Em Portugal, um estágio da selecção nacional de futebol não é apenas um processo de preparação desportiva. É um conceito e um produto. Como conceito envolve componentes de natureza extra-desportiva. É sobretudo um evento, uma festa. E como produto é comercializável. Oferece a quem o adquirir um conjunto de valores materiais e simbólicos. E por isso tem um preço. Que nenhum privado quer comprar. Mas que atrai o interesse público. Porque nele descobre um valor político.
Óbidos, Évora e Covilhã são três cidades que têm em comum, entre outras coisas, o facto de, em períodos diferentes, gastarem dinheiro público afecto à vida do município para acolher (adquirir) a preparação da selecção nacional de futebol. Quanto custa uma opção deste tipo? O que se tem de fazer? E o que se deixa de fazer? Não sabemos. Nem se o que se gasta é muito ou se é pouco.
Sabemos, isso sim, que qualquer dos autarcas, se for interrogado sobre o interesse para as populações deste tipo de opção, será claro e incisivo: só traz benefícios. E a palavra não sossobrará para defender tão patriótica decisão. Um exemplo do edil da Covilhã: “a cidade está neste momento ao nível das melhores cidades europeias no que à preparação desportiva respeita. Queremos que a nossa cidade venha a ser reconhecida nacional e internacionalmente como destino turístico e de lazer”. Obviamente. Assim se pensa na Covilhã como se pensou em Évora e em Óbidos. E, se recuarmos no tempo, no Couço. De que provavelmente já poucos se recordam, porque o nome da terra não era mencionado, não fosse a influência comunista da região assustar: optava-se pelo nome do rio que por lá passa, o Sorraia.
Excluindo uma qualquer coisa que corra mal, a realidade é que nenhuma daquelas comunidades que se dispõe a receber a estadia de uma selecção nacional conseguiria o “tempo de antena” que proporciona um estágio de futebol. A terra e os seus actores sociais, a começar pelos autarcas, revêem-se neste tipo de opções. Um inquérito do Jornal do Fundão, - vale o que vale - estimava em cerca de 75% o número leitores que entendia ser uma excelente opção para a cidade. E aqui reside a tentação.
Durante o período do estágio todos os dias se fala da “terra” e a ampla cobertura mediática não deixa ninguém indiferente. E, invariavelmente, se argumentará quanto vale, em publicidade, o andar durante uns dias e muitas horas na boca do país. E depois os investimentos que ficam para o desporto local. E a animação da restauração e do comércio local com as romarias para os treinos. E os jornalistas credenciados. E até a possibilidade de no futuro outras equipas de outros países escolherem o local. E o turismo. Sempre o turismo. E um sem número de vantagens, qual janela de oportunidade, que importa agarrar não vá o futuro fugir. O raciocínio não é inovador.Com os estádios do Euro foi a mesma coisa. E antes com a Expo. Falta apenas uma coisa: provar o que se afirma.
Deixando de lado este “pormenor”, o que beneficiam no futuro as populações daquelas autarquias com o que vão gastar com este tipo de acolhimentos? A vida melhora? As pessoas são mais felizes? A economia cresce? O desemprego diminui? O desporto avança? A atracção de investimento é maior? A receita aumenta?
Uma qualquer dessas agências que trabalha o valor das marcas é capaz de “martelar” uns números sobre ganhos tangíveis e intangíveis que uma tal opção comporta. Preferiria um exemplo de sucesso.Até lá diz a experiência que este tipo de acontecimento tem retorno material instantâneo. Dura o tempo do estágio. E já não é mau. E se ficássemos por aqui as contas a fazer eram bem simples: despesas e ganhos. Públicos e privados. Mas não. Projectam-se ganhos futuros. Entra-se no reino da fantasia. A mesma que levou o país à situação em que se encontra: o discurso com a factura da irracionalidade.
Óbidos, Évora e Covilhã são três cidades que têm em comum, entre outras coisas, o facto de, em períodos diferentes, gastarem dinheiro público afecto à vida do município para acolher (adquirir) a preparação da selecção nacional de futebol. Quanto custa uma opção deste tipo? O que se tem de fazer? E o que se deixa de fazer? Não sabemos. Nem se o que se gasta é muito ou se é pouco.
Sabemos, isso sim, que qualquer dos autarcas, se for interrogado sobre o interesse para as populações deste tipo de opção, será claro e incisivo: só traz benefícios. E a palavra não sossobrará para defender tão patriótica decisão. Um exemplo do edil da Covilhã: “a cidade está neste momento ao nível das melhores cidades europeias no que à preparação desportiva respeita. Queremos que a nossa cidade venha a ser reconhecida nacional e internacionalmente como destino turístico e de lazer”. Obviamente. Assim se pensa na Covilhã como se pensou em Évora e em Óbidos. E, se recuarmos no tempo, no Couço. De que provavelmente já poucos se recordam, porque o nome da terra não era mencionado, não fosse a influência comunista da região assustar: optava-se pelo nome do rio que por lá passa, o Sorraia.
