O centro de alto rendimento do jamor destinado ao atletismo é um mérito do governo. Foi o actual governo do PS que traduziu uma promessa em realidade e foi ele que conseguiu o que outros prometeram e não fizeram. E que, sobretudo, conseguiu juntar os meios financeiros susceptíveis de concretizar a infra-estrutura. Para reconhecer esse mérito não é preciso rever a história como lamentavelmente o fez o director do centro. Nem é preciso ignorar que para se ter chegado onde se chegou, seguramente, que houve muitos contributos individuais importantes. E também dificuldades e conflitos. Era inevitável numa obra que sofreu tantos atrasos e vicissitudes. Mas o que fica para memória futura é o que está feito. Resta ao atletismo aproveitar bem o novo equipamento e justificar o investimento público realizado. E demonstrar que as suas aspirações merecem ser tratadas como direitos. E, aqui, não é ao governo que devem ser pedidas responsabilidades.
Uma realização do governo, ainda por cima positiva, deve, por isso, fugir a uma explicação de carácter fulanizado, por mais importante e meritório que tenha sido o papel desta ou daquela personalidade. É também dispensável uma espécie de contabilidade cronológica sobre o tempo de governação dos partidos que têm tido responsabilidades a esse nível porque é conhecido a capacidade de transmutação partidária em que um partido no governo consegue ser ao mesmo tempo oposição aos outros e ao passado de si próprio. E em tempo de festa não é o momento oportuno para abordar o que se anda a passar -no plano técnico, financeiro e procedimental -para os lados do jamor. O governo, que não é cego nem surdo, lá saberá. A questão agora é outra.
Com uma tão grande profusão de centros de alto rendimento, até em modalidades de que se não conhece padrões de competitividade a esse nível, a questão que agora importa apreciar é a de saber o que vai mudar na preparação do atletas e no trabalho dos treinadores. E o retorno que isso vai trazer à competitividade do desporto nacional. O facto de estarem à disposição das modalidades melhores condições tecnológicas de preparação não significa necessariamente melhores resultados desportivos. Mas, face á argumentação aduzida quanto à necessidade e importância deste tipo de equipamentos -uma clara adulteração da legítima aspiração a melhores condições de trabalho com o direito a que os poderes públicos garantam essas condições - seria incompreensível que eles não surgissem.
Saber o que um centro é capaz e o modo como se encontra equipado é importante. Saber que ocupa um lugar cimeiro entre centros homólogos é de bom-tom. Mas mais importante do que tudo isso é aproveitar o que possui, dar-lhe vida e utilidade. Mesmo reconhecendo que as políticas desportivas de alto rendimento vivem a jusante de outras politicas. Mas viverão sempre.Com centro de alto rendimento ou não. Já viviam. O que agora se trata é de potenciar o que antes não existia.
O atletismo, que tão elevados resultados tem alcançado para o desporto nacional, tem um enorme desafio pela frente e uma elevada responsabilidade. A gratidão manifestada ao governo, mais que justa, e as prebendas ofertadas – uma opção política seguramente de risco calculado - assinalam também que os tempos são outros. O que se pode desejar é que sejam bons para o atletismo e para o desporto nacional.
Uma realização do governo, ainda por cima positiva, deve, por isso, fugir a uma explicação de carácter fulanizado, por mais importante e meritório que tenha sido o papel desta ou daquela personalidade. É também dispensável uma espécie de contabilidade cronológica sobre o tempo de governação dos partidos que têm tido responsabilidades a esse nível porque é conhecido a capacidade de transmutação partidária em que um partido no governo consegue ser ao mesmo tempo oposição aos outros e ao passado de si próprio. E em tempo de festa não é o momento oportuno para abordar o que se anda a passar -no plano técnico, financeiro e procedimental -para os lados do jamor. O governo, que não é cego nem surdo, lá saberá. A questão agora é outra.
Com uma tão grande profusão de centros de alto rendimento, até em modalidades de que se não conhece padrões de competitividade a esse nível, a questão que agora importa apreciar é a de saber o que vai mudar na preparação do atletas e no trabalho dos treinadores. E o retorno que isso vai trazer à competitividade do desporto nacional. O facto de estarem à disposição das modalidades melhores condições tecnológicas de preparação não significa necessariamente melhores resultados desportivos. Mas, face á argumentação aduzida quanto à necessidade e importância deste tipo de equipamentos -uma clara adulteração da legítima aspiração a melhores condições de trabalho com o direito a que os poderes públicos garantam essas condições - seria incompreensível que eles não surgissem.
Saber o que um centro é capaz e o modo como se encontra equipado é importante. Saber que ocupa um lugar cimeiro entre centros homólogos é de bom-tom. Mas mais importante do que tudo isso é aproveitar o que possui, dar-lhe vida e utilidade. Mesmo reconhecendo que as políticas desportivas de alto rendimento vivem a jusante de outras politicas. Mas viverão sempre.Com centro de alto rendimento ou não. Já viviam. O que agora se trata é de potenciar o que antes não existia.
