente concebido e assumido; não é para ser entregue a lucubrações de pacotilha.
A observância de um período de nojo recomenda-se também aos dirigentes, técnicos e atletas envolvidos no projeto londrino. Por favor, deixem baixar a poeira! Não deem bola a quem tudo sabe de todas as coisas e para elas debita sentenças, leis e certezas feitas, como um deus omnisciente sentado no pináculo da sua infinita sabedoria. Essa gente deve ficar a falar sozinha.
Haja bom senso! A conjuntura pede que a discrição dos que pensam, refletem e agem em profundidade, seriedade e serenidade se sobreponha ao diletantismo e prosápia dos que falam e se agitam por jactância, superficialidade e vaidade.

sábado, 18 de agosto de 2012

Desporto escolar? Sim ,mas ...(III)

Texto da autoria de Francisco Sobral ,cuja autorização de publicação se agradece

4) A carência de programas e orientações para a formação técnica específica nas modalidades desportivas.
O ensino da educação física curricular obedece a programas estabelecidos para os diversos ciclos de ensino, oficializados por despachos ministeriais publicados no Diário da República, 2ª Série, que vinculam os professores daquela disciplina à observância de conteúdos e procedimentos de ensino e de avaliação das aprendizagens dos alunos.
O desporto escolar, pelo contrário, como atividade de complemento curricular, sempre careceu de uma estrutura normativa e programática semelhante, atenta embora à sua especificidade. Existem, é certo, alguns documentos avulsos, com instruções de caráter técnico e regulamentar que, em muitos casos, foram proporcionados por algumas federações de modalidades ou concebidos com a colaboração dos seus departamentos técnicos – colaboração meritória que peca todavia por ser de cariz elementar e pontual.
Ora, por um lado, os professores de educação física não podem nem têm necessariamente de dominar todas as modalidades desportivas que os alunos possam escolher para a constituição dos seus núcleos de desporto escolar; e, por outro, não sendo interdito, não é vulgar entre nós que um outro professor (de matemática, de geografia, etc.) tome a responsabilidade de ser o “treinador” de uma equipa escolar, reconhecida a sua própria experiência pessoal como praticante desportivo, ao contrário do que se verifica em outros países europeus e é regra nos Estados Unidos.
Não se trata portanto de abrir a escola à temida invasão dos treinadores (mesmo quando cada vez mais os treinadores desportivos e os professores de educação física têm percursos académicos comuns) mas garantir a formação e a informação permanentes dos professores de educação física (e outros) para a intervenção especializada que a formação desportiva requer, atraindo ao mesmo tempo outros docentes capacitados para participar, sob diversas formas, no desenvolvimento do desporto na escola.
Porém, a superação destas barreiras – não tenhamos ilusões – só é possível verificada uma premissa essencial: a de que tanto o poder político como os cidadãos que os elegem aceita o desporto como um fator importante da expressão nacional. Sem isso, a que se chama vulgarmente vontade política e consenso nacional, jamais a escola fará seja o que for de significativo na elevação do valor desportivo do país. A última consideração sobre aquele que é um fator igualmente fulcral na análise das relações entre o desporto e a escola.
Como não haverá transformação significativa e sustentável do desporto nas escolas sem a adesão dos jovens que as frequentam (coisa que muito se esquece quando toda uma indústria poderosa, à escala global, os alicia com ofertas de um hedonismo questionável), até onde pode o desporto escolar oferecer experiências e oportunidades gratificantes, numa perspetiva de presente e de futuro, àqueles que tenham condições para enveredar por um processo de preparação desportiva exigente, longo e doloroso, impondo renúncias várias e numerosas?
Um exemplo extremo, e único no mundo porque nascido de um quadro cultural e social completamente sui generis, talvez possa esclarecer – tomadas as devidas distâncias – aonde pretendemos chegar. Nos Estados Unidos, os estudantes do ensino secundário (high school) esfarrapam-se para terem acesso às caríssimas e seletivas universidades, o que implica ganharem bolsas de estudo, não apenas através das suas classificações académicas mas também de outros méritos altamente valorizados no curriculum vitae: trabalho social voluntário ou prestação de pequenos serviços remunerados na comunidade (limpeza e manutenção dos jardins, distribuição de jornais, etc.. Mas claro que a confirmação das suas aptidões artísticas, científicas e desportivas têm um peso considerável.
Entre nós, o que se passa?
O apoio ao atleta de alta competição só é concedido, como a expressão indica, após confirmação do seu valor segundo os critérios desportivos universais e quando as etapas mais críticas da sua formação já foram cumpridas com sucesso. Mas, e até aí? Há, de facto, a figura do atleta em percurso para a alta competição mas que está longe de satisfazer as necessidades desse mesmo percurso. Esquecemos demasiadas vezes que, para atingir, aos vinte ou aos vinte e cinco anos de idade, o nível de prestação que confere ao atleta o estatuto de alta competição, ele teve (ou deveria ter tido) orientação e acompanhamento adequado nesse percurso cuja fase crítica se situa, em geral, entre os catorze e os dezoito anos. Ou seja, coincidindo exatamente com o período de maior exigência da vida escolar.
Quando assim não acontece, uma delas fica para trás: o jovem abandona a carreira desportiva ou abandona a escola.
Eis tudo o que se deve evitar e só a escola o pode fazer.



sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Desporto Escolar? Sim ,mas... (II)

Texto da autoria de Francisco Sobral cuja autorização de publicação se agradece

Voltemos então ao desporto escolar.
De todos os ministros que detiveram a “pasta” do desporto desde 1974, o engenheiro Roberto Carneiro foi sem dúvida aquele que deixou, pela sinceridade e convicção do seu discurso e pela coerência da atuação legislativa, a maior (não importa, aqui e agora, se a melhor) contribuição para o que deveria ser a base do sistema desportivo português. E, sobre o desporto escolar, lhe ouvimos com insistência dizer, a educadores e a dirigentes desportivos, que não entendia como, sendo na escola que estavam as crianças e os jovens, as instalações, os recursos e as competências técnicas (pelo menos uma boa parte delas), devesse ser outro que não a escola o motor do desenvolvimento desportivo do país.
Eis o que é irrebatível – em tese.
A escola, porém, é uma instituição e um contexto complexo. Nela se cruzam tradições, formações, teorias, crenças, atitudes, sensibilidades e objetivos diversos e difíceis de conciliar. O entusiasmo que o desporto escolar suscitou nos anos imediatos ao seu lançamento entrou em perda irreversível no meio da crise geral que se instalou na escola e no sistema educativo do país antes mesmo da chegada da troika. Temos de resistir ao argumento financeiro (na verdade, o economicismo tem dois polos, não podemos rebater um tomando a mesma linha de argumentação a partir do outro) se queremos detetar alguns fatores de insucesso do desporto escolar, na ótica da formação desportiva de excelência. Só assim impediremos que eles perdurem independentemente dos bons ou maus ciclos económicos e financeiros do país.
Entre esses fatores, verdadeiros pecados originais do modelo de desporto escolar na perspetiva da formação desportiva para o alto rendimento, para a excelência, para a elitização desportiva (enfim, chame-se-lhe o que se queira chamar) implantado a partir da Lei de Bases do Sistema Desportivo, podemos identificar:

1) A ausência de uma definição de metas qualitativas para o desporto escolar, segundo os critérios de rendimento vigentes nas diferentes modalidades e nos seus diversos escalões etários.
Em concreto, as bem-intencionadas formulações gerais de princípios inscritas na Lei 1/90, de 13 de Janeiro (Lei de Bases do Sistema Desportivo, Artigo 6º, 1, 2 e 3), e na Lei nº 30/2004, de 21 de Julho (Lei de Bases do Desporto, Artigo 41º, 1, 2 e 3) não suscitaram disposições normativas suplementares, reforçando com isso o julgamento dos dirigentes federativos e associativos acerca da inconsistência da formação desportiva escolar em comparação com a praticada pelos jovens da mesma idade em contexto de preparação competitiva formal.

