Já há algum tempo tinha introduzido a vertente do turismo e desporto no blog. Não aprofundando muito, até porque as próprias terminologias do desporto e aventura, ou desporto na natureza ou até mesmo turismo activo possuem (todas elas) fronteiras e limites de acção e organizações dúbias quanto às suas áreas de actividade.
Na altura decidi abordar a temática pela considerável importância e contributo que o fenómeno desportivo podia e pode dar na potencialização dos recursos que o 'nosso' turismo possui. Não apenas das potencialidades e recursos naturais, mas também dos recursos humanos que nos conduzem a um local constituído por um povo simpático.
Decido voltar ao assunto, porque me encontro em Inhambane a dar formação sobre temáticas relacionadas com as anteriormente abordadas e ao ir aos locais, a falar com os técnicos da vertente desportiva e/ou turística, e recordo-me de erros que continuam a ser realizados no nosso País.
Um dos casos que nos pode dar uma 'ajudinha' é a recente controvérsia sobre a praia da Ericeira, que se tornou na primeira reserva mundial de surf da Europa, embora desde de 2007 já fosse reconhecida mas informalmente. Recentemente os mesmos surfistas colocaram uma providência cautelar contra a Câmara. Não estamos a par de toda a informação, mas estranha-se que em tão pouco tempo rapidamente os interesses de um ou ambos os lados possam interferir com a organização de todo um território que em muito tem em ganhar com esta 'distinção'. Destaca-se que o ganhar não se resume a receita financeira, mas notoriedade e criação de valor social.
Território esse que é um privilégio em termos de localização, quer devido à situação quase perfeita para a prática de uma modalidade desportiva, quer porque se encontra a uma distância relativamente próxima do maior aeroporto nacional, que pode servir para angariar mais pessoas, mais turistas, mais receita, mais reconhecimento.
À falta de uma estratégia na área do desporto aventura, desporto na natureza ou turismo activo, onde a vertente desportiva - com menor ou maior peso - não é potencializada ou colocada de parte perante outros interesses, também neste campo de acção da prática desportiva, a mesma não é organizada e por isso, desalinhada com qualquer macroestratégia que existe (?) para o desporto nacional.
Ao que se sabe, e as fontes de informação não são muitas é verdade - e aqui fica a questão se por desorganização propriamente dita ou por interesse que não seja disponibilizada essa informação - não há um sector que possa reunir a vertente desportiva no turismo e vice-versa. Isto apenas acontece quando somos confrontados com a organização de um evento de enormes dimensões. Decidindo apostar tudo em eventos rentáveis em vez de apostarmos na sustentabilidade social, económica e da actividade em si.
Estratégia essa que ao não existir, ao não merecer preocupações e uma maior dedicação, gere mal os recursos escassos que possam existir, não potencia os existentes, cria eventos com valor esporádico que aparece e desaparece tal como alguns foguetes, em que a luz dos mesmos deixa-se de ver em pouco. Curiosamente, como em alguns lançamentos de foguetes, ficam os restos, o cheiro, o lixo, etc. Também a não existência de uma estratégia desportiva e turística em alguns eventos, deixa preocupações para quem vier e o esgotar de alguma margem que ainda possamos ter.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Potencial Turístico
publicado por Rui Lança às 21:12 Labels: Gestão desportiva, Política desportiva, Prática desportiva
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11 comentários:
Depois de tanto tempo a augurar as maiores desgraças para o desporto nacional se a FPF viesse a aceitar adaptar os seus estatutos ao novo Regime Jurídico das Federações Desportivas, a Colectividade Desportiva opta agora pelo maior silêncio sobre este assunto.
Compreende-se. A FPF já aprovou os novos estatutos, adequados ao citado Regime Jurídico. E há que silenciar completamente este facto, não vá isso ser entendido como uma vitória do actual Governo...
Caro Rui Lança, aminha opinião sobre o assunto:
1) Desporto é Desporto; Turismo é Turismo;
2) O Desporto não beneficia com o Turismo; o Turismo pode (e deve) beneficiar com o Desporto;
3) Há o Desporto a sério que atrai grandes desportistas e, por via disso, atrai Turismo (espectadores);
4) Há o Desporto/Lazer que atrai Turistas, que não serão exactamente desportistas a sério, mas praticantes informais de desporto;
Os grandes eventos que têm sido realizados em Portugal, de um modo geral, não têm contribuído para uma melhoria do nível de rendimento desportivo português nas respectivas modalidades.
Embora mostrem para o exterior que Portugal existe.
Mais ou menos como o Qatar, só que o Qatar tem petróleo, é um país rico.
Há modalidades como o Golfe ou o Ténis, que do ponto de vista turístico são muito importantes para Portugal, embora a existência de uma quantidade brutal de campos de golfe e de Ténis em nada tenha contribuído para uma melhoria de qualidade do Golfe e do Ténis português.
