O presente contrato programa tem por objecto a realização da obra de construção do campo de golfe público de dezoito buracos e respectivas infra-estruturas de apoio, no Complexo Desportivo do Jamor, nos terrenos anexos ao actual Centro de Formação para Golfe, existente no referido Complexo, de acordo com os elementos do projecto apresentado pelo 3.º Contraente e aprovado pelos 1.º e 2.º Contraentes. (in,nº1Objecto, Do contrato-programa).
A criação de um campo de golfe no Jamor é uma boa solução. Peca por tardia. E foi positivo que as reservas que o actual secretário de estado do desporto manifestou contra essa possibilidade tenham sido ultrapassadas. E entusiasmou-se tanto que, de um projecto inicial de nove buracos avançou para um de dezoito. E a factura subiu. O bastante para se avançar por fases: primeiro nove, depois se verá o resto O compromisso assumido pelo governo amplamente divulgado pela comunicação social em Novembro de 2005 nada tem a ver com o projecto de há 20 anos que de resto finou nos tribunais. O que agora está assinado e publicado é um compromisso político de construção de um campo de golfe de 18 buracos. Nem sempre cumprindo os calendários que se ia anunciando. Mas isso é hábito e não é o mais importante. O problema veio depois. E tem sido silenciado.
A marginalização dos técnicos e a avocação política deste projecto só podiam dado no que está dar. A lição do embargo a que foram sujeitos os campos de ténis cobertos, cuja estória ainda está por contar, não serviu. Repetiu-se a incúria, a incompetência e as delongas com que este assunto foi tratado, sobretudo sem recolher os pareceres a que o projecto está obrigado E perante as reacções que gerou junto da alguns sectores dos utilizadores do Jamor só poderiam dar no que deu: suspensão por providencia cautelar e embargo por intervenção municipal ,caso sejam retomadas,por ausência de licenciamento. E agora não bastam os telefonemas, as “sensibilizações” e as “pressões” para que tudo se despache. Importa corrigir o que está em falta, o que está mal projectado e fazer alguma pedagogia sobre o que se pretende.
A requalificação e a revitalização de todo aquele espaço justifica acolher um campo de golfe. E isso é positivo. Mas existem sérias reservas quanto a um campo de 18 buracos. Pelos custos e insustentabilidade financeira. Pela incompatibilidade com outros usos desportivos do Complexo. Por significativas alterações no enquadramento paisagístico e florestal do complexo.
Um projecto de apenas nove buracos terá menor dispêndio de dinheiros públicos, será mais fácil de gerir e permitirá compatibiliza-lo com usos sociais designadamente com o corredor verde ribeirinho do Jamor através de uma zona pedonal e ciclável já projectada. E salvaguardará a pista de crosse (um dia ainda se escreverá a história desta pista para que se saiba como se ocultaram regras elementares da contratação pública…)e o conjunto da Quinta do Balteiro que data do sec.XVIII, hoje completamente degradada, mas que justificaria uma recuperação como referencia cultural e turística do Vale do Jamor.No projecto apresentado é parcialmente submerso num lago, desvalorizando o seu enquadramento paisagístico.
Os argumento dos utilizadores /reclamantes não têm qualquer razoabilidade. O comunicado do PCP é o comunicado possível de quem já teve em Oeiras gente com cultura desportiva, envergadura, qualidade e elevação intelectuais para perceber o que está em causa e deixa que uns pobres diabos se insurjam contra a suposta ”privatização” de um bem comum e debitem meia dúzia de baboseiras.
O campo de golfe é um campo público. Como campo público cumpre uma função social. E como campo público o seu regime de acesso em nada diferirá, suponho, de outros equipamentos públicos que existem no Complexo: deverá ter uma tarifa para o seu uso, como sucede no campo de futebol, na pista de canoagem, nos campos de ténis ou na piscina. E como qualquer espaço formal deverá ser delimitado, para que seu uso seja conforme à sua natureza e segurança. Ao lado existirão espaços de lazer e recreação onde quem quiser corre, anda de bicicleta ou simplesmente passeia. O que antes era um matagal abandonado e mal tratado passa ser um espaço qualificado e com uso desportivo.
