Jorge Silva Melo, numa entrevista à revista Pública(14.8.11) critica a "festivalização" da Cultura numa sociedade marcada pela banalização e dominada pela superficialidade da imagem. Não pude deixar de pensar quanto de semelhante se está a passar com o desporto.
A festivalização do desporto através da promoção da actividade física enquanto conceito genérico. Os grandes eventos de massas, ( minis, meias-maratonas, os passeios de bicicletas)transformadas em estratégia de negócio para os seus promotores. O desporto desligado de qualquer projecto formativo, reaccionário a qualquer dimensão filosófica ou de valores. O temor reverencial a qualquer discussão epistemológica ou de exercício intelectual. As escolas e as escolinhas. A futebolização do debate desportivo cuja principal vítima começa por ser o próprio futebol carente de quem o pense e o estruture.. A infantilização das relações humanas com comportamentos de fanatismo em exercício televisivo bem evidentes em alguns programas entre simpatizantes de clubes rivais. A degradação da educação física escolar que não sendo uma questão nova, é-o no facto de ter saído completamente da agenda política. Os grandes equipamentos que honram quem os mandou fazer e financiou mas que são uma permanente dor de cabeça para quem os tem de gerir. A crescente precariedade associativa. O determinismo da contingência financeira. Um ordenamento fiscal insensível à especificidade do trabalho desportivo. E uma Europa que ajudou no desporto a um mercado que não soube regular e que hoje está dependente das grandes multinacionais dos eventos desportivos que foi aquilo em que se transformaram as federações desportivas internacionais. E os exemplos poderiam multiplicar-se.
O desporto é um conjunto de práticas e de narrativas, de caracteres e formas de se exprimir. Não tem uma dimensão única. É plural. Para quem acompanhou a pujança e o movimento desportivo no terço final do século passado não pode deixar de se sentir órfão de um tempo que, era então, de questionamento e de interrogação sobre o futuro desportivo das comunidades. Hoje reflecte-se e debate-se menos o desporto. A bibliografia é bem menor. A globalização - esse estado superior do capitalismo+Internet - tudo uniformizou. Tratando cada dissidência, que mais não é que uma resistência ao pensamento único dominante, como uma espécie de pensamento estranho, próprio de gente desintegrada e que não consegue perceber estes novos tempos.
As políticas públicas desportivas sofrem as consequências deste estado de coisas. E por isso estão cada vez mais parecidas, não se percebendo o que as distingue no governo de um ou de outro partido. A chegada ao poder de um tipo de pessoas que já foram figuras secundárias de elites governamentais mais do que as abrir ao conhecimento,à inovação, ao reformismo e à mudança expõe-as ao amolecimento, à dependência e à complacência com as decisões tomadas superiormente. Não é um problema de pessoas. É uma consequência da situação e dos percursos.
A situação do País também não ajuda. O acordo com a troika dá uma legitimidade acrescida a tudo o que seja feito em nome de uma economia de custos. O que é popular e tem sempre,a seu lado, boa imprensa. Mas cada decisão política é uma opção entre outras possíveis que, se não é devidamente explicada, oculta mais que aquilo que revela. Os próximos desafios e as soluções políticas que forem adoptadas, que necessariamente, vão exigir rupturas, carecem por isso de cuidada reflexão e explicação. Não como encenação de exercício comunicativo. Mas como exigência democrática.Com frontalidade e transparência.
A festivalização do desporto através da promoção da actividade física enquanto conceito genérico. Os grandes eventos de massas, ( minis, meias-maratonas, os passeios de bicicletas)transformadas em estratégia de negócio para os seus promotores. O desporto desligado de qualquer projecto formativo, reaccionário a qualquer dimensão filosófica ou de valores. O temor reverencial a qualquer discussão epistemológica ou de exercício intelectual. As escolas e as escolinhas. A futebolização do debate desportivo cuja principal vítima começa por ser o próprio futebol carente de quem o pense e o estruture.. A infantilização das relações humanas com comportamentos de fanatismo em exercício televisivo bem evidentes em alguns programas entre simpatizantes de clubes rivais. A degradação da educação física escolar que não sendo uma questão nova, é-o no facto de ter saído completamente da agenda política. Os grandes equipamentos que honram quem os mandou fazer e financiou mas que são uma permanente dor de cabeça para quem os tem de gerir. A crescente precariedade associativa. O determinismo da contingência financeira. Um ordenamento fiscal insensível à especificidade do trabalho desportivo. E uma Europa que ajudou no desporto a um mercado que não soube regular e que hoje está dependente das grandes multinacionais dos eventos desportivos que foi aquilo em que se transformaram as federações desportivas internacionais. E os exemplos poderiam multiplicar-se.