Em conclusão:
Não existe uma relação directa entre a realização de grandes eventos desportivos em Portugal e um efectivo desenvolvimento da prática desportiva formal ou informal e muito menos do Alto Rendimento;
O Turismo tem muito a ganhar com práticas informais de Desporto e não contribui para um real desenvolvimento desportivo no nosso país.
O Desporto nacional pouco ou nada beneficia com o Turismo ou com a realização de grandes eventos, que normalmente dão um enorme prejuízo, sem qualquer retorno interessante.
E não me venham com as mini-maratonas, caminhadas e sardinhadas...
Sobre isso já me pronunciei o suficiente.
Cumprimentos
Caro Luis Leite,
Não concordo consigo, mas é mesmo assim, tratam-se de opiniões. Atenção, e posso ter expresso de forma errada a ideia que queria transmitir, não considero que o turismo e o desporto apenas 'ganham' ou devam estar juntos nos grandes eventos. Muito pelo contrário.
Mas são opiniões e acho que existe uma grande 'fatia' da população portuguesa que podia ser captada para a prática desportiva através de desporto na natureza.
Obrigado,
Cumps.
Quanto ao Caro Anónimo, validei o seu comentário apesar do mesmo não contribuir para a discussão do tema que aqui coloquei. Mas assim, não estou a silenciar o seu acto ou facto...
Obrigado.
Cumps,
Caro Rui Lança,
Eu não digo que não concordo consigo, apenas temos conceitos diferentes de Desporto. E não sei se coincidimos naquilo que tenho defendido repetidamente neste blog: existem dimensões diferentes e até contraditórias de "Desporto".
O Desporto de "alto rendimento" (a nova designação oficial), na prática profissional, nada tem a ver com o Desporto natureza, Desporto aventura ou Desporto a fingir.
E ainda temos o restante Desporto federado que não é de alto rendimento, mas que é levado a sério pelos praticantes, nas diversas modalidades. E que também pode ser profissional ou semi-profissional, quando anda perto do alto rendimento.
São realidades completamente diversas.
Concordo que determinadas regiões, pelas suas características geográficas, naturais ou artificiais, têm potencial para atrair turistas (portugueses ou estrangeiros) para a prática informal de actividades que não são mais do que entretenimento.
Para se falar em "Desporto", tem que haver espírito verdadeiramente competitivo: entrega, espírito de sacrifício, treino sistemático, vontade de melhorar a performance.
Passeatas com actividades mais ou menos "radicais" ou mini-caminhadas eventuais, com ou sem grelhados, sardinhadas, minis ou garrafões de tinto no final não são Desporto. Acredito que sejam Turismo.
Um abraço.
A mensagem que recebi e aqui se pode ler por oportuna:
«LISBOA E O TURISMO
UM CONGRESSO HÁ 100 ANOS...
Entre 12 e 20 de Maio de 1911, mais de seis meses após a implantação da República em Portugal, tinha lugar, na cidade de Lisboa, o IV Congresso Internacional de Turismo. Ainda antes do fim dos trabalhos, a 18 de Maio, como corolário lógico do congresso, o Diário do Governo já fazia saber que o Governo Provisório da República Portuguesa decretava a criação de uma Repartição do Turismo no Ministério do Fomento. O impacto do congresso do turismo na imprensa da época foi bastante significativo, sobretudo a partir do arranque do evento, a 12 de Maio, com honras de primeira página nalguns jornais, como foi o caso d’O Mundo, de França Borges. Para assinalar esta efeméride, 100 anos depois, a Hemeroteca Municipal de Lisboa reúne aqui um conjunto de conteúdos digitais que o ajudarão a conhecer melhor o congresso internacional do turismo e o seu significado na cidade de Lisboa.
CONTEÚDOS DIGITAIS NA HEMEROTECA DIGITAL
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt
• A cópia digital do Decreto que cria a Repartição do Turismo, publicado no Diário do Governo de 18 de Maio de 1911, disponível aqui [PDF];
• As reportagens fotográficas das sessões plenárias, das festas e visitas realizadas no âmbito do programa lúdico e social do congresso, dadas à estampa nas revistas Brasil-Portugal, de 16 de Maio e 1 de Junho de 1911, O Ocidente, de 20 de Maio de 1911, e na Ilustração Portuguesa, de 22 de Maio de 1911;
• As “Memórias duma congressista”, fantasiadas pelo semanário de caricaturas e humorístico O Zé, a 23 de Maio de 1911, e que podem ser lidas aqui [PDF];
• O divertido “Guia para uso dos touristes congressistas”, que O Século. Suplemento Ilustrado, se encarrega de publicar, na sua edição de 18 de Maio de 1911, consultável aqui [PDF];
• O desenho humorístico de Silva Monteiro, sobre um grupo de congressistas à espera do eléctrico, intitulado “Estudos do Congresso de Turismo”, que Os Ridículos puseram na sua primeira página, de 17 de Maio de 1911, e que pode ser visto aqui [PDF].
