terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os três pastorinhos

Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, afirmou, no inicio do mandato, que não ia justificar o que tinha que fazer com o passado. Mas não o devia ter feito. Porque era uma promessa incumprível. E porque era um erro. A governação no presente não podia deixar de estar condicionada pelo que foi o passado. Como se está a ver, a promessa, foi sol de pouca dura. Quando não é ele, são outros por ele. Há mesmo quem defenda que os ex-governantes socialistas deviam estar a ser julgados pela "gestão danosa de orçamentos" e pelo "caminho de ligeireza e irresponsabilidade"com que governaram o país.
Seria bom que tão patrióticos apelos e exigências rapidamente fossem tomados pelo bom senso. A história dos governos não é de sentido único. E com muita facilidade a pedra cai em cima de quem a atira. O descalabro das contas públicas no governo, nas regiões autónomas, nas autarquias, nas empresas públicas tem os socialistas como únicos responsáveis?
Em matéria de desporto o primeiro acto político do actual governo, e depois de uma ida ao futebol, foi o das “facturas escondidas” . O assunto teve o relevo que se conhece. E, do que se conhece, o que esteve em causa, não foi apenas a gestão de um instituto público. O modo como o assunto foi divulgado numa comissão parlamentar e o anúncio de que os resultados do inquérito em curso iriam ser objecto de divulgação pública visava outro objectivo: sancionar politicamente a governação anterior. Passávamos do domínio da gestão de um instituto público para o campo da política.
Ao tempo, o caso das “facturas escondidas”, não tinha ainda a companhia das facturas da Madeira, ou de certas administrações hospitalares, mas não era preciso ser bruxo para saber que buracos do mesmo tipo nas contas públicas não seriam, nem são, casos raros. E que não são um exclusivo de governações socialistas. Há erros honestos, erros por negligência e erros por intenção.buracos resultantes de opções políticas erradas, que devem ser julgados politicamente, e buracos resultantes do incumprimento de normativos legais, que devem ser julgados pelos tribunais e, se for caso disso, penalizados. Tratar tudo por igual normalmente dá um resultado de efeito nulo.
Nas políticas para o desporto a alteração de rumo ditada pela escassez de meios financeiros e por compromissos transitados que têm de ser regularizados bem pode ser aproveitada para corrigir uma deriva que, envolvendo despesa, não acrescenta desenvolvimento. Ausente das Grandes Opções do Plano, - instrumento estratégico que o deveria acolher - em que documento programático pensa o governo definir essas orientações?
O governo actual defendeu, e bem, uma reavaliação dos critérios de despesa. Convém rapidamente não fazer o que se condenou nos outros. Mas sobretudo importa conhecer quais são esses novos critérios. Onde havia despesa e passa a haver poupança. Por uma questão de prudência e de transparência. De prudência para não ficar refém do imediato e do curto-prazo. E de transparência para se perceber qual é a estratégia e qual é o rumo.
O fetichismo dos números, que regularmente invadem o espaço de opinião publicada, leva o país a uma constante comparação com os outros. E ao inevitável atraso ao mundo desenvolvido. Mas o que mais penaliza essa situação é o atraso da política desportiva face á sociedade. De uma politica que se encerra em indisfarçáveis cumplicidades e em nichos de interesses que cartelizam o Estado e se limita ao risco de ser uma espécie de governação na continuidade.
Os dias que vivemos são, em parte, o resultado de soluções erradas que tomámos. Estando confrontados com uma inevitabilidade financeira o problema é-lhe anterior. Pelo que a solução não está apenas em redimensionar as despesas com o sistema desportivo mas em mudar/alterar o escalonamento dessa despesa. O que deve conduzir a uma alteração de objectivos e de metas. O que é válido tanto para o governo como para as organizações desportivas.
O que de momento causa alguma perplexidade não é apenas a quebra de algumas das promessas eleitorais do PSD explicáveis, segundo os próprios, por terem encontrado uma realidade bem diferente da que julgavam. É, nesta altura, uma arriscada opção por soluções organizativas (no caso da fusão do IDP com o IPJ) de que ninguém sabe muito bem como organizar e ao arrepio da experiência e do bom senso. O milagre será colocar a coisa a funcionar nos termos e tempos previstos e ao mesmo tempo definir soluções políticas para tempos difíceis. Se for conseguido bem se pode dizer que Miguel Relvas, Alexandre Mestre e João Bibe são a versão moderna dos três pastorinhos!

24 comentários:

Anónimo disse...

Depois de ler a entrevista do Presidente do COP ao Record podemos adicionar à imagem dos três pastorinhos, os passarinhos dos dirigentes desportivos que se preparam para o plebiscito de Vicente Moura.
Torna-se evidente que a desorientação no desporto nacional é superior à que grassa na nossa classe politica em geral.
Com este caminho do IPDJ, COP ou CDP que futuro nos espera. Mas pode ser que estejamos na presença dos pastorinhos que nos guiarão....