Excluindo uma qualquer coisa que corra mal, a realidade é que nenhuma daquelas comunidades que se dispõe a receber a estadia de uma selecção nacional conseguiria o “tempo de antena” que proporciona um estágio de futebol. A terra e os seus actores sociais, a começar pelos autarcas, revêem-se neste tipo de opções. Um inquérito do Jornal do Fundão, - vale o que vale - estimava em cerca de 75% o número leitores que entendia ser uma excelente opção para a cidade. E aqui reside a tentação.
Durante o período do estágio todos os dias se fala da “terra” e a ampla cobertura mediática não deixa ninguém indiferente. E, invariavelmente, se argumentará quanto vale, em publicidade, o andar durante uns dias e muitas horas na boca do país. E depois os investimentos que ficam para o desporto local. E a animação da restauração e do comércio local com as romarias para os treinos. E os jornalistas credenciados. E até a possibilidade de no futuro outras equipas de outros países escolherem o local. E o turismo. Sempre o turismo. E um sem número de vantagens, qual janela de oportunidade, que importa agarrar não vá o futuro fugir. O raciocínio não é inovador.Com os estádios do Euro foi a mesma coisa. E antes com a Expo. Falta apenas uma coisa: provar o que se afirma.
Deixando de lado este “pormenor”, o que beneficiam no futuro as populações daquelas autarquias com o que vão gastar com este tipo de acolhimentos? A vida melhora? As pessoas são mais felizes? A economia cresce? O desemprego diminui? O desporto avança? A atracção de investimento é maior? A receita aumenta?
Uma qualquer dessas agências que trabalha o valor das marcas é capaz de “martelar” uns números sobre ganhos tangíveis e intangíveis que uma tal opção comporta. Preferiria um exemplo de sucesso.Até lá diz a experiência que este tipo de acontecimento tem retorno material instantâneo. Dura o tempo do estágio. E já não é mau. E se ficássemos por aqui as contas a fazer eram bem simples: despesas e ganhos. Públicos e privados. Mas não. Projectam-se ganhos futuros. Entra-se no reino da fantasia. A mesma que levou o país à situação em que se encontra: o discurso com a factura da irracionalidade.
7 comentários:
Mais uma vez concordo integralmente com J. M. Constantino.
Este tipo de "eventos (?)" só tem mesmo retorno imediato.
Que é o que interessa aos políticos.
De resto, o que fica já existia antes: unidades hoteleiras e instalações desportivas.
Portanto, não há mais-valias económicas ou desportivas a médio ou longo prazo. Tudo fica na mesma.
Ou a Covilhã vai mudar? Vai mesmo?
É tudo ilusório, sobram os protagonismos e vaidades pessoais.
Caro José Constantino
Ontem o Fernando Ulrich no seu modo directo disse o que se temia: Portugal está falido e as medidas que estão a ser tomadas são tardias e agravam a periclitante situação.
A catástrofe, a nossa bancarrota, é um cenário verosimilhante!
A resposta foi instantânea parecia o Marcelo Caetano depois de cada ameaça de golpe militar.
O ponto levantado pelo José Constantino é que são feitas despesas e questiona os benefícios, as alternativas preteridas e o passado de outras soluções equivalentes.
Levanta a questão fundamental que é provar o que se afirma.
E conclui com o discurso da factura da irracionalidade.
As conclusões do José Manauel Constantino a estrutura do texto ajudam a avançar o pensamento e o debate.
O que o poste inicial sugere é a necessidade de uma análise económica de custo e benefício que deveria ser feita em todos os investimento públicos segundo a legislação do tempo do Dr. Cavaco Silva, como Primeiro-Ministro, mas que nenhum governo faz em nenhum investimento desportivo.
A pergunta que fica é: Porque hão-de as autarquias de a fazer?
Eu não vejo que a Covilhã esteja a fazer mal. São uns dias de festa a federação faz um leilão a Covilhã pagou mais e durante uns dias tem mais consumo e publicidade à cidade.
Segundo se conta no Alentejo a história foi outra. A autarquia terá patrocinado um barão partidário para fazer um recinto de futebol numa área de reserva agrícola e que depois permitiu a urbanização e o turismo.
Os dois casos são distintos um deles é pornografia que deixaria a Bruna portuguesa envergonhada se ela perceber destas coisas. E ela é que vai ser despedida e é julgada por mostrar o melhor de si segundo os seus próprios actos.
Dois encontros de juristas, o primeiro dos juristas da situação e o segundo dos outros.
O primeiro junta os mais bem preparados, os mais inteligentes e perspicazes e capazes de influênciar o desporto português durante trinta anos nos lobis do desporto, o de Lisboa olímpica, dos autódromos de Portimão, do futebol europeu, etc.