• O primeiro número da Revista de Turismo: publicação quinzenal de turismo, propaganda, viagens, navegação, arte e literatura, que começou a publicar-se em 1916 e foi a primeira revista, em Portugal, especializada no tema;
Para saber mais sobre o IV Congresso Internacional de Turismo, veja, aqui, o programa de actividades que a Hemeroteca Municipal preparou para si, associando-se, desta forma, ao Centenário do Turismo em Portugal; disponibilizamos também aqui o guião da mostra bibliográfica realizada nesta biblioteca, bem como a ligação ao catálogo colectivo das bibliotecas municipais de Lisboa, com informação sobre alguns dos periódicos de turismo existentes na Hemeroteca Municipal, aqui. Para conhecer as comemorações oficiais, consulte o site do centenário do turismo, aqui.»
Fim da mensagem
Caro Rui Lança
Para a história do Turismo, os conteúdos digitais da Hemeroteca da Câmara Municipal de Lisboa, permitem-nos saber que:
Entre 12 e 20 de Maio de 1911, mais de seis meses após a implantação da República em Portugal, realizou-se, na cidade de Lisboa, o IV Congresso Internacional de Turismo. Ainda antes do fim dos trabalhos, a 18 de Maio, como corolário lógico do congresso, o Diário do Governo já fazia saber que o Governo Provisório da República Portuguesa decretava a criação de uma Repartição do Turismo no Ministério do Fomento. O impacto do congresso do turismo na imprensa da época foi bastante significativo, sobretudo a partir do arranque do evento, a 12 de Maio, com honras de primeira página nalguns jornais, como foi o caso d’O Mundo, de França Borges.
A Hemeroteca Municipal de Lisboa reuniu os seguintes conteúdos.
Cópia digital do Decreto que cria a Repartição do Turismo.
As reportagens fotográficas das sessões plenárias, das festas e visitas realizadas no âmbito do programa lúdico e social do congresso, dadas à estampa nas revistas
“Brasil-Portugal”, de 1 de Junho de 1911, a pp 130;
“O Occidente”, de 20 de Maio de 1911;
“Ilustração Portuguesa”, de 22 de Maio de 1911, a pp 649-650.
O semanário humorístico “O Zé”, de 23 de Maio de 1911, fantasiou As memórias duma congressista.
O Suplemento Ilustrado do Século, de 18 de maio de 1911, publicou o famoso e divertido Guia para uso dos touristes congressistas.
“Os Ridículos”, de 17 de Maio de 1911, publicou uma curiosa coreografia de Congressistas à espera do eléctrico.
Finalmente, em 5 de Julho de 1916 apareceu o primeiro número da primeira revista de turismo publicada em Portugal, quinzenário, com o nome de Revista de Turismo
Para quem estiver interessado poderá saber que há uma “Mostra Bibliográfica”-
“Revistas de Turismo na Colecção da Hemeroteca de Lisboa (1911-2011)”, inaugurada a 3 do corrente mês e está patente ao público até 11 de Junho, na Hemeroteca Municipal de Lisboa _ Átrio e Escadaria.
Cordialmente
Caro João Boaventura,
Diria muito obrigado pelo contributo e o acrescentar de mais e melhor informação.
Diria apenas que nos dias que correm está a realizar o congresso de turismo...cem anos após esse evento que nos recorda.
Obrigado e com os meus melhores cumprimentos,
Caro Rui Lança
A ideia da Hemeroteca da CML foi associar, o centenário da República ao do Congresso de Turismo, neste caso, V Congresso Internacional de Turismo, a realizar em Peniche, de 23 a 25 de Novembro, recorrendo à memorização do IV Congresso similar ocorrido em Lisboa, em Maio de 1911.
Os temas a tratar no Congresso de Peniche inserem-se nestes Tópicos.
Por isso fez bem em relembrá-lo.
Cordialmente
Caro Rui Lança
Para uma informação mais completa sobre a Exposição relacionada com o Turismo, organizada pelo Comissariado do Centenário da República, há uma oferta de 5 núcleos diferenciados no sítio com a designação de Viajar, a merecer uma visita.
De caminho, uma releitura de artigo ínsito no Fórum Olímpico, assinado por José Pedro Sarmento, com o título Desporto e Turismo, no âmbito do seu oportuno post, bem como a monografia de Pedro Guedes de Carvalho, da Universidade da Beira Interior, com um texto sobre Turismo de Prática Desportiva: Um Segmento do Mercado do Turismo Desportivo.
Cordialmente
Continuo a achar que Turismo e Desporto são conceitos antagónicos.
Não há desportistas/turistas, apesar de os desportistas viajarem muito por necessidade/obrigação, o que é desgastante.
Há turistas que praticam, sem grandes preocupações competitivas, algumas modalidades, como o golfe ou o ténis.
Há os malucos/espectadores, entre os quais me encontro, devotados a determinadas modalidades, que viajam atrás do Desporto quando podem.
E há os que praticam exercício físico e o brincar/jogar qualquer coisa com alguma regularidade, entre os quais também me encontro actualmente.
Turistas ou não.
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