quarta-feira, 6 de abril de 2011

Depois de uma galinha,um porco

Depois de uma galinha no Estádio do Dragão um porco no Estádio da Luz. A foto do jornal Record (4/4/11) sobre o Benfica /Porto não deixa dúvidas: alguém largou um porco (ou leitão?) em pleno estádio. Como dizia o outro, a imagem vale por mil palavras. No caso o bácoro vale por mil teorias. Um porco, tal como uma galinha, segundo os regulamentos, não estão impedidos de entrar num campo de futebol. Não existe essa discriminação. Desde que paguem bilhete e se sentem. São animais como quaisquer outros. Nesse sentido cumpriu-se a lei. É para isso que vivemos, embora às vezes não pareça, num estado de direito. E mesmo que estivesse proibido, coisa que, compulsados os diferentes normativos, não encontrámos, todos sabemos que é fácil escondê-los em qualquer sítio. O controlo dos acessos é apertadíssimo, o número de policiais - fardados e à paisana – e assistentes de segurança é equivalente a uma guerra civil mas um porco é um porco e tem artes de simulação. Incluindo ao detector de metais. O mesmo se passa com a galinha. E mesmo que um grunhe e a outra cacareje, coisa que pode acontecer, o barulho do estádio abafa o som. Portanto não se critique o sistema de segurança.

Antigamente havia aquela comissária toda aperaltada, creio que se chamava Paula, que, no antes e depois das confusões, dizia como tudo estava planeado. Habitava nela qualquer coisa de mágico. Até a voz. Mas desde que trocou as suas antigas funções por outras que incluem, nas viagens ao estrangeiro, a de companheira de jogging do nosso primeiro, o futebol perdeu com a troca. O futebol e a estética da autoridade. E agora bem se pode especular como entrou o porco (ou a galinha?) para o interior do estádio. Por que porta? A que horas? Quem o transportou e como? Fugiu de um restaurante do estádio cujo destino era a grelha? Seguramente que haverá várias hipóteses. E todos a merecerem cuidada reflexão. E se possível uma comissão de inquérito. Não precisa de ser parlamentar. Pode até ser uma auditoria. Preferencialmente externa. Ou mesmo, quem sabe, um Forum na Rádio Bagdad(vulgoTSF). Ou um Prós e Contras. Porque de uma coisa podemos estar seguros: não foi por falha de planeamento. E por que o afirmamos com tanta assertividade? A tese é a seguinte.

Em cada um deste tipo de eventos há, invariavelmente, duas verdades confirmáveis. O dispositivo de segurança está em estado de prontidão máxima. E isso não é impeditivo de um arraial de pancadaria. Um não consegue viver sem o outro. Nada falha. Nem o planeamento. Nem a criminalidade organizada. Em matéria de previsão não há quem nos vença. E em matéria de segurança nos estádios a previsibilidade do que vai acontecer é bem maior que a do boletim meteorológico. É em planeamento, em autoridade e em dimensão filosófica sobre a Ética e seus derivados. Coisa, de resto, que está bem entregue. O responsável diz ”que o nível atingido já mete respeito”. E que vai promover uma reunião. Ora aí está o que a situação requer: uma reunião! Que não deve terminar sem um comunicado. E que responda ao que desta vez ocorreu. Alguma coisa falhou? Erro humano? Sintoma de que o FMI já anda por aí a infernizar-nos? A comissão de protecção dos animais fechou os olhos? O assunto não foi tema das conversações entre as partes, autoridades policiais e os líderes das claques? Houve aquiescência das autoridades sanitárias? Alguém se engasgou? Porque a novidade não foi o boicote à EDP com o fecho das luzes. Nem a conivência com a EPAL com a abertura do sistema de regra. Casos que são, à escala nacional, uma cópia dos catalães quando vencidos pelos italianos. Em matéria de elegância e boa educação estamos sempre disponíveis para copiar. A novidade foi o porco. Porque desta feita era diferente da galinha. Em termos estritamente zoológicos houve um “up-grade”. E nesta caso fomos mais longe que os catalães. Inovámos. Não nos limitámos a levar a cabeça do dito, como eles fizeram quando quiseram enxovalhar o Figo. Optámos por um original. E vivo.

