Quem ensina o desporto às crianças e aos jovens? A pergunta pode parecer descabida. Mas nada se perde em ensaiarmos as respostas. O ensino do desporto, através das diferentes modalidades desportivas é realizado pelas escolas e pelos clubes. E por outras entidades públicas e privadas. O ensino da natação ou do futebol, por exemplo, pode ser encontrado em programas escolares e em serviços de clubes, municípios e entidades empresariais privadas. Mas se quisermos procurar o ensino da esgrima dificilmente o encontraremos fora da estrutura associativa. Ou o hipismo na estrutura associativa e privada. Com excepção, em ambas, do ensino publico militar. Os exemplos podem multiplicar-se e revelarão um elevado grau de diferenciação no modo como as modalidades desportivas encaram o problema da respectiva aprendizagem técnica.
Num quadro tão díspare quem assegura a qualidade dessa formação? A resposta tem sido encontrada através da certificação dos agentes de ensino (professores, treinadores, etc.) Supostamente, essa certificação, garante a respectiva qualidade. É o caso da licenciatura em educação física e desporto e dos diferentes graus de qualificação de treinadores desportivos.
Qual o balanço que é feito desta qualificação? Garantem as diferentes formações em educação física e desporto (existem cerca de meia-centena) as necessárias competências para o efeito? As alterações produzidas no âmbito da formação de treinadores serão suficientes para garantir a respectiva qualidade formativa?
Estes temas não parecem estar na primeira linha das preocupações de quem gere as modalidades desportivas. Mesmo sabendo-se que, em parte, a qualidade dos agentes de ensino determinará em muito a qualidade dos praticantes. Durante décadas esta foi uma frente de batalha de técnicos desportivos oriundos da formação superior em desporto e com forte ligação às modalidades. Mas uma batalha que para ser vencida carecia de um adequado envolvimento dos dirigentes. Que deveriam olhar para a formação dos técnicos como um elemento critico para qualificação das respectivas modalidades e não apenas como um negócio em que se transformaram muitos dos cursos “formação “.
Nesta matéria não se pode invocar apenas as responsabilidades do Estado. Elas existem, é certo. Patentes no laxismo irresponsável que permitiu o aparecimento de formações superiores em educação física e desporto sem a garantia de adequada qualificação científica (e muito para além da empregabilidade necessária…). No atraso de um novo regime de formação de treinadores que os actuais responsáveis políticos de algum modo resolveram. Mas também é justo que se reconheça que se há sector da administração pública desportiva que tem um histórico de elevada credibilidade e competência é o da formação. Sobreviveu sempre às alterações governativas e de liderança interna e manteve, ao longo dos anos, um acervo de competência que é da mais elementar justiça reconhecer e louvar.
Só que o desenvolvimento das práticas do desporto e a entrada no sistema de novos actores (públicos e privados) alterou significativamente o modelo existente e colocou questões novas que carecem de ser objecto de abordagem. E que incluem não apenas a formação dos agentes de ensino/treino. Mas o próprio modelo técnico da formação do jovem praticante, todo ele construído num mundo que é hoje diferente. Um modelo que se não pode limitar às aquisições motoras de tipo técnico ou táctico mas que se tem de centrar no lugar que o desporto deve assumir na vida de um jovem e no tempo que ele está disponível para lhe dedicar. O abandono desportivo precoce, matéria pouco estudada entre nós, tem no modo como é feita a formação do praticante um dos seus elementos explicativos. Não o único. Mas um elemento a pesar.
Qualquer que seja o modelo dessa formação desportiva as práticas recreativas são o terreno essencial quer à progressão técnica, quer à fixação dos jovens nas modalidades. E um pressuposto à orientação e especialização desportivas. Uma matéria, de resto, abundamente documentada por quem neste país tem estudado e publicado sobre a formação dos jovens praticantes. E uma responsabilidade,não nos cansamos de repetir ,de quem dirige as modalidades: as respectivas federações.
Num quadro tão díspare quem assegura a qualidade dessa formação? A resposta tem sido encontrada através da certificação dos agentes de ensino (professores, treinadores, etc.) Supostamente, essa certificação, garante a respectiva qualidade. É o caso da licenciatura em educação física e desporto e dos diferentes graus de qualificação de treinadores desportivos.
Qual o balanço que é feito desta qualificação? Garantem as diferentes formações em educação física e desporto (existem cerca de meia-centena) as necessárias competências para o efeito? As alterações produzidas no âmbito da formação de treinadores serão suficientes para garantir a respectiva qualidade formativa?
Estes temas não parecem estar na primeira linha das preocupações de quem gere as modalidades desportivas. Mesmo sabendo-se que, em parte, a qualidade dos agentes de ensino determinará em muito a qualidade dos praticantes. Durante décadas esta foi uma frente de batalha de técnicos desportivos oriundos da formação superior em desporto e com forte ligação às modalidades. Mas uma batalha que para ser vencida carecia de um adequado envolvimento dos dirigentes. Que deveriam olhar para a formação dos técnicos como um elemento critico para qualificação das respectivas modalidades e não apenas como um negócio em que se transformaram muitos dos cursos “formação “.