2) A manutenção da discriminação negativa dos mais dotados, dos “talentos” porventura, em consequência da mediocratização dos objetivos, tornando inevitavelmente o desporto escolar como uma recreação organizada, sem incentivos à assunção de exigência na aprendizagem, na consolidação das capacidades e das competências, na emulação e promoção do potencial de performance.
Dando a primazia ao convívio em detrimento da competição, o desporto escolar acabou por cair – se é que não foi o primeiro a fazê-lo – na pecha de um certo conceito de “educação inclusiva” que tomou conta da escola portuguesa, onde o sucesso é estatisticamente medido da mediana para baixo, uma atitude em discordância absoluta com a natureza do ato desportivo.

3) A inexistência de uma demarcação claramente definida entre a atividade física orientada para a saúde e a formação desportiva dirigida para a excelência.
É incontroverso que todas as crianças e jovens não têm as mesmas aptidões e disposições para o desporto. Mais: que só uma ínfima percentagem poderá realisticamente aspirar ao valor de um Carlos Lopes, de uma Rosa Mota, de uma Fernanda Ribeiro, de um Nélson Évora (as “nossas” medalhas de ouro, até por serem tão poucas, não devem ser esquecidas como padrão de referência). São precisamente esses, porém, que o sistema educativo tem a responsabilidade de identificar, de filtrar, de orientar para outras instâncias de preparação porque a Natureza não é pródiga em talentos excecionais – o que só aumenta a responsabilidade das autoridades e das comunidades educativas nessa missão, seja no desporto como na ciência ou na música.
E, à laia de parênteses, seria bom que os responsáveis desportivos do país, do mais alto nível governativo ao dirigente do pequeno clube de bairro, olhassem com atenção o que se passou nos últimos vinte anos na educação e formação dos jovens músicos em Portugal: a definição da complementaridade das escolas de ensino geral e de ensino artístico especializado; a distribuição pelo país, mesmo nas regiões populacionalmente mais deprimidas, de professores de elevada competência técnica e pedagógica (uma efeito colateral muito feliz para nós, portugueses, da desagregação dos regimes socialistas do leste europeu); as vias de continuidade à formação inicial e intermédia através de programas de ensino superior (musicologia e ciências musicais, interpretação, formação superior de orquestra, etc.), tudo isso transformou em poucos anos o panorama musical do país. Ora muitos dos princípios informadores desta mudança são transponíveis para a formação desportiva de excelência. Não é preciso inventar nada porque os exemplos estão aqui ao pé da porta – em Espanha e em França, nomeadamente – sem termos de invocar os modelos que, a leste, vigoraram até à ruína do muro de Berlim.
Claro que a formação para a saúde através de estilos de vida ativos é também um direito e um dever das crianças e dos jovens, e uma obrigação do sistema educativo – tanto mais agora que são reconhecidos, em todo o mundo, os pesadíssimos custos das políticas públicas de saúde. Porém, o discurso salutogénico e o discurso desportivo não podem continuar “embrulhados,” confundidos num campo sem fronteiras. A sua concretização efetiva a partir da escola não se põe em termos de alternativa, pois nenhum deve prevalecer sobre o outro. É uma questão simples de tudo ou nada.
(continua)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Desporto escolar ? sim,mas... (I)


Texto da autoria de Francisco Sobral cuja autorização de publicação se agradece.

