domingo, 12 de outubro de 2008

O Mundial 2018 e as aulas do ensino superior

A semana que findou ofereceu-nos um bem diversificado universo de notícias.
Delas seleccionamos três que, aparentemente desligadas, formam não só uma unidade coerente, como nos possibilitam (pensamos nós) ir mais além do imediatismo ditado em Outubro de 2008.
Uma reportagem de um jornal desportivo deu-nos conta de como algumas turmas do ensino básico passaram a ter as suas aulas no Estádio do Algarve EURO 2004, num dos aproveitamentos possíveis daquela infra-estrutura desportiva.

No dia 9, foi a vez de a Lusa difundir a indignação dos dirigentes do Sport Clube Leiria e Marrazes, face ao montante exigido pela Leirisport – empresa que gere o Estádio Municipal de Leiria EURO 2004 – pela utilização daquela infra-estrutura desportiva para a realização de um jogo da divisão distrital da divisão de Honra da Associação Distrital de Futebol de Leiria.
Segundo adiantaram tais dirigentes, o clube vai ter de pagar “quase o dobro” do que é exigido à União de Leiria Futebol SAD.
Os montantes exigidos pela empresa, ainda de acordo com os mesmos dirigentes, são de € 1.250 por jogo e € 500 por treino, “cerca de metade” do que paga a sociedade desportiva, em virtude da existência de um protocolo com a empresa municipal.
Os preços do estádio, esclareceu o presidente da empresa “são ajustados a cada realidade”.

Enquanto isto se passava – passa e continuará a passar –, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol vibrou de contentamento com as palavras de Blater: uma candidatura ibérica à organização do Mundial de Futebol 2018 seria fortíssima.
Laurentino Dias acorreu, de pronto, com satisfação, afirmando que os Governos, quando chegar a altura, não deixarão ficar mal as duas federações. Hermínio Loureiro, por seu turno, revelou-se bem mais cauteloso.
Esta diferença de atitude, a nosso ver, é sintoma de que as eleições para a Federação Portuguesa de Futebol entraram em fase de pré campanha eleitoral, para os protagonistas, de um ponto de vista pessoal, bem mais importantes do que a catarse eleitoral de 2009.

Laurentino Dias julga-se dotado de “uma esperança de vida futebolística” quase sem limites. Hermínio Loureiro já lá está e aspira ao lugar de presidente da federação.

E assim se constrói Portugal, estádios e ambições.



8 comentários:

Anónimo disse...

O arrojo de Laurentino Dias e as cautelas de Hermínio Loureiro, só têm um significado: um é governo e o outro é oposição.

Se ambos fossem do mesmo partido, as posições de ambos teriam outra verdade e outra justeza.

Assim, ficam as dúvidas sobre a legalidade e legitimidade de ambas posições.

Anónimo disse...

Quem não tem ambições nasceu morto.

José Correia disse...

Os Campeões Mundiais de Futebol: os nossos queridos líderes futebolísticos

Estes “nossos líderes desportivos futebolísticos” (com muitas aspas, mesmo muitas…) são de facto insuperáveis.

Basta que um qualquer estrangeiro obviamente e muitíssimo materialmente interessado em candidaturas para um seu leilão diga sibilinamente uma atoarda (“seria uma grande candidatura a de Espanha e Portugal ao Mundial de Futebol de 2018”, Blatter dixit) para esses intrépidos dirigentes (e há-os praticamente perpétuos ou em vias de revalidarem mandatos) acorrerem em uníssono bradando para Portugal se aventurar em mais uma grandiosa empreitada futebolística em 2018.

O Senhor Blatter (o dono do Jogo dos muitos milhares de milhões de euros) até se rirá em surdina com tanta e tão pronta desenvoltura dos bombeiros lusos. Há sempre em Portugal, neste Portugal pequenino, uns chicos, Madaíl, Laurentino e sombriamente um Hermínio também, em “Estado” de prontidão para altas cavalgadas. “Estado” esse que bem visto somos todos nós obviamente – os perpétuos pagadores destas aventuras assombrosas.

Assim foi no EURO 2004 que agora se paga, depois de ter promovido o alento milionário dos cofres federativos e empresariais e ter dado ao desporto vários estádios inúteis e hoje continuamente despovoados de desporto e de gentes.

Estes são os estrategas da modernidade, os todos possidentes, grandes projectistas com os bolsos de todos os outros. Não conhecem, não querem conhecer Sun Tzu ou Clausewitz, os teóricos da estratégia nacional, esses chatos, porque estes nossos líderes de hoje são sobretudo fazedores e nada os impede de realizar.

Nem lhes importa que Max Weber tenha considerado que o político por vocação tinha verdadeiro pensamento estratégico porque estava “possuído pela paixão pela sua causa, sentido de responsabilidade no que toca às consequências concretas das suas decisões, e rápida capacidade de avaliação das situações, aperfeiçoada pela coragem de olhar o perigo de frente, e mantendo uma serena distância perante as coisas e os homens”.

Para estes fazedores modernos é tudo para a frente, sempre a andar. Ser moderno é mesmo assim, imparável, e depois se verá o que resulta das cavalgadas se for ainda necessário ou alguém a tal obrigar. Entretanto, faz-se e outros pagam, porque benefícios são enormes e arranjam-se uns “contabilistas” para os demonstrarem aos incautos pagadores ainda antes dos factos (claro…!).

Crise? O que é a crise? Que importa e a quem importa a crise? E os desafios sociais e do desporto? A estratégia deve estar ao serviço de um projecto político de futuro?

