segunda-feira, 30 de maio de 2011

Passagem de testemunho

De Pedro Marques Vidal (Professor de Educação Física e Gestor Desportivo) recebemos este texto que a Colectividade Desportiva agradece vivamente.

Olho para o estado actual do Desporto em Portugal e vejo uma prova de estafetas 4x100m, onde a equipa portuguesa falha o acesso ao pódio por dificuldades na passagem de testemunho. Triste sina a nossa de “morrer na praia” apenas por falha em pequenos detalhes. Amanhã vamos acordar e unidos na revolta vamos procurar encontrar culpados que justifiquem o infortúnio, ao invés de procurar encontrar soluções.
Na pista ao lado corre a Espanha (eterno rival lusitano), país este que teve em 1992, com a realização dos Jogos Olímpicos de Barcelona, uma oportunidade para ganhar, e adivinhe-se… agarrou-a.
O país vizinho reestruturou o seu sistema desportivo, criou e melhorou equipamentos desportivos, construi-os a pensar no futuro, rentabilizou-os, criou centros de formação, formou atletas, pensou a longo prazo, mas acima de tudo apostou no desenvolvimento do potencial humano. Formaram-se dirigentes, formaram-se gestores desportivos, formaram-se treinadores, formaram-se professores, educou-se cultural e desportivamente toda uma população, desenvolveu-se uma cultura de vitória.

Muito do que se fez na Espanha, também foi feito por cá, na memória tenho pistas de atletismo, piscinas, campos de futebol, uns ditos estádios de topo mundial hoje ao abandono, inúmeros projectos e programas de apoio.

A diferença entre fronteiras reside no facto dos espanhóis terem passado o testemunho. Deram oportunidade para que gente com formação, dinâmica, proactiva e com ideias inovadoras, tomasse o comando de clubes, associações, federações e demais instituições desportivas. Resultado desta passagem de testemunho: títulos, na Fórmula 1, no Ténis, no Ciclismo, no Atletismo, no Futebol, no Basquetebol, no Hóquei, entre outros. A par deste sucesso desportivo destaco ainda o contributo de politicas eficazes de combate ao sedentarismo e consequente contributo para a saúde de toda a população.

Portugal por outro lado estagnou, continuou a acreditar que o sucesso é sinónimo de sorte e que com as mesmas pessoas e as mesmas politicas os resultados de outrora voltariam a aparecer.
Está na hora de passar o testemunho, está na hora de inovar, fundamentalmente ao nível do dirigismo centrado no voluntarismo, do eu é que fiz, eu é que sei. O Futebol, por estranho que pareça, e por se tratar de um negócio, já o fez (ainda que limitado ao nível técnico), arriscou em técnicos jovens, ambiciosos, com mentalidades e metodologias diferentes e inovadoras. O Futebol saiu a ganhar.
Para atingirmos a excelência desportiva precisamos de lideres políticos, gestores e dirigentes que saibam escutar e questionar, saibam dialogar de uma forma construtiva, sejam reflexivos, dêem valor às pessoas e as incentivem a uma melhoria de desempenho, sejam mobilizadores, sejam capazes de reinventar procedimentos para rentabilizar instituições, sejam capazes de desenvolver processos de racionalização das despesas e incremento das receitas, que se actualizem e que não sejam adversos à mudança, que procurem desenvolver uma cultura de vitória.

Em época de eleições arrisco num apelo aos políticos e aos dirigentes desportivos – Passem o Testemunho, deixem-nos mostrar o nosso valor!

10 comentários:

Luís Leite disse...

Discordo de Pedro Marques Vidal na comparação com a Espanha.

