Não conheço o conteúdo. Confio no que anunciou o homem do leme do desporto luso. Que será dado a conhecer ao país o inquérito que resultou da avaliação ao comportamento do seleccionador nacional de futebol. E se o nosso homem do leme entendeu que havia matéria que justificava ser objecto de apreciação por parte do organismo federativo fez o que devia: enviou-o à respectiva federação desportiva. O problema é que não fez apenas isso. Publicamente, qualificou a natureza dos factos ocorridos. Tomou parte neles. Enfatizou a sua gravidade. Fez de instrutor e de juiz. E com isso introduziu um ónus político desnecessário e prejudicial. Deveria ter tido a prudência de aguardar o resultado da sua diligência.
No fim-de-semana passado reincidiu. Para dizer que até à conclusão do processo não falará do assunto. Para de imediato começar a falar do que disse que não falava. Enunciou sobre o que se irá pronunciar. Escreveu o sumário. Descriminou e emitiu juízes de valor sobre o que se tem dito a respeito da matéria. Uma espécie de anúncio antecipado ao país num aparente remoque a Carlos Queiroz e aos reparos de Pinto da Costa e de Luís Filipe Vieira. É claro, pretendeu demonstrar que não é homem para se deixar ficar. Só que ao lançar gasolina sobre as brasas de um assunto quente, ateou o braseiro. E, não contente, deixa no ar a ideia de que se o rescaldo não for como espera o bombeiro será ele. Mau sinal. O tempo não tem estado de feição para apagar as ignições. E não seria a primeira vez que quem pretende apagar o fogo que ateou dele saia chamuscado.
Em certas figuras públicas há uma espécie de formigueiro que dá origem a um indisfarçável frenesim que as obriga, mesmo que as situações o desaconselhem, a terem, em termos públicos, de botar palavra. Não se limitam a regular o que têm de regular. Ser eficientes mas discretos. Têm de mostrar figura. Têm de aparecer. Porque se não se mostram parece que não existem. Mesmo que essa atitude prejudique os procedimentos subsequentes. E deixando que no melhor pano caia a nódoa. Os apelos, correctos, a que, em outros momentos, os actores desportivos se dediquem ao que é sua vocação e falem menos não se aplica ao homem do leme do nosso desporto.
No código genético da nossa governação há uma espécie de tabu: nunca se erra. Os erros são sempre dos outros. Gente soberba, emproada, pura, perfeita, que nunca diz asneiras a propósito da mãe dos outros, infalível, de voz grossa, que se julga possuidora de um estatuto especial em que tudo está justificado por natureza. O receio de fracasso publicamente reconhecido obriga a que se afastem comportamentos moralmente sensatos: a modéstia, a discrição, o saber pedir desculpa quando se erra. E saber estar calado por muita vontade que se tenha de falar. O nosso homem do leme gere os seus tempos de comunicação como uma escala de richter invertida: a dramatização sobre o que diz está na razão inversa da importância pública que têm. Quanto mais baixo é o abalo maior é a importância e atenção. Quanto maior é a importância pública e social menor a atenção política. Fala quando não deve. Cala-se quando era preciso dizer alguma coisa.
Quem sente que tem poder, como é manifestamente o caso do nosso homem do leme, não deve sentir necessidade de andar por aí a exibi-lo. Só os fracos têm necessidade de andar a mostrar que são fortes. Um investimento excessivo no “mostrar força”é certo e sabido que dá como resultado um défice de reconhecimento dessa autoridade. Porque a razão da força despropositada, esconde muitas vezes a falta de uma qualquer razão. Aguardemos.
A qualidade de uma decisão resulta essencialmente do que vem a seguir. A dramatização que politicamente foi introduzida no inquérito a Carlos Queiroz só pode ter um mau final qualquer que ele seja. E receio que ele atinja, e o efeito não tem necessariamente que ser imediato, quem deveria estar a salvo de manobras e instrumentalização políticas: a autoridade nacional antidopagem, os que nela trabalham e as políticas de combate à dopagem.
No fim-de-semana passado reincidiu. Para dizer que até à conclusão do processo não falará do assunto. Para de imediato começar a falar do que disse que não falava. Enunciou sobre o que se irá pronunciar. Escreveu o sumário. Descriminou e emitiu juízes de valor sobre o que se tem dito a respeito da matéria. Uma espécie de anúncio antecipado ao país num aparente remoque a Carlos Queiroz e aos reparos de Pinto da Costa e de Luís Filipe Vieira. É claro, pretendeu demonstrar que não é homem para se deixar ficar. Só que ao lançar gasolina sobre as brasas de um assunto quente, ateou o braseiro. E, não contente, deixa no ar a ideia de que se o rescaldo não for como espera o bombeiro será ele. Mau sinal. O tempo não tem estado de feição para apagar as ignições. E não seria a primeira vez que quem pretende apagar o fogo que ateou dele saia chamuscado.
