sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Novo Programa, velha realidade

Como constitucionalmente consagrado, do programa do Governo constarão as principais orientações políticas e medidas a adoptar ou a propor nos diversos domínios da actividade governamental (vide artigo 188.º da CRP).

Neste sentido, e dando continuidade a análises anteriores, tentamos indagar o que de substancial contem o programa do XIX Governo Constitucional no domínio das mulheres e do desporto. O que encontramos? Claro está: NADA, nem uma linha nos objectivos estratégicos nem nas medidas a implementar! Quais recomendações internacionais, como as da Declaração de Brighton, da CEDAW ou do Livro Branco sobre o Desporto, quais números e realidades desportivas que sucessivamente nos envergonham face aos indices e desempenhos europeus e mundiais (salvo honrosas exceções das nossas pérolas do alto rendimento…), qual salvaguarda dos direitos fundamentais... A tudo isto foi alheio o querer governativo.

Efetivamente, se de quando em vez, num ou noutro programa (designadamente no V, IX, X, XIII, XVIII), fomos encontrando menções generalistas dedicadas especialmente à vertente da prática desportiva das raparigas e das mulheres, no atual programa nem uma única alusão para fazer jus ao princípio ínsito na Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto - A actividade física e o desporto devem contribuir para a promoção de uma situação equilibrada e não discriminatória entre homens e mulheres (cf. n.º 2 do artigo 2.º).

Temos consciência que esta igualdade declarada e promovida na lei-quadro encontra múltiplos obstáculos na sua aplicação prática, desde logo quando, como agora, existe um total descomprometimento governativo nessa matéria e num quadro social de enorme dificuldade económico-financeira. Se os governantes não estão sensibilizados e consequentemente atuantes, para as enormes desigualdades nas condições de acesso e desenvolvimento da prática desportiva feminina nas múltiplas áreas de intervenção , isto é ao nível da prática, do dirigismo, do treino , da arbitragem, entre outros, as organizações desportivas, face aos constrangimentos financeiros reais não hesitarão em “cortar” no sector mais débil, menos mediático e de maiores dificuldades sociais.

Os anos passam e cada vez temos mais consciência de que existem entendimentos e realidades sócio-culturais que só o tempo que consome várias gerações vai revertendo e alterando. A situação das mulheres na sociedades portuguesa é uma delas, e o desporto invariavelmente não escapa a este situacionismo conservador e nefasto dos direitos humanos, nem mesmo quando mudam os governos e ressurge a esperança.

Relembrando as recentes palavras do cardeal patriarca de Lisboa, ainda que invocadas para a inexistência de qualquer obstáculo fundamental para as mulheres seguirem o sacerdócio e apelando para a igualdade fundamental de todos os membros da igreja, também no desporto, só o valor da tradição, continua a explicar o desporto ter sido e continuar a ser maioritariamente praticado, organizado e dirigido pelos homens e para os homens, e, inexplicavelmente no séc. XXI, com a aquiescência das entidades públicas.

25 comentários:

Luís Leite disse...

Cara Maria José

Sinceramente, não estou a ver em que é que um programa governamental possa contribuir para uma aproximação das realidades da prática desportiva feminina e masculina. Só se o objectivo for retórico.
O problema é essencialmente cultural, o que significa que as mudanças nunca podem ser rápidas nem resultarão medidas discriminatórias favoráveis às mulheres.
Nem vejo que novas medidas legislativas ou outras poderão levar a essa aproximação.
A verdade é que, actualmente, do ponto de vista legislativo, está tudo feito para que exista igualdade de oportunidades no acesso ao Desporto.
Essa foi, sem dúvida, uma das grandes conquistas da Democracia.
O processo é naturalmente lento no que respeita à população em geral, embora se verifique uma evolução espantosa dos anos 70 até à actualidade.
Quanto ao alto rendimento, algumas das maiores figuras do Desporto português são mulheres, o que seria impensável antes do 25 de Abril.

Armando Inocentes disse...

Se Luís Leite tem razão em relação a praticantes e medalhadas, pergunta-se:

- na alta competição os prémios monetários para masculinos e femininos são iguais?

- a comunicação social dá o mesmo relevo aos feitos dos dois géneros?

- alguém sabe o nome da equipa feminina (ou o do Clube) campeã nacional de futebol não sei há quantos anos seguidos?

No entanto penso que o grande défice está nas dirigentes.

Tirando os casos de Alexandra Coelho que era Presidente da Direcção do Clube Português de Orientação e Corrida (não sei se ainda é...) e de Elisa Martins
(GD Valpaços) poucas mais haverá por aí...

E lá fora?

A Ministra do desporto de S. Tomé é uma mulher... onde há uma federação dirigida também por uma mulher...

Flamengo (Patrícia Amorim), Corinthians (Marlene Matheus), FC Basileia (Gisele Oeri), AS Roma (Flora Viola), Rayo Vallecano (Teresa Rivero), Obilic Belgrado (Svetlana Raznatovic), Athletic Bilbao (Ana Elorriaga), AS Roma (Rosella Sensi), Bolonha (Francesca Menarini) e CD Leganés (María Victoria Pavón) foram ou são Clubes com mulheres a dirigi-los.

E nós por cá?

Encaremos a realidade bem de frente...

Por isso é que Gisele Oeri , diz: "Quem sabe lidar com cavalos pode também saber lidar com jogadores de futebol".

O problema é que o puro sangue lusitano é uma raça de cavalo diferente do mustang, do anglo-árabe, do bretão e de todos os outros...

