terça-feira, 19 de abril de 2011

Os que mandam fazem aquilo que os que obedecem deixam

Em matéria de governação desportiva os partidos do chamado arco governativo (PS/PSD) têm comportamentos similares. Mas esta similitude não significa que tudo neles seja igual. É igual o papel reservado ao Estado. Mas a forma como o assumem é bem diferente. E, aí, a governação socialista revela uma superior realização. Tão nítida que abafa qualquer oposição. Não é um juízo de valor. É uma constatação. Os socialistas têm um histórico de governação. E embora, entre eles, não sejam propriamente consensuais e elogiosos nessa avaliação, podem justamente mostrar um legado. Os sociais-democratas o que têm como modelo alternativo? Que pensamento? Que ideia? Que biografia? Em cinco anos de oposição que propostas apresentaram? Nas políticas sociais e económicas há seguramente diferenças. Nas politicas culturais provavelmente. E nas politicas desportivas? Qual é a diferença? Usem-se as dicotomias esquerda/direita ou socialistas/social-democratas/liberais e o que é que uns fazem que outros não fizessem? Quem é capaz de elencar um conjunto de medidas de politica desportiva assinadas pelo PS que o PSD não subscreva? Existem diferenças substantivas ou qualitativas? Se existem, permanecem em segredo. Mas não. Pelo que não vale a pena perder muito tempo com algo que não existe. O que temos é o que se conhece. Por obra e graça do PS.O que explica, em certa medida, que os “pêesses”achem que a “verdadeira” política desportiva lhes pertence. E que qualquer alteração ao amiguismo circular que alimentam ou critica externa seja considerada como uma intrusão. E como tal indevida. Aparentemente seriam portadores de virtudes e méritos que outros nunca foram capazes de atingir. Faça-se a justiça de reconhecer que quando assim pensam, e pensam muitas vezes, nem tudo está errado nesse modo de pensar.
A falta de alternativas reais fenece o sistema político. No limite o fim do confronto é o fim da política. Mas, por norma, quando há eleições e se adivinham mudanças de cenário político descobrem-se criticas que nunca se ouviram. Gente com opinião que nunca expressou. A retórica desses momentos pretende produzir a impressão de que há diferenças onde sempre houve semelhanças. Antes que a festa se inicie é bom que se registe o previsível espectáculo da fraqueza. E se recorde quem, com o seu silêncio, permitiu tudo e chegar onde estamos.
Os problemas desportivos do país (e os outros…) não se podem imputar exclusivamente a quem governa. É também à falta de uma oposição com preparação técnica e autoridade política para mostrar que tem outra política. Que tem outra maneira de pegar nos problemas. A solução política não reside na antinomia “eles” ou “nós”. O que virá a seguir, quaisquer que sejam os protagonistas, não será necessariamente muito diferente do actual. E há o risco de ser bem pior.
Nos próximos anos vai ser necessário reduzir a despesa. O habitual é fazê-lo não por via da reforma mas do sub-financiamento. Manter o que está, com menos dinheiro. Qual vai ser essa redução é uma incógnita. Dizer o contrário é conversa mole. Garantir que vai ser assim ou assado é pura estulticia politica num quadro de enorme imprevisibilidade política e orçamental.Nesta altura-com conversações com um entidades prestamistas e sem projecto orçamental para o próximo ano-não é politicamente honesto garantir o quer que seja.
Como se costuma dizer quem está, que aguente. E quem está tem uma vantagem não despicienda: desligou o GPS mas sabe fazer navegação à vista. E os outros, que não estão mas querem estar? Saberão o que os espera? Conhecem a verdadeira dimensão do problema? Estudaram-no? O desejo de poder não é necessariamente um mal. Caso haja projecto e ideias para fazer melhor. Mas há?

11 comentários:

Fernando Tenreiro disse...

Bom dia José Constantino

Era bom que quem ganhasse as eleições fosse aconselhado a não inventar a roda e colocasse à frente do desporto alguém com experiência do lugar e das funções e uma ideia fria sobre o que tem de fazer sem temer o risco do que a sua ética ditar para o assumir da responsabilidade.

É preciso afirmar que o desporto tem um produto útil para o país combater a crise e para ajudar o país a crescer económica e socialmente.

Há que identificar publicamente esse(s) produto(s) não o(s) fechando no CND e nos eleitos que conseguem ter conversas / preocupações para dentro dos partidos do arco da governação.

Este fim de semana a comunicação social mostrava as corridas de karts em Portimão com jovens internacionais e nacionais que querem ser campeões de Fórmula Um.

A estrutura de produção desportiva actual tem comportamentos ligados ao passado e que eventualmente o FMI e a UE vão retirar graus de liberdade e que graças à tradicional criatividade se vai conseguir 'dar a volta'.

Na verdade a solução era introduzir qualidade de análise e de decisão para promover um novo modelo de produção de desporto em Portugal.