O desporto é um conjunto de práticas e de narrativas, de caracteres e formas de se exprimir. Não tem uma dimensão única. É plural. Para quem acompanhou a pujança e o movimento desportivo no terço final do século passado não pode deixar de se sentir órfão de um tempo que, era então, de questionamento e de interrogação sobre o futuro desportivo das comunidades. Hoje reflecte-se e debate-se menos o desporto. A bibliografia é bem menor. A globalização - esse estado superior do capitalismo+Internet - tudo uniformizou. Tratando cada dissidência, que mais não é que uma resistência ao pensamento único dominante, como uma espécie de pensamento estranho, próprio de gente desintegrada e que não consegue perceber estes novos tempos.
As políticas públicas desportivas sofrem as consequências deste estado de coisas. E por isso estão cada vez mais parecidas, não se percebendo o que as distingue no governo de um ou de outro partido. A chegada ao poder de um tipo de pessoas que já foram figuras secundárias de elites governamentais mais do que as abrir ao conhecimento,à inovação, ao reformismo e à mudança expõe-as ao amolecimento, à dependência e à complacência com as decisões tomadas superiormente. Não é um problema de pessoas. É uma consequência da situação e dos percursos.
A situação do País também não ajuda. O acordo com a troika dá uma legitimidade acrescida a tudo o que seja feito em nome de uma economia de custos. O que é popular e tem sempre,a seu lado, boa imprensa. Mas cada decisão política é uma opção entre outras possíveis que, se não é devidamente explicada, oculta mais que aquilo que revela. Os próximos desafios e as soluções políticas que forem adoptadas, que necessariamente, vão exigir rupturas, carecem por isso de cuidada reflexão e explicação. Não como encenação de exercício comunicativo. Mas como exigência democrática.Com frontalidade e transparência.
18 comentários:
Alinho totalmente com o pensamento de JM Constantino (e com JS Melo).
E por isso, sou céptico (será que agora se escreve cético?).
Quanto ao Desporto português, será que alguma vez na nossa História existiu uma "política desportiva" com objectivos perfeitamente definidos e uma estratégia clara para os alcançar?
Julgo que não.
Na Assembleia da República, por exemplo, o Desporto, salvo determinados interesses futebolísticos e clubistas, nunca existiu.
Porque a cultura desportiva, entre os deputados, é quase nula.
Isto facilita muito a tarefa aos Governos quando toca a legislar.
O país está, mais do que nunca, completamente rendido à clubite futebolística e ao politicamente correcto das "caminhadas" e do "mexa-se".
Na Escola, nos últimos 30 anos, nivelou-se por baixo até chegarmos ao estado actual de analfabetismo funcional maioritário e quase generalizado.
Com uma população maioritariamente inculta e que escreve e lê mal ou muito mal, come "fast food" e não sabe a tabuada, nada há a esperar, também na área do Desporto.
A "cultura" dominante é aquela que se mostrou há dias em Londres.
Gente nova com capuzes, gorros e bonés com a pala para trás.
Que usa "ténis" de marca mas não faz desporto.
Que só quer divertir-se à vontade, sem cumprir quaisquer regras.
Quando os pais perderam o controlo de tudo...
O zero absoluto da moral e da ética.
Lá como cá.
Este texto de JMConstantino é a expressão da impotência. É um lamento, e uma evidente derrota perante a realidade. Mas também, uma opinião que volta a passar ao lado da questão necessária.
Volta a não apresentar um modelo de desenvolvimento desportivo que torne compreensível para o leitor qual é a solução proposta, e a lógica das opiniões que escreve. Onde estão esse modelo e essa solução necessárias neste momento para Portugal, capazes de satisfazerem as legítimas aspirações do «quem». Isto é, as legítimas aspirações da heteróclita população que vive no território nacional. Onde está a tal folha A4 que explica de modo simples e sintético o que se propõe?