Anónimo disse...

Boa noite a todos
Por todas as razões e mais algumas, M.J. Carvalho tem toda a razão nas suas afirmações.
Em primeiro lugar por uma questão de igualdade de oportunidades. A Mulher deveria dispor de oportunidades idênticas ao Homem para a prática desportiva.
Em segundo lugar, deveria ser dada uma atenção estratégica prioritária ao desporto de alto rendimento para as mulheres. Este disputa-se, claramente, na maior parte das modalidades, com uma competitividade e uma universalidade, menos exigente do que no desporto para os homens. Veja-se o papel que as mulheres têm desempenhado no nosso desporto de alto rendimento nos últimos anos. Veja-se, ainda, que atletas poderão disputar medalhas olímpicas nos próximos JO?
Gostaria, igualmente, de fazer a seguinte afirmação:
O desenvolvimento desportivo nacional tem tudo a ganhar com o alargamento da prática desportiva para as mulheres. Tem tudo a ganhar, também, com o alargamento da prática informal do exercício físico para as mulheres. Para além dos benefícios directos que a mulher pode obter dessa prática para a sua qualidade de vida há que contar com o seu papel, preponderante, na liderança da vida familiar. Mulheres mais sensibilizadas para a sua própria prática desportiva, mais ou menos formal, poderão ser mães mais mobilizadoras da prática desportiva dos seus filhos.
Em último lugar diria que esta situação não se altera nem por decreto nem por uma espera passiva. As mentalidades alteram-se através de práticas distintas e consistentes no tempo. O que faz falta então são, sobretudo, projectos alternativos.
À atenção das entidades privadas, federações, associações, clubes, escolas, autarquias e Estado.
Saudações cordiais. Obrigado MJC pelo motivo que ofereceu para este pequeno contributo.

Anónimo disse...

De facto, custa muito a entender porque razão os prémios, nas competições desportivas, sejam diferentes consoante estejam reservados a mulheres (inaceitável discriminação), a deficientes (intolerável diferenciação), a gays (inacreditável homofobia), a jovens (insuportável menosprezo), etc...etc...

Tenho pensado muito nisto e ainda não encontrei justificação.

Alguém me poderá ajudar?

Luís Leite disse...

Depois de ler os anteriores comentários, confirma-se a minha opinião.
A questão é essencialmente cultural e complexa, com cambiantes diversos.
Igualdade de oportunidades já existe, tanto para a prática desportiva federada como para a informal ou para o dirigismo.
Na Escola não existem diferenças de tratamento.
Portanto, não vejo o que se possa fazer mais senão esperar que as famílias e os cidadãos, neste caso do sexo feminino, naturalmente se vão interessando pelo Desporto.
A mim, assustam-me muito mais as assimetrias globais na cultura e na prática desportiva entre as diferentes regiões e distritos do país. Sobretudo entre o interior e o litoral.

Anónimo disse...

Tem toda a razão Luis Leite.
As assimetrias culturais (desportivas e outras) são esmagadoras para quem olha para o nosso país como um todo.
Sabe, como é óbvio, que essas assimetrias têm muito a ver com a demografia e com a movimentação, intra-muros, das populações. As pessoas deslocam-se em demanda de novas condições de vida, umas vezes para o litoral outras vezes para o estrangeiro. Problema maior é quando ao processo de desertificação territorial corresponde um processo de desertificação intelectual e volitivo. As pessoas deixam de acreditar nas suas próprias utopias. Desistem de si próprias. Abandonam-se à sua sorte. O desporto poderá e deverá assumir-se como uma metáfora inspiradora para repor algum do alento perdido nos últimos tempos. Desde que se inventem novas ideias, novos projectos e novas forças. Sem lamentos, sem choraminguisses. E, já agora, não se esqueça Luis Leite de que a igualdade de oportunidades não é apenas uma questão regulamentar ou de financiamento.Essas já existem. É, sobretudo, uma questão cultural, religiosa, mental (de mentalidade). E estas só se alteram com novas práticas.
Saudações cordiais.

Luís Leite disse...

Anónimo da 1:19

Eu posso tentar ajudar, sabendo que serei politicamente incorrecto.

O Desporto é, em si mesmo promotor de desigualdade, enquanto actividade competitiva, ao procurar descobrir o melhor entre os melhores.

A verdade é que o valor financeiro dos prémios desportivos está normalmente relacionado com a importância relativa do próprio feito desportivo.

E isso tem a ver com as regras próprias do mercado.
Por exemplo ganhar num universo de 1000 não é o mesmo que ganhar num universo de 100.

Nas grandes competições promovidas pelo IOC ou pelas Federações Internacionais de cada modalidade, os prémios são medalhas iguais e nalguns casos ainda existem prémios financeiros iguais para homens e mulheres, em função da classificação.

Em competições de natureza privada, as diferenças por vezes encontradas nos prémios financeiros têm a ver sobretudo com o número de participantes em cada sexo, mas reconheço que em determinados casos existe mesmo discriminação.
Nestes casos, a causa ainda é cultural e deverá ser denunciada, como aconteceu, por exemplo, no Ténis, sobretudo nos grandes torneios do Grand Slam e em grandes Maratonas.

Quanto aos gays, julgo não existir qualquer discriminação desportiva na actualidade, existindo alguns campeões olímpicos que são gays assumidos e não foi sensível qualquer discriminação entre os concorrentes.

