Em Portugal, contrariamente ao que se passa em outros países, os grupos de estudo ou as fundações que apoiam os partidos como vocação governamental são parcos na produção de estudos de apoio à acção governativa Perante essa escassez de reflexão é natural que os governos constituam grupos de trabalho para o estudo de situações que envolvam posteriores decisões políticas. Como é normal convidar para esses grupos as personalidades que se entende melhor corresponder ao que se pretende. O que, posteriormente, os governos entendem fazer com os resultados dos trabalhos encomendados só aos governos diz respeito. Tanto podem acolher as conclusões apresentadas, como acolher apenas parte delas ou pura e simplesmente não as acolher. Qualquer que seja a solução encontrada nada belisca o respeito pelo trabalho realizado, nem a autonomia dos governos em decidirem como melhor entendem ser útil para o país. São as regras do jogo.
O que não é natural é constituir grupos de trabalho para estudar matérias sobre as quais quem governa já consolidou decisões. Ou para entreter. Por ser assim a constituição desses grupos e o respectivo trabalho deve ser rodeado de alguma prudência e reserva de modo a que se não alimentem equívocos entre o que é um estudo, o que é um estudo sobre algo que o governo já tem uma opinião construída e o que é a preparação necessária para uma resolução política. Precisamente o contrario do que está a suceder.
A constituição de grupos de trabalho de apoio ao governo transformou-se num acto de propaganda política. Não se ficam por elaborar o estudo e entregá-lo ao governo. Fazem conferências de imprensa e apresentam conclusões. Participam em fóruns. Que rapidamente se transformam em factores de réplica política que abordam as conclusões dos estudos como se tratassem de decisões políticas. Aconteceu com os transportes, com a televisão pública (neste caso com o governo em decidir mesmo antes da apresentação das conclusões do trabalho) e agora com a saúde. Vamos aguardar o que se passará com os grupos criados para o desporto.
Se o pretendido é ter o estudo de um problema para quê dar-lhe publicidade antes de decidir o que fazer com esse estudo? Este modo de tratar o assunto acaba, no entanto, de ser útil ao governo. Funciona como uma espécie de termómetro social. Deixa-se que as conclusões surjam na opinião pública e aguardam-se as reacções. Se elas forem de reserva imediatamente pode-se invocar que se trata de um estudo e não de uma decisão. Pode-se aproveitar o que não suscita contestação e o resto ou se rejeita, ou se constrói um plano de contingência para a sua aceitação. Há neste modo de funcionar um lado desculpabilizador e de subliminar valoração da vitimização do governo que se traduz nesta ladainha: uma coisa é o que o grupo propõe outra o que o governo decidirá pelo que não adianta começar já a criticar.
Neste modo de trabalhar há um certo frenesim comunicacional a que não é estranha as características psicológicas de quem coordena a comunicação governamental. Mas não é uma forma madura de tratar o assunto. A constituição de grupos de trabalho por iniciativa governamental exige moderação e bom senso político e técnico. Sem euforias, nem publicidades gratuitas. Os decisores políticos devem ouvir e considerar o leque de soluções estudadas e eventualmente exequíveis e decidir em conformidade. Nada pior do que fogachada mais própria da adolescência política do que de decisores seguros e responsáveis que pensam no país e não em obter uma qualquer caixa mediática.
Mas a constituição de grupos de trabalho ou de livros brancos, verdes ou de outras cores também não podem servir para entreter. Para fazer da governação um exercício de estudo de soluções . Cujo destino é a gaveta.
Na última década, os estudos encomendados pelos sucessivos governos, se fossem publicados, demonstrariam que não é a capacidade de elaborar estudos que nos penaliza. Mas o que, deles, não fazemos.
O que não é natural é constituir grupos de trabalho para estudar matérias sobre as quais quem governa já consolidou decisões. Ou para entreter. Por ser assim a constituição desses grupos e o respectivo trabalho deve ser rodeado de alguma prudência e reserva de modo a que se não alimentem equívocos entre o que é um estudo, o que é um estudo sobre algo que o governo já tem uma opinião construída e o que é a preparação necessária para uma resolução política. Precisamente o contrario do que está a suceder.
A constituição de grupos de trabalho de apoio ao governo transformou-se num acto de propaganda política. Não se ficam por elaborar o estudo e entregá-lo ao governo. Fazem conferências de imprensa e apresentam conclusões. Participam em fóruns. Que rapidamente se transformam em factores de réplica política que abordam as conclusões dos estudos como se tratassem de decisões políticas. Aconteceu com os transportes, com a televisão pública (neste caso com o governo em decidir mesmo antes da apresentação das conclusões do trabalho) e agora com a saúde. Vamos aguardar o que se passará com os grupos criados para o desporto.
