Se acreditássemos que um político num Estado de direito democrático procura promover o interesse público e o bem estar geral, garantindo o cumprimento da lei e o normal funcionamento das instituições dotadas de poderes públicos, já há muito que o titular da pasta do desporto deveria ter feito uso das competências de fiscalização sobre o exercício de tais poderes na Federação Portuguesa de Futebol, nomeadamente se tivermos em atenção a propalada “democraticidade, representatividade e transparência” que anunciou para o novo regime jurídico das federações desportivas, sabiamente posto a marinar à espera de melhores dias.
Ocorre que a regulação é um mercado político, onde os actores procuram maximizar os seus interesses próprios e preferências pessoais. Neste tabuleiro, o político está longe de ser um árbitro, e é apenas mais um jogador. Bem certo, um jogador com poderes especiais.
É evidente que numa modalidade com a projecção do futebol é do interesse pessoal de qualquer político o normal funcionamento dos seus órgãos federativos e evitar o mais possível a necessidade de intervir, tornando-se um jogador discreto nestas áreas sensíveis.
No entanto, terem os sócios da FPF solicitado numa reunião informal ao presidente de um órgão executivo que reúna uma “lista de consenso, com um presidente de consenso com toda a transparência que depois seja sufragada em assembleia-geral” para fazer face ao eventual vazio nas eleições intercalares para um órgão independente e dotado de poderes jurisdicionais é algo de tal forma caricato, até para o nosso nacional porreirismo.
Os processos de decisão com base em hábitos, usos e costumes que favorecem estes e outros notáveis expedientes de recurso, atropelando os mais elementares princípios de separação de poderes e organização democrática das instituições, não são novidade em sectores fechados e geridos por instituições instáveis onde as trocas pessoais são essenciais para fazer face às anomalias geradas no funcionamento dos seus órgãos. Anomalias em grande parte resultantes da fulanização das relações que deveriam ser impessoais e institucionais, claro está.
O problema é que esta é uma espiral que reproduz e perpetua ineficiências ao criar um interminável novelo de comprometimentos pessoais que em nada abona a consolidação de instituições transparentes, independentes e eficientes na gestão dos poderes que o Estado lhes confere.
Resta saber se este episódio é o limiar onde o custo político de não ir a jogo é superior ao custo de jogar os instrumentos que a lei confere ao Estado para garantir o “cumprimento das regras legais de organização e funcionamento interno das federações desportivas”.
Ocorre que a regulação é um mercado político, onde os actores procuram maximizar os seus interesses próprios e preferências pessoais. Neste tabuleiro, o político está longe de ser um árbitro, e é apenas mais um jogador. Bem certo, um jogador com poderes especiais.
É evidente que numa modalidade com a projecção do futebol é do interesse pessoal de qualquer político o normal funcionamento dos seus órgãos federativos e evitar o mais possível a necessidade de intervir, tornando-se um jogador discreto nestas áreas sensíveis.
No entanto, terem os sócios da FPF solicitado numa reunião informal ao presidente de um órgão executivo que reúna uma “lista de consenso, com um presidente de consenso com toda a transparência que depois seja sufragada em assembleia-geral” para fazer face ao eventual vazio nas eleições intercalares para um órgão independente e dotado de poderes jurisdicionais é algo de tal forma caricato, até para o nosso nacional porreirismo.
Os processos de decisão com base em hábitos, usos e costumes que favorecem estes e outros notáveis expedientes de recurso, atropelando os mais elementares princípios de separação de poderes e organização democrática das instituições, não são novidade em sectores fechados e geridos por instituições instáveis onde as trocas pessoais são essenciais para fazer face às anomalias geradas no funcionamento dos seus órgãos. Anomalias em grande parte resultantes da fulanização das relações que deveriam ser impessoais e institucionais, claro está.
O problema é que esta é uma espiral que reproduz e perpetua ineficiências ao criar um interminável novelo de comprometimentos pessoais que em nada abona a consolidação de instituições transparentes, independentes e eficientes na gestão dos poderes que o Estado lhes confere.
Resta saber se este episódio é o limiar onde o custo político de não ir a jogo é superior ao custo de jogar os instrumentos que a lei confere ao Estado para garantir o “cumprimento das regras legais de organização e funcionamento interno das federações desportivas”.