O segundo junta outros lóbis de menor sucesso.
É um erro fazer dois encontros.
Deveria ser feito apenas um. A SPEF e a APOGESD, no final de 2009, fizeram o mesmo erro reuniram-se em lugares diferentes no mesmo dia.
O desporto deveria fazer um congresso na Gulbenkian ou no CCB ou na FIL ou na Alfandega do Porto transversal a todas as áreas, juntando mais de mil lobistas, profissionais e líderes e começando com o Presidente da República e acabando com o Primeiro Ministro.
Eu sou do lobi do 'Portugal na média europeia' que é um proscrito e há outras pessoas que não sabem que pertencem a lobis e dão tiros nos pés como no Atletismo o Luís Leite.
As situações são muitas como as das mulheres que têm medo de fazer valer os seus direitos e calam-se. Deviam ser mais corajosas e fazer valer os seus direitos e responsabilidades pelo menos da sua metade do desporto.
Todos deveríamos ter um lobi e ser intransigentes na sua defesa pública, não só no favor dos órgãos de comunicação social e dos gabinetes dos lobis privilegiados.
Um verdadeiro Congresso do Desporto anual organizado transversalmente pela sociedade civil do desporto é o lugar certo de todos os lobis do desporto.
Sou acusado de criticar o COP.
Onde está e quem é o líder do desporto português nestes dias de rotura da situação?
Porque hão-de as autarquias de fazer uma avaliação custo/ benefício do modo como gastam o dinheiro público, se ninguém o faz , pergunta o Fernando Tenreiro. Precisamente porque o dinheiro lhes não pertence e como tal tem de ser racionalmente gasto. E com isto não estou a querer afirmar que no caso da Covilhã isso não foi feito. Não sei. Mas mau seria que o não tivessem feito numa autarquia que em 2008, de acordo como anuário financeiro dos municípios portugueses, apresentava um passivo exigível de 87.924.483,00 euros.
“O desporto deveria fazer um congresso na Gulbenkian ou no CCB ou na FIL ou na Alfandega do Porto transversal a todas as áreas, juntando mais de mil lobistas, profissionais e líderes e começando com o Presidente da República e acabando com o Primeiro Ministro” clama o Fernando Tenreiro .Não me parece.O último foi há pouco tempo. E o pos-congresso no Gerês resolveu os problemas do desporto português. E prenunciou as vantagens do bloco central…..
F. Tenreiro:
Os lóbis funcionam abertamente em estados liberais, o que não é o nosso caso, em que os Governos quiseram sempre gerir de forma centralizada e manipuladora, como tem sido mais evidente nos últimos meses.
Como diz Medina Carreira, Portugal precisa é de homens sérios, inteligentes e descomprometidos, com provas dadas.
Chegámos ao que chegámos (o descalabro moral e financeiro) por via dos lóbis partidários, maçonarias e muitos outros grupos de interesses investidos em instituições.
A Confederação do Desporto chegou ao que chegou (ver relatórios dos últimos anos) por via dos lóbis federativos que impedem a concertação.
O Comité Olímpico actual é resultado de arranjinhos e lóbis.
A ineficácia do Desporto Português deve-se precisamente à falta de intervenção directa e influente de independentes e à proliferação desenfreada do "lobbying", favorecedor de interesses sectários ou pessoais, escrutinado pelo poder político.
A Federação de Atletismo, infelizmente também não é exemplo que se copie, enquanto modelo organizativo e forma de exercício do poder. Sei do que falo.
Não dou tiros nos pés.
Sei muito bem o que quero e o que faço. Não sou inocente.
José Constantino, segundo diz houve um Congresso do Desporto no Gerês que resolveu problemas do desporto. Tão importante encontro, não perguntarei se teve juristas ou arquitectos e engenheiros ou o lobi de Lisboa olímpica ou de Portimão. É a primeira vez que o vejo referido. Em que site se podem consultar os resultados dessa efeméride?
O póscongresso do Gerés é uma metáfora.Os resultados podem ser consultados lendo a Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto.
Nesse caso, pensar que a Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto tinha sido feita no Conselho Nacional do Desporto não será inteiramente certo.
Ou seja, pela segunda ou terceira vez na lei de bases para o desporto o associativismo desportivo, as federações, estão a comer daquilo que lhes foi dado.
Um dos grandes debates no Reino Unido em 2008 foi a decisão de candidatura do Governo ter passado ao lado do que os cientistas do desporto diagnosticarem e os relatórios terem sido esquecidos no momento da decisão política.
São conhecidas as decisões de George Bush filho que contrariou sistematicamente toda a ciência estabelecida.
A fraqueza do associativismo desportivo e do CND não é o não seguir o que os cientistas dizem é nem eles próprios serem levados a sério naquilo que dizem aspirar e que politicamente se faz 'gato sapato' 'enganando o burguês'.
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