É certo e sabido. Sempre que o fiasco olímpico suscita o sentimento de frustração nacional, erguem-se (da imprensa, dos dirigentes desportivos, dos políticos e governantes em serviço) os protestos de confiança no desporto escolar como a primeira solução para atalhar a indigência do desporto português. Sucede que a frustração passa depressa, a futebolização retoma o seu império nos primeiros dias de agosto e às mais acesas opiniões e palpites acontece o mesmo que às chuvas de verão: mal caiem no chão ficam logo enxutas.
Mesmo assim vale a pena arrastar um pouco mais o assunto. E, para começo, nada melhor que apreciar a hipótese lançada pelo presidente do Comité Olímpico de Portugal, a saber: criar uma nova Mocidade Portuguesa, mas sem componente política como a “outra” tinha.
Digamos que, com este único tiro, o comandante Vicente de Moura deitou ao fundo três navios.
O primeiro tiro acertou em cheio na factualidade histórica. Pretendia o presidente do COP dizer que Portugal perdeu relevância desportiva – e, nomeadamente olímpica – após o desaparecimento da MP? Será que ouvimos ou lemos bem? Quantos atletas portugueses foram medalhados entre 1912 e 1972 e qual a contribuição direta da MP para esses resultados?
Vejamos.
A primeira medalha olímpica (bronze e única) é conquistada em Paris (1924) pela equipa de equitação. Entre Paris e Roma (1960), Portugal ganha bronze em Amesterdão (1928, esgrima, espada por equipas); bronze em Berlim (1936), de novo pela equipa de equitação; de Londres (1936), a vela traz uma de prata e a equitação ganha de novo o bronze, sendo a equipa constituída pelos mesmos cavaleiros que já haviam obtido igual classificação em Berlim, doze anos atrás! Em Helsínquia (1952), encheu-se o navio Serpa Pinto com a maior comitiva até então enviada por Portugal aos Jogos Olímpicos mas de lá veio apenas mais uma de bronze pela vela que, em Roma (1960), torna a dar mais uma medalha ao país, dessa vez de prata.
Ora até 1936, ano em que foi criada, não podemos creditar à MP nem uma só das três medalhas olímpicas conquistadas pelos cavaleiros e esgrimistas portugueses.
Em 1948, é questionável que a MP, cantando e rindo, tenha tido papel decisivo, ou sequer relevante, nas medalhas conquistadas em vela e equitação. Como já dissemos, a equipa de cavaleiros que ganha em Londres o bronze é a mesma que já sabia montar, e bem, em 1936, em Berlim. E quanto aos irmãos Bello, a sua experiência de mar já tinha mais de 12 anos, tantos quantos fazia então a Mocidade Portuguesa.
O que é notório, de 1924 a 1960, é que os medalhados olímpicos portugueses ou eram oficiais de um exército sem guerras para fazer (situação que, como sabemos, se alterou a partir de 1961 e lá se acabaram as medalhas dos nossos equitadores), ou que, pelos seus nomes de família, dispensavam bem o contributo de promoção do desporto que alguns ainda insistem em atribuir à MP, principalmente junto daqueles jovens que, despossuídos de meios, nunca montariam uma cavalo, nem empunhariam um florete, nem governariam um star…
O segundo tiro é de consequência ainda mais lamentável porque não resulta de um lapso de memória mas evoca uma retórica acanhada e irrealista do que é o desporto de excelência, o de hoje e o de sempre. O presidente do COP sabe, por inerência de função, que não há investimento no desporto sem uma componente política, seja ela qual for – de preferência outra que não aquela subjacente ao exemplo apresentado. Nenhum governo investe milhões no desporto só por… desporto. E nenhuma sociedade democrática assiste impávida aos milhões ou aos tostões investidos no desporto se não entender que esse investimento é socialmente justificado. Ora, antes mesmo dos milhões, aquilo de que carece o desporto português para sair da sua letargia é de política – de convicção política acerca da sua importância, convicção que tem de ser partilhada por governantes e governados. De contrário, o investimento não será senão esbanjamento – e disso já temos a nossa amarga conta – causador de estupefação e revolta.
Quero crer, por último, que as palavras do presidente do COP não são mais do que um desabafo a quente, uma frase infeliz que irrompeu da frustração compreensível do dirigente e do cidadão que, mais do que outro qualquer, a sente como cabeça que é do movimento olímpico nacional. Não deixa de ser, porém, o naufrágio do bom senso e da ponderação exigível ao titular da função, ao mesmo tempo que se reprova não ter manifestado a mesma ênfase e contundência críticas ao longo de um atribulado quadriénio de preparação olímpica.

(continua)



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Lázaro o que é de Lázaro (*)

Texto da autoria de Gustavo Pires, cuja autorização de publicação se agradece.