Anónimo disse...

Concordo, em parte (ver porquê no final), com J. M. Constantino e com o anónimo das 10.03h.

A verdade é que o Desporto português é (excepção para o clubismo futebolístico) politicamente irrelevante.

Só que as personagens centrais referidas, incluindo ainda, além das referidas nos textos, os Presidentes das Federações, não são pastorinhos nem passarinhos.

Os pastorinhos (crédulos, despretensiosos e simples crianças rurais de 1917) e os passarinhos ("tão engraçados, cobrem os ninhos com mil cuidados" (*) são melhorzinhos...

E não são patéticos...

(*) Lopes Vieira, Afonso, in "Os Ninhos".

Anónimo disse...

Costumo ler o vosso Blog e existe algo que dá que pensar... a maioria dos comentários aos post's são anónimos...
Pode pensar-se que é por acaso, mas no fundo não me parece... o 25 de Abril já foi à quase 40 anos e ainda existe falta de liberdade de expressão e medo de represálias directas ou indirectas... é triste mas é verdade.
e sim, tb eu comento anonimamente o vosso blog: falta de coragem? sociedade hipócrita? ... um pouco dos 2.
Parabéns aos autores e aos que não têm medo de se expor, nem das consequências que isso pode acarretar... Os bons profissionais não temem a sua própria opinião.

joão boaventura disse...

Caro Anónimo de 23 de Novembro de 2011 12:33

Não desespere.

Os anónimos estão a despertar como pode comprovar no blog Desporto e Economia

Anónimo disse...

Falo por mim.

Há algum tempo passei a anónimo.
Depois de, dando sempre a cara e o nome, ter combatido durante 2 anos a confortável e cobarde situação de ser anónimo.

A verdade é que, apesar de não ter mesmo nada a perder com a situação anterior, sentia-me discriminado negativamente na argumentação.
Estava farto de ter que argumentar em pé de desigualdade.

Agora, sei que os mais atentos sabem quando sou eu a comentar. Porque sou coerente.
E não tenho nem pretendo ter tacho.
Sou um anónimo escondido com o rabo de fora.

Como quase todos são anónimos, julgo que o anonimato aqui é mesmo a regra e dar a cara a excepção.

Sendo assim, a opção é dos proprietários do blog que, naturalmente, preferem ter vários anónimos a ter só 2 ou 3 não anónimos a comentar.

Eu compreendo.

Anónimo disse...

Duvido muito que com não-anónimos a discussão vá muito longe. Ao fim de pouco tempo a amizade e o conhecimento sobrepoem-se à frontalidade dos argumentos. Ao contrário do que diz o anónimo "com rabo de fora", esta posição não é confortável, mas, em minha opinião é infinitamente mais útil. Não se avaliam as pessoas pelas suas opiniões mas sim as opiniões "tout court". Para além do mais o anónimo tem toda a liberdade de dar a sua opinião sem risco de represália, seja ela qual for. Assim como há o sexo seguro, também há a opinião segura.

Kaiser Soze disse...

A única coisa que me incomoda quanto aos anónimos é a impossibilidade de nos dirigirmos a eles (quando é isso que pretendemos), sendo necessário colocar as horas do post. Corta a dinâmica da coisa e isso é triste.

Quanto ao resto, o que interessa são as ideias, certo?

Anónimo disse...

1 – Nada muda, e tudo parece mudar. Mudam os governos, e os comentadores mudam de ‘partido’. Todos conhecemos estas piruetas. Não é por ‘mal’, é porque não teriam ‘nada’ para comentar se não fosse assim. É por isso que Dirac tinha razão, ao dizer que o inverso é igual ao verso. São meros poemas de mal-dizer, afinal.
2 – Todos têm a culpa, diz o comentário. Portanto a culpa não é de “Ninguém”. Ou talvez seja mais da geração dos que fizeram o 25 Abril do que dos outros. Porque os coitados dos mais jovens é que têm que pagar com a precaridade das suas famílias e com a instabilidade do futuro. Os “revolucionários dessa geração mal-dita” já se auto-reformaram com douradas mordomias, ou estão quase lá. Não foram os mais jovens que gastaram em lautas comemorações de si mesmos, nem meteram os milhões do suor dos portugueses em off-shores (desde sindicalistas, a ex-governantes, a ex-diretores/presidentes). Talvez o “Ninguém” afinal seja “Alguém” que se tenta esconder nesse “Nin”.
3 – Lá vêm outra vez zurzir nos novos governantes. Como fizeram aos anteriores. E irão fazer aos seguintes. E quanto à capacidade para gizarem uma política de Desporto … produzem linhas e linhas de joio, que não servem a prática nenhuma credível e realizável. Como se viu.
4 – Repito. Tal como no início, coloco-vos o mesmo desafio: ajudem os novos a construir o Portugal que souberam destruir enquanto andaram no poder. Não fujam a esse desafio.
5 – Estudem a Folha A4, onde está a solução, para ver se aprendem qualquer coisa que seja útil à comunidade de que fazem parte.
6 – Sobre os Anónimos. Continuam a não perceber a questão. O que o anonimato protege não são os Anónimos, e as represálias que se podem abater sobre eles. É exatamente o contrário. Quem fica protegido deles são os que se apresentam como “Não-Anónimos”. O anonimato é um ato de generosidade e de complacência dos Anónimos para com os Não-Anónimos.