O golfe é tão legítimo como o futebol, o râguebi ou a simples corrida. Só num país desportivamente inculto é se que pode onerar ao golfe a exclusividade de que historicamente todas as modalidades desportivas herdaram. Antes de serem de todos foram-no das classes dominantes e possidentes. Não é por passar a haver um golfe no Jamor que o “povo” lhe vê retirado algo que supostamente tem. O que agora tem é um matagal em mau estado. O que passa a ter é uma zona tratada com salvaguarda do coberto vegetal do solo e de uso desportivo. Cabe ao Estado acautelar que os preçários a praticar salvaguardem funções sociais e não sejam um factor penalizante ou de difícil acesso a quem quer praticar a modalidade. Mas isso vale tanto para o golfe como para os restantes equipamentos do Complexo.
7 comentários:
boa peça
gostava apenas de notar um par de questões
para 'comprar' o voto dos cidadãos de Oeiras o Jamor é um activo que a CMOeiras não tem a propriedade mas que está implantado no seu território.
aí é o Estado que faz a regra.
o Jamor é um bem público nacional que a população quererá utilizar mas não estará interessada em pagar, ou quererá pagar o mínimo.
colocar preços mais elevados é uma solução, o que trará menos cidadãos de Oeiras dispostos a pagá-lo,
diminuir o preço abaixo do custo médio tem um prejuízo que é necessário assumir.
Chego ao ponto principal:
é importante ter um modelo de desenvolvimento para o Complexo do Estádio Nacional.
Este modelo é importante para o Estado, para Oeiras, para as federações e para as escolas que o usam de todos os graus de ensino, para conhecerem os seus direitos e responsabilidades.
Com o Plano Gráfico do Estádio do Jamor o modelo, de há vinte anos, era de elevada intensidade de capital e que, felizmente mesmo naqueles tempos, acabou por cair sobre si próprio.
O projecto era criar tantas instalações de treino de alta competição, quantas as modalidades existentes.
Depois disso ninguém se abalançou a definir um modelo para o Jamor.
Dado que o dinheiro é escasso e é necessário agradar aos eleitores era útil fazer um investimento correcto que lhes agradasse no âmbito dos interesses dos restantes parceiros, dentro dos limites financeiros e respeitando a história do nosso desporto e garantindo um futuro sustentável para o desporto e os utentes locais.
há muitas maneiras de vender instalações desportivas e de as tornar mais leves para o orçamento público.
Será sem dúvida central observar o que os programas eleitorais centrais e locais nos trarão sobre o uso do Jamor para benefício do desporto e da sua história, da população e das organizações privadas desportivas.
Concordo.
O Governo devia aproveitar essa vontade política para fazer dezoito buracos nas escolas.
Ficariam distribuídos à volta de cada escola e se não houvesse terreno suficiente a Câmara poderia resolver a carência.
Simultâneamente, no espaço a percorrer de buraco a buraco poderia ser montados obstáculos, para os alunos fazerem mais exercícios, além da marcha lenta.
A escola ganharia porque ficaria cercada de campo relvado o que era mais ecológico.
À falta de espaço os campos de voleibol, basquetebol ou andebol, e as pistas de atletismo, seriam eliminados, e os alunos deixariam de suar e andar excitados nos jogos.
O silêncio conventual imposto pelo golf e o facto de os jogadores não poderem jogar todos ao mesmo tempo, transmitiria à escola a placidez e a calma necessárias para o bom desempenho do respectivo ambiente.
No caso de não haver tempo para percorrer os dezoito buracos os alunos seriam classificados de acordo com os buracos conseguidos no brilhante tempo dedicado à mexida corporal: bitola mais alta para os 18 buracos, e redução a ponderar de acordo com os buracos conseguidos.
No programa de cada escola, em vez de "Educação Física" figuraria "Golf 18 buracos" ou menos, de acordo com os recursos disponíveis.
Era uma forma de entusiasmar as Câmaras locais a investir em Campos de Golf, dando assim seguimento à prática de golf pelos alunos, terminada a escolaridade.
O resto já o disse o Tenreiro nos termos sérios e pensados, como nos vem habituando na vertente da Economia.
Sem pretender ajuizar da razão que a cada um assiste, e em relação ao prognóstico ou asserção de Constantino de que “A criação de um campo de golfe no Jamor é uma boa solução, e de que a mesma “perca por tardia”, gostaria de saber se, quando Fernandes Nunes Pedro, autor da referência “O golf em Portugal” (Texto Editores, 1993), escreveu sobre os dezoito buracos no Jamor, no sítio do “Portugal Golf”, em 30 de Abril de 2007, com o título O Jamor e a Ota também entram na caixa das baboseiras.