Quanto aos paralímpicos, muito tem sido feito nas últimas duas décadas para promover a prática desportiva, mesmo ao mais alto nível.
Mas obviamente tem que haver bom senso.
O mérito relativo é igual e por vezes até maior nos portadores de deficiência.
Mas o mérito absoluto, relacionado com as regras de mercado e o número de praticantes não.
Daí que, naturalmente, os prémios financeiros por medalhas não devam ser iguais.
Não é igual ser o melhor do mundo entre 10 milhões de praticantes ou o melhor do mundo entre 1000 praticantes.

Armando Inocentes disse...

Há duas frases que muito usamos:

"É uma questão cultural" e "Há que mudar mentalidades".

Só que ninguém apresenta "receitas" para isso... porque não as há!

O que há são grandes interesses financeiros no meio de tudo isto. Os patrocinadores não patrocinam por acaso... não patrocinam o que não tem visibilidade mediática...

Um estudo sobre verbas e empresas que patrocinam modalidades masculinas e femininas seria interessante... Um estudo sobre o merchandising desses clubes também não deveria ficar atrás...

Ainda agora acabei de chegar do CC Colombo, mesmo em frente ao local onde vai haver um jogo do Benfica, e todos os que decidiram comprar uma camisola do "glorioso" (pagaram-na!) andam a fazer publicidade no seu dorso à Sagres ou ao BES...

A questão das culturas e das mentalidades passa por "como incrementar e valorizar o desporto feminino" - e aí podemos começar pelo 1º Ciclo do Ensino Básico onde os espaços de recreio são ocupados por rapazes a "jogar à bola" enquanto as raparigas ficam confinadas a espaços menores e secundários (a fazer o quê?).

A Actividade Física e Desportiva das AEC's foi avaliada? Em 45 minutos quantos minutos há de tempo útil? São estes professores avaliados? Os conteúdos ministrados foram avaliados? Não, mas o que interessa é que se possa dizer que não sei quantos mil alunos praticam AFD no 1º CEB!

Depois poderíamos passar pelo Desporto Escolar e ver quais as oportunidades e os incentivos que são dados às raparigas para participarem no mesmo... quais as suas motivações... e até pela própria EF no 2º e 3º CEB.

Os clubes como captam atletas femininas? Que condições lhes dão?
(será tudo isto igual ao respeitante género masculino?).

Treinadores e Treinadoras estarão preparados psicopedagicamente para trabalharem com mulheres-crianças ou mulheres-jovens (porque não é a mesma coisa afectivamente nem em termos de sociomotricidade que trabalhar com o género oposto)?

Todo o resto é como diz Maria José Carvalho: Novo Programa (que afinal é velho!), velha realidade!

joão boaventura disse...

A discriminação sexual foi ultrapassada pela criação da International lesbian, gay, bisexual, trans and intersex association, da International Lesbian and Gay Law Association, da International Gay & Lesbian Human Rights Commission, e múltiplas outras organizations relacionadas com a arte, o cinema, ou festivais, não faltando sequer a International Gay and Lesbian Sport Association, nem sequer a International Gay $ Lesbian Football Association.

Para que a discriminação não morra aí, temos igualmente a prestigiante International Association of Physical Education and Sport for Girls and Women (IAPESGW), a estigmatizar o papel do homem que só olha para si mesmo.

São sinais evidentes da fractura imposta por preconceitos interiorizados, obrigando as pessoas discriminadas a organizarem-se separadamente, em apartheid, denunciando o pauperismo social humano, como um dedo acusatório.

Lecomte du Noüy considera que o despertar da consciência teve o seu início há cem milhões de anos, mas ainda está nos seus primórdios, apesar do tempo já decorrido, pelo que não se vislumbra qualquer mudança nos tempos de hoje nem nos próximos, pese o combate árduo para que moral e ética se fundam, e as organizações separatistas, impostas pelos preconceitos, desapareçam.

E é provável que leve outros cem milhões de anos a alcançar o olhar do outro como se fosse o nosso.

Luís Leite disse...

Caro Armando Inocentes

É óbvio que não há receitas para questões de natureza cultural num regime democrático.
A Democracia vai-se construindo aos poucos, porque a vontade colectiva não é imposta pela força mas pela razão.
Novos hábitos saudáveis devem ser assimilados naturalmente e o tempo é um factor decisivo.

Mas há de facto valores perversos nalgumas culturas dominantes.
O Futebol, em Portugal é uma modalidade que tem sido aproveitada, como diz (e bem), para alienar as maiorias menos cultas.
E algumas elites estão comprometidas com determinados interesses financeiros do Futebol, uma modalidade que (tal como o Râguebi), pela virilidade específica do próprio jogo, é intrinsecamente mais masculina.

Outras modalidades, mesmo de combate, não são perversas na abordagem desportiva como o Futebol, porque não são tão atractivas das massas enquanto espectáculo mediático complexo, embora o sejam enquanto prática desportiva e educativa.
As mulheres vão cada vez mais atrás da clubite, entraram nas claques e enchem bancadas de estádios de Futebol, o que não acontecia há 30 anos. Mas praticantes há poucas.

Mas não me diga que há discriminação ou dificuldades de acesso, em meio escolar, para as jovens, seja qual for o escalão etário.
O que há é alguma permissividade e algum facilitismo na avaliação das raparigas em Educação Física, o qual, em determinados contextos, é compreensível.
Quem está nas escolas sabe que é assim...

Estas questões têm de facto uma matriz cultural complexa e não negligenciável.

Armando Inocentes disse...

Caro Luís Leite:

Obrigado pela achega.

