Os programas desportivos de detecção, selecção e orientação de talentos já tiveram melhores dias. E a protecção dos talentos também. Pelo menos na sua forma organizada e sistematizada no âmbito das políticas desportivas, como foram conhecidos no último terço do século passado. Estes programas, muito identificados com as politicas desportivas dos ex-países socialistas, visavam identificar aqueles que poderiam ser preparados, em regimes de treino intensivo, para responder às exigências do desporto de alto rendimento. E através dessa selecção melhorar os sistemas de representação desportiva nacional no contexto internacional. Requeriam um modelo centralizado de planeamento desportivo directamente dependente do Estado. A queda daqueles regimes ofuscou este modo de trabalhar o alto rendimento. E o tema quase que saiu da literatura e das agendas técnicas e científicas das reuniões internacionais. Isto não obstou a que, alguns países, mantivessem sob a forma de programas, soluções mitigadas de detecção de talentos de modo a abastecerem os seus níveis de representação desportiva.
Nesses programas o traço comum é terem na base programas de generalização e mobilização desportivas sobretudo dirigidos a crianças e jovens. E estarem articulados com a prática desportiva escolar. Naturalmente que este tipo de programas não evitam que o processo de identificação dos mais dotados ocorra “ acidentalmente”. Mas são programas que procuram monitorizar as características dos indivíduos com base em critérios técnicos e científicos que permitem uma base preditiva sustentada quanto à capacidade de virem a alcançar elevados rendimentos desportivos. E aliando a avaliação de características morfo -funcionais e motoras com indicadores de natureza psicológica e social.
Os programas de detecção de talentos tendem a acentuar a sua atenção num pequeno número de indivíduos e mereceram alguns reparos por se poderem constituir numa forma de especialização desportiva precoce através do treino intensivo e estimularem, para os que não conseguem acompanhar os ritmos de preparação desportiva ou não respondem de imediato às expectativas de rendimento, o abandono desportivo precoce. O que coloca com igual pertinência a necessidade de programas de acolhimento desportivo a todos, independentemente das suas capacidades de aptidão motora-desportiva. Ou seja, o processo de elitização desportiva, que é visado pelos programas de “detecção de talentos” deve ser conciliado com programas de fixação dos praticantes que visem impedir/limitar o abandono desportivo precoce e garantam o acolhimento e inclusão na pratica desportiva a todos os que a pretendam manter.
A mercantilização do alto rendimento e a profissionalização desportiva vieram introduzir novos dados neste problema. Os sistemas de representação desportiva e as facilidades de mobilidade dos praticantes transformaram, em algumas modalidades, a detecção de talentos, num processo de procura em outros mercados, que não exclusivamente os nacionais. Em que os especialistas dessa pesquisas passaram a ser os olheiros e os agentes intermediários. Escolhendo praticantes com processos de formação desportiva já iniciados, mas onde se perspectivam possibilidades de futuras transacções com mais valias financeiras associadas. Esta tendência menorizou o recrutamento nacional e introduziu singularidades novas nos sistemas de representação desportiva. A estrangeirização de muita da nossa prática desportiva ao mais elevado nível da representação associativa e processos de naturalização por razões desportivas não são um processo exclusivo do futebol. Nesta modalidade a sua maior expressão é apenas consequência da sua maior dimensão desportiva. Muitas outras modalidades tendem a assumir a mesma tendência. Algumas mais pequenas, (bilhar, râguebi, hóquei em patins, etc.) aparentemente afastadas das lógicas do futebol iniciaram um processo de recrutamento externo já com alguma expressão. E a legislação europeia sobre a livre circulação de praticantes só veio acentuar esta tendência que favorecendo a exportação de praticantes, também acentua a sua importação numa relação, no caso português, claramente favorável a esta última.
