O modo como se noticiou e comentou o comportamento “norte-coreano” do parlamento francês- justificado em nome de que os poderes públicos têm o direito de pedir satisfações a quem financiam e põe em causa a imagem do país -revela a desorientação ,a confusão e a idiotice que é gerada a propósito de um campeonato de futebol. Basta pensar que aplicação do principio, a não ter limites ético- políticos, se aplica a tudo e a todos que recebendo apoios públicos dão externamente ,e no entender dos poderes públicos, uma má imagem do país
A deriva ideológica sobre o papel do Estado está na origem deste dislate. Nas ditaduras o princípio não carece de justificação. Mas nas democracias ele é exigível. Em nome dos limites da intervenção de um órgão de soberania. E em nome da extensão e do apuramento da responsabilidade pública de entidades privadas.
Não está em causa o escrutínio político sobre o comportamento social/desportivo de uma selecção nacional de uma modalidade desportiva. É legítimo e até desejável. O parlamento tem todo o direito de ser informado do que se passou. E sobre o que se passou estabelecer uma opinião política. E tem várias formas de o fazer designadamente junto do primeiro responsável: o presidente da federação respectiva. Mas é perfeitamente dispensável o espectáculo de uma audição parlamentar com a inquirição do seleccionador nacional ou no caso de Sarkozy com um jogador não se sabe bem ao abrigo de que critério. Só poderia dar no que deu: em nada.
O caso vale como motivo de reflexão sobre o papel e intervenção e a regulação do Estado sobre organismos desportivos que têm delegação de competências públicas. É obvio que o Estado tem responsabilidades em tudo o que é condicionante do interesse público. O problema está em delimitar esse interesse. E a forma de intervir.
O contexto é conhecido. Como recentemente referia Manuel Maria Carrilho no DN, a mediatização/politização de um campeonato do mundo de futebol “apoia-se numa identificação que - com o declínio da política - se tornou numa das raras experiências que, hoje, permite não só sentir o vibrar colectivo das nações, como tornar visível a sua existência”.E o poder politico é arrastado para e pelo facto. Até aqui nada de anormal. O problema coloca-se na forma como intervém. E a forma neste particular é mais do que o conteúdo. O meio transforma-se na mensagem.
O governo francês poderia ter optado por chamar o presidente da federação de futebol e perante o impacto social do ocorrido solicitar um relato e um avaliação dos acontecimentos E decorrente do escrutínio efectuado definir o passo seguinte. O parlamento deveria aguardar a avaliação da iniciativa governamental. Optou-se pela dramatização e pelo espectáculo. Não para resolver qualquer problema. Mas para dar mediaticamente a ideia de que se estava a resolver.
A politização de uma representação desportiva nacional encerra um equívoco. O de que. nas sociedades democráticas, as eventuais desregulações ocorridas são passíveis de correcção por força exclusiva ou dominante da intervenção do poder político. Embora com características e graus de intervenção distintos o caso francês tem algo de similar com o que ocorreu entre nós após os Jogos Olímpicos de Pequim. O governo não gostou e fê-lo saber. Mas cá, como lá, foi sol de pouca dura. Como era de esperar. A regulação/transformação das organizações desportivas e o sucesso do seu funcionamento está mais em determinantes endógenas do que por força de uma intervenção política externa. Esta constatação não significa o aplauso a qualquer demissão dos poderes políticos. Tão só o seu carácter precário. E por força dessa razão à necessidade de ponderação e descrição na forma e no conteúdo da intervenção.
A deriva ideológica sobre o papel do Estado está na origem deste dislate. Nas ditaduras o princípio não carece de justificação. Mas nas democracias ele é exigível. Em nome dos limites da intervenção de um órgão de soberania. E em nome da extensão e do apuramento da responsabilidade pública de entidades privadas.
Não está em causa o escrutínio político sobre o comportamento social/desportivo de uma selecção nacional de uma modalidade desportiva. É legítimo e até desejável. O parlamento tem todo o direito de ser informado do que se passou. E sobre o que se passou estabelecer uma opinião política. E tem várias formas de o fazer designadamente junto do primeiro responsável: o presidente da federação respectiva. Mas é perfeitamente dispensável o espectáculo de uma audição parlamentar com a inquirição do seleccionador nacional ou no caso de Sarkozy com um jogador não se sabe bem ao abrigo de que critério. Só poderia dar no que deu: em nada.
O caso vale como motivo de reflexão sobre o papel e intervenção e a regulação do Estado sobre organismos desportivos que têm delegação de competências públicas. É obvio que o Estado tem responsabilidades em tudo o que é condicionante do interesse público. O problema está em delimitar esse interesse. E a forma de intervir.
O contexto é conhecido. Como recentemente referia Manuel Maria Carrilho no DN, a mediatização/politização de um campeonato do mundo de futebol “apoia-se numa identificação que - com o declínio da política - se tornou numa das raras experiências que, hoje, permite não só sentir o vibrar colectivo das nações, como tornar visível a sua existência”.E o poder politico é arrastado para e pelo facto. Até aqui nada de anormal. O problema coloca-se na forma como intervém. E a forma neste particular é mais do que o conteúdo. O meio transforma-se na mensagem.
O governo francês poderia ter optado por chamar o presidente da federação de futebol e perante o impacto social do ocorrido solicitar um relato e um avaliação dos acontecimentos E decorrente do escrutínio efectuado definir o passo seguinte. O parlamento deveria aguardar a avaliação da iniciativa governamental. Optou-se pela dramatização e pelo espectáculo. Não para resolver qualquer problema. Mas para dar mediaticamente a ideia de que se estava a resolver.
A politização de uma representação desportiva nacional encerra um equívoco. O de que. nas sociedades democráticas, as eventuais desregulações ocorridas são passíveis de correcção por força exclusiva ou dominante da intervenção do poder político. Embora com características e graus de intervenção distintos o caso francês tem algo de similar com o que ocorreu entre nós após os Jogos Olímpicos de Pequim. O governo não gostou e fê-lo saber. Mas cá, como lá, foi sol de pouca dura. Como era de esperar. A regulação/transformação das organizações desportivas e o sucesso do seu funcionamento está mais em determinantes endógenas do que por força de uma intervenção política externa. Esta constatação não significa o aplauso a qualquer demissão dos poderes políticos. Tão só o seu carácter precário. E por força dessa razão à necessidade de ponderação e descrição na forma e no conteúdo da intervenção.
2 comentários:
Mais uma vez, concordo com a análise lúcida de JMC.
Já o nosso parlamento peca por não chamar a prestar satisfações do responsável pelo 'atropelo à lei' no que concerne ao não cumprimento integral da retirada/suspensão do estatuto de utilidade pública ao Futebol.
Cá como em França...
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