"O que há é alguma permissividade e algum facilitismo na avaliação das raparigas em Educação Física, o qual, em determinados contextos, é compreensível."

Mas é compreensível por que motivos? O ser compreensível tem sido o nosso grande mal em relação ao desporto feminino!

Depois passa a ser compreensível no desporto escolar, nos clubes...

Enquanto nos comparamos com o vizinho do lado, as diferenças são pequenas. Quando nos comparamos com um americano, um finlandês ou um japonês as diferenças são abismais - produto dessa permissividade e desse facilitismo em que não vejo nada de compreensível.

Sabemos que há diferenças morfo-fisiológicas entre os dois géneros, mas sendo uma modalidade um conjunto de conteúdos técnico-táticos-físicos uno, deve-se exigir o mesmo a ambos. O mesmo em aulas de EF. Essas diferenças por si só já ditarão resultados diferentes...

Já tive Campeãs da Europa mas Campeões nada! Até porque as crianças e os jovens agora possuem um número maior de solicitações e têm acesso a outros passatempos que as/os retiram do desporto.

Um abraço

joão boaventura disse...

Estimada Maria José

Relativamente ao programa do XIX governo constitucional convenhamos que a sobriedade testemunha apenas a quase impossibilidade de olhar para o desporto, porque a Troika não deseja desperdícios em coisas inúteis, mas, para contrariar esse retrato, autoriza que se crie o Instituto do Desporto e da Juventude, na dependência de um Secretário de Estado, nomeando-se os respectivos titulares. Esta fusão, sem contestação, porque também fundidos foram alguns ministérios.

Portanto, convenhamos que o cenário está montado, para que se apaguem as sequelas que porventura possam aparecer

É bem verdade que os dois governos socráticos anteriores apresentarem programas mais extensos, o que permitia, se não cumpri-los integralmente, pelo menos a vontade de realizar alguns. Se transmitisse desconfiança, pela extensão, podia, por outro lado, dar alento sobre a efectivação da maioria do programa. De resto, neste contexto, a Constituição, que se considera a Carta Magna, também não se cumpre integralmente, porque já não está feita à feição dos desejos actuais.

De qualquer forma, convém não esquecer que o desporto sempre viveu à míngua, com falta de recursos, os desejados, porque o Estado irrita-se com organizações que não encontrem recursos próprios para se auto-sustentarem. Por isso acabou com duas instituições, a Movijovem e a Fundação para a Divulgação das Tecnologias de Informação (FDTI), que só davam prejuízo, e constituem avisos para o IND e para a Juventude.

São os sinais do tempo e não se torna necessário matar um bezerro para adivinhar, pelas entranhas, o futuro do desporto.

A criação do novo Instituto Português do Desporto e da Juventude permitirá a redução de 112 para cerca de 43 cargos dirigentes, uma poupança de 14 milhões de euros, e poderá levar a mais despedimentos, segundo decisão do Conselho de Ministros, apoiado por duas troikas – a nacional e a europeia – e pelos avisos da Moody’s sobre a necessidade de limpar o lixo nacional, a saber, professores, funcionários públicos, bancários, destacados sindicais e outros não especificados.

Estas medidas já permitiram ao governo, em 42 dias, nomear 51 especialistas, e alargar os quadros da CGD. De certa forma, se considerarmos que Cristo fez duas eleições ou duas classes, uma dos 12 apóstolos, e outra dos 72 discípulos, podemos dizer que os 51 especialistas (apóstolos), vão exigir, na mesma proporção bíblica (72/12), 306 ajudantes (discípulos).

Tudo visto e analisado, o horizonte prenuncia a forma de enriquecer os poucos ricos nacionais – só temos 4 – a fim de aumentar a lista e apostar num novo critério da Eurostat que avalie os países comunitários pelo maior número de “os mais ricos”; ou, segundo o critério da Moody’s, aumentar o rating dos 4 Bancos, para acompanhar a subida da lista dos mais ricos.

Postos estes considerandos, e para não abusar do espaço e da paciência de quem lê, e para se verificar que a história mistério do BNP é irrisória, proponho que se dê uma vista de olhos pelo artigo do jornalista francês Gilles Lapouge, A maior lavandaria de dinheiro do mundo ameaça falir! para melhor nos situarmos no mundo que julgávamos conhecer.

Cordialmente

Maria José Carvalho disse...

Propositadamente, dando exemplos extremos, não são a violência doméstica feminina ou a excisão feminina "questões culturais e complexas"?

E tal invalida ou obsta a que nos insurjamos com tamanhas barbaridades, e com que existam e se fomentem políticas e regulações que contrariem tais práticas?

Quem não admite diferentes oportunidades e discriminações sexuais no desporto português, na verdade não reflete, não observa, não partilha a realidade desportiva colocando-se no lugar dos dois sexos. É natural que quem já conquistou um determinado espaço, nem questione o que a outros (neste caso às raparigas e mulheres) é vedado ou dificultado. Caso um dia se faça um estudo, por exemplo, referente aos recursos financeiros gastos na prática desportiva masculina em comparação com a feminina ou com a utilização das instalações, ou com os ordenados de praticantes e treinadores/as, etc..etc..certamente as disparidades serão abissais, confrangedoras e mais visiveis para todos.