Muita da literatura internacional há muito que não se cansa de chamar a atenção para a limitada capacidade do desporto para controlar a sua própria evolução. O desporto converteu-se numa complexa indústria que lida com uma rede infindável de relações baseadas numa grande diversidade e heterogeneidade de interesses e de actores envolvidos. É um mercado aberto. A autonomia do desporto foi-se reduzindo face à sua crescente comercialização. E hoje ninguém, nem o próprio Estado, tem o monopólio do poder, sobre esse mercado. E bom tê-lo presente de modo a que se não criem expectativas elevadas sobre o modo de defender os nossos talentos desportivos. E para que se não corra o risco de, ao se tentar perceber o que se passa como os jovens talentos desportivos, se esquecer, por completo, o acolhimento e inclusão na prática desportiva das crianças e dos jovens que, não sendo talentos, querem praticar desporto.
Nesses programas o traço comum é terem na base programas de generalização e mobilização desportivas sobretudo dirigidos a crianças e jovens. E estarem articulados com a prática desportiva escolar. Naturalmente que este tipo de programas não evitam que o processo de identificação dos mais dotados ocorra “ acidentalmente”. Mas são programas que procuram monitorizar as características dos indivíduos com base em critérios técnicos e científicos que permitem uma base preditiva sustentada quanto à capacidade de virem a alcançar elevados rendimentos desportivos. E aliando a avaliação de características morfo -funcionais e motoras com indicadores de natureza psicológica e social.
Os programas de detecção de talentos tendem a acentuar a sua atenção num pequeno número de indivíduos e mereceram alguns reparos por se poderem constituir numa forma de especialização desportiva precoce através do treino intensivo e estimularem, para os que não conseguem acompanhar os ritmos de preparação desportiva ou não respondem de imediato às expectativas de rendimento, o abandono desportivo precoce. O que coloca com igual pertinência a necessidade de programas de acolhimento desportivo a todos, independentemente das suas capacidades de aptidão motora-desportiva. Ou seja, o processo de elitização desportiva, que é visado pelos programas de “detecção de talentos” deve ser conciliado com programas de fixação dos praticantes que visem impedir/limitar o abandono desportivo precoce e garantam o acolhimento e inclusão na pratica desportiva a todos os que a pretendam manter.
A mercantilização do alto rendimento e a profissionalização desportiva vieram introduzir novos dados neste problema. Os sistemas de representação desportiva e as facilidades de mobilidade dos praticantes transformaram, em algumas modalidades, a detecção de talentos, num processo de procura em outros mercados, que não exclusivamente os nacionais. Em que os especialistas dessa pesquisas passaram a ser os olheiros e os agentes intermediários. Escolhendo praticantes com processos de formação desportiva já iniciados, mas onde se perspectivam possibilidades de futuras transacções com mais valias financeiras associadas. Esta tendência menorizou o recrutamento nacional e introduziu singularidades novas nos sistemas de representação desportiva. A estrangeirização de muita da nossa prática desportiva ao mais elevado nível da representação associativa e processos de naturalização por razões desportivas não são um processo exclusivo do futebol. Nesta modalidade a sua maior expressão é apenas consequência da sua maior dimensão desportiva. Muitas outras modalidades tendem a assumir a mesma tendência. Algumas mais pequenas, (bilhar, râguebi, hóquei em patins, etc.) aparentemente afastadas das lógicas do futebol iniciaram um processo de recrutamento externo já com alguma expressão. E a legislação europeia sobre a livre circulação de praticantes só veio acentuar esta tendência que favorecendo a exportação de praticantes, também acentua a sua importação numa relação, no caso português, claramente favorável a esta última.
Muita da literatura internacional há muito que não se cansa de chamar a atenção para a limitada capacidade do desporto para controlar a sua própria evolução. O desporto converteu-se numa complexa indústria que lida com uma rede infindável de relações baseadas numa grande diversidade e heterogeneidade de interesses e de actores envolvidos. É um mercado aberto. A autonomia do desporto foi-se reduzindo face à sua crescente comercialização. E hoje ninguém, nem o próprio Estado, tem o monopólio do poder, sobre esse mercado. E bom tê-lo presente de modo a que se não criem expectativas elevadas sobre o modo de defender os nossos talentos desportivos. E para que se não corra o risco de, ao se tentar perceber o que se passa como os jovens talentos desportivos, se esquecer, por completo, o acolhimento e inclusão na prática desportiva das crianças e dos jovens que, não sendo talentos, querem praticar desporto.