Era certo: meia dúzia de dentro do Estado, mais meia dúzia do lado de fora, com esta «direção» e com este «sec», mesmo com o dinheiro que não há (porque, como de costume, foi gasto para os seguintes pagarem), e reformávamos a decrépita política desportiva portuguesa. Sabíamos bem o que fazer; como fazer; com quem fazer; que resultados alcançar; quanto tempo demorava e custava…
Doutro modo, já pressinto o cheiro do exame dos mesmos. Aquele mosquedo de que o Eça falava, e que se alimenta sempre de fezes. É nestes primeiros tempos da vinda dos «novos» que se juntam, a enxamear os presidentes e os governantes, até lhes turvarem a visão e a acção.
A causa da destruição da prática desportiva da maioria da população portuguesa não se deve àquilo que JMConstantino diz nesta mensagem. Nem muito menos ao que dizem os que com ele comungam no erro que persiste há 30 anos. O qual é a causa da perda de prestígio da acção do Estado e dos «institutos» que tutela. Uma lenta agonia de que são também culpados. Falo do crime lesa-desporto de que são responsáveis. Falo da destruição do associativismo-de-base, da destruição de todas as outras formas de fazer competição desportiva que não seja a do alto-rendimento, sempre com o cop a comandar e as federações a soçobrarem. Destruíram tudo, arrasaram tudo na sua passagem. Pilharam toda a competição feita por todos aqueles portugueses e portuguesas que não querem, nem têm condições fisiológicas e metabólicas, para irem aos campeonatos internacionais e aos jogos olímpicos. Amputaram o desporto a todo o percurso de vida daqueles que já não têm idade para ganharem medalhas olímpicas mas querem continuar a fazer «desporto de competição» (não há outro que não seja de «competição», mas há outro que não é de «competição de alto-rendimento»).
As teorias filosóficas, e as centenas de artigos e escritos desses, que enaltecem a exclusividade da competição dominada pela «ideologia do alto-rendimento», contribuíram para roubar o desporto a milhares de portugueses e de portuguesas, sucessivamente ao longo de 30 anos. Foi esse mosquedo que enxameou a cabeça aos presidentes dos institutos e aos sucessivos governantes, sem que ninguém os pusesse na ordem. E fizeram-no, pasme-se, com o dinheiro dos contribuintes pobres a quem sonegaram o desporto.
Quando alguém opõe “caminhadas” ou «actividade física» a «desporto» está a tentar enganar. Está a mentir descaradamente, ou então, está dentro de uma ideologia de que não tem consciência. Ou, está a tentar lavar as mãos como Pilatos. A questão não é entre «actividade física» e «desporto», a questão é entre «desporto de alto-rendimento» e «desporto sem ser de alto rendimento». A questão é a de quanto o Estado dá a um e a outro, e se a proporção está eticamente certa para que hajam cidadãos que não sejam espoliados do acesso ao Desporto.
Tentam enganar os incautos (sobretudo os políticos e os inexperientes) com a ideia de que «competir para ganhar», «competir para ganhar entre quem for, com que idade se tiver, através de que modalidade se proporcionar» … não é Desporto. Tentam negar a outra forma de praticar Desporto que, aliás, já esteve enraizada na Cultura dos povos e das comunidades portuguesas, mas que foi vilmente pilhada e incendiada pelos inquisidores e ideólogos do alto-rendimento.
Até quando?
Funcionário do Estado
Ó Funcionário do Estado,
Pelos vistos, ao fim de tanta conversa, você não aprendeu nada.
Como não tenho paciência para voltar a repetir todos os argumentos apresentados anteriormente, só espero que você não tenha, nem venha a ter, quaisquer responsabilidades políticas ou técnicas na área do Desporto.
Não é que eu tenha quaisquer esperanças na nova governação...
Mas você, insistindo no nivelamento por baixo (gostava de saber onde está a competição nas "caminhadas"), revela não perceber mesmo nada da essência do Desporto!
Pela última vez: Desporto é competição e o objectivo (sempre foi e será) descobrir o(s) melhor(es), não os que não se ralam nem os piores!
São os melhores que atraem jovens para o Desporto!
Quem quiser brincar ao Desporto ou a outra coisa qualquer, sempre pôde, pode e poderá fazê-lo em qualquer lugar, desde que não perturbe a ordem pública.
Você quer dar-lhes dinheiro? Instalações desportivas iguais à do desporto federado à borla?