Nesta matéria não se pode invocar apenas as responsabilidades do Estado. Elas existem, é certo. Patentes no laxismo irresponsável que permitiu o aparecimento de formações superiores em educação física e desporto sem a garantia de adequada qualificação científica (e muito para além da empregabilidade necessária…). No atraso de um novo regime de formação de treinadores que os actuais responsáveis políticos de algum modo resolveram. Mas também é justo que se reconheça que se há sector da administração pública desportiva que tem um histórico de elevada credibilidade e competência é o da formação. Sobreviveu sempre às alterações governativas e de liderança interna e manteve, ao longo dos anos, um acervo de competência que é da mais elementar justiça reconhecer e louvar.
Só que o desenvolvimento das práticas do desporto e a entrada no sistema de novos actores (públicos e privados) alterou significativamente o modelo existente e colocou questões novas que carecem de ser objecto de abordagem. E que incluem não apenas a formação dos agentes de ensino/treino. Mas o próprio modelo técnico da formação do jovem praticante, todo ele construído num mundo que é hoje diferente. Um modelo que se não pode limitar às aquisições motoras de tipo técnico ou táctico mas que se tem de centrar no lugar que o desporto deve assumir na vida de um jovem e no tempo que ele está disponível para lhe dedicar. O abandono desportivo precoce, matéria pouco estudada entre nós, tem no modo como é feita a formação do praticante um dos seus elementos explicativos. Não o único. Mas um elemento a pesar.
Qualquer que seja o modelo dessa formação desportiva as práticas recreativas são o terreno essencial quer à progressão técnica, quer à fixação dos jovens nas modalidades. E um pressuposto à orientação e especialização desportivas. Uma matéria, de resto, abundamente documentada por quem neste país tem estudado e publicado sobre a formação dos jovens praticantes. E uma responsabilidade,não nos cansamos de repetir ,de quem dirige as modalidades: as respectivas federações.
5 comentários:
No último parágrafo, JM Constantino acaba por dar razão àqueles (como eu) que defendem que as práticas exclusivamente recreativas só devem ser responsabilidade das Federações enquanto estivermos a falar do jovem praticante (infantil, iniciado e, em certos casos, juvenil) e do praticante veterano (acima dos 35 anos), desde que os interessados aceitem o enquadramento federativo.
Que pressupõe a aceitação de regras, direitos e deveres e a integração como atleta federado de pleno direito.
Quanto aos restantes escalões etários (juniores e seniores), só faz sentido a plena integração, através da filiação na respectiva Federação e com carácter competitivo e oficial.
As Federações não podem nem devem usar e gastar os seus recursos humanos e financeiros com desportistas que não se pretendem integrar nem competir dentro das regras.
Essa ideia não tem viabilidade técnica nem financeira.
Caro Luís Leite
Estamos de acordo que quem se integra numa federação pressupõe a aceitação de regras, direitos e deveres e a integração como atleta federado de pleno direito. Podemos é discutir essas regras. Mas se existem e enquanto existem é para ser cumpridas .Sobre a matéria que nos tem dividido, a prática desportiva recreativa, e para além do que se passa em algumas disciplinas de algumas modalidades desportivas, gostaria de recolher a sua opinião numa modalidade que conhece bem melhor que eu :o atletismo. E par saber como comenta o projecto da Federação Francesa de Atletismo designado por “LABELLITASION des CLUBS”em que cada clube para obter essa certificação a ser avaliada pela Direcção Técnica Nacional deverá obrigatoriamente obtê-la entre quatro domínios (Découverte,- Compétition- Loisir (santé) ou Loisir (running).O que são esta duas ultimas dimensões se não a abertura do atletismo e da respectiva federação a novas dinâmicas sociais?
Grato
Caro JM Constantino,
Respondo às suas perguntas com prazer:
1) No caso do Atletismo, existem em Portugal algumas dezenas de milhar de pessoas que fazem "caminhada/footing", "jogging", corrida lenta, etc.".
Essas pessoas, independentente da motivação que as faz "mexerem-se", não praticam a modalidade desportiva "Atletismo", que é regulada por um livrinho fundamental chamado "Competition Rules", editado pela IAAF e periodicamente actualizado, com versões editadas pela FPA em Português, quando aparecem alterações substanciais.
Uma rápida leitura deste livro revela, rapidamente, qual o âmbito desta modalidade.
Não tenhamos dúvidas de que a competição está e sempre esteve na génese do Atletismo e de que actividades meramente recreativas, perfeitamente livres e aceitáveis, não cabem de todo dentro do conceito "Atletismo".