Funcionário do Estado

Henrique disse...

O anonimato já lá vai o tempo, assumam pois, ao se esconderem estão a contribuir para o funcionamento do obscuro e da continuidade de uma democracia irreal, envergonhada e com laivos de nossa senhora do outro tempo...

Anónimo disse...

A propósito da crise, e para amenizar a coisa, já leram “On Neoliberalism” de Sherry Ortner? E os exemplos que dá das etnografias contemporâneas, por exemplo dos atuais povos de Copperbelt na Zambia (James Ferguson, 2002), ou dos cidadãos urbanos ocidentais (Jean & Jonh Comaroff, 2001), ou dos atos políticos na República Dominicana (Steven Gregory, 2010)?
É que ainda até há muitíssimo pouco tempo ouvíamos aquele zumbido insistente de pseudo-gurus como Appadurai (1990), a dizer baboseiras sobre os benefícios desse futuro guiado pelos arquitectos iluminados desse mundo novo, para não falarmos dos sempre citados Hannerz 1996, Inda & Rosaldo 2002, ou Tsing 2005.
Como em tão pouco tempo se desmoronaram as certezas dessas novissímas doutrinas… É curioso, não é?
A ingénua Sherry Ortner também está à espera de um milagre, só que os três pastorinhos são ‘rurais’ do tipo Charles Ferguson (“Inside Job”), David Harvey (“A Brief History of Neoliberalism”) ou Naomi Klein (“The Shock Doctrine”).
Num comentário anterior afirmei que a crise não é crise nenhuma senão a velha história humana do Caim e do Abel, que os devedores e os credores eram a mesma personagem travestida de Avó e de Lobo, como na metáfora do Capuchinho Vermelho. Até fui insultado. Pois já nessa altura me dava vontade de sorrir, em antecipação.

Funcionário do Estado

Anónimo disse...

O actual Presidente da filial Suiça dos mercadores neoliberais do Desporto não era aquele que ainda há pouco gritava com os governantes para o País fazer uns Jogos Olímpicos em Lisboa?

E agora quer ampliar as instalações da filial com dinheiros dos contribuintes pobres, chamando a essa ampliação de instalações outros nomes para ver se disfarça?

Funcionário do Estado

Fernando Tenreiro disse...

Alguns pensamentos aqui expressos poderiam ser os dos pides anónimos coitadinhos.

Anónimo disse...

Não entendi o comentário do Anónimo anterior, mas quando lancei a questão nunca o vi como "O anonimato é um ato de generosidade e de complacência" de forma alguma. Acima de tudo entendo o anonimato como um acto de auto-protecção (i.e. cobardia dito com um sentido mais leve ou de esperteza).
Fica a ideia, mas sem dono... é melhor que nada, mas se pensarmos que os blogs foram criados pela liberdade de expressão, e que errar é humano, desvirtua a questão e o sentido do blog...
Filosofias à parte, que assina como anónimo apresenta falta de coragem e incorpora a hipocrisia social de descriminar quem não faz ou não quer fazer parte de 1 rebanho... e apresenta a sua visão das coisas, certa ou errada, mas pensada, logo válida ... enfim os Anónimos (como eu) contribuem com a sua opinião, mas de forma pouco consistente, assumem a ideia, mas têm medo de se assumirem a si próprios...verdade seja dita!
Por estas razões fica o meu tributo essencialmente ao JM Constantino e ao JM Meirim.

Anónimo disse...

Será que a discussão de ideias alguma vez se vai sobrepor à discussão dos nomes?

Quantos Presidentes de Federações, COP ou CDP foram eleitos com um programa e um compromisso.

Criticasse o Futebol mas a cartilha é exactamente a mesma.

Quantas vezes foi realizada por quem paga tudo isto (Estado) uma avaliação objectiva ....

Na verdade não podem fazer avaliação, para tal era necessário à partida estarem traçados os objectivos .....

Como referiu o Presidente do COP em Portugal navegasse à vista e com os opositores por perto que é mais seguro.

