Um texto de Fernando Tenreiro que, mais uma vez, se agradece.
O desporto é um sector extraordinário em múltiplos aspectos e o mundo assume-o com entrega, convicção e interesse.
Já o desporto português tem inúmeras fragilidades e necessita de as compreender sem o qual não as resolverá.
A economia do desporto em Portugal tem inúmeras lacunas:
1. É entregue a economistas das faculdades de economia para que justifiquem as acções os líderes desportivos esporadicamente e visando os megaprojectos nacionais do futebol.
2. É feita por juristas que revolvem instrumentos económicos na sua perspectiva jurídica e deixam o mercado do desporto empobrecer e falir.
3. Os professores de educação física e os gestores que trabalham com funções técnicas, onde deveriam assumir instrumentos de análise económica, estão tolhidos por instrumentos legais que estão mal feitos e prejudicam a actividade económica dos agentes do desporto.
4. As funções que faço podem ser feitas por administrativos e contabilistas embora seja economista há mais de trinta anos e a capacidade de realizar funções económicas observa-se no meu currículo e nas solicitações que recebo da Europa. Que outras razões haverá para aqui continuar?
5. Há cursos que retiram a economia e as ciências sociais dos seus curricula.
6. A Europa investe em estudos económicos para compreender as suas limitações e possibilidades no desporto enquanto Portugal nem sempre os acompanha nem com a mesma dinâmica e quando existem não são divulgados nem debatidos publicamente com consequências para a eficiência dos comportamentos privados e públicos.
7. A racionalidade económica por detrás das leis é prejudicial aos agentes privados desportivos.
8. O Tribunal de Contas, Ministério das Finanças, Assembleia da República e Instituto Nacional de Administração cumprem essas leis do desporto. O Presidente do TC já o referiu, cumprem as suas responsabilidades. É o desporto que não sabe avaliar o mercado do desporto, conceber boas leis visando o bem-estar da população e não ter medo de prestar contas do trabalho realizado. A acção das instituições está limitada pelo trabalho do desporto e do material que este lhes coloca nas mãos.
9. O medo da prestação de contas como em Pequim surge, ou porque houve e há erros económicos no projecto, ou porque nem sequer houve estudos económicos ou de qualquer outra área técnica, e que prejudicam atletas, treinadores e clubes e empresas.
10. Organizações desportivas sonham com megaeventos e não com o desenvolvimento desportivo que ninguém lhes pede ou lhes dá instrumentos para criarem.
11. Não se percebe porque é que os agentes desportivos privados se satisfazem com 30 euros quando poderiam ganhar 100 euros. Veja-se os 30 e os 100 euros em proporção do que existe e do que poderia existir.
12. Se ganhassem 100 euros existiria mais de 30% da população que não pratica desporto, porque não pode nem tem dinheiro, e passaria a beneficiar de desporto. Esses trinta por cento da população são cidadãos portugueses, votam e podem ser mais produtivos se lhes oferecerem desporto.
13. Um atleta disse-me que abandona a competição porque não tem condições para treinar e chegar ao fim da vida olímpica com um curso ou com condições para tirar o curso.
14. …
Quem perde e quem ganha com a crise económica do desporto?
Uma Análise Custo Benefício permitiria monetarizar em milhões de euros as perdas do desporto português e os ganhos, afinal escassos, dos ganhadores.
Quem ganha são os juristas e os políticos, os únicos capazes de responder à confusão do lado da produção das leis, do lado do cumprimento e face às inúmeras hipóteses de interpretação e criatividade que a ineficácia legislativa faculta.
Quem perde são a população e os produtores desportivos com menor produtividade, desemprego e racionalidade do tecido social.
À economia é indiferente que a riqueza nacional seja aplicada no desporto, na cultura ou no TGV. O desporto para alcançar a média europeia tem de ir buscar recursos aos restantes sectores conquistando a população para os benefícios do consumo de desporto.
O trabalho de convencimento da sociedade e de criação de uma economia desportiva competitiva faz-se para além dos instrumentos de política actualmente existentes.
Já o desporto português tem inúmeras fragilidades e necessita de as compreender sem o qual não as resolverá.
A economia do desporto em Portugal tem inúmeras lacunas:
1. É entregue a economistas das faculdades de economia para que justifiquem as acções os líderes desportivos esporadicamente e visando os megaprojectos nacionais do futebol.
2. É feita por juristas que revolvem instrumentos económicos na sua perspectiva jurídica e deixam o mercado do desporto empobrecer e falir.
