A política à portuguesa dá muitas voltas. Mas num número significativo de casos acaba nos mesmos sítios,com os mesmos valores e com as mesmas práticas. Mesmo quando os protagonistas são de partidos diferentes.E há comportamentos que valem por mil doutrinas. Aparentemente, pouco significantes. Mas se os avaliarmos com atenção revelam-nos muito da atitude e dos valores perante o exercício e as missões de serviço público. E não há reformas ou mudanças de governo que os alterem. Como agora se diz, são “transversais”. Mais do que transversais tendem a perenizar-se. Sem qualquer sobressalto cívico. A embriaguês do poder cega. E o silêncio sobre eles ajuda. O pudor e receio em os abordar publicamente são um aliado para a sua continuidade. E no entanto, não sendo “ilegais”, minam a credibilidade do serviço público.
Um dos momentos “politicamente” mais delicados em matéria de “governação desportiva”é a final da Taça de Portugal em futebol. Que se agrava quando um dos finalistas é um “grande” da capital. Quando são os dois é um verdadeiro “tsunami” de contactos e de movimentações. Tinha sobre o assunto alguns “zunzuns”.Mas estava longe de imaginar a dimensão do problema. Conheci-o de perto. Refiro-me ao número de pedidos de bilhetes gratuitos para ir ao Jamor. Do gabinete do senhor ministro X, ao senhor deputado Y, ao assessor do senhor secretário de Estado Z, do chefe de gabinete ao adjunto,ao motorista, para o filho ou para a namorada do filho, toda a gente se acha com o direito de ir ao futebol e não pagar. Direito natural ou divino não sei. Sei, isso sim, que chegam a ser às centenas os pedidos de borlas. A extensão deste problema vai ao ponto de se pedir bilhetes para os familiares e fazer cenas caricatas como as de um ministro, devoto a Deus e aos princípios, que exigia bilhete para ele, para a filha e para o genro. Muito do país - da cunha ,da pedinchice,do favor, do arranjinho - está aqui e vale por mil teses sobre os portugueses. Não distingue títulos, posições ou graus académicos. Igual apreciação se pode fazer quanto às despesas públicas com viagens da “nomenclatura”da administração pública e afins para assistir aos jogos de futebol no estrangeiro. O mundial de 2006 em plena campanha de redução de gastos públicos ultrapassou tudo e sem qualquer laivo de escândalo: os bilhetes, as viagens, o alojamento e as ajudas de custo pagos com o dinheiro dos contribuintes. O mesmo ocorre com as delegações de funcionários públicos e equivalentes para “irem passear “aos Jogos Olímpicos”ou aos “jogos da Lusofonia” . Ou com as reservas de hotel para governantes e “acompanhantes”. Imagino as dificuldades que devem passar os dirigentes do COP a propósito dos pedidos para “ir aos Jogos” que se transformaram, como nos caso relatados, num verdadeiro festim de gastos públicos em turismo desportivo. Não estão em causa as representações institucionais e governamentais. Se forem exercidas. Não é caso virgem que delegações oficiais para competições desportivas pouco apareçam nas competições e dediquem o tempo ao passeio e ás compras. Mas estão sobretudo em causa quem nada lá vai fazer a não ser passear. Nada tem de errado que vão passear. Mas devem fazê-lo à sua própria custa e não à custa dos dinheiros públicos. Mais do que aquilo que se gasta - inaceitável a qualquer título - é o que revela de ausência de pudor e de reserva em usar funções ou cargos públicos para usufruir de benefícios e de regalias que estão para além das funções exercidas. Moralizar esta situação em nome do interesse público é qualquer coisa que, mais do que uma intervenção superior, deveria pertencer à escala da conduta individual. Como os exemplos superiores são o que são, todos se acham com o mesmo “direito”.Pelo menos a tentar. A dimensão que se atingiu criou uma espécie de “normalidade”em tudo isto. Neste despudor não deixa de ser curioso que alguns dos apóstolos da saga moralizadora sobre as práticas dos dirigentes desportivos - não vá terem bebido alguma cerveja ou gin e colocado nas despesas da federação – sejam eles próprios contumazes em práticas que condenam nos outros .Com estes servidores do Estado, não é de admirar o estado da nação. São “peanuts” comparando com o que por aí se passa em matéria de mau gasto de dinheiros públicos em uso e benefício pessoal.. Mas o que está em causa não é o valor, é o princípio! Bem sei que nada disto é novidade. Mas, de quando em quando, convém recordá-lo.