Quanto ao programa governativo, é óbvio que não basta o Estado assinar declarações ou estar presente nas cimeiras internacionais e internamente não fazer nada, absolutamente nada no tocante à matéria em causa. Portugal deve ser dos poucos países europeus que nunca elaborou um plano nacional referente às mulheres e desporto, sendo tão só um reflexo da enorme insensibilidade e falta de esclarecimento que tal matéria tem entre nós.
Quem quiser estar mais atento basta atentar nos planos nacionais que grassam pelo mundo inteiro, de iniciativa dos diversos governos em cooperação com as entidades desportivas privadas e ONG's. Basta analisar os dos países vizinhos para constatar as políticas e os caminhos por outros já trilhado, mas para os quais teimosamente continuados de costas voltadas. Quem perde? Gerações e gerações de pessoas, especialmente raparigas e mulheres, que através da prática desportiva poderiam ser bem mais felizes.
Obrigada pelo contributo de todos/as.

Luís Leite disse...

Cara Maria José

Os exemplos extremos que apresenta são obviamente "questões culturais complexas".
No nosso país ainda existe violência, sobretudo em meio conjugal e sobretudo de homens sobre mulheres.
Quanto à excisão, julgo estar erradicada entre os imigrantes africanos.
A legislação portuguesa proíbe e condena essas práticas.
Essas questões são tratadas por instituições públicas e privadas integradas na Segurança Social, no Sistema Nacional de Saúde, na Escola, etc.

A temática aqui abordada por si tem a ver com desigualdade de tratamento ou de oportunidades, relativamente aos diversos papéis desempenhados no Desporto pelas mulheres em comparação com os homens.
Eu insisto: não há, na minha opinião, na actualidade, qualquer desigualdade de tratamento na acessibilidade às actividades desportivas.
O que existem são condicionantes de vidas que são, elas mesmas (as vidas) desiguais.
E sobretudo um maior ou menor interesse e motivação pessoal.

A igualdade (enquanto utopia final marxista) ou o igualitarismo (conjunto de estratégias utópicas marxistas) são impossíveis de alcançar ou pôr em prática de forma séria, dada a natureza humana.
Como se viu nas experiências políticas marxistas do séc. XX.

A igualdade de oportunidades é perseguida, nos países civilizados, pelas pessoas de bem. Não é utópica e pode ser alcançada.
Desde que nos empenhemos, cada um de nós, no seu dia-a-dia.

Obrigado por ter levantado esta profícua troca de argumentos.

joão boaventura disse...

Estimada Maria José

Sem dúvida que o combate é perpétuo, e que dele não se pode abdicar, sob pena de claudicarem os princípios que abraçamos. O próprio desporto está cercado por inúmeras agressões: política, mass media, corrupção, alcoolismo, holiganismo, fanatismo, chauvinismo, racismo, xenofobia, nacionalismo, machismo, violência, dopagem, mercantilismo, meio ambiente, religião, EU. É um combate sem fim que enche este blog de postagens.

Repare que a APESGW acaba de publicar este documento que vale a pena ler:

CONDEMNS FIFA’s BAN ON IRANIAN WOMEN’S FOOTBALL TEAM

The International Association of Physical Education and Sport for Girls and Women deplores and condemns the decision of the International Federation of Association Football (FIFA) to ban the Iranian women’s football team from playing in a pre-Olympic tournament on June 3rd 2011. The decision was on the grounds of their dress, which was worn to meet Islamic requirements to cover heads, arms and legs. FIFA’s decision is antithetical to its published objectives to develop the game among women, since it excludes many Muslim women from all countries of the world. We urge international and national federations to ‘Accept and Respect’ women’s individual choices in dress codes necessary to their faith. Such a move would prevent the coercion of women to wear outfits against their religious belief. This would be a positive step towards making sport more inclusive. The full Declaration follows:

DECLARATION: “ACCEPT AND RESPECT”

1. Islam is an enabling religion that endorses women’s participation in physical activity.

2. We affirm the importance of physical education and physical activity in the lives of all girls and boys, men and women.

3. We emphasise the importance of good quality programmes of physical education and sport within school curriculum time, especially for girls.

4. We emphasise the desirability, in places where many children have limited access to school, of providing other ways of helping children to learn the physical skills and confidence they need to practise sport.

5. We recommend that people working in the sport and education systems accept and respect the diverse ways in which Muslim women and girls practice their religion and participate in sport and physical activity, for example, choices of activity, dress and gender grouping.

6. We urge international sport federations to show their commitment to inclusion by ensuring that their dress codes for competition embrace Islamic requirements, taking into account the principles of propriety, safety and integrity.

7. We recommend national governments and organisations include in their strategies for the development of sport and physical education, structures and systems that encourage women to take positions in teaching and research, coaching, administration and leadership.

We recommend that FIFA should revisit this decision, and work towards adopting a more informed and sympathetic view to the needs of Muslim women. FIFA’s focusing should turn towards recognising women’s rights and skill levels ahead of their clothing; welcoming players from Muslim communities worldwide into football; and moving forward for younger generations who need role models and who are inspired by these women because they are outstanding sportswomen.
Tansin Benn, President of IAPESGW, on behalf of the Executive Board, 13 June 2011.

Há sempre combates novos, por inesperados, a juntar aos antigos, o que representa uma luta redobrada, em muitas frentes; as antigas e as que ninguém espera.

Cordialmente

joão boaventura disse...

Extracto da sessão de 23 de Abril de 1878, da Câmara dos Pares, a propósito da reforma do ensino secundário:

«O Sr. Vaz Preto: - Sr. Presidente, à parte algumas disposições, que me parecem um pouco esquisitas , a lei no seu pensamento é boa. Eu confesso ingenuamente que acho muito dispensável o tal canto coral e Ginástica para as meninas. Não sei para que seja necessário ensinar aos alunos o canto, para o qual um grande número não terá vocação, e para isso é necessário habilitar os professores para satisfazerem a essa disciplina, cuja vantagem não compreendo em absoluto.