3. Os professores de educação física e os gestores que trabalham com funções técnicas, onde deveriam assumir instrumentos de análise económica, estão tolhidos por instrumentos legais que estão mal feitos e prejudicam a actividade económica dos agentes do desporto.
4. As funções que faço podem ser feitas por administrativos e contabilistas embora seja economista há mais de trinta anos e a capacidade de realizar funções económicas observa-se no meu currículo e nas solicitações que recebo da Europa. Que outras razões haverá para aqui continuar?
5. Há cursos que retiram a economia e as ciências sociais dos seus curricula.
6. A Europa investe em estudos económicos para compreender as suas limitações e possibilidades no desporto enquanto Portugal nem sempre os acompanha nem com a mesma dinâmica e quando existem não são divulgados nem debatidos publicamente com consequências para a eficiência dos comportamentos privados e públicos.
7. A racionalidade económica por detrás das leis é prejudicial aos agentes privados desportivos.
8. O Tribunal de Contas, Ministério das Finanças, Assembleia da República e Instituto Nacional de Administração cumprem essas leis do desporto. O Presidente do TC já o referiu, cumprem as suas responsabilidades. É o desporto que não sabe avaliar o mercado do desporto, conceber boas leis visando o bem-estar da população e não ter medo de prestar contas do trabalho realizado. A acção das instituições está limitada pelo trabalho do desporto e do material que este lhes coloca nas mãos.
9. O medo da prestação de contas como em Pequim surge, ou porque houve e há erros económicos no projecto, ou porque nem sequer houve estudos económicos ou de qualquer outra área técnica, e que prejudicam atletas, treinadores e clubes e empresas.
10. Organizações desportivas sonham com megaeventos e não com o desenvolvimento desportivo que ninguém lhes pede ou lhes dá instrumentos para criarem.
11. Não se percebe porque é que os agentes desportivos privados se satisfazem com 30 euros quando poderiam ganhar 100 euros. Veja-se os 30 e os 100 euros em proporção do que existe e do que poderia existir.
12. Se ganhassem 100 euros existiria mais de 30% da população que não pratica desporto, porque não pode nem tem dinheiro, e passaria a beneficiar de desporto. Esses trinta por cento da população são cidadãos portugueses, votam e podem ser mais produtivos se lhes oferecerem desporto.
13. Um atleta disse-me que abandona a competição porque não tem condições para treinar e chegar ao fim da vida olímpica com um curso ou com condições para tirar o curso.
14. …
Quem perde e quem ganha com a crise económica do desporto?
Uma Análise Custo Benefício permitiria monetarizar em milhões de euros as perdas do desporto português e os ganhos, afinal escassos, dos ganhadores.
Quem ganha são os juristas e os políticos, os únicos capazes de responder à confusão do lado da produção das leis, do lado do cumprimento e face às inúmeras hipóteses de interpretação e criatividade que a ineficácia legislativa faculta.
Quem perde são a população e os produtores desportivos com menor produtividade, desemprego e racionalidade do tecido social.
À economia é indiferente que a riqueza nacional seja aplicada no desporto, na cultura ou no TGV. O desporto para alcançar a média europeia tem de ir buscar recursos aos restantes sectores conquistando a população para os benefícios do consumo de desporto.
O trabalho de convencimento da sociedade e de criação de uma economia desportiva competitiva faz-se para além dos instrumentos de política actualmente existentes.
4 comentários:
Excelente! Muito bem.
Fernando Tenreiro não poderia ser mais assertivo no retrato que faz da panorâmica desportiva, seus achaques, seus síndromas, suas maleitas, suas sevícias.
Da sua fotografia sociológica retira-se que a vida, além de curta para as realizações que os políticos ansiosamente alcandoram, ou talvez por isso, e porque a sociedade só avalia os resultados imediatos e visíveis, todos os recursos humanos acabam por trabalhar para o imediato, para o fugaz, para o que não deixa rasto.
Esta mentalidade foi alimentada no século passado e deixou resquícios que os daquele tempo cuidaram de transmitir às novas gerações.
O único passo certo, depois de ultrapassado o 25 de Abril, centrou-se na construção do novo Estado de Direito que não contemporizou com o imediatismo, e deu tempo ao tempo para concretizá-lo.
Bem se entende que era o novo, e ao novo todo o tempo se lhe dá, mas passada a consolidação do novo Estado, passámos a tropeçar constantemente com a pressa de apresentar resultados, com os mínimos de estudos possíveis, e, por mínimos, impraticáveis, ou sem consequências.