5 comentários:
O problema é que o "acolhimento desportivo" a todos não "vende" nem dá tempo de antena (portanto 0€ de receitas em publicidade) nem tem, da parte do Estado o devido reconhecimento em sede do estabelecimento e valorização de critérios (onde é que eles estão seja em que contexto for?) de atribuição de apoios ao funcionamento das federações que são as instituições que, por excelência organizam essa dimensão da actividade desportiva.
Em tese, o Dr. José Manuel Constantino que tem sempre tendência (embora nem sempre o consiga) de acertar "na mouche" tem, obviamente, razão.
Obrigado pela sua inspiração.
Obrigado João Paulo pelo seu comentário.
A SIRC (Sport Information Resource Centre), integrado no velho ICSSPE, e destinado a calendarizar todos os congressos, seminários e reuniões internacionais das diversas áreas desportivas, e que pode ser consultada neste sítio, insere um artigo do Prof. J. Van Deventer, da Universidade de Stellenbosch (África do Sul), com o título A Paradigm Shift In Life Orientation, onde o autor aborda as dificuldades para o entendimento e clareza do campo da Educação Física, seus objectivos, aliás problema secular e globalizado, sem resposta satisfatória para os profissionais, pelo que, uma vez mais, propõe um novo paradigma que, não parece oferecer melhores horizontes.
É possível que estas permanentes abordagens constituam esforços para descortinar os horizontes perdidos da educação física.
Para o autor a chave centrar-se-ia na “Life Orientation” e considera que, para a alcançar, seria legítima a opção Educação Física e Saúde, em vez de apenas Educação Física, o que nos remete novamente para o ciclo da World Health Organization, onde o Dr. Kenneth Hardman nos apresenta um extenso relatório sobre a matéria, Na Up-Date on the Status of Physical Education in Schools Worldwide Technical Report for the Worls Health Organisation, pela actualização de coisas velhas, sabidas e ressabidas, como que a retratar a manutenção do buraco negro da Educação Física, em permanente crise, mas também a sugerir que nunca deveria ter saído da Medicina, seu berço de nascimento.
Esta nova orientação tem sede na epidemia da obesidade, e arrastou os da educação física a incluir o signo saúde (uma vez mais o erro da educação física ter saído da Medicina), o que levou o sociólogo britânico John Evans, da Universidade Loughborough, a escrever um trabalho crítico sobre a matéria Physical education and health: a polemic or “let them cake”, recorrendo, com a última expressão, entre aspas, ao caso narrado por Rousseau que, nas suas Confissões, sobre a Revolução Francesa, o povo pedia pão, e a rainha Maria Antonieta respondia “then let them eat pastry”, ou seja, “não tendes pão, comei brioches” (livro VI, p. 220, na versão inglesa). O autor simbolicamente encontra no paralelismo fraseológico, um certo e infundado exagero com o recurso à “saúde”, como se a educação física dela não tratasse.
Mas retorna-se ao artigo do Prof. J. Van Deventer, como compaginação do post de José Constantino, porque , o sul-africano critica a forma como a educação física age, porque os resultados não aparecem, donde resulta a perda de desportistas talentosos. Mas, como se sabe o mal é global e unânime.
Talvez seja o momento de reclamar do Estado uma atenção célere sobre a educação física nas escolas, em vez de nos preocuparmos com os problemas do desporto profissional.
Afinal tudo começa na base e não no teto.
Ainda a propósito da "saúde", e para se ver que ela não só foi invasiva na educação física e no desporto, oferece-se, a quem estiver interessado, a leitura das comunicações apresentadas no "Encontro Nacional da Sociologia da Saúde", que ocorreu, nos dias 19 e 20 de Novembro, na Universidade da Beira Interior, e sxó agora foi possível dar à estampa.
Obrigado João Boaventura pelos teus importantes contributos.
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