Em certas figuras públicas há uma espécie de formigueiro que dá origem a um indisfarçável frenesim que as obriga, mesmo que as situações o desaconselhem, a terem, em termos públicos, de botar palavra. Não se limitam a regular o que têm de regular. Ser eficientes mas discretos. Têm de mostrar figura. Têm de aparecer. Porque se não se mostram parece que não existem. Mesmo que essa atitude prejudique os procedimentos subsequentes. E deixando que no melhor pano caia a nódoa. Os apelos, correctos, a que, em outros momentos, os actores desportivos se dediquem ao que é sua vocação e falem menos não se aplica ao homem do leme do nosso desporto.
No código genético da nossa governação há uma espécie de tabu: nunca se erra. Os erros são sempre dos outros. Gente soberba, emproada, pura, perfeita, que nunca diz asneiras a propósito da mãe dos outros, infalível, de voz grossa, que se julga possuidora de um estatuto especial em que tudo está justificado por natureza. O receio de fracasso publicamente reconhecido obriga a que se afastem comportamentos moralmente sensatos: a modéstia, a discrição, o saber pedir desculpa quando se erra. E saber estar calado por muita vontade que se tenha de falar. O nosso homem do leme gere os seus tempos de comunicação como uma escala de richter invertida: a dramatização sobre o que diz está na razão inversa da importância pública que têm. Quanto mais baixo é o abalo maior é a importância e atenção. Quanto maior é a importância pública e social menor a atenção política. Fala quando não deve. Cala-se quando era preciso dizer alguma coisa.
Quem sente que tem poder, como é manifestamente o caso do nosso homem do leme, não deve sentir necessidade de andar por aí a exibi-lo. Só os fracos têm necessidade de andar a mostrar que são fortes. Um investimento excessivo no “mostrar força”é certo e sabido que dá como resultado um défice de reconhecimento dessa autoridade. Porque a razão da força despropositada, esconde muitas vezes a falta de uma qualquer razão. Aguardemos.
A qualidade de uma decisão resulta essencialmente do que vem a seguir. A dramatização que politicamente foi introduzida no inquérito a Carlos Queiroz só pode ter um mau final qualquer que ele seja. E receio que ele atinja, e o efeito não tem necessariamente que ser imediato, quem deveria estar a salvo de manobras e instrumentalização políticas: a autoridade nacional antidopagem, os que nela trabalham e as políticas de combate à dopagem.
6 comentários:
Concordo no essencial.
Escreve Luís Leite - como sempre, aliás...:
Concordo no essencial.
E no acessório????
Sem responder a anónimos, coisa que não faço, acrescento que, como já referi anteriormente e partindo do princípio de que as informações que correm sobre o processo são verdadeiras, o que é realmente grave são as injúrias aos médicos, incluindo Luís Horta.
Que os homens do Futebol que foram testemunhar sejam rascas e ordinários e achem as injúrias normais, isso não me surpreende, porque o Futebol português é um mundo muito rasca e ordinário. Do mais reles que há...
Tendo sido realizadas as colheitas nesse dia e não tendo Queiroz impedido a sua realização não faz sentido penalizá-lo a não ser pelas injúrias, que ao que parece são graves, não são de todo normais nem vulgares numa sociedade civilizada.
Pois eu concordo no essencial e no acessório.
Como complemento sugiro uma passagem por:http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2010/08/suspensao-laurentina.html
Claro que vim logo ler.
No meu tzero referi exactamente o ângulo da politica antidopagem que pode, com esta cena aparentemente exagerada e supérflua, atingir o combate necessário e rigoroso ao doping.
O homem do leme, como tu chamas, deveria ter senso para não aproveitar conversa de comadres do leva e traz para mostrar serviço. Bolas, distinguir o essencial é condição mínima para alguém que, em última análise, tem o dever de defender os interesses do país.
Estou revoltada com este processo, independentemente de alguns estados de alma menos interessantes que alguns momentos do C.Queiroz possam ajudar. Mas são momentos.
Este exagero prejudica tudo e todos e, com amigos destes, o desporto nem precisa de inimigos.
Por outro lado, esta diversão, para alguns, arrasta uma pessoa que tem um nome, que é gente e que se não merece tratamento especial, pelo menos merece o tratamento que qualquer cidadão merece: ser respeitado nos seus direitos cívicos e não ser atropelado à má fé, quase frito na praça pública ainda antes de ser ouvido.
Que eu saiba não é só o PM que tem direito ao bom nome, à presunção de inocência, a não ser julgado na praça pública, and so on and so on.
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