sexta-feira, 17 de julho de 2009

Formação desportiva - A versão do Ministério da Educação

Nas últimas semanas gerou-se nas escolas, e em outras instituições que operam com o sistema desportivo, um profundo mau estar entre os profissionais de educação física e desporto devido a duas portarias do Ministério da Educação relativas à criação dos cursos profissionais de técnico de gestão desportiva e monitor de actividades desportivas, atribuindo, em ambas, a certificação com o nível secundário de educação e o nível 3 de formação profissional.

Mirando o perfil de desempenho à saída dos cursos, constante do anexo 2 das referidas portarias, são várias as incongruências e atropelos em relação ao disposto em diversos diplomas legais, nomeadamente no domínio da formação desportiva e das qualificações necessárias à assunção de tarefas de responsável técnico em instalações desportivas de uso público.

O conjunto de competências validadas para os alunos que concluem estes cursos do ensino secundário é claramente desmesurado e exorbitante em relação ao seu plano de estudos. Trata-se de um perfil de competências ao nível de uma licenciatura em ciências do desporto, conforme se pode apreciar num qualquer plano de estudos das várias instituições de ensino superior nesta área.
Disso deram conta os protestos veementes das associações representativas dos profissionais de educação física. Da parte dos gestores desportivos não tive conhecimento de qualquer tomada de posição pública.

De acordo com informação de Vasconcelos Raposo no seu artigo de opinião semanal no jornal A Bola, o processo de publicação em Diário da República foi travado in extremis, apesar dos cursos já fazerem parte da informação de oferta formativa para o próximo ano escolar em diversas escolas do país. Basta uma pesquisa na internet para apurar vários exemplos semelhantes ao que aqui fica. Mais. Ainda hoje é possível aceder às duas portarias no serviços oficiais do ministério.

Não deixando de saudar o facto de se ter corrigido – a confirmar-se - mais um malabarismo do circo da 5 de Outubro e outro dos tradicionais desencontros entre desporto, educação e formação profissional; estão bem patentes, há algum tempo a esta parte, vários sinais de alerta que devem preocupar os profissionais de educação física e desporto, bem como os responsáveis políticos, sobre a qualidade – quando não a legalidade – de ofertas educativas e formativas na área do desporto ao nível do ensino profissional e profissionalizante, contribuindo para desqualificar o mercado de serviços desportivos e a competência técnica dos seus profissionais junto do público.

Há que assumir que estas portarias apenas formalizam, para o ensino público, uma realidade que floresce noutros segmentos de ensino e formação profissional, por vezes, financiados com dinheiros públicos. Os exemplos, esses, estão também aí à distância de um clique para quem queira fazer algo!

Há que assumir as enormes lacunas na regulação da formação de vários agentes desportivos, em particular naqueles com responsabilidades na prescrição do exercício. Esta foi apenas mais uma de inúmeras manifestações dessa realidade, em versão de final de mandato.

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Almeida

A APOGESD tomou posição junto da Ministra da Educação em carta enviada, e igualmente junto do Secretario de Estado, onde se disponibilizou para colaborar na melhoria do refrido curso. Apenas hoje será dada publicidade no nosso site desta tomada de posição uma vez que pensamos ser deselegante que fosse feito antes de sabermos que a Ministra tinha recebido a nossa missiva. Com os melhores cumprimentos A.Serôdio Presidente da Direcção da APOGESD

João Almeida disse...

Agradeço ao presidente da APOGESD a leitura do post e os esclarecimentos devidos.

Cumprimentos

Anónimo disse...

São as chamadas bizantinices.

O Frederico da Prússia era muito amigo do general comandante das tropas e por isso o acompanhava nas batalhas.

Um dia, no acampamento Frederico disse ao general:

- Quando esta guerra acabar vou tirar o curso de médico.
- Sempre a mania de matar - observou o general.

Ora o que se passa aqui, e tomando como modelo o nosso Frederico, é compaginado com o do governo.

Quando se instituiu o curso de instrutores de educação física, a ideia do governo era o de formar agentes de ensino mais baratos.

O caso presente acaba por ser um arremedo do caso passado, o que nos leva a parafrasear o general e dizer:
-Sempre a mania de poupar no desporto.

Poupar sempre na área do desporto porquê?

E para quê?

Para engrossar os cofres dos partidos como recente e vergonhosamente assistimos no Parlamento.

Anónimo disse...

O que se passa de concreto nesta matéria está estampado no Diário de Notícias de hoje:

"O Processo de Bolonha foi uma oportunidade perdida para reformar a fundo o ensino superior." É deste modo que, três anos depois do arranque, Gonçalo Xufre, dirigente do Sindicato Nacional do Ensino Superior, classifica o modo como o processo que visa um espaço comum europeu para o ensino superior a partir de 2010 está a ser implementado em Portugal."

"A maioria das instituições faz uma interpretação cosmética daquilo que deve ser a reforma, limitando-se a encurtar a duração das licenciaturas, que agora é de três anos, sem cumprir o espírito de Bolonha", considera em declarações ao DN aquele professor do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa."

Posto este considerando, o Ministério da Educação, como dizem os brasileiros, está fazendo cosmética.

Anónimo disse...

Como já verificaram, no meu comentário de hoje, o Diário de Notícias não é de hoje mas de 29 de Março do corrente ano.

E com isto dizer que o aviso de 29 de Março, não serviu de aviso ao Ministério da Educação, passados quase 4 meses.

Por isso continuamos a fazer tiros ao alvo Ministério da Educação Cosmética.

Anónimo disse...

estamos todos um pouco perdidos,
não é com estas cartas e comentários que se defende o interesse dos técnicos e professores de desporto.
vivemos um silly sport e foi assim que chegámos aqui, é escusado olhar para fora e culpar a ministra e os secretários de estado

Anónimo disse...

Ao anónimo das 22:37

Se "não é com estas cartas e comentários que se defende o interesse dos técnicos e professores de desporto"

muito menos o é com a exposição mediática da "ministra e secretários de estado" que transgridem e ultrapassam as suas funções... contra o interesse dos técnicos e professores do desporto.