quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O valor económico do desporto em Inglaterra e em Portugal

Mais um texto de José Pinto Correia que a Colectividade Desportiva muito agradece.


Em Agosto de 2010 o Sport England publicou um novo estudo sobre o “Valor Económico do Desporto na Inglaterra (1985-2008)”, que é feito desde há anos em colaboração com o Sport Industry Research Centre da Sheffield Hallam University.
A metodologia de cálculo usa os conceitos da “Contabilidade Nacional do Rendimento” que considera a existência de uma igualdade contabilística entre o produto total, o rendimento total e a despesa total. As definições mais comuns usadas nesta metodologia são também a de Produto Interno Bruto (PIB) e a de Valor Acrescentado Bruto (VAB).
O conceito económico de desporto resulta daquele que está contido na publicação das “Previsões de Mercado de Desporto” (actualizadas anualmente) e corresponde aos seguintes sectores: vestuário e calçado desportivo, equipamento desportivo, condição física e saúde, outros desportos de participação, barcos, desportos de espectadores, jogos desportivos, televisão e vídeo de desporto, publicações desportivas e viagens associadas ao desporto.

A metodologia empregue considera também os fluxos de rendimento e despesa dos seguintes subsectores da economia:
Consumidores – incluindo o sector pessoal e familiar;
Desporto comercial – incluindo os clubes desportivos com espectadores, os produtores de bens e retalhistas de desporto;
Desporto não-comercial – incluindo os fornecedores para a produção de bens e serviços relacionados ao desporto;
Voluntariado – incluindo as organizações desportivas não-lucrativas tais como os clubes amadores dirigidos pelos seus participantes;
Governo local – incluindo o rendimento das instalações desportivas locais, os subsídios relativos ao desporto do Governo central e as taxas do sector comercial e voluntário;
Governo central – incluindo os impostos, subsídios e salários das actividades relacionadas ao desporto;
Exterior da Área do sector – incluindo transacções com economias fora da região.

O princípio da dupla entrada é aplicado, de modo que, por exemplo, cada fluxo de despesa do sector não-comercial para o comercial tem a devida correspondência no fluxo de rendimento contabilizado no sector comercial. As contas de rendimento e despesa são usadas, então, para fazer estimativas dos seguintes indicadores económicos da economia do desporto:
Despesa de consumo em desporto;
Valor acrescentado bruto do desporto;
Emprego relacionado com o desporto.
Vejamos agora, de forma sucinta, quais são os principais resultados que permitem uma elucidação sobre o valor económico do desporto na Inglaterra ao longo do período de 1985 a 2008.

1. Actividade económica relacionada com o desporto:
Aumentou de 3.358 milhões de libras em 1985 para 13.649 milhões em 2003 e para 16.668 milhões em 2008 (baseados em preços correntes). Isto representa um aumento real de 140% ao longo do período de 1985 a 2008 (baseado em preços constantes).
No mesmo período (1985 a 2008) a economia Inglesa (valor acrescentado bruto) cresceu 97% em termos reais. Isto sublinha que o crescimento da economia do desporto ultrapassou a da economia Inglesa como um todo.
Durante o período de 2003-2008, o valor acrescentado da Inglaterra derivado do desporto aumentou em 22%. Durante o período de 2005-2008, esse aumento foi de 12%, de acordo com a metodologia usada.

2. Despesa de consumo relacionada ao desporto:
A despesa de consumo em desporto na Inglaterra foi de 17.384 milhões de libras em 2008, um aumento dos 3.536 milhões de 1985 (baseados em preços correntes). Isto representa um aumento real de 138% ao longo do período de 1985 a 2008 (baseado em preços constantes). A despesa de consumo em preços constantes é praticamente a mesma em 2008 à de 2005 (o que pode ter ocorrido por efeito da recessão de 2008 que possa ter parado o crescimento da economia do desporto).
A despesa de consumo de desporto em 2008 distribui-se da seguinte forma:
• Vestuário e calçado – 20%.
• Equipamento desportivo – 7%.
• Quotizações – 18%.
• Admissões – 3%.
• Jogos desportivos – 18%.
• Televisão – 11%.
• Outros – 23%.
Houve um aumento de 6.9% em despesa de consumo de equipamento desportivo no período de 2003-2008 (a preços constantes).

3. Emprego no desporto:
O emprego relacionado com o desporto na Inglaterra é estimado em 441.000 em 2008, o que representa 1.8% de todo o emprego da Inglaterra.
O emprego relacionado com o desporto aumentou de 304.000 em 1985 para os 441.000 em 2008, um aumento de 45.1%.
Nos oito anos entre 2000 e 2008, o emprego no desporto aumentou em 20.7%.
O emprego de 2008 distribuía-se em 76% pelo sector comercial desportivo, 11% pelo sector voluntário e 13% pelo sector público.
Este estudo permite também definir o valor económico do desporto, em cada um dos vários componentes da actividade económica, para cada uma das nove regiões em que se encontra dividida geográfica e administrativamente a Inglaterra.

E em Portugal o que sabemos ou conhecemos sobre o valor económico do desporto? Porque acontece a insuficiência gritante ou mesmo a inexistência de estudos e de dados sobre a economia do desporto? Como tem sido possível durante anos governar o sistema desportivo, definir políticas públicas, fazer opções de investimentos e de apoios aos diversos actores, tudo sem que se reconheça efectivamente o significado económico do desporto em Portugal?

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma vez chamo a atenção para o facto de o Desporto em Portugal ter sido sempre considerado pelo poder político matéria pouco interessante e mais ou menos desconhecida, com excepção do mundo pantanoso do Futebol, que sempre foi usado para desviar a atenção da população para os assuntos realmente importantes.
E, a título de curiosidade, em algumas modalidades, das relativamente poucas classificações de pódium e medalhas obtidas em eventos desportivos ao mais alto nível, que pouco ou nada têm a ver com um "sistema" que não existe.

Nas últimas décadas, havendo financiamento comunitário para a construção de equipamentos desportivos, foram tomadas muitas decisões erradas e gastas verbas muito significativas sem qualquer lógica ao nível do planeamento ou da fundamentação técnico-desportiva.
Iniciativas isoladas, sem que existisse qualquer política clara a médio e longo prazo e partindo de premissas erradas.
E proliferou a corrupção.

Nos últimos anos, vingou o investimento estatal no "politicamente correcto" da generalização da prática desportiva e sobretudo da "actividade física".
Para fingirmos, tal como na área da Educação, olhando apenas para números, que somos europeus.

A verdade é que somos um país atrasado, desportivamente insignificante, em que as elites são percentualmente em número igual ao pré-25 de Abril. Minado pela corrupção político-partidária e, em consequência disso, pacientemente à espera de um milagre que nos salve da miséria.