A silly season (termo utilizado para definir o período em que os clubes - neste caso de Futebol - podem adquirir jogadores) está para os agentes de jogadores de Futebol como o verão está para a hotelaria no Algarve.
É natural então perceber algumas das suas acções durante este período que termina amanhã, 31 de Agosto, pois o resto da temporada futebolística pode ser um marasmo – tirando o mês de Janeiro – onde a capacidade de investir por parte dos clubes é muito menor do que nos períodos do Verão, a chamada pré-época.
O que trago para a discussão do blog é a capacidade dos clubes resistirem à pressão que poderá ser feita de forma directa e indirecta por parte dos empresários, dado que estes combatem qualquer tipo de recrutamento ou planeamento de construção das equipas, ao impingirem jogadores aos pacotes, sejam eles resposta às lacunas das equipas ou não.
Não quero com isto impor algum tipo de culpa aos empresários pela desorganização que por vezes é bem visível na construção de um plantel das equipas, sejam elas grandes, médias ou de pequena dimensão. Porque por muita força, pressão ou desinformação que os empresários lancem, a última palavra será sempre a dos clubes, sejam eles representados pelos Presidentes ou Directores Desportivos e/ou para o Futebol. Para isso, e apesar da satisfação que a contratação de José Mourinho causou em Madrid, existem já algumas correntes contra o poder que um empresário português tem na actual equipa com a centralização de contratações por parte desse empresário.
Perceber contratações sem qualquer tipo de trabalho antecedente e depois observar jogadores que custam fortunas (grandes percentagens dos orçamentos para uma época) a serem facilmente descartados como aconteceu durante este fim-de-semana com um clube português despachou o 2.º jogador mais caro da sua história, quer por verbas irrisórias, quer por empréstimos, é de questionar toda a estratégia (?) ao nível da gestão quer desportiva quer financeira que os clubes possuem. Se possuem…
É de lembrar já há algum tempo quando o jogador português Paulo Sousa foi para a Juventus, o Director Desportivo da equipa italiana afirmou que já o ‘seguia’ e estudava os seus hábitos de vida há algum tempo de forma a diminuir ao máximo o risco de má adaptação e não corresponder às necessidades da equipa e do plantel. Como perceber nos tempos actuais que as regras mais simples de construção de equipas de trabalho e desportivas sejam deturpadas com entradas de jogadores, muitas vezes, contratados à lupa de DVD’s, jogos FM’s, e que durante o mesmo período entrem diversos jogadores para as mesmas posições, apenas porque o próximo será sempre melhor do que aquele que foi contratado há 1 ou 2 semanas?
Quantas histórias são conhecidas de contratações feitas com processos rocambolescos? E por mais incrível que possa parecer, continuam a acontecer? Pode-se entender que se seja surpreendido com a saída de um elemento da nossa equipa e não ter alternativas para o lugar? Talvez! Pode-se compreender que se dispense jogadores e depois não ter alternativas? Considero que não!
De que vale a pena falar em gestão desportiva, gestão de algo, quando os plantéis são construídos da forma que percebemos que o são? Acredito que hoje e amanhã hajam diversas pessoas dinâmicas…é abrir os links dos jornais desportivos para ver a quantidade de nomes novos que aparecem hora a hora? Um Director de um jornal diário desportivo dizia que nesta altura recebiam em média uns 50 telefonemas diários de empresários a ‘incutir’ diversos nomes para os clubes a ou b!
Como iniciei, a questão é saber quem gere o quê e quem faz de facto a gestão desportiva de um plantel!
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
O recrutamento e a gestão de plantéis
publicado por Rui Lança às 17:32 Labels: Agentes desportivos, Desporto profissional, Dirigentes desportivos
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13 comentários:
As transferências no Futebol profissional têm pouco a ver com questões de lógica desportiva e muito a ver com a natureza do "negócio" Futebol.
É muito simples:
Tudo se baseia no conceito elementar de "reforço", muito associado a questões primárias de fé e de clubite, alimentadas pela Comunicação Social, sobretudo a desportiva, que assim passa a ser viável. Também não podemos esquecer a visibilidade e o protagonismo individual dos presidentes dos clubes.