Sr. Presidente acho muito extravagantes estas duas disposições, e com especialidade, a Ginástica para as meninas, para as quais todo o pudor e recato é pouco. Estas duas qualidades são indispensáveis na mulher para os seus bons costumes, e patra a tornar digna e exemplar mãe de família.

Sr. Presidente, uma coisa lhe deve ser bastante curiosa, e que deve ter que ver, é meninas de doze anos quase mulheres, com fatos mais ou menos fantásticos, próprios e adequados à Ginástica, a fazerem as suas piruetas, sob a direcção da professora, que também deve estar vestida a rigor.

Isto deve ser uma cousa curiosa, interessante e divertida principalmente para os espectadores. Eu pedia à ilustre Comissão que tirasse do projecto estas duas inutilidades porque com certeza, a Ginástica, além das razões que acabo de expor não se porá em prática entre nós, porque é contra os nossos costumes, índole e sentimentos arreigados e profundos no ânimo do povo, que entende que as mulheres devem ser educadas mais para mães de família e não para fazerem rir pela sua desenvoltura e saltos desconcertados.
… … …
- O Sr. Vaz Preto: Vou mandar para a mesa uma outra proposta; e parece-me que o Sr. relator da comissão a aceitará; contudo, é possível que não. É para que se elimine do ensino complementar para as meninas a Ginástica.»
… … …
Na sessão seguinte, de 24 de Abril de 1878, depois de várias discussões à volta do tema:

«O Sr. Presidente – Vai votar-se primeiro a eliminação proposta pelo Sr. Vaz Preto.
Os dignos deputados que aprovam a proposta para a eliminação do ensino da Ginástica, de que trata o n.º 3 deste artigo (12.º), tenham a bondade de levantar-se.
Foi rejeitada a proposta.»

Apesar de aprovada houve muitos atropelos porque professores não havia, e instalações eram as mais precárias e em prédios alugados ou em instalações de Governos Civis ou de Câmaras Municipais.

Foi necessário chegar a 1928 para investirem em liceus, e a 1952, para as Escolas Técnicas.

Armando Inocentes disse...

Não precisamos ir tão longe...

Num dos mais completos manuais sobre Judo dos finais da década de 70, podemos ler a seguinte frase: “o atletismo está aberto a todos os desportistas mas ninguém jamais pensará em treinar as mulheres na maratona!” (Luís Robert, 1983).

Luís Leite disse...

Caro Armando Inocentes

Apesar de só ter sido uma disciplina olímpica feminina em 1984, se consultarmos a evolução dos Recordes do Mundo, verificamos que já existiam competições oficiais de Maratona Feminina nos anos 60, embora com poucas concorrentes.
O máximo mundial desceu das 3 horas na New York Marathon de 1971 e das 2 horas e meia também na Maratona de New York, através dessa grande atleta norueguesa, recentemente falecida, chamada Grete Waitz, com 2:27.32,6h.
Em 1983, a americana Joan Benoit, que viria a ser campeã olímpica no ano seguinte, já tinha chegado, em Boston às 2:22.43h, uma marca muito difícil mesmo na actualidade.

Mais significativo é o facto de os 800m (2 voltas à pista) só terem sido disciplina olímpica para o sector feminino em 1960, os 1500m em 1972, os 3000m em 1984 (substituídos pelos 5000m em 1996) e os 10000m em 1988.

A discriminação entre sexos no Desporto existiu de facto e de forma muito significativa até à 2ª Guerra Mundial, mas nos países civilizados, durante a segunda metade do séc. XX foi, progressivamente, sendo posta de lado.

Em Portugal, no caso do Atletismo, as moçambicanas, por influência da mentalidade sul-africana (apesar do appartheid) face ao Desporto, tiveram um papel decisivo (Angélica Manaca, Helena Relvas, Kathleen Binda, Conceição Vilhena, Lucrécia Cumba, Isabel Santos, as gémeas Manuela e Conceição Alves, Argentina e Suzel Abreu, etc.), ao virem a Lisboa aos Campeonatos de Portugal revelar uma enorme desinibição, pulverizando os recordes nacionais em princípios dos anos 70.

A Igreja Católica teve enormes responsabilidades no atraso manifestado sobretudo em Portugal e Espanha, no acesso ao Desporto pelas mulheres até ao final dos anos 60, pelo menos.
Na actualidade, a discriminação não existe ou será apenas residual em meios rurais muito isolados.

Anónimo disse...

Gostaria de deixar alguns, breves, comentários às últimas afirmações de Luis Leite.
- Se julga que as atletas moçambicanas de então tiveram sucesso por causa da influência da mentalidade sul-africana (com apartheid) por que razão não têm o mesmo sucesso hoje com a influência sul-africana (sem apartheid)? Será devido apenas a constrangimentos financeiros?
- Estou convencido, pelo pouco que sei dessa época, que aquele sucesso pouco teve a ver com a vizinhança.
- Aquele sucesso teve tudo a ver com a liderança do desporto e do atletismo moçambicano da altura e, já agora, com os projectos lançados por essa equipa.
- O Prof. João Boaventura, como membro dessa equipa, poderá explicar-lhe melhor como tudo aconteceu.
- Faço esta observação porque quero reiterar o que já opinei noutro momento. As mentalidades, ou as atitudes, ou os hábitos alteram-se através da prática de novas actividades veiculados por projectos portadores de mudança. O meu congénere anónimo "Funcionário do Estado" poderá explicar tudo isto de forma mais rigorosa citando muitos dos autores, do materialismo dialéctico e de outras escolas, que estudaram a génese da mudança das mentalidades e atitudes dos indivíduos. Mas que elas podem mudar lá isso podem a não ser que acreditemos que estamos sujeitos a uma maldição histórica.
-Acredito que, com lideranças fortes, e dialogantes, no Estado e na organização federativa, será possível lançar projectos alternativos que nos façam sonhar com um novo desporto.
-Talvez esta crença seja demasiado idealista. Eu acredito.
Saudações cordiais.

