Um texto de João Pinto Correia, que se agradece.
(Este texto foi originalmente publicado em Setembro de 2008 no Jornal “O Primeiro de Janeiro”, mas aqui se republica por se manter actual e exemplarmente demonstrativo da permanente frágil construção das políticas públicas desportivas de Portugal).
Em Portugal dirigentes, académicos e comentadores ligados ao desporto referem-se com alguma regularidade à ausência de consistentes políticas e estratégias de desenvolvimento do desporto, o que impossibilita a definição de um quadro de referência e dos correspondentes planos de acção mobilizadores das diferentes instituições e agentes desportivos (governo e administração pública desportiva, escolas, federações, clubes, autarquias, nomeadamente) que são os actores principais da construção e afirmação do valor e potencial do desporto no País.
Neste domínio das políticas desportivas é de grande utilidade e habitual proceder a estudos comparativos (como acontece frequentemente em outros domínios do conhecimento), os quais permitem pôr em destaque e confronto formas de estruturar e organizar o desporto nacional, de definir quadros de desenvolvimento, estratégias e planos de acção, objectivos, metas concretas, de gerir e formatar decisões, nomeadamente. Existem mesmo publicações académicas de referência sobre a comparação de políticas desportivas de vários países europeus e outros.
Ao invés do que acontece em Portugal desde há muitos anos, no Reino Unido e mais especificamente na Inglaterra desde o meio dos anos noventa, já com o governo do partido trabalhista liderado por Tony Blair, têm existido afirmações claras e assumidas dessas políticas e estratégias de desenvolvimento do desporto.
Referiremos por ora aqui em diante apenas a primeira, datada de 1997, e que se consubstanciou na publicação do documento intitulado “England, the sporting nation – a strategy” (Inglaterra, a nação desportiva – uma estratégia), embora ainda não sendo então correspondente a uma posição clara e oficial do partido trabalhista, posição formal essa que apenas aconteceria em 2000 com o documento “A Sporting Future for All” (Um Futuro Desportivo para Todos).
Vejamos então, como exercício comparativo das ausências que registamos continuadamente em Portugal, alguns dos principais elementos daquela estratégia de 1997 que visava ou permitiria construir “a nação desportiva inglesa” (lembramos que este documento foi então preparado por uma comissão especial sob a égide do à época “English Sports Council”):
1. A Estratégia
A estratégia para o desporto, que até aí nunca existira, constituía, primeiro, uma visão partilhada, depois, uma estrutura para a concretização das oportunidades e das realizações, as quais seriam o objectivo para todos aqueles para quem o desporto e a recreação realmente interessavam.
A estratégia não era um fim em si-mesma, ela era apenas o primeiro passo baseado no legado desportivo do País e pretendia colocar o desporto na Inglaterra num outro patamar no novo Milénio que se avizinhava. “A estratégia é o conjugar da visão, estrutura, e da acção com metas determinadas. Ela é o catalisador e o desafio para o desporto Inglês que evoluirá para alcançar exigências futuras e circunstâncias em mudança” (sic).
Por outro lado, esta estratégia de desenvolvimento baseava-se no contexto do desporto, no qual se reconhecem os seus benefícios para a identidade e o prestígio nacionais, para o desenvolvimento das comunidades, para o desafio pessoal, bem como para a economia e a saúde.
O desporto é assumido também como um elemento central do modo de vida inglês, não existente no vácuo e, por isso mesmo, sendo afectado pelo mais vasto contexto social, económico e político. Este mesmo desporto que tem associados os impactos dos grandes interesses e negócios, dos espectáculos e dos media, ligados ao desporto profissional, bem como, ao mesmo tempo e por outro lado, os milhares de voluntários que nele participam, os treinadores, os administradores e os árbitros/juízes. O desporto que também tem associação e sinergia com o turismo, o ambiente, o património e a cultura.
A visão para o desporto na Inglaterra também só é considerada eficaz se partir deste reconhecimento do amplo apelo e prazer do envolvimento no desporto. Por isso, também as agências nacionais, as federações desportivas, as escolas e todos os que participam no ou fornecem desporto partilhariam a responsabilidade pela realização efectiva desta estratégia.
