terça-feira, 12 de outubro de 2010

Qual a evolução do desporto olímpico portugês?

Novo texto de Luís Leite.

Para se ter uma noção da pobreza relativa do nosso desempenho olímpico (considerando apenas os Jogos de Verão) e de que a situação praticamente não evoluiu com os regimes políticos, ou seja, pouco ou nada dependeu das políticas ou da falta delas, meditemos no seguinte e depois comparemos com o caso espanhol.

Portugal
Medalhas obtidas antes do Estado Novo:
(Jogos de 1924 e 1928)
Total: 2
Média: 1 medalha

Medalhas obtidas durante o Estado Novo:
(Jogos de 1936, 1948, 1952, 1964, 1968 e 1972)
Total: 5
Média: 0,83 medalhas

Medalhas obtidas após o 25 de Abril:
(Jogos de 1976, 1980, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004 e 2008)
Total: 15
Média: 1,67 medalhas

Sendo as probabilidades de obter uma medalha muito semelhantes, independentemente de ser ouro, prata ou bronze, pode concluir-se que o acréscimo de sucesso conseguido com a democracia é muito reduzido. Apesar de a média ter duplicado dos tempos da Ditadura para os da Democracia, o número médio de medalhas continua a ser muito escasso para uma nação com mais de 10 milhões de habitantes.

A verdade é que Portugal nunca conseguiu mais que 3 medalhas nuns Jogos Olímpicos e em apenas duas ocasiões: Los Angeles (1984) e Atenas (2004), sendo a média geral das participações olímpicas 1,29 medalhas por cada edição.

Espanha:

Medalhas obtidas antes da Ditadura:
(Jogos de 1900, 1920, 1924, 1928 e 1932)
Total: 5
Média: 1 medalha

Durante a Ditadura:
(Jogos de 1948, 1952, 1960, 1964, 1968, 1972 e 1976)
Total: 6
Média: 0,86 medalhas

Medalhas obtidas em Democracia:
(Jogos de 1980, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004 e 2008)
Total: 102
Média: 12,75 medalhas

Mesmo dando desconto de a Espanha ter organizado os Jogos de 1992 (Barcelona), onde fez enormes investimentos e ganhou 22 medalhas, veja-se as semelhanças entre os dois países (antes da implantação do regime democrático vigente) e as diferenças brutais (após a implantação do mesmo regime democrático): 1,67 para 12,75 medalhas de média por cada edição.

Conclui-se:

1) Julgo ser legítimo responsabilizar os sucessivos Governos democráticos portugueses no que respeita às deficientes condições oferecidas para a obtenção de medalhas em Jogos Olímpicos;

2) Não se pode esperar em 2012 mais do que 0 (versão pessimista) a 3 medalhas (versão optimista), sendo mais do que isso criar ilusões sem grande sentido.

3) O Desporto olímpico português não evoluiu grande coisa com este Regime e com os apoios comunitários, ao contrário do espanhol.

Honra excepcional aos atletas nacionais (não esquecendo os seus treinadores e diversas estruturas federativas) que, com apoios estatais relativamente reduzidos, conseguiram a rara proeza da obtenção de uma medalha olímpica, sobretudo aqueles que obtiveram duas: Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro.

13 comentários:

Anónimo disse...

Que profundo! Que finura de análise! Que intelectual!

Luís Leite disse...

P.S. - Por lapso, na contagem do número de Jogos Olímpicos durante o Estado Novo, foram esquecidos os de Los Angeles (1932), pelo que a média de medalhas baixa de 0,83 para 0,71, o que é irrelevante.
O critério de incluir 1928 no período anterior ao Estado Novo é do autor.

Anónimo disse...

Portugal não ganha mais medalhas porque nesta terra os dirigentes e apaniguados querem arrebanhar as medalhas esquecendo-se que quem as ganha são os atletas!

Quanto foi investido neste regime Democrático na FPA para o alto rendimento(representa mais de 50% do desporto Olímpico português)e quanto desse dinheiro foi investido EFECTIVAMENTE na preparação dos atletas?

Já agora o exemplo espanhol não é exemplo, como se pode rever num estado que privilegia o Doping como caminho para o sucesso.
http://desporto.publico.pt/noticia.aspx?id=1460288

F Oliveira disse...

Faltou ao LL referir que na FPA se recebem mais de 250 mil euros/mês fora...aquilo que ele sabe...
Deixemos de fora os dinheiros recebidos mensalmente do COP, por ora!
Os governos têm tido culpa é de colocar estes dinheiros à gestão de quem dela percebe nicles...

Luís Leite disse...