Entre o estado do desporto e o desporto do Estado, aceitam-se apostas!
2 comentários:
Será que é mais democrático:
- negociar a composição do Conselho de Justiça entre as várias associações, elas próprias organizações que são, como é público e notório, um "ícone" da nossa democracia;
- atribuir o lugar de presidente a esta associação, o de vice-presidente àquela outra, um vogal para mais uma, outro vogal para outra e o último vogal para quem o apanhar;
- contabilizar cuidadosamente se a maioria que daí resulta para o CJ irá votar no sentido "correcto" quando chegar a "hora da verdade";
- sufragar por último, em assembleia-geral, num macaquear de acto eleitoral, aquilo que previamente se combinou nos bastidores;
Será tudo isto mais transparente, mais democrático, mais regular, do que:
- absterem-se de negociatas quanto à composição do CJ;
- e, confiar ao presidente da FPF o encargo de apresentar a chamada "lista de consenso"?
O que é que anda a incomodar tanto alguns sectores por, desta vez, não haver negociações (ou melhor, negociatas) para a composição do Conselho de Justiça????
A vergonhosa discriminação no “Desporto Olímpico” em Portugal
Sobre o noso estado do desporto ou o desporto de Estado ele também tem uma enormidade de exemplo na vergonhosa discriminação que está a ser dada aos nossos atletas paralímpicos. Assim vejamos o que se passa.
Sobre os Jogos Olímpicos de Pequim e os nossos respectivos atletas muito se disse – e muito destaque mereceram os dirigentes (alguns quase eternos) e as nossas luminárias governantes.
Esses Jogos acabaram há cerca de quinze dias e “voltámos ao futebol”. Entretanto, estão já hoje em Pequim os nossos atletas paralímpicos para participarem, em nossa representação, nos Jogos Paralímpicos de Pequim.
Fui ver o que sobre essa nossa representação diziam o Comité Olímpico de Portugal, a Secretaria de Estado e o Instituto do Desporto de Portugal e o destaque que davam dos nossos esforçados atletas – possivelmente medalháveis como nos habituaram em competições mundiais e olímpicas.
Nem uma palavra, nem uma história, nem uma fotografia, nem um desejo, nem um carinho foi o que encontrei nas montras digitais dessas entidades.
Discriminação óbvia, desmazelo, esquecimento, incúria e indignidade, isso sim é o que estas entidades demonstram. E tudo isto é imperdoável, inaceitável e manifestamente a manifestação de incultura desportiva e de falta de humanismo.
E são estas as organizações que representam institucionalmente o nosso desporto de competição. Se houver medalhas é ver esses responsáveis, dirigentes e governantes, de imediato em posição ao lado dos até aí esquecidos e discriminados atletas.
Uma vergonha e um desgoverno (depois de o primeiro-ministro se ter prontificado a recebê-los à partida para o Oriente)!
Quem está disposto a continuar a ter destes dirigentes desportivos e governantes de tutela que assim despudoradamente discriminam o desporto e os atletas paralímpicos?
Quem se quiser dar ao trabalho de comparar as posturas que visite o site do UK Sport em www.uksport.gov.uk e veja as abissais diferenças de cultura desportiva e de respeito e dignidade democrática para com os atletas que representam o Reino Unido nos mesmos Jogos Paralímpicos.
Desporto e dignidade humana devem andar de mãos dadas numa cultura desportiva estabelecida. Mas aqui em Portugal as condutas dos dirigentes do nosso desporto deixam-nos próximos dos patamares do subdesenvolvimento!
Precisamos obviamente de muitíssimo mais de um choque cultural do que de um simples choque tecnológico que nos vendem e que não cria saudáveis princípios democráticos e de direitos humanos nas nossas elites desportivas.
Percebo porque Pessoa dizia através de Bernardo Soares (no Livro do Desassossego) que “O governo assenta em duas coisas: refrear e enganar. O mal desses termos lantejoulados é que nem refreiam nem enganam. Embebedam, quando muito, e isso é outra coisa”.
J. Pinto Correia
www.portugalestrategico.blogspot.com
(6 de Setembro de 2008)
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