Já bastam as dezenas de cortes da via pública, que são feitos para se realizarem caminhadas, de que se retiram dividendos meramente políticos, transtornando a vida à maioria da população.
Sobre a “festivalização” dá que pensar. Alguma vez desporto sem ela?
Porque o início, em 776 a.C, começou como festival. Mas em Roma, mais de mil anos depois, quando o Édito do Teodósio lhe pôs fim, também se tratava de festival. E no novo início, em 1896, também foi em festival. Até a dita “ginástica sueca”, ou mesmo a “de Ling”, faziam aqueles festivais geométricos, em que “corpos sãos em mentes sãs” se alinhavam todos/as de branco em quadradinhos e losangos estéticos, para o gozo festivaleiro da moral Moderna. E os saraus gímnicos (de propósito para não falar de futebol e de olimpícos) faziam aquelas exibições no Circo Price, ou nos Recreios Artísticos da Amadora, onde as senhoras se aperaltavam todas, e os senhores calçavam sapatinhos de verniz para ver os “gymnastas”.
Portanto a questão é saber de que tempo e de local JMConstantino fala, em que não houve no desporto “festivalização”.
Até poderíamos encontrar uma lacuna nas modernas definições de «desporto», e passar-se a incluir o «público» como condição da sua própria definição.
Ou estarei errado?
Funcionário do Estado
Vou repetir o que por varias vezes já disse:o futuro do desporto nacional está na folha A4 que apresentei ao anterior governo.
Funcionário do Estado
Funcionário do Estado
Você contradiz-se.
Então se para si Desporto é, essencialmente, poder andar a brincar informalmente, fazendo qualquer coisa que "mexa" com a gente...
Acha que dois amigalhaços a fazer uma caminhada de 10 minutos a 15 minutos por quilómetro é festivaleiro?
Eu acho que não!
O mal da festivalização é fingir que um evento tem valor desportivo quando não tem, montando organizações caríssimas, com financiamentos públicos ou semi-públicos, sem qualquer retorno desportivo para o nosso país.
Foi isso que JM Constantino quis dizer.
Acho eu!
No meu tempo, quando a quarta-classe-bem-tirada era dada pelos mestres-escola, dizia-se que quem não sabia pôr uma ideia numa folha, e precisava de mais, não sabia o que estava a dizer.
Mas isso era nesse tempo.
Hoje, vejo que foi uma bela lição. Tinha razão o mestre-escola. Agora escrevem muito e não dizem nada. Mas percebe-se porquê, é que hoje, uma dessas quartas-classe-bem-tiradas vale mais do que muitos mestrados e doutoramentos. Mas isso era no tempo em que havia Professores.
O Funcionário do Estado anterior, que o JMConstantino consentiu, mostra que a folha A4 está a meter algum medo.
Não sei porque motivo será. Se essa não presta, onde estão as dos que se atemorizam?
E depois, um Funcionário do Estado que se preze trabalha sempre para o País, e a Bem da Nação. Está sempre disponível para dar o que sabe a quem mereceu o escrutínio democrático do Povo. Não trabalha para seitas nem para mordomos. Não tem donos. Mas isso são os desse tempo, dos mestres-escola e das quartas-classes. Será que ainda restam alguns?
É a Vida, não é?
Funcionário do Estado
Funcionário do Estado
A 4ª classe de antigamente (a anterior ao 25 de Abril) que eu concluí em 1965, nada tem a ver com o 4º ano de escolaridade actual.
Sendo eu professor, posso dizer-lhe que aprendia-se bem mais e melhor do que com o actual 9º ano de escolaridade, apesar da diferença de capacidades cognitivas entre os 9/10 e os 14/15 anos.
Além disso, havia respeito pelo Professor e pelos mais velhos, coisa que praticamente desapareceu.
As regras da Escola aprendiam-se nas aulas, não eram necessários Regulamentos Internos nem Estatutos do Aluno para nada, que actualmente existem, mas que raramente são cumpridos, ficando os prevaricadores quase sempre impunes.
A educação era dada pelos pais em casa, o que raramente acontece agora, em que a Escola tenta desesperadamente fazer os possíveis para civilizar hordas (não turmas) de jovens insubordinados que vão para a escola para a brincadeira e comer barato ou à borla.
O estado a que o nosso país chegou é resultado de políticas de Educação (eu diria Ensino) completamente erradas, iniciadas ainda com a reforma de Veiga Simão antes do 25 de Abril e que se têm agravado exponencialmente ao longo das décadas, no nivelamento por baixo da designada ESCOLA DE MASSAS.