A produção de desporto português está desequilibrada e esse será o objectivo principal visando corrigir a estrutura de produção possibilitando o crescimento desportivo, económico e social e criando postos de trabalho e reforçando as organizações desportivas.

Um discurso como este seria ouvido fora do desporto e aplaudido.

É muito importante dizer isto nesta altura para ver se os partidos começam por colocar estas ideias nos seus programas partidários, para depois o programa do governo de maioria conseguir ter uma nova abordagem do desporto facilitando o trabalho aos agentes privados e aos novos responsáveis públicos.

É necessário alimentar a fome e a desorientação que existe de desporto português.

José Manuel Meirim disse...

Concordo, plenamente, na generalidade, com o texto.

Anónimo disse...

Não há qualquer razão para preocupações.O desporto está bem entregue.É um exemplo que se recomenda a outros ministérios.

Luís Leite disse...

Também concordo totalmente com o texto.
A questão que mais me aflige é a falta de esperança.
Com estes partidos e com estes políticos não há esperança.
Não vi até agora uma única ideia de país para o futuro, para reformar a sério a Administração Pública, aumentar factores de produção úteis, que nos permitam ser mais auto-suficientes, mais exportadores, menos importadores e, em consequência que permitam reequilibrar o défice externo e pagar (?) as dívidas crescentes.
O que interessa é o lugar nas listas de deputados ser elegível ou não.
Política em Portugal, nesta "partidocracia" = recolha de benefícios para os próprios, camaradas e amigos.

Fernando Tenreiro disse...

Referi ao acabar o meu comentário que "É necessário alimentar a fome e a desorientação que existe de desporto português."

"Alimentar ... a desorientação" não será aconselhável.

Corrigindo a frase direi que
"É necessário alimentar a fome de saber novo e contribuir com elementos que combatam a desorientação que existe de desporto português."

Armando Inocentes disse...

Os projectos já começaram, mesmo por quem está demissionário - lá está, quem pode manda!

De acordo, com notícias da Rádio Renascença e do Diário Digital que cita a agência Lusa, as federações desportivas foram chamadas ontem, 2ª feira, à Secretaria de Estado do Desporto, para serem informadas do corte de 15% nos apoios financeiros do Governo, com efeito já a partir deste mês de Abril.

Provavelmente há federações que se tiverem um verdadeiro modelo de gestão não precisam desses 15% a menos... mas entreguem o desporto e quem pergebe de gestão do desporto!!!!

Luís Leite disse...

Acho graça a dizerem que os cortes são de 15%.
Como é que sabem, se a troika ainda agora começou a esgravatar?
São bruxos?
Ou só incompetentes?...

Anónimo disse...

Nem todos se calam. Vamos ver se o corte para estes aumenta ou diminui.
http://www.record.xl.pt/Modalidades/interior.aspx?content_id=693612

Anónimo disse...

Palavra de governante em 10.10.2010

O secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, assegurou ontem que os apoios às federações desportivas e ao Comité Olímpico de Portugal serão "acautelados" apesar de a área do desporto ser também atingida pelas limitações orçamentais do próximo ano.

Segundo Laurentino Dias, a área do Desporto não escapa à restrição financeira do Orçamento do Estado para 2011, porém, o secretário de Estado promete "acautelar" que o apoio ao sistema desportivo "não sofra de forma a pôr em risco os principais projectos e objectivos".

"Estou seguro que vamos conseguir criar condições para que nada de muito relevante ou de muito decisivo possa acontecer em termos orçamentais que ponha em causa aquilo que são os principais projectos dos nossos parceiros: as federações desportivas e o comité olímpico na preparação para Londres 2012", afirmou.

O governante falava em Vinhais, na inauguração de um estádio municipal que custou 1,3 milhões de euros e está disponível para a prática do futebol desde as "escolinhas" aos veteranos e aos dois grupos desportivos do concelho transmontano: o Vinhais e o Rebordelo, que militam nos campeonatos distritais.

Luís Leite disse...

Quem mandará no futuro próximo são estrangeiros.
Os portugueses já perderam, de facto, a independência nacional, embora juridicamente ainda a mantenham.
Estamos a contrair empréstimos que sabemos que não poderemos pagar.
Para pagar dívida pública, vencimentos e pensões.
Se nos cortarem o financiamento, de que serve um Orçamento de Estado inexequível?
Como é que Laurentino pode "acautelar" seja lá o que for na conjuntura actual?

Armando Inocentes disse...

Laurentino Dias acautelou-se: definiu que as federações que recebem do Estado menos de 100 mil euros não vão sofrer nenhuma redução e que as restantes irão ser distribuídas por quatro escalões, de 5 a 15 por cento de penalização.

Mas federação há que nem se vão preocupar com estes cortes: em http://karatedopt.blogspot.com/ no post de 16 de Abril "Contas que toda a gente sabe fazer..." mostro como pode uma federação viver com estes cortes!

E também mostro quem paga para as federações... ...

Um abraço.