Se o pretendido é ter o estudo de um problema para quê dar-lhe publicidade antes de decidir o que fazer com esse estudo? Este modo de tratar o assunto acaba, no entanto, de ser útil ao governo. Funciona como uma espécie de termómetro social. Deixa-se que as conclusões surjam na opinião pública e aguardam-se as reacções. Se elas forem de reserva imediatamente pode-se invocar que se trata de um estudo e não de uma decisão. Pode-se aproveitar o que não suscita contestação e o resto ou se rejeita, ou se constrói um plano de contingência para a sua aceitação. Há neste modo de funcionar um lado desculpabilizador e de subliminar valoração da vitimização do governo que se traduz nesta ladainha: uma coisa é o que o grupo propõe outra o que o governo decidirá pelo que não adianta começar já a criticar.
Neste modo de trabalhar há um certo frenesim comunicacional a que não é estranha as características psicológicas de quem coordena a comunicação governamental. Mas não é uma forma madura de tratar o assunto. A constituição de grupos de trabalho por iniciativa governamental exige moderação e bom senso político e técnico. Sem euforias, nem publicidades gratuitas. Os decisores políticos devem ouvir e considerar o leque de soluções estudadas e eventualmente exequíveis e decidir em conformidade. Nada pior do que fogachada mais própria da adolescência política do que de decisores seguros e responsáveis que pensam no país e não em obter uma qualquer caixa mediática.
Mas a constituição de grupos de trabalho ou de livros brancos, verdes ou de outras cores também não podem servir para entreter. Para fazer da governação um exercício de estudo de soluções . Cujo destino é a gaveta.
Na última década, os estudos encomendados pelos sucessivos governos, se fossem publicados, demonstrariam que não é a capacidade de elaborar estudos que nos penaliza. Mas o que, deles, não fazemos.
13 comentários:
Com o fim das ideologias, sobrou o "politicamente correcto" (PoCo).
O PoCo (para não se confundir com PC) não é mais do a busca incessante de tudo quanto aparentemente caiba nos desígnios eleitoralistas do(s) partido(s) no poder.
O que JM Constantino escreve é verdade.
Quem vai para lá não sabe bem o que pretende fazer com o dinheiro de que dispõe. Sabe, sim, que tem que o gastar e que tem clientelas políticas à perna.
Com esta metodologia do termómetro, o Governo funciona como Pilatos.
Não deixa de ser uma estratégia inteligente...
Caro Constantino
No blog Desporto e Economia, abordo esse problema no 5.º poste com o título “Análise crítica e semântica do Decreto-Lei n.º 98/2011, de 21 de Setembro”, e que promete continuidade.
Um abraço
Caro Constantino
No anterior comentário sugeri a leitura do meu 5.º poste sobre o assunto que abordas hoje, mas considerando que para o entender seria esclarecedora e mais precisa dar uma vista de olhos no 4.º poste, por mais preciso e justificativo sobre a tomada de decisão sobre um Livro Branco da Juventude.
Se é verdade que a Secretaria de Estado do Desporto e Juventude poderia ter optado por um Livro Branco do Desporto, não o fez porque já havia um Livro Branco do Desporto, e pareceria falta de originalidade.
Acontece que Livros Brancos da Juventude já abundam, como se pode verificar no 4.º poste que acima remeto, pelo que, mais um, já não se estranharia tanto. Daí a errática opção governamental.
Um abraço
O Site em Off!
Não há que preocupar com nada do que se vai ou poderia vir a passar. Cinco longos meses passados e a Secretaria de Estado da Juventude e...ainda está em espera de ligação. Parece que à falta de melhor e melhor está em manutenção. Faz-se uma ideia? Deve vir aí uma torrente de documentos e de estratégias e de anúncios e coisas e tal e tal...Queriam melhor? Melhor era mesmo nitidamente impossível...!
J. Manageiro da Costa
José Manuel Constantino, autor deste último post, quando desempenhou funções como presidente do, então, IDP, foi inovador ao lançar para a comunidade desportiva nacional um documento com o título sugestivo Opções estratégicas para o desenvolvimento Desportivo Nacional (2003-2013).
Sugiro-lhe que nos diga quais foram as principais razões que levaram a que o citado documento, com uma qualidade indiscutivel, não tenha tenha sido operacionalizado como era, certamento, o seu desejo.
Mais concretamente releio o capítulo 4 - Medidas de Promoção e elitização Desportiva e pergunto-me o que é que terá impedido a sua execução plena. Se estas estratégias tivessem sido concretizadas não estariamos na situação em que estamos hoje no que concerne ao Alto Rendimento.