2. Visão para o Desporto na Inglaterra
A visão que está subjacente a este documento pretende transformar a Inglaterra numa nação desportiva que proveja iguais oportunidades:
• Para todos desenvolverem as perícias e competência que lhes possam possibilitar o usufruto do desporto;
• Para todos seguirem um estilo de vida que inclua a participação no desporto e recreação;
• Para as pessoas alcançarem os seus objectivos pessoais em qualquer que seja o seu escolhido nível de envolvimento no desporto,
• Para desenvolver a excelência e para alcançar sucesso no desporto ao mais alto nível.
Todos deveriam, assim, ter o direito de praticar e a oportunidade usufruir de desporto, quer seja por divertimento, para a saúde, para desfrutar o ambiente natural ou para ganhar. Todos deveriam, também, procurar a melhoria contínua e alcançar os seus melhores resultados pessoais, tanto como participantes como enquanto árbitros/juízes, administradores ou praticantes de alto nível.
O desafio fundamental desta visão para o desporto era o de fazer da “Inglaterra a nação desportiva”.
O desenvolvimento do desporto assentaria numa “estrutura para a oportunidades e o desempenho desportivo”. Esta estrutura tem vários níveis em “contínuo”, é dinâmica e flexível:
• O seu primeiro nível é o da “fundação” que significa o desenvolvimento inicial da competência desportiva e das perícias físicas sobre as quais todas as formas mais tardias de desenvolvimento desportivo estão baseadas; por isso requer uma sólida participação dos jovens que poderão tornar-se participantes desportivos de longo prazo (tem uma óbvia e estrita relação com a denominada “literacia desportiva”);
• O seu segundo nível é o da “participação” que se refere ao desporto realizado primariamente pelo divertimento, desfrute e, muitas vezes, a níveis básicos de competência (contudo muitas pessoas competentes no desporto tomam nele parte apenas por diversão, saúde ou condição física);
• O seu terceiro nível é o do “desempenho” que significa uma mudança da competência básica para uma forma mais estruturada de desporto competitivo num clube ou concelho/freguesia ou, mesmo, a um nível individual por razões pessoais;
• O seu quarto nível é o da “excelência” que significa o alcançar do topo e aplica-se aos praticantes de mais elevado nível nacional ou internacional.
Tudo isto sem esquecer os praticantes desportivos deficientes, aos quais se podem adequar estes mesmos níveis ao longo das respectivas faixas etárias.
Os “princípios chave” desta visão eram em acordo aos seguintes termos:
• No coração do desporto está a criança, o participante e o praticante individual (os administradores, os gestores, os árbitros/juízes e os provedores devem reconhecer sempre que o desporto é primeiro e acima de tudo acerca do indivíduo – cujas necessidades e preocupações serão privilegiadas);
• Em todos os níveis da estrutura do desporto deve ser exigida a qualidade do fornecimento e do serviço (com exemplos na qualidade do design e gestão das instalações, no melhor ensino, liderança e treino no desporto);
• Equidade e igualdade de oportunidades no desporto para todos (sendo a equidade acerca da justiça, igualdade de acesso, reconhecimento das desigualdades e das medidas para mudar as situações);
• O “fair play” (jogo leal) deve ser integral na actividade desportiva a todos os seus níveis (ganhar é importante mas não a qualquer custo; não pode existir lugar para as drogas, a batota, a corrupção ou a violência no desporto).
Por outro lado, os “grandes parâmetros” dentro dos quais a estratégia operou foram os seguintes:
• O desporto não significa o mesmo para todas as pessoas e não pode ser todas as coisas para todos, por isso foi adoptada uma definição inclusiva de desporto, mais concretamente a recomendada pela Conselho da Europa na Carta Europeia do Desporto de 1992 que diz: “desporto significa todas as formas de actividade física que, através da participação ocasional ou organizada, visam melhorar a condição física e o bem-estar mental, formando relações sociais, ou obtendo resultados em competição a todos os níveis”;
• A estratégia deve enfrentar o teste do tempo e ser baseada numa visão de longo prazo, concretizada através de acção mais imediata (a implementação é fundamental e impõe as metas concretas), e ela é apenas o primeiro passo do desenvolvimento e melhoria contínua do desporto em Inglaterra;
• O propósito primário da estratégia é o de beneficiar todos os desportistas e por isso exige o envolvimento de todos os níveis do desporto, desde os recreios escolares até ao pódio e mais (todos têm o seu lugar e parte no futuro do desporto);
• A Inglaterra, “a nação desportiva”, não pode realizar-se sem a cooperação e abordagem partilhada de todos os agentes responsáveis por fazê-la acontecer (serão enfatizadas as parcerias para a acção envolvendo comprometimento, boa vontade e recursos).
