Há uma tese que insistentemente se acolhe em mentes bem pensantes: a de que o futebol seria uma espécie de refúgio de todos os males da sociedade. Mas no pólo oposto há uma outra que nada fica a dever aquela: a de que o futebol pode exercer uma função catártica sobre a sociedade e os seus problemas servindo de exemplo de sucesso, elevando a auto estima de um povo e puxando por um país.
Com o mundial de futebol, uma e outra das teses renovaram os seus espaços de interpretação e afirmação. Os homens do futebol refugiando-se na melopeia do “futebol” como excepção num país deprimido. Os outros com o futebol como “escola de defeitos”, concentrador de “activos tóxicos” que manipulam e adormecem as consciências. A overdose comunicacional a que fomos sujeitos através de um jornalismo a princípio épico - como se o futuro da pátria se jogasse em África e os jogadores fossem uma réplica dos navegadores dos tempos modernos - rapidamente descambou para um jornalismo de casos. Como é próprio de uma agenda que vive sem memória, sem densidade intelectual e virada para o sensacionalismo.
Tenho como adquirido que não é possível compreender a importância da dimensão social futebol sem primeiro compreender o modo como os meios de comunicação o tratam e constroem.
Exceptuando situações e vivências pessoais, o que nós sabemos do futebol (..e do mundo), sabemo-lo pelos meios de comunicação. São eles que nos sintonizam com essa realidade. Fazem-no do modo que querem. Pelo que a nossa percepção da realidade é construída através de uma relação mediada pela comunicação social. È sempre parcial. Pode ser isenta e neutra, matérias em si muito discutíveis. Mas é sempre uma parte da realidade. Pela natureza óbvia do processo comunicacional.
Em tempos, houve um programa radiofónico Bancada Central que valia por mil livros e outra tantas teses ou conferências. E aqueles programas que semanalmente os canais de televisão apresentam com um comentador por cada um dos três principais clubes deveriam ser de visionamento obrigatório para quem pretenda estudar e compreender o futebol para além do jogo. Sei que é um castigo duro mas o estudo exige trabalho!
A questão central é esta: os meios de comunicação escolhem os temas, as pessoas e a maneira de os tratar. O que nos chega não é a realidade. É a realidade tratada pelos jornalistas e pelos comentadores escolhidos pelos jornalistas. O que recebemos não é original. É em segunda mão. Os meios de comunicação não nos dão do futebol um conhecimento sobre o que acontece. Mas do que acontece, o que acham que é importante. E fazem-no de um modo dúplice: aparentemente crítico mas nunca distanciado. Por uma óbvia razão explicada singelamente por um antigo jornalista de desporto, Jacques Marchand :ninguém cospe na sopa que é o seu ganha pão. E o futebol é o ganha-pão dos jornalistas de desporto.
Na véspera do Portugal/Espanha um diário desportivo trazia em primeira página Ronaldo, de camisola na mão, ensaiando um passe de toureio sobre uma Espanha representada por um touro. Dias depois o mesmo jornal dissertava sobre o comportamento do jogador após a competição. Se cuspiu, e para quem, e se devia ter dito o que disse. Amnésia ética? As regras de civismo que se aplicam ao jogador não se aplicam ao jornal?
O jornalismo do futebol não prescinde do conflitual, do escandaloso, do novo. É um dispositivo profissional que não deontológico. Mac Luhmann dizia que aquilo que “nós sabemos acerca da nossa sociedade e até do mundo em que vivemos, sabemo-lo pelos meios de comunicação social”.Mas há uma parte que ignoramos, que não conhecemos. Não porque não exista.Mas porque não é apetecível para os meios de comunicação social. O futebol não escapa. E o nosso sentido de pertença ou de não pertença a essa realidade vive duma irrealidade: a realidade filtrada dos meios de comunicação social. E como tal a opinião pública é uma “opinião”configurada e difícil de descolar da opinião publicada. E essa opinião que veicula as ideias de um futebol como regenerador ou como síntese dos pecados socais. São apenas formas particulares de olhar o fenómeno. Que o não esgotam.
Em Barcelona, horas antes da final do campeonato do mundo realizou-se a maior manifestação de sempre da história democrática da Catalunha. Mais de um milhão de catalães vieram para rua em defesa do estatuto autonómico referendado em 2006.A Espanha foi campeã do mundo. Houve festa por todo o lado. Mas alguém acredita que o futebol vai desviar a atenção das pessoas da defesa do que consideram os seus interesses como alvitravam com satisfação alguns dos intervenientes do Dia Seguinte?
Com o mundial de futebol, uma e outra das teses renovaram os seus espaços de interpretação e afirmação. Os homens do futebol refugiando-se na melopeia do “futebol” como excepção num país deprimido. Os outros com o futebol como “escola de defeitos”, concentrador de “activos tóxicos” que manipulam e adormecem as consciências. A overdose comunicacional a que fomos sujeitos através de um jornalismo a princípio épico - como se o futuro da pátria se jogasse em África e os jogadores fossem uma réplica dos navegadores dos tempos modernos - rapidamente descambou para um jornalismo de casos. Como é próprio de uma agenda que vive sem memória, sem densidade intelectual e virada para o sensacionalismo.