Kaiser Soze disse...

O caminho para a evolução é longo e só é abreviado com actos imprevisíveis e catastróficos.
Pouco há de tão relevante para a emancipação feminina como as guerras, por exemplo (mais em tempos idos do que actuais mas, ainda assim, a verdade mantém-se).
A mulher saiu de casa quando não havia homens, ou havia poucos para trabalhar, durante a II GGM.
Saiu de casa, trabalhou e não voltou a ser o que era. Se a sociedade trabalhadora é ainda patriarcal é-o bem menos do que era antes disso.

Quanto ao que ganham homens e mulheres no desporto profissional, aí já me parece uma luta sem sentido.
No momento em que, por exemplo, o futebol feminino tiver a projecção do masculino isso poderá ser discutido mas, a verdade pura e dura, é que tal dificilmente acontecerá. O homem é fisicamente mais forte e, por isso, o desporto masculino é mais rápido e atractivo.
Neste mundo de audiências e de publicidade, quem é mais visto ganha mais dinheiro.

Luís Leite disse...

Caro anónimo das 02:15h

Continua a incomodar-me dialogar com personagens reais travestidas de uma capa virtual opaca, mas passemos à frente:

Acompanho o Atletismo português europeu e Mundial desde os meus 12/14 anos, ou seja desde 1968/70.
Conheço bem, não só as pessoas, mas a maioria dos/das atletas e treinadores da época porque convivi com a maioria deles enquanto atleta e espectador.
Não apontarei mais nomes nem de atletas nem de treinadores, porque poderia esquecer-me de algum e seria injusto.

O tema levantado por MJ Carvalho tem a ver com a igualdade de oportunidades e o acesso das mulheres ao Desporto.

Acontece que durante os anos 60, Portugal e Espanha estavam muitíssimo atrasados em relação à maioria dos países da Europa em todos os aspectos, mas sobretudo no acesso da mulher ao Desporto.
As causas estão, fundamentalmente, no papel exclusivo de mãe e dona de casa que era reservado à mulher no contexto político do Estado Novo e da ditadura franquista, com a ajuda importante e decisiva da Igreja Católica.

Quando referi o caso específico das atletas moçambicanas (brancas, mulatas e negras) que trouxeram para o Continente uma nova imagem de desinibição, não tenho dúvidas de que foi por influência da proximidade e contacto com a África do Sul que, apesar de estar banida da IAAF e do IOC devido ao regime de appartheid, era uma potência desportiva das mais importantes do mundo.

Na sociedade sul-africana branca dos anos 60, as mulheres não eram discriminadas desportivamente, por razões obviamente culturais, tal como se passava na Europa do Norte, Central e de Leste, no pós-guerra.

Foi o contacto com essa realidade próxima, com deslocações periódicas à África do Sul, que fez com que muitos responsáveis do desporto moçambicano se atrevessem a furar a influência da tradição hiper-conservadora que permanecia na Metrópole.

Obviamente, a desinibição para a prática Desportiva criada em Moçambique terá outras razões muito particulares, sobretudo o clima que permitia um tipo de vida ao ar-livre durante todo o ano, próprio daquela região de África.

O Prof. António Vilela, um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento do Desporto em geral e do Atletismo em particular em Moçambique, contou-me muito daquilo que acabo de aqui escrever, embora o simples contacto com as atletas daquela época fosse revelador da existência de uma realidade que teria sido impossível de implementar, pelos mesmos responsáveis desportivos, no Continente, nas décadas de 50, 60 e princípio de 70.

O facto de o atletismo e o Desporto em geral em Moçambique não ter evoluído após o 25 de Abril e a independência, tem a ver, fundamentalmente, com o facto de a maioria dos responsáveis e atletas referidos terem regressado ou emigrado para a Metrópole após a independência.
E também por Moçambique se ter envolvido numa Guerra Civil generalizada a todo o território, ao contrário do que aconteceu na Guerra Colonial, em que as principais cidades, sobretudo Lourenço Marques, estavam longe dos palcos da guerra.

No entanto, na actualidade, a África do Sul continua a influenciar, embora menos, o desporto moçambicano, apesar da falta de quadros e de meios locais e da preocupação com outras áreas prioritárias para o desenvolvimento de um dos países mais pobres do mundo.

Cordialmente.

joão boaventura disse...

Estimada Maria José

O Parlamento Europeu, na Sessão de 13.03.2003, através da Comissão dos Direitos da Mulher e Igualdade de Oportunidades, debruçou-se sobre a Mulher e o Desporto, e aprovou uma resolução, em 20.03.2003, por 16 votos a favor e 6 abstenções, conforme se testemunha no sítio do European Parliament, com a participação da deputada ao Parlamento Europeu, Regina Bastos.