A implantação da República em Portugal havia ocorrido há pouco mais de um ano quando o Comité Organizador dos Jogos Olímpicos (JO) de Estocolmo (1912), à semelhança daquilo que fez com os demais países, convidou os portugueses a participarem endereçando um convite ao Ministério dos Estrangeiros. Este enviou uma cópia para o Ministério da Instrução Pública que, sobre o assunto, nada fez. Depois, perante a insistência de Estocolmo tudo se passou da mesma maneira. Não fossem alguns jornais, como relata “Os Sports Ilustrados” (edição de 13/1/1912), o convite para que Portugal, pela primeira vez, participasse nos JO teria ficado esquecido no meio da burocracia da administração pública e nas confusões da República.
Aos olhos do mundo, os JO eram o maior acontecimento dos tempos modernos onde as nações, de uma forma pacífica, iam medir forças através da competição desportiva. Segundo Duarte Rodrigues diretor técnico da revista “Tiro e Sport” (edição de 31/7/1912) os JO não eram um mero certame desportivo mas “um pretexto poderoso para cada povo, cada raça, poder mostrar o quilate physico e moral de que se deve exortar perante a civilisação e o progresso”. Eram um processo de rejuvenescimento das raças pelo qual todo o homem moderno se devia interessar.
Em Portugal, em finais do século XIX princípios do século XX, os jovens de uma certa burguesia citadina praticavam diversas atividades desportivas segundo o modelo inglês. Eram, “os janotinhas do passeio público” como lhes chamou José Pontes, ou os “janotas diletantes” na expressão de José Maria da Silveira. Eles “estacionavam” à frente dos café-clube, como o Sete Portas no Arco do Bandeira ou o Marrare no Chiado, pegavam touros, corriam lebres, remavam e velejavam em canoas no Tejo, eram bombeiros destemidos, dedicavam-se ao jogo do pau, à ginástica dos aparelhos, das acrobacias e dos trapézios dos voos à Léotard. Foram estes “sportsmen”, diletantes e bem aperaltados, que se moviam tão bem entre a fina flor da sociedade mas, também, no meio dos artistas dos circos Price, Diaz, e Aragon e dos saraus de ginástica no Coliseu dos Recreios que, em moldes relativamente democráticos, protagonizaram o arranque do desporto em Portugal onde competiam atletas como Francisco Lázaro provenientes de meios sociais completamente diferentes.
E, perante o desinteresse da República bem como da Sociedade Promotora da Educação Física Nacional mais interessada nas questões corporativas da ginástica sueca do que nas competições interpaíses dos JO, foi com um sentido de urgência que um grupo de dirigentes desportivos de seu nome Penha Garcia, Jayme Mauperrin Santos, António Lancastre, Carlos Bleck, Manuel Egreja, José Pontes, Armando Machado, Duarte Rodrigues, Aníbal Pinheiro, António Osório, Álvaro de Lacerda, Fernando Correia, Sá e Oliveira, Guilherme Pinto Bastos, Pinto de Miranda, Daniel Queiroz dos Santos, José Manuel da Cunha e Meneses, Pedro Del Negro, a 30 de abril de 1912, fundaram o Comité Olímpico Português. Este acontecimento que teve uma intervenção indireta do próprio Pierre de Coubertin, permitiu que um grupo de seis atletas de seu nome António Pereira, António Stromp, Armando Cortesão, Fernando Correia, Francisco Lázaro e Joaquim Vital pudesse representar Portugal nos JO que se iam realizar em Estocolmo.
Muito embora a representação nacional, como referem os jornais da época, tivesse tido uma participação meritória, ao trigésimo quilómetro da corrida da Maratona, Francisco Lázaro colapsou. Num sofrimento atroz, acabou por morrer no dia seguinte, a 15 de julho de 1912, no Hospital Serafina em Estocolmo. Esta morte foi considerada com tendo sido igual à de um qualquer soldado caído no campo de batalha.
Cem anos depois, o Comité Olímpico de Portugal (COP) insiste em comemorar o seu aniversário numa data apócrifa. Faz mal. O dia 30 de abril de 1912 é uma data sagrada. A história é aquilo que, na verdade, aconteceu e não aquilo que alguns dirigentes do COP pretendem que tivesse acontecido. A Lázaro o que é de Lázaro.