No documento que vimos a referenciar vem em seguida o detalhe do conjunto de metas concretas a alcançar nos diferentes níveis da estrutura de desempenho desportivo (acima referida), metas que resultam de dados da situação existente recolhidas em estudos e inquéritos nacionais (por exemplo: “1º Inquérito Nacional sobre Os Jovens e o Desporto em Inglaterra em 1994”, “Inquérito Geral das Famílias de 1996”, “Participação no Desporto – medidas de participação regular”). Em todas estas metas fixadas para atingir no horizonte de 2001/2002 parte-se, portanto, dos dados respectivos conhecidos naqueles estudos/inquéritos e estabelecem-se as melhorias que se pretendem vir a atingir, pondo em prática a visão e a estratégia definidas.
E em Portugal? Até hoje nenhum destes diagnósticos de partida estão feitos, não existindo por conseguinte as bases de sustentação de uma visão e estratégia de desenvolvimento desportivo que possa assim corresponder a uma política desportiva similar aquela que aqui, sinteticamente, referenciámos no caso da Inglaterra. Por isso documentos como os que vimos de referenciar são inexistentes entre nós, o que é revelador da pouca sofisticação das políticas desportivas praticadas.
Voltaremos a esta matéria das políticas desportivas proximamente, porque muito mais há para evidenciar e detalhar.
Nota final: Aqui republicaremos, dada a sua relevância e actualidade, os restantes textos desta série que constituíram a análise comparativa das fundamentadas políticas desportivas do Reino Unido, a qual confrontava com a enorme fragilidade das mesmas já então evidentemente detectável em Portugal.
15 comentários:
O que é curioso é que tudo o que é referido como estratégico para o desenvolvimento do desporto britânico corresponde aos princípios enunciados na Constituição da República Portuguesa, a tal Lei fundamental que não é bem para ser ser cumprida...
Além disso temos sempre o problema da definição de conceitos vários, entre os quais o próprio conceito de "DESPORTO", que tanta polémica tem levantado neste blog.
Quanto aos estudos comparativos sobre desporto, os governos portugueses sempre foram alérgicos a esse tipo de abordagem.
Aliás, nem sequer existem levantamentos nacionais fidedignos relativamente a matérias diversas como por exemplo as instalações desportivas ou o número de praticantes, em que os números são manipulados e baseados em premissas falsas.
Muito haveria para dizer.
Mas não acho que os britânicos tenham descoberto a pólvora.
O meu obrigado por este contributo sobre as políticas dos britânicos para o seu desporto.
Destaco de todo o texto a grande confusão que os responsáveis do reino UK fazem com o conceito de desporto. Vejam bem que até referem conceitos (entre outros) como perícias físicas, desporto infantil, actividades para a saúde e bem estar e obviamente desporto orientado para o ganhar (medalhas).Obviamente, não olham apenas para as medalhas como o fim último e único da prática desportiva. Atrasados e ignorantes. Só estes ingleses, lá isolados na sua ilha, é que se lembrariam de gizar um programa com tantas variedades de "desporto". São uma potência desportiva mas são ignorantes. Em vez de se preocuparem em esmagar os russos, os americanos, alemães etc. etc. andam entretidos a gastar o seu dinheiro em coisas tipo caminhadas.De qualquer modo estão tramados porque no pós Londres 2012 é que se quer ver o resultado de todos estes planos inúteis. Medalhas. Quantas medalhas? O resto é conversa da treta. Alguém que os avise antes que seja tarde.
Caro João Correia
O Anónimo de 2011 17:50 tem razão.