Passado, um ano, em 10.03.2004, com a aprovação, do Comité Olímpico Espanhol, o apoio do “Consejo Superior de Deportes” e do “Instituto de la Mujer”, como reflexo do apelo do Parlamento Europeu, formalizou-se a Comisión Mujer y Deporte.

A referida Comissão, no portal do Comité Olímpico Espanhol, permite a consulta de 30 documentos sobre a igualdade, permitindo ainda o acesso à Hemeroteca com todos os registos das participações da mulher espanhola nos campeonatos nacionais, internacionais, europeus, mundiais e olímpicos, nos diversos órgãos dos mass media.

O Comité Olímpico Português só contemplou a “Comissão de Atletas Olímpicos”.

Isto significa que há, nesta Comissão, mulheres olímpicas divorciadas do papel que uma Comissão Mulher e Desporto poderia desempenhar. Quem poderá dar o sinal de arranque decisivo ?

Cordialmente

joão boaventura disse...

No célebre Livro Branco sobre o Desporto, espécie de Bíblia ou Guia Desportiva dos Europeus encontramos esta sugestiva e esclarecedora alínea:

«2.5.3. La dimension homes-femmes»
«La dimension spécifique hommes-femmes de l'égalité des chances est intégrée à toutes les politiques européennes. La Commission a adopté sa Feuille de route pour l’égalité entre les femmes et les hommes 2006-2010, en mars 2006. Même si les chiffres diffèrent et ne sont pas disponibles dans tous les États membres, il règne une impression générale de sous-représentation, à des degrés divers, du sexe féminin dans le sport, et ce au niveau de la participation dans le sport, de l’organisation et de la gestion des activités sportives, des postes de direction dans le sport et de la couverture audiovisuelle des compétitions impliquant des sportives.»

Donde se conclui que a « dimensão homens-mulheres” continua, como no título da referência, em branco.

Cordialmente

Luís Leite disse...

Insisto:

A igualdade de oportunidades já está consagrada na Lei.

O Desporto feminino continua, nas suas diversas vertentes participativas, em média, longe do masculino.

A questão não é só portuguesa, é europeia.

Pergunta-se: o que fazer, em concreto (manifestos programáticos de intenção política já não adiantam nada), para equilibrar a situação, sendo certo que o problema é cultural e além disso muitíssimo complexo?

Aqui não se podem impor as tão discutíveis quotas para as mulheres.

Então, quem tem a solução que a tire da cartola e a apresente!...

joão boaventura disse...

Relativamente à influência sul-africana no desenvolvimento do atletismo moçambicano, transcrevo o que escrevi, no “Notícias da Tarde”, de 06.09.1963, com o título "Vizinhança":

«Que se saiba têm-se processado vários intercâmbios desportivos entre Moçambique e a África do Sul, na melhor harmonia, apesar da linha de conduta social divergir nas relações internas de homem para homem.

Uma ou outra questão se levanta quando a deslocação se orienta no sentido Moçambique-África do Sul. Mas essa resulta de um equilíbrio e bom senso que deve presidir à decisão de enviar ou não determinada equipa. E, no caso de ir, qual o critério selectivo. Os dirigentes desportivos moçambicanos têm procurado, pelo menos, não transgredir as leis sul-africanas.

Vem isto a propósito do ponto de vista do governo vizinho sobre a discriminação racial no desporto sul-africano. A política desportiva foi enunciada pelo Ministro do Interior e consta de oito pontos, dos quais interessa apenas a citação do 5.º (os restantes serão citados no “Notícias” de domingo, no artigo “Onde se fala de Baden-Baden”) Reza o 5.º ponto de vista do governo sul-africano, em matéria desportiva:

"Os convites às equipas sul-africanas por parte das associações desportivas dos territórios vizinhos que estão em conflito com os costumes sul-africanos – a menos que sejam encontros internacionais – não serão considerados favoravelmente".

Quais territórios vizinhos ? O Transkei e outros Estados em formação, de população totalmente não-branca ? E até porque o Transkei já se chama o Estado dos Negros. Serão esses novos Estados, em criação, os territórios vizinhos em conflito com os costumes sul-africanos ?

Ou será Moçambique ? Ou Angola ? ou a Rodésia do Sul ? Não existe evidentemente um conflito no sentido de “luta” mas apenas com o sentido de “desacordo”, “contradição” com os “costumes sul-africanos”.

Não se enxerga a vastidão da medida,, nem o alcance do ponto de vista. Nem deve interessar em matéria tão confusa. E até porque pode muito bem acontecer que “territórios vizinhos” não sejam os portugueses.

Apesar de tudo são medidas novas que o movimento desportivo moçambicano não pode ignorar. Quanto mais não seja para que não haja espanto e admiração, se acaso acontecer estar Moçambique incluído nos “territórios vizinhos”.

Pontos de vista
(fim da transcrição)

Chegados aqui convém esclarecer que as equipas moçambicanas desportivas respeitaram sempre as leis sul-africanas nas suas deslocações, de acordo com o velho rifão “em Roma sê romano”.

É verdade que se poderia ter optado pela não participação mas, como opinava o então Presidente do Comité Olímpico Internacional, Avery Brundage, a propósito do apartheid:

“Num mundo imperfeito como o nosso, se se deve deixar de praticar desporto, cada vez que as leis humanas são violadas, nunca haveria comparticipações internacionais.”

Quem estiver interessado em conhecer um pouco mais sobre a história do desporto em Moçambique pode consultá-la no blog The Delagoa Bay Company, criado por um antigo aluno meu, e em constante actualização. Os interessados em receber regularmente notícias basta subscrever o blog, na coluna da direita.