1. A reunião da direcção da FPF, de 30 de Julho, teve por objecto analisar o inquérito, conduzido pelo Instituto do Desporto de Portugal:
“Gilberto Madaíl tem em mãos um inquérito conduzido pelo Instituto do Desporto de Portugal (IDP) visando o seleccionador nacional. Carlos Queiroz, sabe o DN, é acusado de comportamento incorrecto e linguagem insultuosa visando, sobretudo, o presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), Luís Horta, aquando do primeiro controlo antidoping realizado durante o estágio da selecção nacional na Covilhã”.
“O inquérito foi enviado à FPF via Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, esclareceu ainda a federação”.
2. O «Caso Carlos Queiroz» começa a assumir contornos opacos lidas as normas legais que pautam a acção do IDP, da ADoP e da Federação Portuguesa de Futebol, bem como as circunstâncias conhecidas dos factos. O «Caso Carlos Queiroz», por assim dizer, joga-se em múltiplos tabuleiros normativos, mas os jogadores parecem não respeitar as «leis do jogo».
3. Tudo leva a crer, pelas pingas informativas que o «inquérito do IDP» nasce a partir do envio pela ADoP do relatório dos médicos envolvidos na acção de controlo.
Ora, se assim foi, o referido inquérito, que recolheu testemunhos de funcionários da FPF e da unidade hoteleira onde decorria o estágio, deveria também, desde logo, ter ouvido aquele a quem são (foram) imputadas as acções difamatórias e injuriosas.
Tal, a crer nas informações públicas, não ocorreu.
Por outro lado, este inquérito não mais representa que um processo a quem, no bom rigor, ninguém estava obrigado a participar, prestando testemunhos.
No fundo, o IDP – sem ouvir um dos principais interessados – agiu como uma autarquia local quando um seu fiscal se vê injuriado por particulares ou representantes de uma empresa, aquando de uma fiscalização sobre obras particulares. A final, via Secretaria de Estado, enviou o que recolheu – o que sem a audição do treinador pouco valerá – à entidade patronal do técnico.
O agir do IDP não tem nada de processo disciplinar, nem de processo contra-ordenacional.
Deu conta à FPF que um agente desportivo injuriou um servidor público ou vários servidores públicos.
4. A estarmos certos – o que sempre temos que colocar sob alguma reserva –, ninguém, até este momento do «Caso» colocou as peças no tabuleiro da legislação relativa ao combate à dopagem.
Com efeito, a FPF não iniciou nenhum procedimento disciplinar a 16, 17 ou 18 de Maio ou até recente data, como era seu dever se entendesse que as acções do seu seleccionador consubstanciavam algum tipo de perturbação à acção de controlo.
O IDP não tem competência para esse impulso disciplinar e a ADoP somente tem competência ao nível do processo de contra-ordenações sobre o qual, até agora, não se sabe se teve lugar.
Contudo, o jogo foi-se realizando – e continua-se a realizar – à vista, com regras criadas jogada a pós jogada.
O resultado final – se é que virá a haver -, só alcançável em outras instâncias, não pode ser positivo.
“Gilberto Madaíl tem em mãos um inquérito conduzido pelo Instituto do Desporto de Portugal (IDP) visando o seleccionador nacional. Carlos Queiroz, sabe o DN, é acusado de comportamento incorrecto e linguagem insultuosa visando, sobretudo, o presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), Luís Horta, aquando do primeiro controlo antidoping realizado durante o estágio da selecção nacional na Covilhã”.
“O inquérito foi enviado à FPF via Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, esclareceu ainda a federação”.
2. O «Caso Carlos Queiroz» começa a assumir contornos opacos lidas as normas legais que pautam a acção do IDP, da ADoP e da Federação Portuguesa de Futebol, bem como as circunstâncias conhecidas dos factos. O «Caso Carlos Queiroz», por assim dizer, joga-se em múltiplos tabuleiros normativos, mas os jogadores parecem não respeitar as «leis do jogo».
3. Tudo leva a crer, pelas pingas informativas que o «inquérito do IDP» nasce a partir do envio pela ADoP do relatório dos médicos envolvidos na acção de controlo.
Ora, se assim foi, o referido inquérito, que recolheu testemunhos de funcionários da FPF e da unidade hoteleira onde decorria o estágio, deveria também, desde logo, ter ouvido aquele a quem são (foram) imputadas as acções difamatórias e injuriosas.
