segunda-feira, 20 de junho de 2011

O futuro do desporto em Portugal


Horácio Lopes envia novo texto para a Colectividade o que se agradece.


O Estado gasta anualmente perto de 60M€ a financiar Federações que se dedicam a promover campeonato nacionais e representar o país no estrangeiro.
Das várias FDN que conheço por dentro, uma grande parte deste dinheiro é gasto, não é investido. As FDN têm uma estrutura frágil, assente em pessoas com muito boa vontade mas parcos conhecimentos do que é GERIR DESPORTO e quase nada de GERIR. Quando se adianta que a nível da União Europeia a contribuição do desporto para o PIB está no intervalo 1,5% a 3%, a minha pergunta só pode ser uma:
Quando se vai dotar o deporto de uma estrutura de gestão DIGNA, CAPAZ e com KNOW HOW?

Portugal tem sido governado por pessoas com 80% de política e 20% de conhecimento/formação sobre os assuntos onde intervêm. A solução passaria por ter pessoas que “SABEM FAZER COISAS” como Secretários e Assistentes. Na verdade, todos sabemos que não tem sido assim. Os secretários e assistentes não são pessoas com capacidade técnica mas políticos de 2ª linha…E também há os de 3ª linha e por ai adiante… chegando mesmo a atingir os operacionais que implementam os serviços, que, por incrível que pareça, alguns deles também são políticos, escolhidos dentro dos partidos.

E existem políticos com conhecimentos? Claro que sim! Mas o seu estatuto de políticos, e não de especialistas nesta ou naquela matéria, impede-os de tomarem decisões pensadas a prazo, empurrando-os para a decisão fácil, de curto prazo e grande aceitação. Apesar da velocidade a que se vive actualmente, um país não se gere a um mês ou um ano. É indispensável existir um sólido plano a prazo para o desporto. Quanto às inflexões e obstáculos que apareçam, ultrapassam-se sem perder o rumo, porque existe um plano!

Um país gere-se com ALGUNS políticos a “politicar” as decisões e a fazer o seu trabalho – discutir, falar, exercer influências, pressionar… e, com MUITOS OPERACIONAIS – GENTE QUE SABE FAZER COISAS. Portugal tem sido vítima de uma imigração qualificada nos últimos anos sem precedentes.

As pessoas que SABEM FAZER COISAS estão a fugir! Já se perguntaram porquê? Naturalmente porque os cargos estão todos ocupados com políticos! Gente que fala, fala, mas não sabe FAZER COISAS. Por esse motivo, os que sabem fazer qualquer coisa com qualidade procuram locais onde esses conhecimentos sejam valorizados e utilizados para algo, enquanto no nosso país se continua a falar, falar, mas a fazer COISA NENHUMA.

É tempo de colocar pessoas que saibam fazer coisas a trabalhar! É preciso aplicar soluções a médio e longo prazo para o desporto! O desporto não são apenas medalhas, o desporto é uma forma de estar na vida, é uma parte da cultura de um povo. Um investimento a prazo em desporto potenciará indirectamente o investimento à vista que actualmente se faz em medalhas. Para que o desporto em Portugal seja uma mais-valia para a nossa sociedade potenciando todos os benefícios que muito se divulgam, é necessário dotar o mesmo das pessoas ADEQUADAS para a sua promoção, enquadrando os vários especialistas nas suas áreas de formação. Professores a ensinar, treinadores a treinar, psicólogos a consultar, médicos a tratar, …, gestores a gerir!”

4 comentários:

Luís Leite disse...

Concordo com Horácio Lopes.
A ideia podia ser agarrada na nova conjuntura política, em que há ministros independentes com coragem e soluções tecnicamente correctas para definir estratégias a médio/longo prazo.
Mas também lá estão os carreiristas da política que não sabem nada sobre nada.
Vamos ver quem prevalece.
O Desporto português, neste contexto, poderá começar a redefinir-se ou poderá continuar a definharà volta da futebolite e do politicamente correcto.
Veremos.

Anónimo disse...

O Prof. Gustavo Pires " (a quem lanço o meu cumprimento) tem um levantamento teórico bastante significativo relativamente à estrutura do vértice estratégico, linha hierárquica, centro operacional, Logística e Tecnoestrutura bastante definida. No livro "Agon - Gestão do desporto" (da sua autoria) aborda este assunto com pertinência.

Armando Inocentes disse...

Parabéns a Horácio Lopes!

Análise serena e correcta, colocando o dedo na ferida!

Mas este estado de coisas terá alguma alteração? Penso que não... pois os que sabem GERIR DESPORTO (ou disso e sobre isso possuem conhecimentos) quando dizem a verdade passam a ser marginalizados - e depois ficam desmotivados por lutarem contra o "poder instituído", o poder dos interesses pessoais e mesquinhos.

Gaspar disse...

Parabéns Horácio!

Frase do post: "uma grande parte deste dinheiro é gasto, não é investido", eu diria quase a totalidade desse dinheiro - ainda se é tanto melhor, quando melhor for a execução orçamental. Esperemos que o paradigma mude um dia destes (breve se possível).

Aproveito ainda para reforçar que o investimento deverá ter uma interpretação bem mais alargada do que o normal investimento financeiro/económico, mas também é preciso mente aberta para perceber isso. Penso que o amigo Horácio subentende isso, mas é só para reforçar perante alguns mais distraídos.

Cumprimentos,