Para haver comunicação é necessário falar a mesma linguagem, como Habermas esclarece exaustivamente porque, sem ela, entramos no mundo do “bárbaros” que, como sabe, eram os estrangeiros que entravam na Grécia antiga, e, porque os gregos não entendiam a língua deles, eram identificados como os “bar-bar-bar”, tal como hoje, quando não entendemos um discurso dizemos que ele foi, ou era, só “blá-blá-blá”, pelo que o “bar-bar-bar”acabou por se converter em “bárbaros”, isto é, “estrangeiros”.
O que permite decifrar o código de “barbaridades” quando nos referimos a coisas ditas sem nexo que, fique esclarecido, não tem qualquer relação com o texto do caro João Correia, e até porque também sou João Correia.
Quanto ao Desporto não vale a pena falar da sua polissemia, porque se perde nos meandros de todas as Universidades que a ele aplicam os seus estudos e interesses tecnocráticos, independentemente do conceito errático do signo que cabe aos lexicólogos decifrar.
Com o signo “estratégia” passa-se o mesmo porque atacado pelo vírus da polissemia, como pode ler-se no texto O Conceito de Estratégia, de Isabel Nicolau.
E como a polissemia é universal, caro João Correia, entramos nos meandros da complexidade, independentemente do sistema cultural tradicional britânico que a alimenta. Um estrangeiro perguntou a um inglês como é que os ingleses conseguem ter uma “lawn” tão perfeita como se tivesse sido implantada naquele preciso momento. A resposta foi que a regam, cortam e tratam todos os dias, desde há séculos.
Será esse o conceito de estratégia dos ingleses ? Se houver uma preparação para uma nova forma de rega ou novo sistema de corte, ou alterar o horário da rega, ao longo dos séculos, Edgar Morin assevera que sim, porque se os ingleses estivessem a cumprir um programa, este não prevê cenários imprevisíveis ou aparecimento de circunstâncias imprevisíveis, pelo que permanece inalterado.
E depois ficamos perante o que será ou não um “programa”. E permanecemos atados às circunstâncias.
Aos britânicos o que é dos britânicos, aos lusitanos o que é dos lusitanos.
Cordialmente
Pois, sou o anónimo das 17.50.
O tal do costume, que alega que caminhadas e exercício físico (em abstracto) não são desporto, porque o desporto implica competição directa com outro(s), perseguindo a vitória.
Concordo com João Boaventura, que me dá a razão que eu digo que não assiste ao anónimo das 18.40.
Os britânicos podem dar-se ao luxo de planear e tentar implementar determinadas políticas desportivas, porque têm muito dinheiro para o Desporto, patrocinadores fortíssimos e uma realidade sócio-económica muito diferente.
Mesmo que esses ideais políticos não estejam inscritos numa Constituição (que não existe).
E a legislação britânica não se refere nunca a direitos, liberdades e garantias utópicas.
Muitas das quais não é possível implementar em Portugal, embora tudo esteja claramente definido (para cumprir, acho eu) na magnífica Constituição da República Portuguesa.
British is british. Indeed!
Tuga é tuga. Mesmo!
Por cá finge-se. Basta fingir.
Eu Português me Confesso!
Estou fulminado. Os ingleses são ignorantes e ou bárbaros. Nós não, somos detentores dos exactos conceitos de desporto e tudo o mais. E se quisermos entender o nosso passado e devir desportivos basta consultar as estantes inundadas de calhamaços a explanar o que fizémos e vamos fazer.
E estratégia, e planeamento estratégico? Complexos polissémicos e filosoficamente impenetráveis.
E no fim ficamos lusitanos que é exactamente o que somos: nem melhores nem piores!
E eu que até sou José Pinto Correia, não João que foi lapso menor, mas isso é apenas erro de linguagem, cometi para mal dos meus pecados o de tentar trazer para a liça aquilo que são as políticas desportivas escritas e implementadas lá na Britânia há mais de trinta anos, e que lhes permitiram recentemente os melhores resultados de sempre em Pequim, ganhar a candidatura aos Jogos de 2012, e ainda há poucos dias a futura realização dos Mundiais de Atletismo de 2017. E não é que tudo isto constava de um plano estratégico governamental de 2002: o Game Plan (que tinha estratégia no sentido de Mintzberg, o desvalido estrangeirado canadiano da McGill University).
Vamos continuar a ser lusitanos e a ter o nosso quintal, claro que vamos...Pudera, os vencidos da vida tentaram outramente e morreram sem "glória"!