O facto de a modalidade ir recrutar jovens ou veteranos às actividades de iniciação lúdica escolar ou prática prolongada ou tardia, não essencialmente competitivas, não significa que "todos" estejam interessados ou disponíveis para aquilo que efectivamente é o Atletismo: uma modalidade competitiva por excelência.
A confusão aparece quando vemos grandes eventos político/desportivos em estrada misturarem (aparentemente), numa mesma corrida, todo o tipo de praticantes. Mas, na realidade, há ali diversas manifestações de natureza sócio-desportiva diversa.
2) A realidade francesa, ou de outros países mais desenvolvidos, nada tem a ver com a nossa. Nalguns países, os clubes podem ser obrigados a integrar essas outras valências lúdicas. Mas isso não significa que essas pessoas se possam federar.
Em França, por exemplo, aqueles que se querem federar têm que fazer uma prova de exame no próprio clube, em que um técnico com formação e competência reconhecidas atesta que fulano tem condições para ser federado.
O essencial desta matéria (pelos vistos polémica), é que uns são "atletas" e outros não são porque só praticam a actividade para se divertirem. E isso não é suficiente para qualificá-los como "atletas" mas sim como praticantes de desporto informal.
Grato sou eu.
Obrigado Luís Leite,
Você recorda-se com certeza de uma entrevista feita, salvo erro, pelo Arons de Carvalho há muitos anos em que um dos mais conceituados treinadores portugueses dizia que a maratona não era atletismo ?(estou a citar de memória)Hoje quem põe em causa a importância da maratona, que é o que é, graças aqueles que correm devagarinho e fazem jogging? As marcas põem lá o dinheiro que põem pelo mercado que constitui os milhares que correm devagarinho ,assim-assim e até a andar e independentemente do lugar que alcançam. Mas sobre isto falamos noutra altura. As realidades mudam. Quando lhe chamei atenção para França e para respectiva federação é para verificar que nos países de desenvolvimento desportivo mais avançado a introdução de programas de recreação e até de programas desportivos não competitivos é comum. A Federação Francesa como provavelmente saberá bem melhor que eu, tem um programa que se designa atletismo,saúde ,lazer e corrida, tem uma certificação só para os praticantes de corrida (pass/running)creio ser esta designação e até um programa não competitivo de marcha nórdica para praticar em qualquer local(nos jardins,parques,passeios,etc).Dir- me-á´: são realidades diferentes. Claro que são. Esse é o problema. Todo este nosso debate começou em torno de saber se na vocação da federações desportivas caberiam outras dimensões da prática que não apenas a competição e o rendimento, Acompanhei e participei há cerca de 20 anos no debate que no seio de algumas organizações europeias se fez em tornos destas tendências. O assunto é hoje pacífico. Nós estamos a discutir agora o que os outros já resolveram há duas décadas atrás. E a meu ver resolveram bem. As modalidades,as federações e o desporto só ganharam com isso.
Grato pela sua atenção.
Caro JM Constantino
Obrigado pela sua réplica.
Aqui vão alguns argumentos:
1) A Maratona sempre foi uma disciplina olímpica do Atletismo, o que a diferencia, para os entendidos, das não-olímpicas.
O que a distingue de todas as outras disciplinas olímpicas é o facto de em todo o mundo existirem provas/eventos urbanos abertas a todos, embora na mesma edição existam várias competições em separado. São as chamadas maratonas comerciais que tanto agradam aos políticos e às grandes empresas públicas porque envolvem milhares de pessoas e dão visibilidade política e comercial.
Como a Maratona é uma corrida muito difícil e longa que não é mesmo para todos, nos anos 70 inventou-se uma "coisa" sem qualquer tradição chamada "meia-maratona", que no fundo, não é peixe nem é carne, mas que tanto agrada à classe política e às empresas ligadas ao desporto.
Em Portugal, temos centenas todos os anos um pouco por todo o país e tudo começou com o efeito Carlos Lopes/Rosa Mota, como sabe.
Não existe para o Atletismo português qualquer vantagem nas meias-maratonas, já que os rankings do meio-fundo/fundo são cada vez piores em profundidade e em todas as disciplinas, como bem sabe o M. Arons de Carvalho.
Além disso, esta nova disciplina praticamente acabou com as disciplinas clássicas do meio-fundo em pista (5000 e 10000m) onde Portugal era tão forte, porque oferece prémios monetários que em pista não são possíveis.
2) Quanto à inclusão das práticas não competitivas nas actividades das Federações, já expus os meus argumentos.
Eu não sou contra essas práticas, sou a favor...
Apenas entendo que não têm nada a ver com as Federações.
O que não quer dizer que nalguns países ricos as Federações não tenham capacidade estrutural para também promover esse desporto para todos, sobretudo se houver um "interessante" retorno financeiro do Estado.
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