E se os estudos se aprofundam, impondo um longo caminho de trabalho até se alcançar o óptimo, subjacente à realidade económica, donde invisível, todos os políticos se amedrontam temerosos de que a sociedade, habituada, tecida e vivida na pressa de ver coisas já, já, já, mesmo que não durem, acabem por levantar labéus de críticas e comecem a duvidar da eficácia política imediata.
E tudo porque dá menos trabalho do que informar, laboriosa e pedagogicamente, a sociedade, dos problemas que existem, de como ultrapassá-los, de como a exigência do tempo beneficiará os nossos filhos, e provavelmente só os nossos netos. Mas a função pedagógica não funciona ao nível político.
O Fernando Tenreiro é um exemplo paradigmático do homem que não interessa ao Estado, porque a racionalidade económica com que peja os seus trabalhos e esclarece nos seus artigos, exigiria do Estado uma racionalidade política invisível. Mas, porque se acha coarctado pela irracionalidade do tempo curto da legislatura, o Estado inibe-se de ver, ouvir ou ler. Tem que viver o que é possível viver em quatro anos.
(continua)
Governação feita de quatro em quatro anos, é uma governação aos bochechos, mas vivemos agarrados às limitações auto-impostas de tempo, não porque seja racional mudar de quatro em quatro anos, mas porque há necessidade de apaziguar a pressa e a impaciência dos outros que também querem governar... e a paciência esgota-se ao fim de quatro anos. Os governos vivem assim como penitentes do tempo limitado, e obrigam as associações a participar na mesma penitência.
E o tempo curto da legislatura, só permite planos de prazo ocasional, e nunca planos de recuperação de curto prazo, para 10, 20 ou 30 anos, o que tolhe qualquer governo porque corre vários riscos:
- não há obras visíveis imediatas,
- o próximo governo pode não concordar,
- a sociedade critica a aparente ilusão de que nada se faz,
- acaba a legislatura como não tendo feito nada.
Mas os governos manietados por estas impossibilidades construtivistas optam por distrair a sociedade com outros problemas mais visíveis como forma desviante e depreciativa das classificações de funcionários e professores, apurando a sua agudeza, não em planos que melhorem o panorama desportivo ou educativo do país, mas em complicadas formulações matemáticas e inquisitoriais para o apuramento aleatório do perfeito funcionário e do perfeito professor.
O que não se compagina com os imperfeitos políticos que exigem dos outros o que eles não são: perfeitos.
Como se o futuro do país, ou o futuro do desporto, ou o futuro da educação, dependessem de coisas supérfluas que, como norma, uso ou hábito, acabam por fazer funcionários ingratos e funcionários descontentes, professores ingratos e professores descontentes. Ingratos e descontentes porque, uns e outros, achavam que valiam mais.
Segue-se, como norma da vida, que, dos efeitos perversos criados, um se avizinha, qual seja o de o Estado agora entreter-se a averiguar como harmonizar os ingratos e os descontentes, para que o trabalho não sofra pelas injustiças aplicadas.
O IDP aprimorou-se na publicação do seu site das classificações do seu pessoal. Quem se der ao trabalho de as ver verificará que Fernando Tenreiro, por fazer trabalho profícuo de prospector dos males desportivos e de apontar as soluções sociológicas e económicas, o que está vedado ao restante pessoal, Fernando Tenreiro, como dizia, nem sequer figura no quadro o que equivale a zero.
É assim a vida feita de desconsiderações e desprezo pelo valor. Neste caso porém, o zero de Fernando Tenreiro tem um valor inestimável.
Acho um exagero do que diz sobre mim, professor Boaventura, porque vejo em todas as pessoas do desporto o desejo de fazer mais, como eu o desejo.
A lente económica que uso não seria usada por outros economistas mais orientados para automatismos virtuosos que até hoje não se realizaram.
Dizem também que são extraordinários os resultados desportivos que outros sectores não produzem.
Tenho de concordar com eles que não procurando o país investir e ser melhor europeiamente então os resultados surgidos são extraordinários para quem não cultiva o exemplo europeu.
O que pretendo dizer é que o facto das ciências sociais serem malbaratadas todos são prejudicados.
A economia é o exemplo e hoje ao falar com um professor de educação física aposentado falava-me ele das limitações que são impostas aos professores de ed. fis. levando-os a avaliar os alunos coisa que na educação física não é inteiramente correcto. Creio que ele dizia incorrecto.
Isto para terminar agradecendo as duas intervenções do anónimo e do professor João Boaventura e realçando o imenso que em conjunto todos temos de contribuir para transformar este nosso desporto.
Enviar um comentário