Tal, a crer nas informações públicas, não ocorreu.
Por outro lado, este inquérito não mais representa que um processo a quem, no bom rigor, ninguém estava obrigado a participar, prestando testemunhos.
No fundo, o IDP – sem ouvir um dos principais interessados – agiu como uma autarquia local quando um seu fiscal se vê injuriado por particulares ou representantes de uma empresa, aquando de uma fiscalização sobre obras particulares. A final, via Secretaria de Estado, enviou o que recolheu – o que sem a audição do treinador pouco valerá – à entidade patronal do técnico.
O agir do IDP não tem nada de processo disciplinar, nem de processo contra-ordenacional.
Deu conta à FPF que um agente desportivo injuriou um servidor público ou vários servidores públicos.
4. A estarmos certos – o que sempre temos que colocar sob alguma reserva –, ninguém, até este momento do «Caso» colocou as peças no tabuleiro da legislação relativa ao combate à dopagem.
Com efeito, a FPF não iniciou nenhum procedimento disciplinar a 16, 17 ou 18 de Maio ou até recente data, como era seu dever se entendesse que as acções do seu seleccionador consubstanciavam algum tipo de perturbação à acção de controlo.
O IDP não tem competência para esse impulso disciplinar e a ADoP somente tem competência ao nível do processo de contra-ordenações sobre o qual, até agora, não se sabe se teve lugar.
Contudo, o jogo foi-se realizando – e continua-se a realizar – à vista, com regras criadas jogada a pós jogada.
O resultado final – se é que virá a haver -, só alcançável em outras instâncias, não pode ser positivo.
5 comentários:
O cenário montado sobre a cabeça do senhor Queirós
Segundo as últimas notícias do Diário de Notícias a divergência interna na FPF desta feita poderá vir a ter um qualquer significado. E Madail desta feita não vai poder de novo fingir que nada é com ele e tentar sair completamente incólume deste imbróglio de que é parte integrante.
O processo conduzido em surdina durante semanas nos meandros do IDP, sob tutela governamental, ainda vai dar muito que falar e ver. A procissão ainda nem parece ter chegado a sair do adro. E as penas a cominar, como aqui refere o Dr. Meirim, vão ser interessantes de constatar.
Talvez que o Dr. Laurentino ainda venha a ter de nos explicar melhor a coisa, para deixar de cheirar demasiadamente a inspiração menorizada de Kafka.
Algo é agora certo, todavia, o alvo do processo já conheceu a nota de culpa e vai certamente dar-se à luta de galos.
Será que nesta historieta político-jurídica ainda se vai dar algum salto organizativo, quer na FPF através das eventuais demissões de “dinossauros medianos” que por lá pululam há anos e anos, quer no departamento do Dr. Laurentino onde ao que parece o IDP que nem relatório faz do modo como aplica os dinheiros públicos nas entidades federativas pareceu agora dar sinais interessados de vida?
Lá para o final desta cena montada sobre a cabeça do senhor treinador teremos que pedir contas do respectivo rosário aos Drs. Laurentino, Sardinha, Horta, Madail e respectivos colegas na FPF pelos resultados que a sua selecção vier a obter nos próximos tempos sem a eventual batuta do senhor da infâmia aos brigadeiros da AdoP.
A malta gosta dos climas de Poirot e Sherlock que parecem encantar o Dr. Laurentino e companhia, mas também gostaria de saber como é que ele pensa governar o desporto português que continua a ter as mesmas taxas de prática medíocres no contexto da EU, como ficou de novo patente no último relatório do Eurobarómetro sobre “Desporto e Actividade Física” , o qual como habitualmente nestas coisinhas menores nem mereceu qualquer análise circunstanciada dos nossos senhores da Secretaria de Estado e do IDP.
Já para nem falarmos de modalidades que se têm distinguido internacionalmente, como o rugby, o judo ou a canoagem e que nem merecem da tutela o menor empenho de reconhecimento e de tentativa de fazer prosperar esses exemplos e respectivos modelos organizacionais e de liderança nas demais modalidades, sem esquecer o próprio futebol que não tem sido grande exemplo nem na FPF nem na Liga ao longo destes vários anos.