Com um país em que estão a chegar ao Poder os que nasceram e cresceram neste regabofe, com Licenciaturas que não valem um antigo 5º ano do Liceu, Mestrados que não valem um antigo 7º ano do Liceu e Doutoramentos que não valem uma Licenciatura anterior ao 25 de Abril e sobretudo sem valores morais e éticos, o que é que é possível fazer?
Felizmente temos uma folha A4, com receitas que eu lamento nunca ter tido a possibilidade de ler, a fim de lhe poder dar toda, alguma ou nenhuma razão.
É que eu, sinceramente, nesta conjuntura cultural, só consigo fazer diagnósticos.
Tratamentos, a existirem, seriam tão demorados e difíceis de implementar, que a esperança perdeu-se mesmo.
Um tão Funcionário do Estado como você.
Luis Leite
Você com o seu desejo indomável de se vangloriar, quer das suas ideias, quer da sua longuíssima experiência de dirigente desportivo ligado ao desporto de rendimento, atropela até aqueles que elogia pelas ideias expressas nos seus post's. Por exemplo: qual será a sua ideia sobre os documentos produzidos por JMC aquando da sua passagem pelo IDP? Não foram documentos orientadores para uma política desportiva? Eram assim tão maus que nem merecem uma referenciazinha da sua parte? Ou, confesse lá, nada disto é do seu tempo e ignora por completo a existência de tais trabalhos. Julga mal quando julga que na nossa História nunca existiu uma política desportiva. A sua experiência e conhecimento é que não chegam muito longe. Saberá, por exemplo, alguma coisa sobre o que foi produzido, logo após o 25 de Abril, pela equipa de Alfredo Melo de Carvalho, na antiga DGD? Vá a correr ao Google e saque alguma informação sobre este nome. Era comunista sim senhor, mas ficará na História do desporto português pelo seu esforço, desenvolvido no sentido de definir (e operacionalizar) aquilo que você afirma nunca ter havido em Portugal, uma política desportiva. Apesar de nada disto (políticas de JMC ou AMCarvalho) ser do seu tempo de intenso estudo do desporto português, pense duas vezes antes de chamar ignorante a quem quer que seja. Como lá pelo atletismo ninguém se ofende com a sua vaidade, nem dão por isso, sente, certamente, que pode afirmar tudo o que lhe vem à cabeça. Muito haveria a dizer sobre a sua sabedoria no que respeita à actividade física, ao exercício físico e ao desporto, ao "mexa-se" e às caminhadas. Ficará para outra altura. Entretanto vá-se informando e documentando. Claro que, para si, não é necessário.
Mais um funcionário do Estado
Pululam os Funcionários do Estado anónimos.
Por acaso, você está com azar.
Conheço relativamente bem o que Alfredo Melo Carvalho e a sua equipa comunista escreveram e fizeram, num tempo de revolução que passou à História e que eu também vivi como atleta e estudante universitário.
Basta dizer que eu também me vi metido em campanhas "cubanas" demagógicas como o "Atletismo à Porta de Casa", que não deu em nada...
Posso dizer que li quase tudo o que José Manuel Constantino escreveu sobre Desporto.
Comprado na Feira do Livro.
Mas a mim o que me interessa não são só documentos orientadores.
Interessa-me saber se alguém acha que até hoje alguma vez existiu uma "política desportiva" com objectivos perfeitamente definidos e uma estratégia clara para os alcançar.
E já agora, que tenha passado do papel e produzido resultados significativos, sem demagogias e festivalização.
Eu acho que não, ou o Desporto português não estaria como está, na cauda da Europa.
E mais, neste pobre país partidocrático e medíocre, nivelado por baixo, julgo que é impossível.
Quanto a "desejos indomáveis de se vangloriar", "atropelamentos", "esforços", "ofensas e vaidades", etc. não me dou ao trabalho de comentar.
Concorde-se ou não, todos têm direito a emitir as suas opiniões.
E eu também tenho o direito de dizer tudo o que me vem à cabeça! Peço desculpa se ofendi alguém directamente, no calor da troca de argumentos.
Um Funcionário do Estado (não anónimo)
Ao Luìs Leite só lhe falta ler a folha A4 do funcionário público para ficar a conhecer o que é uma política desportiva....
