quinta-feira, 31 de julho de 2008

Tudo bem no reino

1.O incómodo causado com o que a televisão publica gastou para ter o exclusivo das transmissões televisivas do futebol é bem menor que o ocorrido perante os contornos do negócio. Comprou não a quem detém os direitos do espectáculo, a Liga Profissional, mas ao intermediário, a Oliverdesportos, que previamente os comprou à Liga. Nada que incomode a autoridade reguladora da concorrência.

2.A Federação Portuguesa de Basquetebol anuncia, para quem quer ouvir, a obrigatoriedade de uma presença mínima de jogadores portugueses nas competições da Liga e da Proliga. Compreende-se o alcance da medida. Mas desconfia-se da sua conformidade legal. A ser aceite pelas autoridades portugueses esta “norma” instituirá una espécie de nova “jurisprudência desportiva por via federativa” em matéria de desigualdade de direitos aos não- nacionais abrangidos por legislação comunitária e afim

3.A entidade organizadora da Volta a Portugal a Bicicleta, que por sua vez também é patrocinadora de uma equipa que participa na competição que a própria organiza, rejeitou a inscrição na competição de uma equipa com problemas que envolvem dopagem. Mas prepara-se para aceitar uma outra que, com problemas idênticos, mudou de nome. Nada que pareça preocupar as autoridades desportivas ou políticas.

4.A equipa nacional búlgara de halterofilismo estava toda dopada. O respectivo Comité Olímpico decidiu que o país não estará representado nos Jogos Olímpicos. Novidade não é o estar dopada. Novidade é os resultados serem positivos. O que durante muito tempo não foi necessariamente coincidente.

5.Segundo a imprensa o COI terá aceite limitações impostas pelas autoridades chineses no livre acesso dos jornalistas a alguns sítios da internet, entre os quais o da Amnistia Internacional. Esta cedência sobre actos censórios não é nada que pareça incomodar os dirigentes olímpicos. É longa a tradição da adaptabilidade da carta olímpica à”realpolitik”.Mas ou muito me engano ou o tiro vai sair pela culatra. Estas coisas são como as massagens na praia, na versão vanguardista do homem da capitania do Algarve:sabemos como começam ,mas nunca sabemos como acabam.Voilá!


4 comentários:

Anónimo disse...

Este texto do José Manuel Constantino é muito curioso.

Das cinco "questões" que suscita, três dizem respeito a eventos do desporto luso. As restantes duas questões dizem respeito à Bulgária e ao Comité Olímpico Internacional.

As três questões que dizem respeito ao desporto luso (futebol, basquetebol, ciclismo) terminam, todas, por apelos à intervenção do Estado (concretamente, à autoridade reguladora da concorrência, às autoridades portuguesas e às autoridades desportivas e políticas).

Estes apelos recorrentes à intervenção do Estado - formulados de forma mais ou menos rebuscada - é uma das características mais profundas da específica maneira de ser português.

O português é genéticamente incapaz de conceber qualquer solução, qualquer estratégia, qualquer programa de acção, que não passe por lancinantes apelos ao Estado, ao Governo, às autoridades - que, em conjunto,aliás, fazem habitualmente parte do difuso "eles".

Do lado de cá, eternas vítimas dos acontecimentos, permanentes espectadores da história, estamos "nós", os portugueses, a quem apenas cabe o papel de chamar a atenção "deles" para algo que, segundo "nós", está a correr "mal".

Ou melhor: para algo que, no habitual jargão dos "nós", está a correr "menos bem"...

A inclusão no título do post do termo "reino" - para se referir ao desporto, pátrio e alheio - tem por função, precisamente, estabelecer a dicotomia entre os "nós" (descomprometidos) e os "eles" (eternos e necessários culpados)...

Anónimo disse...

“O nosso Desportolinho futebolístico”

Dizem os trabalhos académicos de economia do desporto que têm sido publicados em outras paragens - cá não que isso de ciência económica no desporto é perigoso e pecado -, portanto fora do nosso pequeno burgo, que os interesses financeiros e de competição dos diferentes clubes de futebol inscritos nas competições das respectivas ligas profissionais ficam melhor acautelados quando as negociações da cedência dos direitos de transmissão são negociados colectivamente entre a respectiva liga representante e as empresas de media neles interessadas.

Nesta negociação colectiva, que é mesmo imposta legalmente em vários países, ficam não apenas bem os interesses dos grandes clubes como também, e ao mesmo tempo, os de todos os restantes clubes que na maioria dos casos não podem almejar ganhar as respectivas competições ou mesmo qualificarem-se para as competições internacionais, designadamente as europeias da UEFA.

Ainda há pouco mais de uma semana a autoridade da concorrência na Alemanha acabou por se pronunciar, e esse pronunciamento era exigido e imperou na solução final, sobre as negociações que decorriam para a negociação pela respectiva liga profissional dos direitos de transmissão. E a autoridade impôs na negociação regras que conformassem o acordo e o negócio respectivo com as regras de concorrência, evitando a configuração de abuso de posição ou monopólio.

Em Portugal, outros ares portanto, nem a autoridade da concorrência se pronuncia ou pronunciou, nem muito menos a negociação segue aquela via colectiva em que as partes sejam efectivamente os clubes agregados pela respectiva liga, de um lado, e as empresas de media interessadas, de outro.

Aqui existe um monopólio intermédio, e intermediário, a Olivedesportos, que é simultaneamente detentora do negócio de “pay-TV” da “Sportv”, que detém os direitos adquiridos à liga e os renegoceia, com elevada margem de intermediação certamente, em leilão a que concorrem as empresas de media interessadas.

E os clubes neste "negócio terceiro" não são tidos nem achados e recebem qualquer cêntimo dessa mais-valia negocial.

Acresce a tudo isto que a empresa que acaba por ganhar a negociação com a Olivedesportos é nem mais nem menos a empresa pública de televisão que é paga em grande parte pelos impostos dos portugueses. Sendo ainda que ao que parece o valor de aquisição destes direitos é de mais de 8 milhões de euros ao ano e são ainda dados ao monopólio vendedor pela RTP direitos de retransmissão de um outro pacote adquirido pela mesma televisão, uma vez mais como o dinheiro dos portugueses.

Convenhamos que assim o monopólio privado da Olivedesportos tem de agradecer o seu potencial ao nosso Estado e à sua televisão – os quais mostram a respectiva prontidão, à vontade e extremosa generosidade indo aos bolsos de todos os pagadores de impostos do burgo.

Caramba, puxa que é obra! E ainda se fala ministerialmente em cada aparição televisiva do magnânime “interesse público” e do não menos prevalecente “serviço público” (de televisão, entenda-se no caso presente).

Algo vai mal, mesmo muito mal, neste pequeno “reino desportolinho”…!

J. Pinto Correia
(31 de Julho de 2008)

Anónimo disse...

Que pachorra que é preciso para aturar intelectuais genéticamente abstratos como o do anónimo das 12,35 com pretensões psicanalistas sobre a identidade dos portugueses.Os maiores protagonitas da luta anti-tabágica são antigos fumadores.Muitos dos neo-liberais são antigos companheiros do amanhãs que cantam.Espero não me enganar.

Luís Serpa

josé manuel constantino disse...

Ao J.Pinto Correia

Obrigado pelo seu contributo,de resto, excelente.

Ao Luís Serpa

Não se trata de ter mais ou menos pachorra.O contributo de quem pensa de modo diferente é positivo.E a critica ao que escrevemos,mesmo quando nos gostamos ou não concordamos com o que lemos,faz parte do exercício de quem expõe publicamente uma opinião e assina.