(*) A partir do livro: “Francisco Lázaro o Homem da Maratona”, Lisboa: Prime Books.

Publicado na edição do Diário de Notícias de 14/08/2012.




terça-feira, 14 de agosto de 2012

O importante é participar ou Portugal ao nível do Chipre,Gabão ,Guatemala e Montenegro


Texto da autoria de Luís Leite ,cujo envio se agradece

Nada de novo. Mais uma “participação digna”, seja lá isso o que for.
O desporto Olímpico português reforçou a sua média de uma medalha por participação em Jogos Olímpicos.23 em 23.
Número de medalhas conquistadas por países europeus com população igual ou inferior à de Portugal:
Hungria 17, Bielorrússia 13, Azerbeijão 10, Rep. Checa, 10, Dinamarca 9, Suécia 8, Geórgia 7, Irlanda 5, Lituânia 5, Croácia 4, Eslováquia 4, Eslovénia 4, Noruega 4, Suíça 4, Arménia 3, Bélgica 3, Finlândia 3, Sérvia 3, Bulgária 2, Estónia 2, Letónia 2, Moldova 2, Chipre 1, Montenegro 1.
Portugal na cauda da Europa, só à frente da Albânia e de alguns micro-estados.
Com uma medalha de prata, de mão dada com as potências desportivas Chipre, Gabão, Guatemala e Montenegro.
Não vos maço com estatísticas comparativas relativa à média das medalhas por participação olímpica, porque seria confrangedor e até traumatizante.
Concordo com Alfredo Silva quando escreveu que não adianta atirar dinheiro para cima do Comité Olímpico.
Até porque não há.
Só valeria a pena se em vez dos 15 milhões fossem 1500 milhões.
Ou “Ir buscar uns 10 africanos”.
Não há volta a dar-lhe.
Não liguemos mais a esta história dos Jogos Olímpicos.
O que é preciso é estar presente.
Basta levar um homem e uma mulher com alguns dirigentes olímpicos, como fazem tantos países.
Dediquemo-nos pois aos REFORÇOS dos nossos grandes clubes da bola e às questões da arbitragem.
Esqueçamos os Jogos Olímpicos.
Não somos capazes.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O outro lado da festa