Chega pois de circo, de vaidade pessoal, e de aproveitar de uma onda populista que parece ser construída com base num processo obscuro e muito mal conduzido; e que cheira muito, muitíssimo mesmo, a aproveitamento político para retirar dividendos e imagens mediáticas, por um lado, e dar o impulso para dar com o cutelo na cabeça do treinador da selecção, por outro.
Vamos ver se a FIFA não virá ainda a ter motivos para intervir neste processo em defesa daquilo que sempre tem considerado como a absoluta independência do desporto relativamente aos Governos nacionais. Lá mais para diante, e no meio do apuramento para o EURO 2012 da selecção, isso ficará, porventura, mais claro. E que dirá aí o Dr. Laurentino?
J. Manageiro da Costa
Todas as palavras tomadas literalmente são falsas. A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não foi dito, ler as entrelinhas. A atenção flutua: toca as palavras sem ser por elas enfeitiçada. Cuidado com a sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio!
Rubem Alves
Caro João Boaventura,
Eu até compreendo os seus contributos poetico-filosóficos para este blog.
Até me apetece imenso concordar com muitas das citações que tem feito, porque no fundo as compreendo e aceito como válidas e ética e esteticamente interessantes.
Mas um blog com estas características, em que é suposto discutir-se abertamente desporto, a partir da proclamação de ideias e críticas, partindo de situações concretas, julgo ser mais interessante ser directo e concreto.
Não que não entenda a sua participação através de citações. Considero-a tão legítima como as melhores e intelectualmente muito interessante. Mas por vezes parece um pouco fora do contexto.
Neste caso, obviamente a expectativa é grande sobre o que virá a acontecer quando a bola está do lado da FPF. Que não sabe o que fazer ao Queiroz.
Quando certos interesses e desígnios nacionais, sobretudo a organização conjunta do Mundial de 2018 podem ser afectados por um caso que, no meu entender, vai acabar por ser abafado ou metido num labirinto kafkiano sem fim.
Caro Luís Leite
Vivemos numa sociedade de ambiguidades e banalidades, às quais damos o tamanho do Everest se nos interessar, ou o tamanho de uma gota de água, se para aí nos inclinarmos.
A minha atitude, perante o empolamento do caso Queiroz, é o de distanciamento perante a criação de dois cenários:
1.º - Queiroz ofendeu a mãe virtual, porque não estava lá, de um médico virtual, porque também não estava lá;
2.º - Levantar um processo disciplinar ? Não.
Ambos cenários estão correctos, por uma simples razão de valores materiais:
- Se fosse processado, o treinador era substituído, no tempo e espaço menos indicados; ponha-se uma tampa na Covilhã, e esperemos pelo resultado do Mundial; dá-se à ética um compasso de espera;
- Cumpriram-se os mínimos dos mínimos, e agora os actores, tinham que demonstrar o seu desagrado pelo resultado da África do Sul;
- Mas sabem que em desporto ganhar e perder são resultados previsíveis, e somos ensinados a encarar a derrota, ou os mínimos, com espírito olímpico, pelo que não se pode processar o homem;
- Resta-nos levantar a tampa da Covilhã e avançar com o que tinha levado o carimbo: "aguardar pelos resultados".
A mãe virtual ofendida esperou por dois meses para se converter em mãe real. E aí a paciência de Job esgotou-se.
Caro Luís Leite
Para terminar a peça.
Conta-se que num dia qualquer, Almir Sater estava em São Paulo para uma temporada e desceu do seu apartamento para tomar um cafezinho num mercado ali perto.
Chegando ao destino, encontrou Renato Teixeira que o convidou para experimentar uma viola nova que acabara de comprar.
Enquanto tomavam café, Almir dedilhou a viola e soltou..."Ando devagar"...ao que Renato acrescentou ..."porque já tive pressa".
Dizem que essa maravilha ficou pronta em 10 minutos. Um dia alguém perguntou ao Almir como essa música fora feita e ele respondeu...
"Ela já estava pronta....Deus apenas esperou que eu e o Renato nos encontrássemos para mostrá-la pra gente".
Não sei se isto é lenda ou é verdade...tanto faz.
Aqui tem, em dois tempos o drama da peça Queiroz, que "já estava pronto" mas Deus esperou que os "dois se encontrassem para mostrá-la pra gente".
Agora, resta-nos ouvir a música, para esbater os dramas que a vida faz.
Enviar um comentário