Tenho como adquirido que não é possível compreender a importância da dimensão social futebol sem primeiro compreender o modo como os meios de comunicação o tratam e constroem.
Exceptuando situações e vivências pessoais, o que nós sabemos do futebol (..e do mundo), sabemo-lo pelos meios de comunicação. São eles que nos sintonizam com essa realidade. Fazem-no do modo que querem. Pelo que a nossa percepção da realidade é construída através de uma relação mediada pela comunicação social. È sempre parcial. Pode ser isenta e neutra, matérias em si muito discutíveis. Mas é sempre uma parte da realidade. Pela natureza óbvia do processo comunicacional.
Em tempos, houve um programa radiofónico Bancada Central que valia por mil livros e outra tantas teses ou conferências. E aqueles programas que semanalmente os canais de televisão apresentam com um comentador por cada um dos três principais clubes deveriam ser de visionamento obrigatório para quem pretenda estudar e compreender o futebol para além do jogo. Sei que é um castigo duro mas o estudo exige trabalho!
A questão central é esta: os meios de comunicação escolhem os temas, as pessoas e a maneira de os tratar. O que nos chega não é a realidade. É a realidade tratada pelos jornalistas e pelos comentadores escolhidos pelos jornalistas. O que recebemos não é original. É em segunda mão. Os meios de comunicação não nos dão do futebol um conhecimento sobre o que acontece. Mas do que acontece, o que acham que é importante. E fazem-no de um modo dúplice: aparentemente crítico mas nunca distanciado. Por uma óbvia razão explicada singelamente por um antigo jornalista de desporto, Jacques Marchand :ninguém cospe na sopa que é o seu ganha pão. E o futebol é o ganha-pão dos jornalistas de desporto.
Na véspera do Portugal/Espanha um diário desportivo trazia em primeira página Ronaldo, de camisola na mão, ensaiando um passe de toureio sobre uma Espanha representada por um touro. Dias depois o mesmo jornal dissertava sobre o comportamento do jogador após a competição. Se cuspiu, e para quem, e se devia ter dito o que disse. Amnésia ética? As regras de civismo que se aplicam ao jogador não se aplicam ao jornal?
O jornalismo do futebol não prescinde do conflitual, do escandaloso, do novo. É um dispositivo profissional que não deontológico. Mac Luhmann dizia que aquilo que “nós sabemos acerca da nossa sociedade e até do mundo em que vivemos, sabemo-lo pelos meios de comunicação social”.Mas há uma parte que ignoramos, que não conhecemos. Não porque não exista.Mas porque não é apetecível para os meios de comunicação social. O futebol não escapa. E o nosso sentido de pertença ou de não pertença a essa realidade vive duma irrealidade: a realidade filtrada dos meios de comunicação social. E como tal a opinião pública é uma “opinião”configurada e difícil de descolar da opinião publicada. E essa opinião que veicula as ideias de um futebol como regenerador ou como síntese dos pecados socais. São apenas formas particulares de olhar o fenómeno. Que o não esgotam.
Em Barcelona, horas antes da final do campeonato do mundo realizou-se a maior manifestação de sempre da história democrática da Catalunha. Mais de um milhão de catalães vieram para rua em defesa do estatuto autonómico referendado em 2006.A Espanha foi campeã do mundo. Houve festa por todo o lado. Mas alguém acredita que o futebol vai desviar a atenção das pessoas da defesa do que consideram os seus interesses como alvitravam com satisfação alguns dos intervenientes do Dia Seguinte?
4 comentários:
Obviamente concordo com JMC.
Mas vou mais longe: aquilo que em geral é difundido pela comunicação social (com letra minúscula), seja televisão, rádio ou jornais de certos países do sul da Europa e da América latina, com particular realce para o caso português é proporcional ao nível intelectual do leitor (?) a que se destina: maiorias analfabetas funcionais, resultado do sistema educativo posterior ao 25 de Abril.
Abaixo de cão.
Assim, aqueles senhores doutores que opinam em certos programas televisivos e discutem àquele nível, estão a trocar javardice por dinheiro e popularidade.
E aparentemente são felizes assim...
Já cá faltava o comentário sempre crítico do Luís Leite, escrevinhador "independente", que não responde a anónimos e que escreve (sempre, sempre): "Completamente de acordo. Subscrevo inteiramente. Mais um texto fantástico de JMC, bla, bla, bla, bla..."
Não responde mas...responde!!!
Aos que lhe interessa para 'dar brilho'...
É como comentar os seus próprios textos...
A F Oliveira respondo, apesar de o seu anonimato ser virtual.
É uma lástima que comente textos de anónimos e não apresente ideias ou críticas sobre Desporto.
Argumente sobre as minhas ideias.
Critique as ideias.
É para isso que este blog serve.
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