A festa é um franchisado cujos direitos de propriedade pertencem ao Comité Olímpico Internacional. Que os vende após avaliar quem melhor os paga. E quadrienalmente a festa sobe ao palco. Um palco acerrimamente conquistado numa competição difícil, entre cidades, em que se gasta muito dinheiro. Os que ganham, mas também os que perdem. Tudo para a glorificação dos atletas. Mas também para que marcas e patrocinadores façam as contas ao que investiram. E os países contabilizem as medalhas. De pouco vale a carta olímpica afirmar que os Jogos são uma competição entre atletas que não entre países. Os Jogos Olímpicos são a melhor competição desportiva à escala mundial para conduzir a uma leitura política dos resultados desportivos. Sempre assim foi. Pelas modalidades que envolvem. Pela mediatização a que estão sujeitos. Pelo carater planetário que os envolve e contempla.
Pierre de Coubertin, o renovador dos Jogos Olímpicos da era moderna, incutiu ao seu empreendimento uma dimensão sagrada. Indo buscar muito do ritual e da liturgia aos jogos da Antiga Grécia, mas aproveitando para popularizar a própria ideia de desporto. Entre aquilo que ele dizia que queria e aquilo que realmente ocorreu, há uma grande diferença. Os tempos são outros e tudo mudou. Os tempos e a vida.
Bastará assistir ao desfile de abertura da cerimónia inaugural para perceber que a festa é outra. Começa muito tempo antes com as disputas entre as cidades candidatas a sede dos Jogos. As cidades e quem as apoia. E continua com a preparação e realização dos Jogos no cumprimento de um pesado caderno de encargos negociado com o Comité Olímpico Internacional.
Os resultados e as competições, as estrelas e os casos, os sucessos e as derrotas sobem à agenda mediática e percorrem mundo. Os bastidores do evento ficam no conhecimento restrito da nomenclatura: um desporto mercantilizado, numa igreja sem ideologias, e onde os apóstolos cumprem um pacto de silêncio. Que ninguém lhes pede, mas que todos sabem que devem manter. Porque há coisas que se aprendem, mesmo que ninguém as ensine!
Numa saudação dirigida em 1927 à juventude desportiva de todas as nações Pierre de Coubertin afirmava: ”nós não trabalhamos, os meus amigos e eu, para transformar os Jogos Olímpicos numa peça de museu ou de cinema, nem para que os interesses comerciais ou políticos o condicionem”. Somos hoje forçados a reconhecer que a festa só é o que é, porque sacrificou três dos seus mitos fundadores: a democracia, a política e o dinheiro.
A democracia patente na direção do movimento olímpico. Uma estrutura pesada de autorreprodução do poder e onde habitam práticas, usos e costumes próprios de organizações fechadas e elitistas. É certo que a atual liderança de Jacques Rogge introduziu regras e práticas mais abertas e transparentes. Mas não podia alterar rotinas e hábitos de muitos anos de poder autocrático.
A política traduzida na crescente instrumentalização quer dos Jogos, quer dos resultados desportivos. A utilização da participação olímpica como forma de afirmação e legitimação políticas. Sempre assim foi. Dificilmente seria possível ser de outro modo. Mas existe um custo que importa ter presente.
O dinheiro porque criou um pequeno grupo de instituições desportivas submetidas a lógicas comerciais tornando difícil perceber onde acaba a governação mundial do desporto e começa o da empresa mundial do espetáculo desportivo. A configuração de uma macro organização, o Comité Olímpico Internacional, muito forte economicamente e dotado de uma legislação e de um funcionamento jurídico independente dos Estados nacionais, mas muito influenciado e dependente das principais potências desportivas mundiais que também o são no plano económico, político e militar.
A festa é também, como elemento aglutinador de muitos interesses e gerador de fluxos financeiros significativos, um pretexto para os barões do desporto surgirem no espaço público em nome dos valores altruístas e culturais do desporto controlando e espetáculo desportivo e gerirem um complexa rede de negócios e de relações políticas.
A competição não decorre apenas nos espaço desportivo. Ela inicia-se antes na tribuna VIP.É um local tão disputado como o espaço desportivo. Por ela transitam antigas glórias do olimpismo e se passeia a nomenclatura olímpica e política. É um local para se ver e ser visto. É um território de ostentação e de poder. Um verdadeiro laboratório social.
A festa é isto tudo. Mas é sobretudo o resultado da cooperação silenciosa entre multinacionais desportivas, média e autoridades desportivas com o beneplácito das autoridades políticas. Dificilmente poderia ser de outro modo. Reconhecê-lo permite perceber o que é a festa. Lembrando o que um dia escreveu José Maria Cagigal: que a comercialização do espetáculo desportivo não é perigosa porque atenta contra valores do desporto mas porque se converteu num produto que necessariamente precisa de ser consumido para ser rentável.

Texto publicado no jornal Diário de Notícias em 1 Agosto 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Endireitar as veredas para a "mudança de paradigma"

 "We cannot solve our problems with the same thinking we used when we created them." 
Albert Einstein


Mesmo diante dos indicadores desportivos, nos mais diversos níveis de prática, que nos colocam no fundo de qualquer ranking, podemos sempre invocar elementos que denotam evolução ou crescimento, ainda que sendo uma evolução na mediocridade. Quando não se definem objectivos ou metas propicia-se o exercício da teoria do copo meio cheio ou meio vazio, consomem-se páginas e páginas alinhando argumentos em favor de cada uma das perspectivas, em contraciclo com um valor elementar do desporto, a superação, onde existe sempre um resultado, uma medida, uma fasquia, ou uma distância a ultrapassar. 

Em tempos escrevi aqui que qualquer agente desportivo é avaliado, com excepção do dirigente. Assim, confesso que após Pequim saturei de alinhar neste exercício por rapidamente se tornar intelectualmente confrangedor mediante as comparações que se trazem a terreiro, as quais, amiúde, classificam-nos num outro ranking quiçá menos objectivo, mas porventura mais decisivo para o desenvolvimento desportivo deste país. O ranking da cultura desportiva.