Caro José Pinto Correia,
Os britânicos têm 715 medalhas olímpicas em 26 participações em Jogos de Verão (média de 27,5 medalhas).
Nós temos 22 em 22 participações (média de 1 medalha).
Os britânicos são 60 milhões.
Nós somos 10 milhões.
Os britânicos inventaram a maioria dos desportos.
Nós só conseguimos a primeira medalha olímpica em 1976.
Reconheço que em Pequim os britânicos tiveram uma prestação excepcional (47 medalhas).
Mas isso deve-se à capacidade que lhes assiste de quererem mesmo e poderem planear e implementar políticas desportivas com objectivos concretos.
Porque o Desporto lá é muito valorizado na prática e há muito dinheiro disponível.
O sistema não se baseia em legislação inútil e em medidas politicamente correctas mas discipiendas.
Eles são um conjunto de nações com uma secular cultura desportiva.
O Estado gasta anualmente centenas de milhões de libras com a preparação olímpica.
Nós somos um país pobre em tudo, que só valoriza o Futebol e acha que 13 milhões de euros em 4 anos resolvem uma preparação olímpica "condigna".
Portugal versus Reino Unido?
Como?
Por lapso, escrevi que Portugal só ganhou a primeira medalha olímpica em 1976.
O que é um disparate.
A primeira medalha olímpica de Portugal foi conseguida em 1924 no Hipismo, bronze por equipas.
As primeiras medalhas individuais é que foram conseguidas pela 1ª vez em 1976.
Peço desculpa.
José Pinto correia das 16:59.
Não se pode desistir da vida. Os que desistem da vida são aqueles que centram toda a sua atenção num objectivo utópico nunca percebendo que esse objectivo representa o topo da pirâmide e que este se alimenta de outros formas de prática desportiva, todas elas válidas. Todas elas dão forma ao desporto na sua globalidade.Não perceber isto leva-os mais tarde ou mais cedo a desentenderem-se com os outros e coma vida. É pena. Tornam-se amargos e partem do princípio que ninguém os entende e que são os únicos que têm o passo certo.
Caro José Correia
Eu é que estou fulminado pelo meu comentário, pois não sabia que defendia a política desportiva britânica -acessível aos britânicos - com tanto empenho e paixão, e que a desejaria aplicada à política desportiva lusitana - totalmente inacessível aos lusitanos.
Repare que há uma diferença substancial entre os dois povos - mentalmente, economicamente, culturalmente, cientificamente - e as diferenças destes vectores entre britânicos e lusitanos, repercutem-se na visão que cada colectivo colhe, interpreta, e inculca na sua vida, na sua mentalidade, na sua visão do mundo, e interpretação do desporto.
Eu entendo que a sua intenção é a de animar um povo desanimado, mas circunstâncias actuais, o seu texto só acentua ainda mais a distância intransponível entre aquilo que fazemos e o que os britânicos fazem.
Posto isto, não me é lícito incriminá-lo por sonhar alto e instilar motivações - longe de mim fulminá-lo - mas perante o quadro social, económico e financeiro que nos submerge, é como descrever a um esfomeado as ricas e gulosas iguarias que se podem comer em hotéis de cinco estrelas.
Espero que continue com forças para perseguir as suas ideias, quer outros aceitem ou rejeitem, porque tem direito a elas.
Com um abraço de desculpas.
Mais próximo da verdade seria assim:
Antes de 1976 - Montreal:
- Paris 1924 - Equitação - 1 Bronze
- Amesterdão 1928 - Esgrima - 1 Bronze
- Berlim 1936 - Equitação - 1 Bronze
- Londres 1948 - Vela 1 Prata e Equitação 1 Bronze
- Helsinquia 1952 - Vela 1 Bronze
- Roma 1960 - Vela 1 Prata
Total, até hoje,22 medalhas.
Vá, pronto, agora relacionem 22 medalhas com a população do país e com o PIB e desatem a chorar.Já me esquecia, concluam também que somos miseráveis e que o nosso desporto não existe e que a malta do desporto e da política são uma cambada de incompetentes.
Anónimo das 12.20H:
É isso.
Sou "amargo" e "desisti da vida".
Serei um potencial suicida?
