sexta-feira, 1 de julho de 2011

Os pequenos clubes e a criação de valor (I)

A primeira parte de um novo texto de Fernando Gaspar, que a Colectividade muito agradece.


Hoje em dia e nos próximos tempos, haverá certamente, uma dificuldade acrescida na gestão corrente dos pequenos/micro clubes no nosso país. Dificuldade essa que é imediata e intuitiva pela crise económica que se vive e que se prevê viver nos próximos tempos.
Certamente que os cortes, rapidamente chegarão às autarquias que por sua vez cortarão nos apoios ao associativismo. Cortes que chegarão igualmente rápido aos rendimentos das famílias e consequentemente influenciarão as opções e a aplicação dos mesmos. Mais ainda, num país onde as culturas, desportiva e a da actividade física, são meramente uma miragem, com percentagens de participação irrisórias, o desporto será um dos elos mais fracos e um dos mais fáceis de quebrar.

Isto será a consequência imediata, simples, directa e que certamente trará enormes dificuldades a estes pequenos clubes, com estruturas directivas reduzidas, massas associativas inexistentes, onde o sócio se confunde com o utilizador e que proporcionalmente até ao momento têm conseguido envolver quantidades significativas de participantes, à custa da carolice, do trabalho reactivo e de apoios financeiros espontâneos, aleatórios e pouco exigentes. Mas depois desta consequência imediata aparecerá a consequência a médio longo prazo...
Esta tipologia de clubes não está preparada para fazer face aos rombos orçamentais que sofreu recentemente e que irá continuar a sofrer, não reuniu as condições durante a última década para poder vir a fazer face a uma situação como a de os dias de hoje, não criou uma almofada de valor material e imaterial capaz de amortecer estes impactos.

Nos últimos anos, a grande maioria dos clubes utilizou essencialmente os valores provenientes das autarquias em articulação com os valores das inscrições e mensalidades para gerir o seu orçamento anual e eventualmente algum pequeno, diria insignificativo, patrocínio (que normalmente até era em géneros e não em valor). Os proveitos obtidos desta forma cobriam as despesas com técnicos (quando pagos), algum material e deslocações e desta forma simples se fazia o balanço dos pequenos/micro clubes em Portugal.
O mundo avançou e mudou, rápido e drástico e os clubes não investiram em si. Na sua imagem (não me refiro apenas ao logótipo e/ou equipamento de jogo), na sua MARCA, no seu valor.

Estes clubes, confortáveis com os valores com que eram financiados mantiveram durante "n" tempo os valores de inscrição e participação nas suas modalidades e muitas vezes, independentemente do valor educativo, formativo, desportivo, social que criavam, se verificou que o valor monetário cobrado, ficava muito aquém do valor que era gerado nas valências referidas. Inclusivamente se deu o caso de serviços que em contraciclo com a sua especialização, aumento de necessidades materiais e sua evolução, aumento da qualidade técnica, aumento dos resultados, se depreciavam consideravelmente ao ponto de nem sequer acompanharem a evolução da inflação. Exemplo: um serviço desportivo que há 20 anos custava 50 contos/ano, ou seja 250 euros, hoje custa 180.

Hoje, perante a crise económica e com a falta de apoios externos, vêem-se a braços com a dificuldade em alterar a sua política de preços e em cobrar os valores mínimos para a manutenção da sua actividade de forma independente, pois seria um aumento considerável que os clientes não compreenderiam. Há clubes que mesmo com mensalidades de 40 euros não conseguem cobrir o valor gerado.
Considerando que quem cobra esse valor, oferece em troca sessões diárias, 40 euros equivalem a um valor de menos de 2 euros por sessão, para a prática de uma actividade especializada, com requisitos técnicos e materiais exigentes e com o valor educativo, formativo, desportivo e social, na grande maioria das vezes, sobejamente reconhecido, estamos a falar de um valor por sessão irrisório, quando comparado por exemplo um explicador de uma disciplina escolar cobra cinco vezes ou mais esse valor por hora (quando uma sessão desportiva, tem por vezes hora e meia ou mesmo duas horas). Mas estes foram exigindo mais à medida que a sociedade os procurava, o desporto e a actividade física formal, não!
Hoje a sociedade em geral não conseguirá de forma generalizada apoiar os clubes, tal como estes fizeram durante anos a fio a essa mesma sociedade, proporcionando a geração de valores a preços abaixo do custo. Irão sobreviver aqueles que mais rapidamente se adaptarem e começarem a gerar valor próprio e também o valor que a sociedade exige para poder reconhecer (pagar) esse mesmo valor. Irão sobreviver aqueles que aprenderem a gerir eventuais apoios públicos e privados numa óptica de reforço do trabalho realizado e uma oportunidade de gerar ainda mais valor e não como o sustento da sua actividade.

1 comentário:

Luís Leite disse...

O clubismo, na sociedade pós-industrial, tende a desaparecer.
O igualitarismo, filho do facilitismo e do nivelamento por baixo preconizados pelos Governos socialistas/sociais democratatas que mandaram na Europa das últimas décadas transformou as sociedades em chusmas de analfabetos funcionais maioritariamente incultos e ignorantes.
Desta realidade só podia florescer a "CLUBITE" futebolística, inflamação contagiosa dos neurónios, geradora de violência, de javardice e de negociatas vergonhosas.
Assim, "REFORÇOS" sem fim é o que verdadeiramente interessa ao pessoal, como provam as capas dos jornais desportivos.