Um dos momentos “politicamente” mais delicados em matéria de “governação desportiva”é a final da Taça de Portugal em futebol. Que se agrava quando um dos finalistas é um “grande” da capital. Quando são os dois é um verdadeiro “tsunami” de contactos e de movimentações. Tinha sobre o assunto alguns “zunzuns”.Mas estava longe de imaginar a dimensão do problema. Conheci-o de perto. Refiro-me ao número de pedidos de bilhetes gratuitos para ir ao Jamor. Do gabinete do senhor ministro X, ao senhor deputado Y, ao assessor do senhor secretário de Estado Z, do chefe de gabinete ao adjunto,ao motorista, para o filho ou para a namorada do filho, toda a gente se acha com o direito de ir ao futebol e não pagar. Direito natural ou divino não sei. Sei, isso sim, que chegam a ser às centenas os pedidos de borlas. A extensão deste problema vai ao ponto de se pedir bilhetes para os familiares e fazer cenas caricatas como as de um ministro, devoto a Deus e aos princípios, que exigia bilhete para ele, para a filha e para o genro. Muito do país - da cunha ,da pedinchice,do favor, do arranjinho - está aqui e vale por mil teses sobre os portugueses. Não distingue títulos, posições ou graus académicos. Igual apreciação se pode fazer quanto às despesas públicas com viagens da “nomenclatura”da administração pública e afins para assistir aos jogos de futebol no estrangeiro. O mundial de 2006 em plena campanha de redução de gastos públicos ultrapassou tudo e sem qualquer laivo de escândalo: os bilhetes, as viagens, o alojamento e as ajudas de custo pagos com o dinheiro dos contribuintes. O mesmo ocorre com as delegações de funcionários públicos e equivalentes para “irem passear “aos Jogos Olímpicos”ou aos “jogos da Lusofonia” . Ou com as reservas de hotel para governantes e “acompanhantes”. Imagino as dificuldades que devem passar os dirigentes do COP a propósito dos pedidos para “ir aos Jogos” que se transformaram, como nos caso relatados, num verdadeiro festim de gastos públicos em turismo desportivo. Não estão em causa as representações institucionais e governamentais. Se forem exercidas. Não é caso virgem que delegações oficiais para competições desportivas pouco apareçam nas competições e dediquem o tempo ao passeio e ás compras. Mas estão sobretudo em causa quem nada lá vai fazer a não ser passear. Nada tem de errado que vão passear. Mas devem fazê-lo à sua própria custa e não à custa dos dinheiros públicos. Mais do que aquilo que se gasta - inaceitável a qualquer título - é o que revela de ausência de pudor e de reserva em usar funções ou cargos públicos para usufruir de benefícios e de regalias que estão para além das funções exercidas. Moralizar esta situação em nome do interesse público é qualquer coisa que, mais do que uma intervenção superior, deveria pertencer à escala da conduta individual. Como os exemplos superiores são o que são, todos se acham com o mesmo “direito”.Pelo menos a tentar. A dimensão que se atingiu criou uma espécie de “normalidade”em tudo isto. Neste despudor não deixa de ser curioso que alguns dos apóstolos da saga moralizadora sobre as práticas dos dirigentes desportivos - não vá terem bebido alguma cerveja ou gin e colocado nas despesas da federação – sejam eles próprios contumazes em práticas que condenam nos outros .Com estes servidores do Estado, não é de admirar o estado da nação. São “peanuts” comparando com o que por aí se passa em matéria de mau gasto de dinheiros públicos em uso e benefício pessoal.. Mas o que está em causa não é o valor, é o princípio! Bem sei que nada disto é novidade. Mas, de quando em quando, convém recordá-lo.
9 comentários:
Pois é.
E não saímos disto, ou seja, passar a vida a constatar o mesmo pela enésima vez, o que acaba por ser cansativo.
Cansativa a constatação, e cansativa a repetição, com a agravante de o autor também repetir que nada disto é novo.