Para além de a Espanha ser um país que na era democrática (a seguir a 1976) se industrializou e modernizou numa escala incomparável com a nossa mesquinhez, aproveitando os fundos comunitários, há dois factores que foram decisivos no sucesso desportivo da Espanha nos últimos 30 anos:

1) A oportunidade de organizar uns Jogos Olímpicos e ter investido quantias astronómicas na sua organização desportiva, com essa finalidade;

2) A rivalidade existente entre as Regiões Autonómicas, autênticos Estados dentro do Estado, uma regionalização extremamente competitiva, que em Portugal só existe nas Ilhas e quase sempre no mau sentido.

Em Portugal o Desporto nunca foi uma prioridade nem será, com excepção da clubite futebolística, que asfixia qualquer esperança de desenvolvimento desportivo global.
Os jornais desportivos praticamente só se preocupam, de forma continuada, com os "reforços" que hão-de conduzir os 3 grandes à vitória, utilizando jogadores extrangeiros.
O resto são meras curiosidades sem qualquer expressão.
Restam os negócios de oportunidade, à base de comissões, a corrupção quase generalizada e o apego a determinados lugares que dão privilégios.
Nos últimos anos, vingou também o "politicamente correcto" eleitoralista, afectando várias áreas, sem que isso mudasse nada na estrutura do Desporto português.
A verdade é que somos incapazes de mudar seja o que for e o pouco que fazemos são opções total ou parcialmente erradas.
Quanto ao dirigismo desportivo assenta em mentalidades ultrapassadas, culturalmente ultra-periféricas, bem à medida do analfabetismo funcional cada vez mais generalizado pelo facilitismo galopante.
O sucesso desportivo, ao mais alto nível, tem surgido em situações esporádicas e relativamente isoladas e circunstanciais.
A solução não passa apenas por passagens de testemunho.
Passa por uma reeducação da medíocre e mesquinha mentalidade portuguesa, ditada por chicos-espertos desenrascados, pela ideia de que toda a gente tem direitos esquecendo os deveres, que levaria décadas a mudar.

Luís Leite disse...

A frase "O Futebol saiu a ganhar" é paradigmática.
Saiu a ganhar o quê?
Os clubes estão todos tecnicamente falidos.
Os jogadores de futebol profissional são quase todos estrangeiros.
A Taça europeia para os clubes de uma segunda linha, foi ganha numa final "portuguesa" por um clube português, com 75% de jogadores estrangeiros.
Quem sai a ganhar sempre são os intermediários da "reforcite aguda".
Tudo isto num país em que Desporto é igual a Futebol...

Luís Leite disse...

No 1º comentário, a palavra estrangeiros saiu com gralha ortográfica. Pelo facto peço desculpa.

Anónimo disse...

Essa dos estrangeiros no Futebol é discutível. E quando o Real Madrid ganha com 7 Portugueses em toda a equipa (jogadores/ técnicos) é uma equipa Portuguesa ....
Se houve condições neste Pais para evoluir foi no seu desporto e como sabemos ganha menos medalhas que a Croácia. Pistas/bolsas/atletas/treinadores com bolsa etc ....

Luís Leite disse...

Anónimo:

1) Fiquei a saber que o Real Madrid é uma equipa portuguesa (não sabia);

2) Pela mesma ordem de razões, FCP, SLB e SCB são equipas sul-americanas, brasileiras e argentinas (já sabia);

3) Na minha modalidade (não é desporto, é "modalidade" e é a mais importante dos Jogos Olímpicos), a Croácia não tem mais medalhas que Portugal nem nada que se pareça, seja qual for a competição internacional ou a totalidade de todas as competições;

4) O número e o estado/qualidade das pistas, o valor das bolsas a atletas e treinadores são em Portugal ridículos e vergonhosos e não adiantam grande coisa, já que se não fossem os ordenados dos clubes e os patrocinadores não havia alto rendimento em Portugal;

5) Você, seja lá quem for, não percebe nada disto.

Com o devido respeito...

Pedro Marques Vidal disse...

