terça-feira, 17 de maio de 2011

Alhos e bugalhos, Basquetebol e Futebol

Considero pessoalmente que a escrita nos jornais desportivos deu um enorme salto qualitativo, principalmente porque se deixou de ver alguns erros que eram algo usuais e denegriam a qualidade que os jornais apresentavam e apresentam.

Continuo a ser um habitual leitor dos jornais desportivos, hábito que muitas das vezes não proporciona grandes benefícios, mas a tradição em algumas vertente ainda se mantém. Numa das leituras li uma crónica do jornal 'A Bola' no dia 7 de Maio, que qualifica a posse de bola do futebol do Barcelona como falta de fair-play por parte do clube relativamente aos seus adversários.

Vai mais longe dizendo que o clube apenas a faz para que os adversários não tenham posse de bola e assim evitando que os adversários possam criar lances de perigo (pensava eu que era lógico que assim fosse). Afirma e compara os papéis da FIBA e da FIFA. A intervenção de uma e de outra entidade responsável a nível mundial pelas modalidades de Basquetebol e de Futebol/Futsal.

Por partes! Ao contrário do que escreve, a equipa do Barcelona troca muitas das vezes a bola no campo adversário quando não chega a ser quase provocatório quando o faz dentro da área dos adversários. A equipa cria oportunidades de perigo. Marca golos. Possui a bola mais tempo não só porque a possui mas também porque a recupera tão rápido que faz com que outro clube recheado de excelentes jogadores a tenha de pontapear para a frente tal a incapacidade de a reter. Não faz de uma equipa melhor que outra, apenas são estratégias diferentes.

Os resultados ditam na verdade as equipas. As equipas precisam de resultados. O Barcelona fica na história como um dos melhores 'futebóis' que se viu. Não porque esconde a bola dos adversários, mas porque a consegue manter durante os tais 70's % de tempo útil do jogo. E já agora, porque também tenho ganho títulos.

Quanto à comparação entre a FIBA e a FIFA, a primeira é provavelmente a Federação Internacional que melhor e de forma mais célere se adapta aos espectáculo e procura satisfazer o serviço e produto que oferece aos adeptos de Basquetebol. Umas vezes a reboque da NBA, mas o Basquetebol é provavelmente em todos os aspectos a modalidade colectiva mais completa. Por si só, considerar ou querer comparar o papel da FIFA ao pé da FIBA é...não tem comparação. A FIFA demora anos a alterar algo. A FIBA altera de uma época para outra.

A FIBA passa para os 30'' e depois 24'' porque quer mais ataques. Mas dar tempo de jogo limite às equipas de Futebol não significa que a mesma ataque. Porque não impede que a outra defenda. As estruturas e as dimensões e principalmente a cultura existente nas duas modalidades não 'deixam' que tal alguma vez possa vir a existir.

São opiniões, umas vezes mais subjectivas outras mais objectivas.

16 comentários:

JCN disse...

Recentemente tive uma discussão relativamente a este tipo de jogo. Perguntavam-me como criar uma alteração que funcionasse - jogo passivo(andebol) ou os 24 segundos(basquetebol) parecem longe de poder funcionar.

Pensei um pouco e ripostei. Basquetebol e hóquei encontraram uma solução interessante, quando se entra no meio campo ofensivo fica-se confinado ao mesmo.

E depois ele ripostou de seguida:"e este Barcelona é pior que os autocarros nas equipas pequenas?"...e eu fiquei sem resposta...

Apesar de notável, não gosto do tipo de futebol do Barcelona(Também no Basquetebol se pôde fazer aquilo, em tempos) mas reconheço que é mais gravoso o que os autocarros fazem ao futebol do que 100 passes seguidos de um golo, e quanto a isso ninguém fala da FIFA.

Luís Leite disse...

Não se pode comparar alhos com bugalhos.
O Basquetebol é mais universal que o Futebol, que só é visto com esta paixão exacerbada e exclusiva nas ilhas britânicas, nos países sul- americanos e do sul da Europa e parte de África.
E o Basquetebol mexe com mais dinheiro, tal como muitas outras modalidades individuais ou colectivas.
O Basquetebol é um jogo de alta marcação, em que um cesto, só por si, conta pouco; é a regularidade concretizadora que conta e raramente há "casos" de arbitragem.
O Futebol é um jogo de baixa marcação, que fez uma clara opção pela promoção de polémicas ambíguas na interpretação das arbitragens.
É o jogo com menos fair-play que conheço.
A malandrice é subjectiva e os fins justificam os meios.
Não concordo nada que os jornais desportivos tenham evoluído em Portugal. Limitam-se a explorar a clubite mais desenfreada e a objectividade escasseia.
Cumprimentos.

Rui Lança disse...

Caro JNC,

Irónico é estarmos a chegar a este caso de analisar a qualidade do Futebol do Barcelona. Tal não aconteceu no Basquetebol em 1992 no Dream Team americano, em que apesar dos adversários terem ao seu dispor 24'' para atacar...não o conseguiam.

Mas estou certo que mais tarde ou mais cedo, as equipas irão conseguir combater ou irão aparecer mais equipas a seguir (tentar) o exemplo.

Cumprimentos,

Rui Lança disse...

Caro Luís,

Concordo com quase tudo o que diz, infelizmente, afirmo. Está muito relacionado com a cultura da modalidade em si e não dos países em que se pratica.

Cumps,

Luís Leite disse...

Caro Rui,

Sou franco e directo:

Eu acho que tem mesmo a ver com a cultura dos países em se pratica cada modalidade e menos com com as regras impostas pelas Federações internacionais, com excepção do Futebol, que é o Desporto mais aleatório pela razões expostas.