Não gostaria de ironizar com um assunto tão sério mas será que não se poderá pensar que, também, este documento, na altura, desempenhou a função de "termómetro"?
Foi involuntário, foi "apanhado na curva", ou o documento já ia, "ab initio" revestido desse propósito?
Bom dia JMConstantino,
Como o documento invocado no último comentário me suscitou também grande interesse, gostaria que o JMC levantasse o véu sobre a questão.
Um bom domingo.
A questão que agora é suscitada está devidamente esclarecida na página 18 do documento citado:..a a aprovação pelo Governo da proposta de Opções Estratégicas para o Desenvolviemnto Desportivo Nacional,nunca foi concluída por razões que os autores desconhecem.
Acrescento que a pedido do Secretário de Estado do Desporto(Hermínio Loureiro)reuni por duas vezes com o Ministro dos Assuntos Parlamentares(Luís Marques Mendes)e elementos do seu gabinete para preparar o documento a ser proposto ao Conselho de Ministros, mas ignoro os motivos que estão na sua não aprovação e suponho da sua simples apresentação.
Levantei a questão porque gostaria de conhecer a sua reflexão, mais profunda - não a do "termómetro", sobre estas graves lacunas do nosso estilo de governação.
Porquê tanta incapacidade de "definir rumos e orientar velas"
para que esta nossa "embarcação" alcance novos "portos"?
Obviamente não se lhe pode pedir que leia(tivesse lido)o pensamento dos Hermínios ou dos Mendes que polulam pela nossa política. Gostaria de ouvir, de si,algo sobre a sua leitura pessoal destes acontecimentos que, tão idelevelmente,têm enformado o nosso modo de viver as "coisas públicas".
Porque é que não se dá qualquer valor aos documentos e aos estudos produzidos?
Porque é que não se dá qualquer valor aos planeamentos aos objectivos etc.?
Em suma, qual será a origem e a génese deste nosso, secular, atabalhoamento por parte de quem nos governa? De quem é a culpa?
Será apenas da Igreja e das suas ideologias.
No nosso linguajar popular há um aforismo que reza algo como:
"Se quiseres ver Deus a rir, mostra-lhe os teus planos".
Será que foi este riso que você despertou quando apresentou os seus "planos"? Para além, naturalmente, dos risos dos Srs. Hermínio Loureiro e M.Mendes.
Caro Constantino
Das "Opções estratégicas para o desenvolvimento Desportivo Nacional (2003-2013).
Só o simples facto de partir de onde partiu explica tudo, independentemente da alergia doentia que todos os Governos sentem e votam ao desporto.
As esferas superiores preferem coisas mais simples que, mesmo que dêem algum trabalho bricolagénico a fabricar, como os inócuos Livros Brancos da Juventude; ou perder tempo a explicar enfaticamente as razões de uma Secretaria de Estado juntar a Juventude com o Desporto, porque sabem que, em pedagogia política, "perder tempo" significa "ganhar tempo".
É essa a razão. E quando dizes que ignoras "os motivos que estão na sua não aprovação", eles resultam de as Opções terem sido apresentadas a ignorantes do desporto e pessoas sem
princípios, por nunca terem dado qualquer justificação.
As Opções foram ignoradas, possivelmente nem se deram ao trabalho de as ler - é esse o retrato dos Governos que se interessam pelo desporto.
Um abraço
Diria mesmo:
É suposto os Governos e a Assembleia da República interessarem-se por Desporto?
Ou existem e existiram sempre e apenas eventuais oportunismos de circunstância?
Conclusão, Caro Constantino
"Se bem reparares, durante grande parte da vida agimos mal, durante a maior parte não agimos nada, durante toda a vida agimos inutilmente."
Lúcio Séneca,
in "Cartas a Lucílio"
É isso - di-lo Séneca - perante o poder, somos inúteis.
Um abraço
Basta uma folha A4 para explicar o que há a fazer a um Governante. Quem não consegue resumir o que quer numa folha A4 não sabe dizer o que quer. Os Governantes querem instrumentos para 'realizar' e para 'fazer'. Não são eleitos pelo Povo para desperdiçarem o mandato a lerem documentos filosóficos de dezenas de páginas. Isso é na Universidade e nos Fóruns de debate.Esta é a razão porque esses documentos não servem para nada senão para sinalizar os seus autores, os quais já os apresentam para conseguirem não fazer nada. São documentos com muitas folhas que não dizem nada, e são um dos males do desporto português. Ou não? Uma folha A4 é suficiente.
Funcionário do Estado
E uma folha A4 tem ainda a vantagem de estar sempre à mão para um melhor destino:limpar o que se sujou e deste modo cumprir a sua função higiénica.É para isso que servem as folhas A4 e é esse o seu destino.Triste,pouco asseado mas útil
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