Com base neste complexo fenómeno com características muito alargadas e sociologicamente alienante, passou a haver cada vez mais gente a meter-se no negócio na qualidade de comissionistas, principalmente empresários e dirigentes de clubes, mas não só.
Nada tenho contra negócios legítimos, mas supostamente as empresas (SAD) servem para dar lucro ou pelo menos não dar prejuízo.
O que interessa saber, nestas contratações às dezenas de jogadores por clube, sem qualquer critério plausível, é de onde é que vem o financiamento para estas negociatas (para além dos aumentos de capital com dinheiro dos sócios), se os clubes estão há muito falidos e sem crédito bancário.
Eu receio muito que directa ou indirectamente venha dos nossos impostos e de lavagem de dinheiro sujo.
Caro Luís Leite,
A conversa sobre este assunto pode ter (pelo menos) duas direcções, uma mais de senso comum com inumeros casos falhados como o Pongolle, até ver o Roberto, apenas para referir dois recentes nomes. Podiam ser páginas inteiras!
Mas queria levá-la para o lado da...gestão, se é que é possível! Onde entra o processo de gestão, diagnóstico, recrutamento, contratação etc...ali?? Apenas vontades e pressões e forças de empresários, treinadores, etc?
Escreve o Luís Leite
(...)de onde é que vem o financiamento para estas negociatas (para além dos aumentos de capital com dinheiro dos sócios), se os clubes estão há muito falidos e sem crédito bancário.
Eu receio muito que directa ou indirectamente venha dos nossos impostos e de lavagem de dinheiro sujo.
Não percebi. Como é que os dinheiros dos nossos impostos podem entrar nos clubes? Será que eles recebem financiamentos públicos? Como? Por que forma? A que título?
A Gestão... não há. Muito menos a de plantéis.
Assim de repente lembro-me de três clubes que possam ser exemplo a nível Europeu: Ajax, Manchester e eventualmente Barcelona. Num universo infindável não é mau.
Claramente que têm uma politica de formação, mesmo das contratações com idade já avançada (para o mundo do futebol), de integração e de aproximação ao ideal do clube. Começando pelo facto de criar um modelo que é estudado e que percorrer várias décadas. Adaptando os jogadores ao modelo e não o modelo aos jogadores.
Depois porque dentro da gestão da imagem do clube, contempla-se a gestão da imagem dos jogadores, mais ainda quando se tratam de jovens em fase de adaptação... usufruindo estes de uma protecção elevadíssima por parte da estrutura do clube, inclusivamente do treinador (veja-se o Bebé), que o forma, e que o adapta ao estilo do clube, que prevê a sua evolução a dois, três ou mais anos e não a uma semana ou duas, ou em face de um resultado pontual.
A nível nacional o Sporting e mesmo o Porto procuram chegar-se à frente. Fazem o trabalho como deve de ser até chegarem ao escalão sénior, onde depois não conseguem introduzir esses jogadores quase sempre por dificuldades de adaptação destes em virtude das alterações constantes e drásticas que estes plantéis sofrem assim como dos seus timoneiros.
E assim termina o processo de Gestão do Plantel... quando nem sequer começou.
Caro Rui Lança,
no que respeita a clubes profissionais de futebol a "gestão" é secundarizada ao impulso do negócio fácil e rápido.
Como facilmente se aperceberá, na maior parte dos clubes o treinador está lá tão pouco tempo que nem tem hipótese de pretender construir uma equipa partindo do que já existe. Em poucas semanas, durante o defeso, aparece um plantel completamente renovado por iniciativa dos presidentes e dos seus fiéis colaboradores, que "cedem" facilmente à pressão dos agentes ou empresários. Às vezes, para disfarçar, aparece um treinador a dizer que "precisa de um ponta-de-lança muito alto para as bolas lhe baterem na cabeça e entrarem na baliza".
Não se pode falar em gestão quando o processo é destinado, à partida, a ser globalmente ruinoso. Claro que os clubes portugueses, na situação financeira em que se encontram, preferem o mercado sul-americano, porque é mais fácil o assédio aos jogadores, que vêem os seus ordenados multiplicados e têm a miragem da Europa.