Sobre quem acha que as orientações políticas delineadas por JMC se vendem ou venderam na Feira do Livro ou que o projecto "Atletismo à porta de casa" foi uma campanha "cubana" demagógica está tudo dito, ou quase tudo. Sobre os seus conhecimentos acerca dos documentos produzidos por AMCarvalho e a sua equipa comunista não será necessário apresentar provas (um título de um livro ou de um documento). O seu conhecimento baseia-se no facto de ser, na altura, atleta e estudante universitário. Para saber algo mais sobre esses projectos e movimentos sugiro-lhe que fale com a mesma pessoa que, de forma tão convincente, lhe explicou a influência da África do Sul na mentalidade e nas atitudes dos atletas moçambicanos da época colonial. Precisamente o Prof. António Vilela. A não ser que agora o apelide de perigoso comunista, demagogo e "cubanizado / cubanizador". Embora você nunca se deixe surpreender ou não o confesse, fique sabendo que um dos responsáveis pelo êxito do atletismo moçambicano, foi também um dos principais responsáveis do atletismo à porta de casa. Prof. António Vilela. E, já agora fique, também, a saber que o projecto "Atletismo à porta de casa" não foi significativamente diferente de projectos lançados em Moçambique, como por exemplo, se a memória não me atraiçoa, o "Projecto do Caniço", projecto que levou o desporto aos jovens dos bairros periféricos de Lourenço Marques. Coisas de "cubanos"... Se quiser mesmo saber, de forma séria, algo fundamentado sobre aquilo que fala estude de forma longitudinal tudo o que foi produzido no desporto português ao longo dos anos. Talvez consiga perceber que há algo mais par além daquelas que são, em seu entender, as grandes causas do nosso subdesenvolvimento desportivo: questões "culturais", pressão excessiva que o futebol exerce na sociedade desportiva nacional e, claro está, a "delinquência dirigente" que por aí se encontra em cada esquina do desporto nacional (classe dirigente essa a que você pertenceu, de onde trouxe toda a sua experiência, mas que nunca denunciou como maléfica enquanto esteve no seu seio). Apesar do seu convencimento de que o desporto português nada lhe esconde seria bom que, de forma mais humilde, procurasse estudar aquilo que realmente aconteceu ou tem acontecido no desporto nacional para além daquela "espuma" superficial a que se refere sistematicamente. JMC referia-se, e muito bem, aos tempos (finais do séc.XX) saudosos em que o desporto se discutia e reflectia de forma mais séria e aprofundada.
Saudações cordiais.
PS. O meu anonimato par além da cobardia que lhe é inerente é uma vantagem para si. Pode, assim, insultar à sua vontade. O que lhe faltar em argumentos e conhecimento pode, à sua vontade, transformar em insulto.
Há anónimos que, pelo que escrevem e como escrevem, deixam do ser.
E não é preciso ser bruxo.
1) As publicações editadas da autoria de JM Constantino venderam-se, sim, na Feira do Livro pois foi lá que comprei as que possuo; eu não disse que tinha lido tudo;
2) A campanha "Atletismo à Porta de Casa", em que estive envolvido em 1975, e enquanto me obrigaram a perder um ano por causa de um malfadado "serviço cívico" inútil, foi organizada pelo Prof. António Vilela, comunista convicto desde sempre (ao contrário de outros que viraram a casaca) e por quem tenho respeito e consideração;
3) O facto de ter consideração intelectual pelas pessoas, mesmo por alguns comunistas convictos, não significa que concorde com tudo aquilo que fizeram, nem nada que se pareça. Muito pelo contrário.
A campanha "Atletismo à Porta de Casa", mesmo contextualizada à época, foi um fracasso bem intencionado, "cubanizante", utópico, com pormenores curiosos, que me escuso de comentar;
4) Mantenho a opinião, confirmada também, por vários atletas e treinadores do meu tempo de atleta, originários de Moçambique, de que o desporto moçambicano foi, antes da independência, bastante influenciado pela proximidade da África do Sul; o que não significa que não tenha havido grande mérito pessoal de muita gente, em várias modalidades, com relevância para o Basquetebol, o Atletismo e a Natação;
5) Mantenho, obviamente, todas as opiniões diagnósticas sobre as causas do atraso relativo do Desporto português e que tão bem foram sintetizadas pelo anónimo que deixou de o ser;
6) Enquanto fui dirigente estive a aprender o que é ser dirigente desportivo em Portugal; essa aprendizagem, finalmente, levou-me a pedir a demissão, quando deixei de estar refém de uma situação (licença extraordinária a prazo) e após ter sido sucessivamente desautorizado, embora (essa aprendizagem) me tenha permitido tirar um conjunto de conclusões nada dignificantes (ver carta de demissão) para o dirigismo desportivo;
7) Não insulto anónimos. Desprezo-os respeitosamente.