Ora essa, se estes são os líderes a sua clarividência é indesmentível e não pode ser questionada.

Utilização imprópria da estratégia, má escolha, utilização ineficiente e ineficaz de recursos escassos? Ora essa, haverá melhor projecto para o desporto, mesmo para Portugal nesta Europa e Mundo globais, que um Campeonato Mundial de Futebol? Não é o futebol uma grande indústria em Portugal?

Claro que para estes “nossos queridos líderes”, grandes timoneiros da causa desporto-futebolística nacional, tão prestos a acorrerem ao desenvolvimento e enriquecimento português, nunca se poderia nem pensar como Ortega y Gasset que denominava de “homens-massa, a gente medíocre, venalmente satisfeita e incapaz de aceitar uma realidade que seja contrária aos seus caprichos de satisfação imediata” e que custam ou custariam muitos milhões e anos de impostos aos outros que compartilham o mesmo espaço nacional.

Porque contas à parte o que realmente interessa a estes nossos líderes futebolísticos é continuarem por muitos e bons anos a banquetearem-se na mesa grande da multidão que provê ao “Estado Majestade” – e se for até 2018 que seja o quanto antes melhor que a garantia seja prestada a bem dos venerandos e obrigados.

No caminho eles tratarão de se manter na ribalta, claro, porque a lei em vigor depois de bem escriturada a tal dificilmente obstará…!

José Pinto Correia
(www.portugalestrategico.blogspot.com)

Anónimo disse...

Para estes raciocínios será absolutamente indiferente o facto de Portugal e Espanha pouco ou nada terem de investir, nas infraestruturas desportivas, para organizar um Mundial, uma vez que todos os investimentos já estão feitos?

Será que o que está mal é o facto de o Mundial ser de futebol e hoje não é politicamente correcto "pensar futebol"?

Será que haveria a mesma reacção se o Mundial fosse de rugby, de hóquei em patins, de natação ou de atletismo??

Será que se pode honestamente qualificar a afirmação de Laurentino Dias de "arrojo", apenas porque se limitou a dizer que, se às federações de futebol dos respectivos países viesse a ser atribuído um Mundial de futebol, os respectivos Governos certamente que as não deixariam de apoiar? O que é que isto tem de "arrojado"?!!!

Ou será que tudo quanto não seja "os deficientes", o "desporto escolar", o "desporto popular", o "desporto de massas" - é sempre e necessariamente mau????

Anónimo disse...

Comungo e partilho o último comentário (13 de Outubro de 2008 16:50), porque, além do mais, embora não conheça Laurentino Dias, esta atitude persecutória permanente cai mal em Meirim porque parece transmitir a ideia de que se lhe derem um serviço no governo, poderá mudar a música.

E até lá a música permanecerá.

A menos que tenha um efeito catártico.

Anónimo disse...

Algumas notas ao Post:

1º - Quanto ao preço para utilização do estádio de Leiria - De facto é incongruente, despropositado, e por que não dizê-lo, completamente ofensivo ao Principio da igualdade, principio este basilar num Estado de Direito Democrático... então a um clube das Distritais e não profissional cobra-se não sei quantas vezes mais do que a um clube profissional????? ridículo!!!! Façam pelo menos o enorme favor de cobrar taxas de utilização idênticas...

2 - Quanto ao Mundial 2018 - Sou a favor!! em primeiro lugar, atendendo às últimas prestações da Selecção Nacional, que só chegará a um Mundial se Portugal for país organizador... Em segundo lugar porque o grande investimento está feito (aliás,foi feito em excesso para o Euro 2004). Só serão necessários/utilizados 4 estádios em Portugal (qualquer coisa como o Estádio do Dragão, da Luz, de Alvalade e outro. Mais, 3 dos 4 estádios localizam-se em Lisboa e no Porto, logo, também não são necessárias grandes infra-estruturas de apoio... a ser deste modo, porque não organizar um Mundial de Futebol Ibérico?????

Só discordarei se alguém se lembrar de inventar que afinal são necessárias mais umas tantas infra-estruturas ..
rff

Anónimo disse...

Na reunião da CM Leiria realizada em 14/10/2008, um dos senhores vereadores levantou algumas questões sobre este assunto. A Senhora Vereadora Eng. Isabel Gonçalves teve oportunidade de esclarecer – inclusivamente referindo valores – tudo o que se passou, tendo-se o vereador em causa dado por satisfeito. Afinal as contas não estavam bem feitas e, na melhor das hipóteses foram efectuadas ao contrário! Esclareça-se que estavam presentes jornalistas de três dos jornais de Leiria. As edições seguintes destes órgãos abordaram o assunto no sentido de esclarecer as dúvidas levantadas? Será que as agendas jornalísticas deixaram de ter interesse na questão?

Anónimo disse...

Na reunião da CM Leiria realizada em 14/10/2008, um dos senhores vereadores levantou algumas questões sobre este assunto. A Senhora Vereadora Eng. Isabel Gonçalves teve oportunidade de esclarecer – inclusivamente referindo valores – tudo o que se passou, tendo-se o vereador em causa dado por satisfeito. Afinal as "contas" estavam mal feitas e, na melhor das hipóteses, foram efectuadas ao contrário. Estavam presentes jornalistas de três dos jornais de Leiria. Porque será que as edições destes órgãos deixaram de ter interesse no assunto e no esclarecimento das dúvidas levantadas? Ou as agendas jornalísticas deixaram de ter interesse na questão?