E assim podem fazer-se mais negócios e ir alimentando a fé e a clubite.
Quanto ao papel do dinheiro dos nossos impostos nisto tudo, as autarquias têm tido um papel decisivo e muito imaginativo na forma de subvencionar os clubes da terra: Desde a cedência de terrenos municipais, muitas vezes através de sucessivas vendas fictícias de terrenos urbanizáveis ou com convenientes intermediários para despistar até às obras nos estádios, municipais ou não, passando pela cedência de terrenos para práticas desportivas noutras modalidades que depois, por natural esquecimento, revertem para comprar jogadores.
Há de tudo um pouco, só que a investigação disto tudo não é politicamente correcta. Supostamente tira votos.
Como?!
O anónimo andou a dormir estes anos todos?
Mas de quantos milhões quer falar dados pelo Estado (Municipios, empresas municipais, e central) aos clubes?
Mas não é esse o tema do artigo.
Como disseste Rui, não se percebe quem toma as decisões dentro dos clubes, que papel têm os agentes lá dentro e o critério das decisões.
O agente deveria servir apenas para negociar o contracto do jogador e não para sugerir nomes. Para isso tem de haver uma rede de informação montada, com técnicos de qualidade.
É claro que o agente quer é que o jogador rode o máximo possível porque ganhará a comissão e na maioria dos casos aumentará os honorários. Como sabemos há agentes que ganhar uma % do vencimento.
Quando um agente tem mts jogadores num clube ele passa a ser uma força dentro dele.
Os clubes deixam que isso aconteça, desvalorizando a formação por exemplo
Obrigado pelos vossos contributos!
Caro Luis Leite, concordo em parte, embora considere que estamos mais perto do 8 da mediocridade, está longe de ser um problema ou uma situação portuguesa. É bem mais mundial até, porque campeonatos onde haja mais dinheiro deverão haver mais interesses.
Como alguém disse e bem na minha opinião, clubes onde os treinadores se mantenham por mais tempo pode haver um trabalho mais profundo. Casos como o do Arsenal...ou onde os treinadores não contratam, são apenas os clubes que decidem.
Em Portugal...vale tudo, é a imagem que passam.
O que o Rui Lança fala é da Governance e da Ética das organizações desportivas em Portugal e da gestão de um plantel de jogadores de equipas profissionais.
A primeira questão é uma matéria fundamental sem a qual não se anda. A segunda não se é capaz de compreender e debater.
Quando estive num clube tentei de diferentes formas realçar a Ética e a História do desporto português e não tive o apoio do Estado nem do clube para a sua concretização cabal. Inicialmente avançou-se e depois falhamos e depois ninguém retomou a bandeira.
Os projectos e eu fomos comidos pelo clube que não dá nada para fazer a diferença do desporto que diz enaltecer.
Quando se trata de elejer um Código de Ética e outro de Governance para as organizações desportivas portuguesas que sustentem a acção técnica, quer na recreação, quer no alto rendimento, as décadas passam ficam as declarações nas leis de base que não são directamente produto desportivo e não motivam nem substituem aqueles que produzem desporto.
A gestão técnica em Portugal faz-se por decreto, não pelo acto de construção tijolo a tijolo, com o cimento apropriado a cada disciplina e a cada grau de complexidade técnica e no caso das equipas, atleta a atleta.
A ambição do político e do líder no desporto em Portugal é fazer a lei e o papel selado todos os dias para o jornal das oito da noite se pontuado por uma medalha qualquer tanto melhor e isso não se faz começando por apostar na qualificação e protecção da função dos técnicos e gestores.
Para que servem os gestores e treinadores? Eles tem um orçamento limitado, definido para determinado período de tempo, e devem valorizar esse orçamento.
Trocam o dinheiro por uma carteira de atletas, ou seja contratam atletas para servirem na equipa em diferentes posições defesa, meio campo, ataque e conseguirem impedir os adversários de marcar mais golos do que eles conseguem em cada jogo e no campeonato.
Falei em gestores e treinadores porque ambos são funções de produção diferentes e ambos se justificam em equipas de alto rendimento referidos por Rui Lança e Tiago Viana.