Não é por acaso que o Futebol americano só interessa mesmo aos americanos ou o que Cricket é a modalidade nacional na Índia e o Hóquei em Campo no Paquistão.
Também não é por acaso que o Basebol é o Desporto nº1 no Japão.
Não é por acaso que o Rugby é mais forte no hemisfério sul, em antigas colónias inglesas onde o Futebol/Soccer não tem expressão.
As modalidades favoritas têm a ver com as características sócio/culturais de cada nação.

JCN disse...

Faltará dizer que em 92 os atletas norte americanos, altamente instrumentalizados pelo COI, não foram sujeitos a controlo anti-doping por sua exigência.

Luís Leite disse...

JCN levanta a questão do doping.
O doping continua a ser outro assunto tabú, o politicamente correcto no seu melhor.

Não me quero alongar muito sobre um assunto que sempre me interessou.

A convivência em grandes competições internacionais e estágios com atletas de alta competição (agora alto rendimento), deu-me uma perspectiva muito pragmática da realidade da alta performance em que vivemos no desporto e não só, desde o início da era pós-moderna (anos 70).

Os desportistas profissionais, em qualquer modalidade, que vivem as exigências do treino bi-diário ao mais alto nível, são farmácias ambulantes.
Todos sabem muito bem as regras do jogo: há os apanhados e há os não apanhados.
Os apanhados são considerados criminosos. Os restantes são virgens imaculadas.

Este é um mundo de enorme hipocrisia e interesses muito diversos e poderosos...

E por aqui me fico...

JCN disse...

Da realidade que conheço concordo, e a verdade é que eles de facto passam os limites por comer carne ou beber um copo de whiskey...o problema é o como é que chegam tão perto do limite.

é uma realidade, sim, mas se controlamos uns, temos que controlar os outros...é uma questão de democracia!

Armando Inocentes disse...

Vou regressar a um velho tema de Luís Leite:

Quando acabou ontem o Porto-Braga ou o Braga-Porto viram-se no relvado bandeiras de todos os paises envergadas por alguns jogadores...

Curiosamente bandeira portuguesa nenhuma! E eram duas as equipas portugesas!

"Este é um mundo de enorme hipocrisia e interesses muito diversos e poderosos..." - este, o do Desporto, principalmente do Desporto PROFISSIONAL!

Rui Lança disse...

Infelizmente...foi verdade. É o que se tem e pouco se tem feito para alterar.

Cumps

Luís Leite disse...

Futebol português, aquilo de ontem?
27 jogadores utilizados, 6 portugueses e 21 estrangeiros.
Bravo, futebol português!

Luís Leite disse...

Insisto:

Os 2 clubes são portugueses.
As respectivas equipas (os jogadores que disputaram o encontro da final) são multinacionais sul-americanas, com algumas (raras) excepções.

Futebol português?

Kaiser Soze disse...

Não tenho bem a certeza de como será possível tornar mais activo o futebol...a própria dinâmica do jogo é menos dada a alterações de fundo sobre as regras mas há 2 premissas que me parecem poder ser de algum relevo:
1) é o desporto mais popular do mundo e, por isso, o que mais dinheiro gera (campeonato do mundo é o maior evento desportivo e que mais receitas devolve e o MU é o maior clube desportivo do mundo - dados estatísticos). Em sucessos deste tipo é mais difícil fazer alterações;
2) os desportos mais "desenvolvidos" e com maiores mechidas tendem a aniquilar um dos grandes atractivos populares: a vitória de David sobre Golias. Olhando para o Rugby e o Basket (os mais citados, aqui) vê-se que é raríssimo um fraco vencer um forte porque em ambos os casos não se admitem tácticas ultra-defensivas devido às regras, são ambos jogos eminentemente ofensivos.
Como se limitam as surpresas, aliena-se o efeito catártico de um fraco (a população em geral) contra um forte (o dito 1% mundial).

Rui Lança disse...

Caro Kaiser,

Estranhamente é verdade e pode ser isso que (n)os agarra tanto, perceber que o Futebol pode ser dos poucos desportos onde por ter tantos elementos em jogo e depender de factores como a sorte ou o azar como em poucos desportos (talvez pelo facto de ter tão poucas oportunidades de finalização comparativamente aos restantes desportos colectivos) afz ter esta adesão.

Como alterar não sei, mas considero que proibir ou baixar a qualidade da prática como o faz o Barcelona não é correcto.

Cumprimentos,

Luís Leite disse...

Como já provei aqui neste blog e é relativamente fácil verificar, o Soccer (Futebol Association da FIFA) não é nem o desporto mais popular do mundo (nem nada que se pareça, quais os critérios?) nem o que movimenta mais dinheiro (nem nada que se pareça).
Também não é verdade que o Manchester United seja o clube que mais dinheiro gera (nem nada que se pareça).
Basta dar uma olhada no desporto norte-americano, consultando os sites das Ligas Profissionais, para ficar arrepiado com os ordenados astronómicos que são pagos na MLB (Baseball), NFL (Football), NHL (Hockey), NBA (Basketball) e as verbas movimentadas em publicidade, sem paralelo com o Soccer (da FIFA).
O Futebol da FIFA é uma modalidade relativamente desconhecida e pouco praticada em toda a América do Norte, Ásia, África Oriental e Oceania.
Há de facto meia centena de países na Europa, na América do Sul e em parte de África, onde o Soccer (Futebol da FIFA) é o desporto mais popular, com particular fanatismo num país do extremo sudoeste europeu, cujo nome começa por "P", em que esta modalidade, ruinosa para os clubes em geral, é aproveitada para distrair a atenção da população de assuntos muito mais importantes.

JCN disse...

Atenção que no basquetebol, ou melhor, no melhor campeonato do mundo de basquetebol (na minha opinião claro), na NCAA existem muitas "cinderlas" como os próprios americanos lhes chamam.