Anónimo disse...

Ele há anónimos para todos os gostos:

Cultos:
Os que são capazes de argumentar e fazer a síntese do conhecimento);

Pseudo-cultos:
Os que passam o tempo a citar autores para mostrar que leram alguma coisinha, mas não são capazes da proeza de passar da análise à síntese e despistam-se com a maior facilidade, mostrando a sua fragilidade intelectual;

Incultos/Maioria dos filhos da revolução, com menos de 45/50 anos:
Os que têm dificuldade em alinhavar ideias e dão muitos erros ortográficos de palmatória (como o das 12.29h).

Esta colectividade é um espaço heterodoxo, que acaba por revelar esta gente portuguesa que gosta de pensar e discutir Desporto.

Lê-se de tudo um pouco.
Da sabedoria inquestionável até ao puro e simples lixo.

Anónimo disse...

Escreve o anónimo das 15:02

Os que têm dificuldade em alinhavar ideias e dão muitos erros ortográficos de palmatória (como o das 12.29h).

De facto, o anónimo das 12.29 exagera na incultura.

"Criticasse o futebol" por "critica-se o futebol", "navegasse à vista" por "navega-se à vista".

E já nem falo da pontuação, porque isso seria absolutamente ininteligível pelo anónimo em causa...

Marina Albino disse...

Com a discussão do anonimato, esqueceu-se o texto do J.Constantino....
Apenas gostaria de fazer um comentário: quanto ao episódio das facturas, foi só motivo para noticia. Como acreditar na responsabilização de tais factos, quando o instrutor do processo levou um louvor em diário da republica pelo governante que tinha a pasta do desporto , e na referida comissão mostrou-se muito incomodado alegando nada saber...
Portugal nunca sairá do atoleiro enquanto nao existir responsabilização dos políticos, e isso pelos vistos nao interessa a ninguém ...

Anónimo disse...

"Os homens podem dividir-se em dois grupos: os que seguem em frente e fazem alguma coisa e os que vão atrás a criticar." (Séneca)
O sabichão que antecede olvidou referir que toda esta comunidade tem como denominador comum a incapacidade de fazer alguma coisa.

Anónimo disse...

Anónimo das 12.48:

À citação de Séneca, prefiro o Princípio de Peter:

"Num sistema hierárquico, todo o funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência".

Acrescentaria, de minha alta recreação:

Em Portugal, as pessoas são usualmente escolhidas para determinados lugares de responsabilidade pública através de outros critérios que não o conhecimento específico e a competência.
Predomina a filiação partidária, associada ao "compadrio".
E sendo assim, nada há a fazer.

Anónimo disse...

A Marina Albino tem razão. Vamos ao cerne da questão.
Mas também por causa dos veementes pedidos, até de Amigos…
E se o Professor José Manuel Constantino me der um link em que possa colocar a folha A4 a debate, enviá-la-ei em PDF.
Isto apenas porque estamos numa «Democracia Não-Representativa». Onde mais de 50 por cento dos cidadãos (da China aos EUA, da Gronelândia à Austrália, do local ao global, etc.) nem às urnas vai; numa Sociedade de tal modo decrépita que se tem o despudor de se repetiram as votações até a vontade dos decisores se plasmar nessa não-representatividade, por essa razão disponho-me a enviá-la. Aquela que foi publicada em 2008.

Funcionário do Estado

Anónimo disse...

Funcionário do Estado:

Finalmente!

I can't wait!

Viva Portugal!

Anónimo disse...

Quem são as pastorinhas?
José Carapau

Anónimo disse...

Escreve Marina Albino

Apenas gostaria de fazer um comentário: quanto ao episódio das facturas, foi só motivo para noticia. Como acreditar na responsabilização de tais factos, quando o instrutor do processo levou um louvor em diário da republica pelo governante que tinha a pasta do desporto , e na referida comissão mostrou-se muito incomodado alegando nada saber...

A sério?! Que escândalo! E em que diário da república é que o tal instrutor foi louvado?!!

E em que comissão é que o "traste" alegou não saber de nada?!

E, já agora: como se chama o tal instrutor?!!! Quem é que assistiu a isso?! A Marina Albino estava lá ou fala por ouvir dizer e porque gosta de partilhar estas coisas?!!!!!

Marina Albino disse...

O Dr. Laurentino Dias em Diário da Republica atribuiu louvor ao Dr. Chabert, que e o instrutor do inquérito das facturas. O incomodo do Dr. Laurentino Dias foi visível na audição da Comissão Parlamentar na famosa audição das facturas. Mas eu nao ouvi isto de ninguém. Eu li e pesquisei. Aconselho um pequeno trabalho de investigação . Eu nao me escondo no anonimato. Um abraço! Bem haja!