Já não há pachorra para estes anónimos que, ou não apresentam argumentos (o 1º) ou só escrevem disparates (o 2º).
Este último, nos 3 parágrafos, não acerta uma:
O primeiro não tem ponta por onde se lhe pegue, tal o displante;
O segundo, só releva a relativa qualidade do trabalho do Atletismo, visível nos resultados e número de atletas que conseguem mínimos; quanto à aplicação do dinheiro da PREPOL, posso garantir que foi, pelo menos no meu tempo, gasto exclusivamente na preparação dos atletas;
O terceiro, é simplesmente irresponsável; dizer-se que o Estado espanhol privilegia o doping como caminho para o sucesso é simplesmente ridículo; atletas que se dopam há em todos os países; uns são apanhados; outros, não.

Luís Leite disse...

F Oliveira:

Não me competindo defender a honra de quem é responsável pela FPA, tenho a obrigação de esclarecer, para que não restem quaisquer dúvidas, o seguinte:

1) A FPA é sujeita a auditorias permanentes pelo IDP;

2) A FPA presta contas, semestralmente, ao COP.

Acha você que o dinheiro que a FPA recebe do Estado tem sido mal gasto?

Você é exigente!

O que dizer então dos 16 milhões gastos no velódromo de Sangalhos, que não serve para nada, nem para a música pimba?

Cordialmente...

Anónimo disse...

Comparada com as 70 e muitas pistas de atletismo é mais um elefante branco.....
Quanto ás contas porque será que as bolsas são pagas directamente aos atletas e não via Federação?

Luís Leite disse...

Temos muitas pistas de 400m?
Em Espanha há mais de 400 com 6 ou mais corredores e todas apetrechadas, homologadas e em bom estado, porque têm manutenção e são renovadas.
Em Portugal não há mais meia dúzia em condições para se fazerem provas oficiais.
Em França há mais de 600, na Alemanha há mais de 1000.

Quanto a bolsas olímpicas, a FPA transferiu sempre, mas sempre, o dinheiro para os atletas no dia seguinte a tê-lo recebido.
Se houve atrasos que motivaram a decisão de o COP pagar directamente, tal responsabilidade só pode ser de outra ou outras Federações.
A decisão SEJD/COP é idiota, já que todas as outras verbas envolvidas na preparação de atletas (bolsas de treinadores, estágios, acompanhamento médico e fisioterapêutico, etc.) e que envolvem quantias muitíssimo superiores, são pagas pela Federação.
Se em algum momento algum atleta de queixou (o que duvido), foi devido a atrasos na transferência do COP para a Federação.

Não percebem nada do assunto e mandam bocas...

Luís Leite disse...

Não há nada como comparar.
Medalhas obtidas em Jogos Olímpicos de Verão por alguns países europeus com população semelhante ou inferior a Portugal desde o 25 de Abril até à actualidade:

Hungria - 173
Suécia - 90
Dinamarca - 51
Grécia - 49
Noruega - 49
Suíça - 40 (+ 83 nos de Inverno)
Bélgica - 31

Portugal - 15

Palavras para quê?

Luís Leite disse...

(continuação):

Bulgária - 159
Holanda - 127
Finlândia - 49 (+82 nos JO Inv.)
Áustria - 27 (+127 nos JO Inv.)

Portugal - 15

Se quiserem, passo para alguns países do 3º Mundo...

Luís Leite disse...

Então, ninguém quer apresentar argumentos a favor do brilhante Desporto Olímpico Português?
Ah, estes números não interessam...
É que não conheço nenhum gabinete de estudos sobre a matéria nem na SEJD, nem no COP nem em lado nenhum em que, ao menos, se tome conhecimento interno da nossa realidade desportiva e estudos comparados deste tipo sejam divulgados.
Sobram os figurões do costume, nas fotografias ao lado do Carlos, da Rosa e do Nelson! A Fernanda sempre foi mais discreta.

F Oliveira disse...

LL:

Ninguém ataca a honra da FPA. É mencionada porque vc "usa e abusa" dela e de praticantes da modalidade como exemplo de suporte às suas pseudo teses...
1) Também todas as outras Federações que recebem apoios do Estado;
2) Também todas as outras Federações que estão nos projectos olímpicos;
Exigente é vc para com aquelas modalidades que recebem 15 e 20 mil euros por mês.
Se o Estado coloca mais de 65% (e não 50 %) na FPA e só se consegue obter os resultados que se sabe quer que as outras façam o quê?

Luís Leite disse...

FO:

O dinheiro que as Federações recebem do Estado, bem ou mal, é proporcional ao número de desportistas que conseguem atingir categoria internacional.
Para isso existem critérios, que se baseiam nos mínimos para as grandes competições e nos rankings mundiais.
Se o Atletismo recebe mais que as outras é porque, tendo muito mais atletas de nível internacional, precisa de mais dinheiro e toda a estrutura, por via disso, é mais pesada.
Você achava bem que todas as Federações recebessem o mesmo?

Mas o tema não é esse.
O tema é: nós valemos globalmente muito pouco no Desporto internacional, muito menos do que aquilo que seria normal esperar tendo em atenção que estamos na Europa e estamos, como se comprova, no fim da lista de mérito relativo.