O atletismo, que tão elevados resultados tem alcançado para o desporto nacional, tem um enorme desafio pela frente e uma elevada responsabilidade. A gratidão manifestada ao governo, mais que justa, e as prebendas ofertadas – uma opção política seguramente de risco calculado - assinalam também que os tempos são outros. O que se pode desejar é que sejam bons para o atletismo e para o desporto nacional.
8 comentários:
Os três últimos postes do José Meirim, do João Almeida e do José Constantino são peças com características técnicas, de percepção política e de exemplicação do saber-fazer europeu que fazem deste blogue um lugar de distinção no desporto português pela variedade de posições e pela qualidade procurada e executada.
Seria positivo que outros blogues surgissem com igual disposição sendo certo que o risco de o fazer é elevado como os donos desta CD certamente já sentiram.
É natural que JMC não esteja rigorosamente a par dos desenvolvimentos ocorridos nos últimos anos quanto aos temas "pista coberta em Lisboa", e Centro de Alto Rendimento do Jamor.
Nessa perspectiva, qualquer pessoa com bom senso concorda com a opinião aqui expressa.
Mas é necessário compreender que a nave executada no Jamor e aquilo que foi feito de complementar no CAR do Jamor é algo que devia existir há décadas, para nos considerarmos europeus.
E também é preciso saber que esta opção foi uma compensação dada pelo Governo para a desistência definitiva relativamente a uma pista coberta em Lisboa, de que já existiam vários estudos e propostas com características diversas.
Num contexto que envolvia o escândalo da promessa feita antes do Mundial de Pista Coberta de 2001 de instalar em Lisboa a Pista que tinha custado ao Estado 1 milhão de euros e se encontrava desmontada e em péssimas condições de alojamento e em acelerada degradação, à guarda da CML.
Não esquecendo o abandono a que foi votado Estádio Nacional (Estádio de Honra) e a sua histórica pista de atletismo, agora considerados pelo IDP irrecuperáveis.
A (i)responsabilidade maior nisto tudo coube a Governos PS, embora o PDS também nada tenha feito de concreto.
Também não podemos esquecer que os nossos melhores atletas ameaçaram emigrar para Espanha e que a decisão de construir a nave vem na sequência das promessas feitas pela secretaria de Estado, sobretudo ao Nelson Évora e à Naide Gomes.
Foi por tudo isto que escrevi que "ninguém está de parabéns" assim como me pareceram exagerados os agradecimentos feitos pela FPA, sobretudo pelo seu Vice-Presidente Jorge Vieira.
No restante, concordo com JMC.
Só mais uma questão:
Acho que com o tempo os postes estão melhores.
No post de JMC, no último parágrafo, faz-se alusão a opções políticas de "risco calculado".
Na minha opinião, a atitude política de Fernando Mota face à Secretaria de Estado do Desporto tem sido sempre de excessiva "submissão diplomática". Exige-se pouco, para obter sempre mais do mesmo, às cegas, num contexto de grande dependência financeira do Estado, que não avalia os resultados, em separado, do investimento nos diversos contratos-programa. Há coisas boas mas também há coisas más.
O Atletismo tem um historial de sucesso comparativamente a outras modalidades que poderia e devia valer muito mais peso reivindicativo.
Continuo a achar que não é o Atletismo que está muito à frente (se considerarmos por exemplo o historial das medalhas olímpicas).
As outras modalidades, umas mais que outras, é que estão demasiado atrás.
Tudo isto se atendermos às condições de preparação oferecidas pelo Estado ao desportistas de alto rendimento e seus treinadores, que sempre foram ridículas quando comparadas com a maioria dos países da União Europeia, sobretudo ao nível das instalações desportivas.
Não esquecendo que por cá o que conta verdadeiramente é o Futebol. O resto continua a ser paisagem.
Luis Leite,
O titulo do post é o “o que se sabe e o que se pode dizer”.A opinião que expresso que é o que “digo” não conflitua com o que “sei” decorrente de ter tido responsabilidades administrativas entre 2003/2005,incluindo o início da governação socialista, e ter recebido e deixado o dossier “atletismo”com matérias muito antes daquele período, mas que para aqui não podem ser chamadas por óbvias razões de reserva públicas. A opção política da FPA, muito para além do que seria expectável atendendo às relações entre as duas lideranças, reforça sinais anteriores de aproximação e de pacificação entre as partes. Mas em bom rigor desconheço as motivações. Limito-me a admitir que o risco tenha sido calculado.
Uma vez mais obrigado pelo seu comentário.
A Espantosa Realidade das Cousas
A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
Alberto Caeiro
Quem quer dizer o que sente
não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente.
Cala: parece esquecer.
,,, ,,, ,,,
Mas quem sente muito, cala;
quem quer dizer quanto sente
fica sem alma nem fala,
fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
o que não lhe ouso contar,
já não terei que falar-lhe
porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
A juntar ao labor dos comentadores não esquecer a profícua recolha da espuma das coisas pelo Prof. João Boaventura, todos estão cada vez melhores.
Enviar um comentário