Neste ranking, ainda sem ter terminado a participação olímpica em Londres começam a surgir resultados de alto nível, os quais, certamente, não ficarão por aqui, à medida que proliferarem as declarações sobre a falta de política desportiva, de orientações estratégicas, planeamento, desinvestimento na educação física e no desporto na escola, etc. 

Como a memória é curta tende-se a esquecer que neste país houve um PROIID, houve Opções Estratégicas para o Desenvolvimento Desportivo Nacional (2003-2013), houve um assinalável trabalho neste domínio para que as coisas fossem diferentes. Todos tiveram o mesmo destino.

Perante isto, das duas umas, ou se delimita a raiz do problema a montante, diluindo ilusões, e se assume que um processo de planeamento e uma politica pública, qualquer que elas sejam, não são planos mecânicos e guiões de uma peça, mas processos sociais evolutivos que dependem do quadro de valores de quem neles se envolve e executa para tornar efectivo aquilo que está no papel, ou mantem-se o sistema com os mesmos protagonistas a replicarem as mesmas declarações e o mesmo quadro de referência. E aí, ainda que um dia haja alguém capaz de implementar uma política desportiva efectiva, ou retocar aquelas que foram deixadas na gaveta, as eventuais vantagens serão sempre circunstanciais.

Entretanto, no contexto político e económico actual, com a cultura desportiva que a cada dia se expressa nas palavras e na conduta de dirigentes políticos e desportivos deste país, reproduzidas e amplificadas na grande maioria dos órgãos de comunicação social e do "jornalismo" que se faz neste domínio, estão reunidas as condições propícias para se continuar a privilegiar um modelo de gestão em detrimento de uma verdadeira política, nivelando o desporto pelo mais baixo denominador comum. Até daqui a quatro anos. 



terça-feira, 7 de agosto de 2012

A propósito dos Jogos Olímpicos e da Universidade


Tenho dito e escrito, repetidas vezes, que a insana, predatória, selvática e tresloucada versão dos ‘rankings’, dos ‘papers’ e da ‘competitividade’, hoje prevalecente na boca e linguagem de muitos dirigentes e atores do mundo universitário e afim, desnuda a fria e cruel mentalidade neoliberal, apostada em desmerecer, diminuir, rebaixar e até aniquilar o outro. Ela incorporou e ultrapassa em muito o pior que, aqui e ali, surge nas derivas e perversões da competição desportiva.
Porém a matriz imanente ao ‘agonismo’ desportivo é de outra ordem: é da ordem da altura e elevação, da arte e perfeição, da beleza e estetização, da transcendência e superação, do humanismo e da sua exaltação, da magnanimidade e criação, da virtude e sublimação.
É isto que tem estado bem visível nos Jogos Olímpicos em curso. Constitui um regalo para os olhos e um lenitivo para a alma ver como os ‘com-petidores’ revelam atenção e sensibilidade pelo Outro, como os vencedores e vencidos se apreciam, consideram, estimam, respeitam e saúdam mutuamente, como os vencidos evidenciam admiração pelos vencedores e estes manifestam generosidade para com aqueles, na elegância e gentileza das atitudes de felicitações e consolação, na magnificência das emoções e expressões.
A isso chama-se cultura, educação, civilização e humanização. É para o aprimoramento deste legado que devia ser configurada a Universidade. Infelizmente muitos dos seus ‘chefes’ e protagonistas desviam-na da nobreza desta visão e enfiam-na no viés da capitulação e perdição. Renunciam à claridade e grandeza da sua missão; preferem aprisioná-la, pouco a pouco, nos calabouços da pequenez e escuridão.
No desporto a harmonia entre competição, humanidade e dignidade é sustentável e viável, na Universidade neoliberal parece que não. Os Jogos Olímpicos consagram o desporto como processo civilizado e civilizador, fiador de ideais, normativos, princípios e valores de autenticidade, excelência e fulguração; o neoliberalismo desfigura a Universidade como entidade acuada e atira-a para os braços do conúbio com o polvo do aviltamento, da deformação, desumanidade, exclusão e regressão.