segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O nó do problema

O Orçamento de Estado para 2011, qualquer que seja a versão final que venha a ser aprovada, constitui uma alteração muito significativa em todos os sectores da economia nacional seja ela pública, privada ou associativa. E, como é natural, esses diversos sectores procuram avaliar o impacte das medidas propostas e bem assim os cenários possíveis num quadro de previsível recessão da economia. Diariamente a comunicação social dá eco dessas preocupações. Passa-se alguma coisa com o desporto? Estão avaliados as consequências do aumento significativo dos bens e serviços que estão a montante da produção desportiva? Qual a redução previsível da despesa das famílias na aquisição de bens e serviços desportivos? Qual o impacte na economia das organizações desportivas de uma aumento do custos de produção? E com os quadros competitivos em matéria de despesas com deslocações e viagens? E mesmo que os apoios públicos não tenham decréscimos significativos como compensar ao aumento da inflação e o aumento do imposto sobre o consumo? E o aumento das taxas para a segurança social a serem suportadas pelas entidades empregadoras? E o previsível decréscimo no apoio das empresas? E das autarquias face aos limites de endividamento e às reduções em transferências do OE? O acréscimo de custos tem modo de ser compensado com os proveitos estimados? Seria natural que nesta altura as organizações desportivas, e designadamente as estruturas de topo, estivessem preocupadas e a trabalhar nos diferentes cenários para enfrentar esta nova situação. Pode ser que estejam. Mas se estão é em silêncio.
Não se trata, sequer, de polemizar com o governo. O problema não é do governo. É do país e do desporto. E com este ou outro governo a situação não seria substancialmente diferente. De resto, basta estar atento e ler a opinião de quem tendo filiações e militância politicas distintas das do governo e até responsabilidades anteriores no sector, para perceber que não há oposição, não há politicas alternativas com soluções de distintas, não há uma ideia diferente daquelas que são apresentadas pelo governo. O que não é uma coisa natural. Mas é o estado lastimoso a que se chegou.
A democracia faz-se de confrontos de ideias e de projectos E no caso português só o governo e partido que o apoia apresentam ideias e projectos. Esse mérito tem de ser reconhecido. O problema é que esse mérito esconde um demérito. Que o governo não tem culpa.O drama deste país é que o governo pensa e não há no movimento desportivo, nos partidos políticos ou nas organizações civis quem tenha capacidade para pensar diferente. O que é mau para quem governa, é mau para quem um dia quer governar e é péssimo para quem é governado. Culpar aos políticos e as suas organizações é sacudir a àgua do capote. Então numa situação como a que estamos a viver os representantes das organizações desportivas não deveriam estar, desde já, na posse de elementos de trabalho que permitissem avaliar as consequências de uma crise tão profunda e que inevitavelmente irá afectar as suas organizações? Estando a sociedade portuguesa perante um tão significativo cenário de mudança as organizações desportivas não precisam de se adaptar a essa mudança? Ou o que se está a passar é indiferente nos rumos do desporto nacional? Onde está a massa critica das organizações desportivas e dos actores sociais e políticos?

2 comentários:

Luís Leite disse...

As Federações governam-se como podem (cada qual por si) e desinteressaram-se da Confederação do Desporto de Portugal, moribunda, que seria o local próprio para discutir e avaliar o "statu quo".
Esta, transformada em apêndice governamental, limita-se a festejar, todos os anos, no Casino do Estoril, a prosperidade do Desporto português.
De resto, existem algumas vozes incómodas e (demasiado)independentes.

Anónimo disse...

Julgo que o problema do financiamento do desporto em Portugal vai continuar a residir no clube desportivo de base, aquele que faz da formação de jovens o seu principal desígnio. As federações desportivas continuarão a focalizar o seu principal interesse na alta competição e nas selecções (afinal é aquilo que traz "palco" e notoriedade a alguns dirigentes). e tempos de crise continuam a aumentar os custos de participação dos clubes e atletas em campeonatos federados, com o aumento das despesas de inscrição, filiação, arbitragens, seguros e exames médicos, sem esquecer outras despesas não imputáveis às federações como o combustível, policiamento, materiais desportivos, etc. Apesar das autarquias continuarem a cortar os apoios aos clubes e as crescentes dificuldades de gerar receitas através dos patrociníos, os custos de manter equipas em competição aumentam. Esta linha de orientação das federações está a acabar com o desporto de base e não se vê ninguém com preocupações nesta área.