Quem lhe topa as fraquezas, mesmo que debaixo da capa cobarde do anonimato, é logo, por si, descoberto. Sem tirar nem por. Mas olhe que talvez esteja a cometer alguma injustiça. O leque daqueles que discordam de si, na forma e no conteúdo, não se reduzem, certamente, apenas ao seu quadro de conhecidos ou de supostos adversários. Asseguro-lhe, por motivos que são óbvios, que neste caso os seus dotes de adivinho só têm uma hipótese - estão errados. O "estatuto" de anónimo cobarde até nisto é interessante. Permite, mais uma vez, observar a forma como é determinado a formar as suas opiniões. A mim, pessoalmente, espanta-me a forma convicta e segura como bate o pé e formula convicções em áreas de especialidade que não são as suas. Na sua modalidade terá os seus argumentos fundamentados e créditos alicerçados na sua experiência de atleta de dirigente e de estudioso. Agora no desporto em geral, que ousadia e que insulto não será para aqueles que o estudam a sério e há muito tempo. Deve sentir mesmo que caminha em terra de cegos.
Voltando a JMC, você não entendeu o que lhe quis dizer. O que lhe quero dizer é que os documentos concebidos como orientadores de uma política ou de uma estratégia de intervenção numa instituição como o IDP não se vendem na Feira do Livro. Em princípio, o que encontra na Feira do Livro são publicações em que os autores expressam o seu pensamento teórico ou prático sobre um tema e não sobre o acto da governação propriamente dita. A posteriori poderão alguns revelar em livro as suas decisões estratégicas em termos de governação. Que eu saiba não foi o caso de JMC. Que eu saiba o documento "Opções estratégicas para o desenvolvimento do Desporto Nacional (2003-2010)" nunca viu a luz do dia na Feira do Livro. Aposto que não o conhece pois nessa altura, certamente, ainda não tinha encetado a sua longuíssima carreira de dirigente desportivo. mas olhe que foi um magnífico exercício numa área que você acha ser totalmente virgem em Portugal. Obtenha o documento e vai ver poder confirmar que já muito se produziu de interessante no desporto português. Sugiro-lhe, também, como exercício, que estude a evolução das políticas desportivas havidas em Portugal para perceber quando é que a produção política foi fecunda e quando é que se produziram autênticos "apagões". Procure saber o que esteve na base de cada uma dessas épocas.
Se conseguir olhar para tudo isso com olhos de ver e com olhos de quem se julga especialista da "coisa" desportiva, vai perceber o que está na base daquilo que somos hoje. E vai também perceber que a fase actual não é uma "sina" imposta pelos poderes corruptos subjugados aos negócios do futebol. Vai perceber que pelo cúpula do desporto português passaram homens, entre poucos outros, como AMCarvalho, A.Mirandela da Costa ou JMConstantino que marcaram a diferença em muitos campos do desporto nacional. Porque não surgem outros do mesmo nível é uma boa questão.
(continua)
Continuação
Quanto a questão da actividade "Atletismo à porta de casa" sugiro-lhe que a observe não sob esse olhar básico e absurdo da "cubanização". Nos dias de hoje, para alguém que se julga sabedor destas coisas, esta é uma observação completamente destemperada. Revela duas coisas muito claras: nem sabe, verdadeiramente, o que se passou em Cuba, nem sabe, de certeza, o que se passou em Portugal. Aliás sabe, certamente, tudo o que se passou, em Cuba, URSS, RDA, Portugal ou Moçambique pela simples razão de que falou com treinadores e atletas da época. Parcas fontes as suas.
Aliás, desse esforço de "cubanização" do desporto nacional, ainda existem por aí alguns resquícios. Olhe bem para actividades como aquelas organizadas, por exemplo, pela CM de Oeiras como a Corrida do Tejo ou as caminhadas feitas na "Marginal fechada ao trânsito" e talvez conclua que ainda andam por ali mãos cubanizadoras. Grandes amontoados de gente arregimentada para mostrar trabalho e apoio ao regime vigente na autarquia. Só faltava esta da cubanização.