Eu convidaria o autor, a sair do campo da constatação, o que evidencia um facilitismo extremo, para sugerir saídas, respostas, sugestões, para cada caso, o que evidentemente é mais difícil, mas deixaria de ser a crítica repetitiva sem futuro.
Mas se é só para ouvir que escreve muito bem, então não considere esta mensagem.
Mas fi-lo considerando que, se tem direito a criticar qualquer coisa, também me cabe o mesmo direito: o de o criticar, mas com alvitres.
Será que o amigo das 18,36 viu o poste, brincando e a sério, "cair-lhe em cima"?
Ao amigo das 21:43
Nem por sombras me toca. Simplesmente gostaria mais de ler prosas alegres, positivas, ou respostas às calamidades, ou como visualizar uma sociedade utópica.
Este tipo de prosa já cansa e, para o autor, deve representar um esforço enorme, acrescido pela extensão do texto, e pelo terror negro medievo nele inscrito.
Sem querer melindrar o autor, nem esse é o meu objectivo, o teor de escrita é de outros tempos.
Aliás não sou o primeiro a notá-lo, como já verifiquei em outros comentários.
Parece mais positiva a colaboração do João Almeida, pois contribui com novidades, actualidades, e informações que convidam a consultar e estudar o futuro do desporto, a nível nacional, europeu e global.
Sem melindres.
Até há por aí uma reputada federação, candidata a medalhas olímpicas, que abdicou da presença do director técnico da modalidade para levar a Pequim um…vice-presidente.
Mas é de aproveitar. Pelo menos até que o COI defina os mínimos olímpicos para dirigentes desportivos. Esperemos é que entre os critérios não conste o tempo de mandato, porque senão a nossa comitiva será tão numerosa como a comitiva chinesa e tão envelhecida como a população Portuguesa, o que não dá muito jeito para quem quer trazer para Portugal muitas (?) medalhas.
As verdades,longas e repetitivas cansam.Mas não deixam de ser verdades.
Luís Serpa
Caro Luís Serpa
Não discuto as verdades, mas apenas os tipos de verdades.
Se o blog se debruça sobre o desporto só me interessam as verdades do desporto, as verdades que o possa dinamizar, não as verdades do dia a dia da vida civil, estática, com os seus vícios.
Dizer que A tem o vício do Fumo, e que B bebe gin tónico, e que andam a pedir bilhetes de borla para assistir aos jogos, e que C quer ir ver os Jogos Olímpicos integrado no grupo dos dirigentes, não levam a lado nenhum.
São considerandos constantivos e tradicionais que se vêm verificando nos baixios do desporto, desde os estádios gregos e os circos romanos, e hão-de permanecer até mais séculos adiante, e figurar em letra de forma, em muitos papéis.
Se o homem não consegue dominar-se para evitar o degelo dos polos e as alterações climáticas, não me parece pertinente perdermo-nos com coisas menores de todos os tempos.
Palavras dinâmicas e progressivas que nos situem o desporto no estado actual, e que nos permite pensar seriamente nele, actualizando e informando sobre o seu andamento a nível nacional e europeu só encontra nos postes do João Almeida. E isso faz a diferença.
O João Almeida pode até não dar respostas, mas dá instrumentos, indica fontes, aponta sítios, para que cada um de nós as possa encontrar. É uma participação positiva e dinâmica, não porque anda e mexe, mas porque faz andar e mexer.
Espero que o Luís Serpa entenda agora quais são as verdades que me interessam, e as verdades que sendo verdades me não interessam.
Mas respeito o direito do autor em escrever o que entende e sobre o que entende, como respeito quem aprecie a sua prosa e as verdades do autor.
Mas, se o desporto pede muito mais do que isso, também o blog exige mais do que isso.
José Sócrates ao principio ainda tentou colocar regras nos gastos imoderados com viagens e mordomias dos funcionários do Estado.Mas foi sol de pouca dura.O que se passa é de facto um escandalo e como tal deve ser denunciado.O dinheiro que é de todos não deve servir para passeatas.O facto de ser um hábito crónico não significa que não deva ser denunciado.
Maria Linhares de Castro
ESpero que o autor tenha a mesma coragem que revela neste texto e aborde o financiamento público a projectos académicos da responsabilidade e interesse directo dos titulares de cargos públicos.
É fartar vilanagem.O povo paga!
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