No futuro, e para evitar a repetição da cena, duas medidas se impõem. Pelo menos duas. Os regulamentos da competição devem prever, mas prever expressa e claramente, a proibição de entrada de porcos e galinhas. Bastam os que, o não sendo, como tal se comportam. A indústria do futebol deve promover mais um seminário sobre segurança. Porque há sempre matérias novas. Se caso qualquer uma destas medidas falhar, mas só nesse caso, de resto pouco provável, o Governo, através do homem do leme do nosso desporto, após recolher o competente parecer do Conselho Nacional do Desporto e da sua comissão especializada para estas coisas, e que relevantes serviços tem prestado à causa da ética e da segurança do desporto nacional, deve criar um normativo que, sem ambiguidades, proíba a entrada nos nossos estádios, sós ou acompanhados, com bilhete ou sem ele, de bácoros ou galináceos. Salvo naturalmente -todas as regras têm excepções - as situações que se destinam ao abastecimento de casas de comes e bebes (vulgo restaurantes) onde os ditos são bem apreciados. Nestes casos, mas só nestes, a entrada de suínos e dos galináceos, deve ser autorizada.

10 comentários:

Luís Leite disse...

Concordo.
Mas acho que hipopótamos e girafas também deviam ser excluídos das bancadas.
O sempre atento Legislador anónimo já deve estar a trabalhar nisso.

Anónimo disse...

O arquitecto, que se assina sob o pseudónimo de LL, anda muito preocupado com o legislador anónimo...

Luís Leite disse...

Não respondo a anónimos.
Mas para legisladores anónimos abro uma ou outra excepção.

Só para dizer que:

sim, sou arquitecto (nº1836 S da Ordem dos Arquitectos);

não uso pseudónimo e só assino LL para os amigos;

Sim, estou preocupado, mas é com o estado a que chegou o país em que nasci e em que vivo e trabalho;
e que representei internacionalmente como atleta e como dirigente, com muito orgulho.

joão boaventura disse...

Caro Constantino

A este propósito, numa visão de outra área, não menos necessária, proponho uma leitura do post As claques são economicamente nefastas, ínsita no blog “O desporto e a sua economia”, criado recentemente pelo nosso comum amigo Fernando Tenreiro.

A justificação do tema insere-se na putativa visão de que o porco seria a mascote de uma das claques, o que poderá esclarecer o comportamento dos que abraçaram o símbolo.

Anónimo disse...

Depois do Vítor Correia, que já lá está, ter visto um porco a andar de bicicleta, só nos falta, mesmo, ver uma galinha a andar de trotinete.Quem sabe se o viajado presidente da Confederação não vai propor uma reunião fora de portas para ver se alguém já viu as duas coisas? Quem sabe, inclusive, se não convida o marinheiro que gosta muito de Macau a explicar-lhe como se acaba com a violência sem recurso ao murro na mesa e/ou à esferográfica a voar. Sim, quem sabe?
José Carapau

Armando Inocentes disse...

O porco que entrou no estádio da Luz era um mecânico especializado em aspersores. Ao tentar reparar o sitema de rega disligou o quadro da electricidade e, sem iluminação acabou por fazer despoletar o mecanismo dos repuxos...


Mistério desfeito!

josé manuel constantino disse...

Está tudo equivocado: o Luis Leite, o Carapau e o a Armando.Entre as claques foram descobertos extremistas islâmicos. Não saíu nada cá para fora (nestas coisas a comunicação social não divulga tudo o que sabe) mas a ASAE apanhou quer a galinha ,quer o porco e constatou que ambos estavam infectados.A galinha com a gripe das aves e o porco com a peste suína. O objectivo era contaminar os assistentes como represália à assinatura do acordo das Lages.O SIS tomou o caso em mãos e através de escutas apercebeu-se que o próximo animal a ser largado num estádio seria um vaca infectada com a doenças das vacas loucas. Também já se sabe ,embora ninguém o queira assumir ,que José Sócrates pediu a vinda do FMI,acompanhado do FBI. Aparentemente a coisa estará controlada!

Anónimo disse...

Só falta mesm o o teleponto
José Carapau

Anónimo disse...

Não será preferível mandarem o FBI antes do FMI?
José Carapau

joão boaventura disse...

Salvo melhor opinião o apagão da catedral do Benfica tinha como objectivo festejar a vitória do Porto, com os vencidos a cantarem os parabéns, enquanto os vencedores bebiam o champanhe que jorrava do relvado.

Isto é o que circula na net com alguma ironia.

O que permitiria aos vencidos declarar agora o velho aforisma “honni soit qui mal y pense”, ou, como diria o mau tradutor “eu não sou quem você pensa.”