Já agora, no comentário anterior, proponho que a disciplina curricular de “Educação Física” passe a denominar-se “Educação Golfista” ou “Educação Golfística”, porque também considero uma boa solução para as escolas a instituição do golf, e que a sua implementação está tardando.
Eu sei que isto é um disparate mas sigo o aforismo latino “castigat ridendo mores”.
Só uma pergunta: se é tardio porque é que o PSD o aprovou duas vezes - a primeira há dezoito anos - e nunca o construiu?
O termo "tardio", na língua portuguesa tem um significado diferente por força da consagração instituída pela razão pura.
Antigamente aplicava-se "tardio" com o sentido de as realizações chegarem sempre atrasadas em relação às necessidades, às propostas ou promessas feitas, ou chegar tarde ao avião, ou à escola, ou ao emprego, ou a casa.
O uso consuetudinário do "tardio" inverteu-lhe o sentido de tal forma que o "tardio" hoje, já não tem o sentido pecaminoso de quem andou a dormir ou a esquecer-se ou a protelar.
Bem pelo contrário, hoje é uma qualidade lusitana que herdámos da monarquia, logo na formação do terreno que hoje denominamos Portugal.
Os nossos reis eram tardios, isto é, levaram séculos a arranjar esta nesga de terra quando, com o tempo disponível que tinham, podiam ter ido até ao Mediterrâneo, e hoje o nosso país chamar-se-ia Península Ibérica.
Portanto "tardio", hoje em dia é uma qualidade, e tem o sentido de espírito calmo, desconstraído, sem pressas, dando tempo ao tempo para que o tempo resolva. Equivaler ao não te rales, deixa para o amanhã do nunca.
Chegados aqui significa que os 18 buracos no Jamor chegou depressa demais, quebrou uma tradição secular herdada dos nossos fundadores, isto é, nunca deveriam ter esburacado o Jamor.
Foi um pecadilho imperdoável que nunca devia ter acontecido, e que só explicável pela obsessão do português para abrir buracos por tudo e por nada, como se vê nas ruas da capital.
Na minha rua todos os anos a Epal faz buracos para trocar os canos, mas o vício está tão arreigado que já põem canos obsoletos para justificar abrir buracos no ano seguinte.
Por isso, o PSD foi o único que estava dentro da razão pura; quis construir os buracos mas arrependeu-se, e muito bem, e passou a armadilha para o PS que quis brilhar e foi o que se viu.
Mas, para quem fez tantos buracos na governança também os podia fazer no Jamor.
Quem quiser outro exemplo do uso prático corrente do signo "tardio" recorre ao Diário de Notícias de 29 de Março deste ano, e lê esta prosa elucidativa:
"A maioria das universidades portuguesas não estão a cumprir os critérios de Bolonha. Os principais problemas são a falta de revisão dos currículos e dos métodos pedagógicos e a existência de cursos pouco virados para o mercado de trabalho. Problemas que os especialistas atribuem à pressa em aplicar a reforma, sem se ter levado a cabo uma discussão como a que está a ser feita em Espanha."
E o dirigente do Sindicato Nacional do Ensino Superior esclarece que:
"O Processo de Bolonha foi uma oportunidade perdida para reformar a fundo o ensino superior."
Que é como quem diz, parafraseando o autor:
"Os dezoito buracos do Jamor foi uma oportunidade perdida para reformar a fundo o Jamor."
Por exemplo, o jornal "i" de hoje pergunta, na p. 14:
"A justiça é cega e lenta. Mas será segura?"
A pergunta é capciosa porque é sabido que tudo o que é cego e lento, neste país, é uma bênção de Deus. Portanto a justiça apoia o "tardio".
No mesmo jornal "i", a p. 18, lê-se, como se fosse uma novidade que:
"Julgamentos e investigações sofrem atraso crónico."
Daqui resulta que a Europa, desconhecedora da índole lusitana, pretende penalizar estes atrasos.
Por alguma razão somos os primeiros na cauda europeia, e a UE a pretender que subamos no ranking. Adoramos o tardio. Seremos sempre os primeiros tardios universais.
Por isso os 18 buracos também deviam ser penalizados, não por serem tardios mas por terem quebrado a tradição masoquista lusitana de, quanto mais tarde melhor, porque, quando antecipamos ou apressamos as coisas, tudo sai torto, ou mal, ou desajustado, ou impróprio.
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