Caro Luis Leite,

Quando refiro que o "Futebol saiu a ganhar", tive o cuidado de referir também que foi apenas ao nível técnico.
É consensual que o desenvolvimento da formação de treinadores de futebol em Portugal e a aposta feita por alguns clubes na sua competência, tem trazido resultados consideráveis. Olhamos para o panorama futebolístico europeu e vemos o Treinador Português bastante conceituado.
E já que referiu a Final da UEFA, os 2 treinadores presentes eram portugueses.
Em consonância com o seu comentário, também gostava que a formação de jogadores em Portugal fosse no caminho dos treinadores!

Luís Leite disse...

O nível desportivo dos países não se avalia pela nacionalidade dos treinadores, mas qualidade dos resultados desportivos dos desportistas de topo(nas modalidades individuais) e das Selecções Nacionais (nas modalidades colectivas) nas grandes competições internacionais das diversas modalidades.

Kaiser Soze disse...

Estava a dar umas voltas por aí e descobri algo quase extraordinário quanto a atletas estrangeiros.
Poderei estar enganado mas para um tipo que acompanha à distância o atletismo nacional as 3 figuras de proa, na actualidade, serão o Obikwelu, a Naide Gomes e o Nelson Évora.
O primeiro, antigo nigeriano, a segunda antiga natural de São Tomé e Principe (que representou até 2000) e o terceiro antigo Costa Marfinense (que representou até 2002).

O meu comentário não é xenófobo, nada tenho contra nenhum deles e até tenho um especial apreço pelo Obikwelu.
O que é engraçado é isto passa quase por baixo do radar porque não dão pontapés na bola.

Luís Leite disse...

A verdade é manipulável.
Não é novidade.

1) Francis Obikwelu veio para Portugal com 16 anos, para participar nos Mundiais de Juniores, ainda juvenil de 1ºano e por cá ficou. A verdade é esta: o atleta foi formado em Portugal por Fausto Ribeiro e conseguiu os seus primeiros grandes resultados e classificações como nigeriano, porque ainda não podia ser português. Francis adora Portugal desde que chegou cá e quis ser português. Rumou a Madrid, quando viu que em Portugal não havia condições para treino de Inverno.
Actualmente vive treina em Portugal, o seu país do coração.

2) Naide Gomes veio para Portugal com 7 anos e foi totalmente formada em Portugal como atleta e como pessoa. Competiu por S. Tomé e Príncipe nos Jogos Olímpicos de 2000 porque ainda não tinha mínimos de participação e S.Tomé podia inscrever uma participante feminina. Aos 20 anos, optou pela nacionalidade portuguesa e foi treinada, com a máxima dedicação e sabedoria por Abreu Matos, no Sporting.

3) Nelson Évora nasceu na Costa do Marfim por acaso. A sua ascendência é Caboverdiana. Veio para Portugal muito pequeno e fez toda a sua formação escolar e desportiva em Portugal. João Ganço foi o seu mentor e treinador de sempre. Nelson Évora é português porque quis ser português logo que foi possível.

O Atletismo Português limitou-se a descobri-los, integrá-los e a dar-lhes aquilo que pôde.
São grandes campeões portugueses, a um nível que a futebolite impede os portugueses de compreender.

José Manuel Chabert disse...

Escreve Kaizer Soze

Poderei estar enganado mas para um tipo que acompanha à distância o atletismo nacional as 3 figuras de proa, na actualidade, serão o Obikwelu, a Naide Gomes e o Nelson Évora.
O primeiro, antigo nigeriano, a segunda antiga natural de São Tomé e Principe (que representou até 2000) e o terceiro antigo Costa Marfinense (que representou até 2002)
.

Se isto não é xenofobismo, vou ali e já venho!!!

Nelson Évora vive em Portugal desde os 5 anos.

Em 2001 já participava, por Portugal, no Festival Olímpico da Juventude Europeia.

Como é que poderia representar a Costa do Marfim em 2002?!!!

Ou será que foi antes dos 5 anos, no célebre Campeonato de Mundo de bébés em estafetas?!!!!