quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A Muralha da China - II

O saltador português Nélson Évora conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Pequim 2008, com um salto de 17,67 metros.
Dezassete metros e sessenta e sete centímetros constituem uma medida fundamental bem para além da sua simples aparência métrica.
Com efeito, na capacidade do saltador, muito se encontrava em jogo que pouco ou nada tinha a ver com o seu objectivo desportivo pessoal.

Laurentino Dias já declarou que chegou a recear que Nélson Évora não aguentasse a pressão e falhasse a conquista de ouro para Portugal no triplo salto:”Uma medalha de ouro olímpica é importante em qualquer país e em qualquer modalidade mas, nas circunstâncias difíceis em que esta missão estava a decorrer e de algumas das esperanças que tínhamos não se terem realizado, Nélson carregava um fardo muito pesado. Carregava um país inteiro e receava que ele não pudesse aguentar.”Que alívio – foram saltos de alegria incontinente com Rosa Mota - para o Governo.
Nélson Évora carregava, isso sim, a redenção de Laurentino Dias. E isso, é justo dizê-lo, não é tarefa fácil.

Por seu turno, o presidente do Comité Olímpico de Portugal, bem profícuo em declarações sobre a falência do projecto e do sistema desportivo nacional, e bem firme – não obstante o branqueamento mediático que prontamente encetou com o beneplácito, mesmo cumplicidade, de alguns jornalistas (é exemplar, a esse respeito, o papel de Vítor Serpa) - no legítimo propósito em não se recandidatar à liderança daquela organização desportiva, surge, agora, não só a admitir essa recandidatura, mas a apresentá-la rodeada de condições, onde não falta a exigência de mais poder.

Dezassete metros e sessenta e sete centímetros é, bem vistas as coisas, um alívio para todos aqueles que têm vindo a cavalgar no dorso dos resultados desportivos de atletas nacionais.
Dezassete metros e sessenta e sete centímetros são a distância a percorrer entre um sistema que existia e o sistema do próximo futuro que dele nada diferirá.
Em Londres, há-de surgir um outro atleta de eleição e uma nova medida, para alimentar convenientemente um poder insaciável.

Mas isto, claro está, são disparates meus.

2 comentários:

Anónimo disse...

"O Deus Olímpico e os anjos e heróis"

Deus, o nosso Deus Olímpico, do alto do seu escaler, maduro de tempo e anuidades, de tez suave e encimada por cãs refulgentes, também tem momentos de interrogação, desvalia e renúncia.

Mas, como é afã dos maiores e dos incansáveis, logo reencontra o seu labor e reacende caminhos.

Neste minúsculo e insignificante intróito de dúvida e descrença o Deus Olímpico retempera forças e renasce de frémito para novas obras e criações. O interlúdio foi apenas um compasso ínfimo e doirado num peito de um herói dos seus, que o Deus levou ao altar supremo dos valorosos.

Por isso, a dúvida desistiu e veio a superior força da vontade – assim haja o poder correspondente que os anjos lhe permitam e substanciem.

O nosso Deus Olímpico é imorredoiro ou se perecer falo-á em combate no seu trono e próximo do fim dos tempos.

O Deus Olímpico fará tudo ao seu povo eleito, das mães nascerão filhos generosos prontos para beberem do cálice do Olimpo e prontos a recriarem na Terra a obra magistral do seu Criador.

O Deus Olímpico fará desses filhos os heróis, vencedores que sejam das muitas provas e provações que serão postas em suas vidas.

O Deus Olímpico fará a sua criação e por ela será louvado e admirado. Com Ele trabalharão os anjos, os intermediários entre os projectos de Deus e os seus heróis.

Na Terra todos os homens, pais, mães, irmãos, acarinharão seus heróis – os filhos e dilectos do Deus Olímpico.

O Deus Olímpico não morre, Deus não falha, Deus não falta, Deus não abandona, Deus não renuncia.

O Deus Olímpico é Luz, Deus é Bem, Deus é Bom, Deus é justo, Deus é brioso, Deus é profissional.

O Deus Olímpico estará sempre ao leme da Nau, Deus não teme as tempestades e os Adamastores, Deus é sereno, Deus dará jus ao Quinto Império, porque “Deus é o Comandante”…e para todo o sempre.

Ámen! Aleluia! Demos Graças ao Senhor nosso Deus Olímpico!


J. Manageiro da Costa
(22 de Agosto de 2008, Ano do Senhor)

Anónimo disse...

Quando Meirim diz

"Mas isto, claro está, são disparates meus.".

no fundo, no fundo da sua alma, festeja o ouro do Nelson Évora, que venceu todas as barreiras psicológicas ambientais, governamentais, populacionais, olímpicas, mediáticas e olímpicas.

Os que andaram a denegrir os atletas que se esforçaram e não conseguiram, não merecem o ouro de Nelson Évora.

Quanto ao Manageiro não lhe ficava mal se conseguisse versejar. O Nelson Évora deu-lhe o mote e a inspiração, mas a Musa não o ajudou a exteriorizar o ouro do Nelson.

Os nervos emocionais de Manageiro trairam a veia inspiradora.

Nero conseguiu melhor com o incêndio de Roma, porque providenciou e participou no incêndio.

Manageiro não providenciou nem participou na vitória de Nelson Évora.

Daí a diferença.
Com a cordialidade do anónimo possível.