Já a gestão de imagem referida por Gaspar é fundamental no desporto moderno e será cada vez maior para o século XXI.
De facto os maiores clubes possuem modelos de gestão que vale a pena compreender para os adaptar à situação portuguesa que estando num nível diferenciado e abaixo daqueles colossos indicados Manchester, Barcelona e Real Madrid existe também noutros grandes clubes europeus.
Apesar do contraditório Portugal tem características para ensinar, como o futebol português tem tantos casos de exemplaridade e sucesso europeu.
Já vai longo o comentário.
Caro F. Tenreiro:
Governance ou "governanço"?
Ética? Onde???
O que é que vamos ensinar???
Nos clubes portugueses, os orçamentos são feitos e aprovados e mais tarde as Assembleias-Gerais aprovam com igual laxismo e irresponsabilidade Relatórios e Contas com passivos monumentais...
E os Presidentes costumam ser reeleitos sem grande dificuldade. Basta prometerem mais uns reforços!
Permanecemos no patamar em que nos inscrevemos, e dele não sairemos porque alimentamos o passado.
Isto para dizer que o que se passa na matéria em apreço, está perfeitamente retratada aqui:
"A maior dificuldade que se tem encontrado em pôr em ordem alguns sectores da administração pública é proveniente da verdadeira hostilidade do nosso espírito a um programa de acção. Tudo na administração do Estado e na administração local, se pretende deixar à improvisação do momento, aos desejos da ocasião; a disciplina de um plano estudado, aprovado, assente, que se executa anos sucessivos, custa-nos a suportar com violência ao nosso pensamento. Por isso muitas coisas se prometeram, e se não deram, muitas se começaram e não concluíram, muitas se diziam próximas quando se não sabia ainda como se havia de pegar nelas. Quantas vezes se não anunciaram ou deram verbas para obras em relação às quais nenhum estudo ou projecto havia que permitisse supô-las possíveis ou avaliar do seu custo: o mesmo nos museus, nos palácios, nas estradas, nos portos, na hidráulica agrícola, no fomento económico, na instrução, no crédito, no armamento do Exército."
Salazar
Caro João Boaventura:
O pensamento de Salazar tem que ser contextualizado.
A realidade actual tem situações comuns à 1ª República mas é diferente em outros aspectos.
Por mim não alimento o passado, seja ele qual for, embora a História seja um referencial fundamental.
As verdades, hoje, têm que ser ditas.
Para que seja possível pensarmos em inscrevermo-nos noutro patamar.
Um dos problemas do futebol profissional é o mesmo que o de alguns organismos do Estado.
Durante muito tempo as pessoas não geriram, utilizaram dinheiro. Gerir é utilizar os recursos que temos, criar novos não é gastar sem sequer orçamento ter ou gastando para lá do que está estipulado. Isso não é gerir!
Lembro-me de uma pessoa que trabalhava para o Estado (no séc. XXI) me dizer que não sabia qual era o seu orçamento do seu departamento.
Que fazia propostas e eram assinadas lá em cima. Isto é para mim irreal.
Nalguns clubes foi assim durante muito tempo. E ainda é um pouco.
Gasta-se sem se saber bem o quê?
É claro que os clubes portugueses só têm uma saída. Boa formação e prospecção. Técnicos competentes nessas áreas, não gastar acima das receitas tenham os resultados desportivos que tenham. Senão muitos Euros e Mundiais terá o Estado de fazer para os financiar.
Caro Luís Leite
Concedo mas o espírito contido no texto de Salazar aplica-se perfeitamente ao que se passou na 1.ª República, no Estado Novo, e no Estado Democrático.
Dê uma vista de olhos ao que se passa com as trapalhadas da justiça, dos submarinos, da educação, da luta entre o PS e o PSD, perdão, entre a FPF e o Estado, e não me alongo.
O post do Rui Lança é o retrato do que escreveu Salazar aplicado ao que se passa nos plantéis.
No Estado Novo os castigos aplicados pelas Federações podiam ser alterados pelo Ministro da tutela. Hoje, não é pela tutela é por uma comissão sui generis et sui iuris, para concluirmos com Cícero que summum ius, summa iniura.
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