Ignora mas eu posso informá-lo. Aquilo a que você chama actividade cubanizadora estava inserida naquilo que você desconhece e que ficaram conhecidos por " Planos de Desenvolvimento". E se estudasse a fundo o desporto português poderia perceber o que de muito ainda existe hoje, por este nosso país fora, que teve origem nesse tempo e nessas políticas. E se quer saber alguma coisa da minha declaração de interesses, não fui nem sou nenhum desses perigosos comunistas e cubanizadores que por aí circulam ou circularam, aliás já me esquecia que você sabe bem quem eu sou.
Abra a sua mente. Liberte os seus fantasmas. Atribua-me a identidade que quiser se isso o deixa mais tranquilo mas tente olhar para o desporto português com olhos de ver e não só com olhos de olhar. E já agora, não pense que os anónimos cobardes o são só por causa de si. A área de influência do seu umbigo também tem limites.
Quanto às suas "opiniões diagnósticas" sobre o atraso do desporto nacional, são de ir as lágrimas. Se estas são mesmo as razões que provocam ou provocaram o nosso atraso desportivo, estamos conversados. Será que essas "opiniões diagnósticas" não afectaram tanto a sua modalidade como afectaram as outras, ou será que também considera a sua modalidade tão subdesenvolvida como as outras.
Saudações cordiais.
Obviamente mantenho tudo aquilo que escrevi, incluindo a frustrada cubanização de 1974/75/76.
Apesar de a minha formação universitária ser na área da Arquitectura e do Planeamento Urbano, acompanho atentamente o Desporto português e internacional desde a segunda metade dos anos 60.
Faço investigação por conta própria, na área do Desporto internacional há muitos anos e disponho de dados estatísticos que, estou certo, o IDP não possui nem sonha que existam.
Sei exactamente o que vale o Desporto português nas diversas modalidades olímpicas e certamente mais do que o IDP, o COP e muitas das Federações, porque acompanho, a par e passo, os resultados e os rankings internacionais das diversas modalidades.
Sempre fui um apaixonado pelo Desporto e estive presente em muitas dezenas de eventos desportivos do mais alto nível mundial e europeu, a maior parte das vezes por conta própria.
Fiquei a conhecer razoavelmente as fraquezas crescentes do IDP dos últimos 8 anos.
Quanto ao Atletismo, o facto de ganhar muito mais medalhas do que as outras modalidades, isso não significa que Portugal seja uma potência a nível mundial, já que não está nem nunca esteve, entre os 25 países globalmente mais fortes.
Não tenho nem nunca tive pretensões a exercer cargos públicos na área do Desporto.
Se me disponibilizei para me candidatar à presidência da FPA após a pública falsa demissão do seu Presidente, isso teve como único objectivo chateá-lo e denunciar publicamente a tramóia, porque já sabia que ele nunca sairia do cargo.
O Desporto português está todo minado por interesses políticos e pessoais e Portugal não sairá deste triste destino nas próximas décadas.
Estou-me nas tintas para os inimigos mais ou menos anónimos que foram aparecendo nas argumentações neste blog.
Não dependo nem nunca dependi de nada nem de ninguém.
Sou um perigoso (?) livre pensador.
Como ao longo de 2 anos já disse tudo o que tinha para dizer neste espaço, decidi colocar um ponto final nas minhas intervenções nesta Colectividade Desportiva.
Agradeço aos seus proprietários terem permitido a minha colaboração.
Ponto final.
Este ponto final faz-me realmente pena. As suas "opiniões diagnósticas" vão fazer muita falta a todos aqueles que vão visitando este blog. Antes de pensar numa forma eficaz de ultrapassar este luto, atrevo-me a pedir-lhe que reconsidere a sua decisão. Apesar das radicais divergências que nos separam já sinto a sua falta. É pena que desista agora. Talvez seja apenas uma emoção passageira resultante da "seally season". Vá lá, reconsidere.
Saudações cordiais
O Mistério da Folha A4
Romance policial, como os muitos documentos europeus, muito bem organizados, olhando para o terreno, mas ficam, por norma, na gaveta com o carimbo:
"Arquive-se, não há dinheiro."
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