Não creio.
Mas você e muitos outros não compreendem que o sucesso no DESPORTO se mede pela excelência, não pelas caminhadas que acabam em sardinhadas ou feijoadas.
Note-se: eu estou a falar de DESPORTO, não de um "mais ou menos ligeiro exercício físico informal e solitário sem carácter competitivo" ou de "puro e simples convívio social", contra os quais não tenho mesmo nada, antes pelo contrário.
Mas por favor, não lhes chamem DESPORTO, porque não é.
Nem cá nem nas ilhas britânicas.
É pena que você (anónimo das 18:27) continue a colocar as questões nestes termos.Não se trata de uma questão de compreensão dos seus argumentos pró-excelência mas sim de aceitação. Pode repetir milhões de vezes o seu argumento. Não será assim que o vou compreender melhor. Mais um milhão de vezes que o repita também não o irei aceitar. Em minha opinião, que você compreende mas não aceita, a excelência é fundamental mas não mede tudo que é desporto. É um facto que até podemos ter uma elite muito desenvolvida e um desporto globalmente pobre.Bastaria assumir essa perspectiva como a orientação estatal e federativa única e colocariamos um grupo restrito de praticantes-talentos, previamente seleccionados, em centros especializados com treinadores nacionais, ou estrangeiros, qualificados, num ambiente asséptico, com todos as necessidades satisfeitas, inclusive um quadro competitivo exigente e adaptado, cá ou além fronteiras.
Nos tempos que correm o desporto não tem, felizmente,apenas, essa leitura. O desporto tem de se enquadrar nas populações e nas suas necessidades. Caso contrário não tem qualquer valor social. De que me valem as medalhas quando, segundo muitos professores de Educação Física nas escolas, a juventude é cada vez mais trôpega, descoordenada, abúlica,obesa,atónica etc.etc.? Dão-lhe muito prazer uma mão cheia de medalhas? A mim, com filhos na escola, preocupa-me a sua crescente desvitalização. Quer queira quer não queira, aceite ou não, compreenda ou não, defendo que o desporto praticado por estes milhares de crianças não deixa de ser desporto só porque não se trata de praticantes filiados e inseridos num quadro competitivo formal orientado para o rendimento ou para o alto rendimento.Defendo até, e não estou sózinho, de que a actividade/exercício físico e o desporto deveriam ser diariamente praticados pelas nossas crianças e jovens em idade escolar. É uma questão de saúde pública. Sobretudo como pai, oponho-me e opor-me-ei sempre a opinões, como as suas, pseudo-elitistas, pseudo-conhecedoras e pseudo-fundamentadas, sobre o fenómeno desportivo na sociedade actual.O desporto, quer queira quer não, é um espaço de liberdade que jamais poderá ser aprisionado ou sequestrado por argumentos como os seus. O DESPORTO É NOSSO, NÃO É SÓ DOS MAIS APTOS.
O Desporto é de quem o quiser praticar, não adianta obrigar ninguém a fazer algo que não quer fazer.
Repitirei as vezes que forem necessárias:
Desporto implica competição, gosto e esforço, vontade de ganhar.
Só a imagem e os feitos dos grandes campeões, devidamente divulgados, atraem novos desportistas.
Aquilo de que você fala, pelos vistos imposto (pela força?), não se coaduna com a essência da prática desportiva.
Porque não é um espaço de liberdade, mas de fingimento politicamente correcto mas inútil.
Só com um número elevado de praticantes é possível fazer a prospecção de talentos e procurar a excelência.
Caminhadas não levam a lado nenhum.
São boas para abrir o apetite e ajudam a fazer a digestão.
Nada mais.
Não há dúvida de que desporto implica competição, gosto e esforço, vontade de ganhar.
Não há dúvida de que a imagem e os feitos dos grandes campeões, devidamente divulgados, atraem novos desportistas
Para mim o "só" é que está a mais. Não são só os feitos dos grandes atletas que atraem mais praticantes. Os praticantes são atraídos por práticas bem organizadas e motivadoras. Sem dúvida os campeões podem ajudar nesse processo de motivação.
Não consigo entender o que é que eu digo, ainda por cima imposto pela força (que força?),que não se coaduna com a essência da prática desportiva.
Você, talvez porque lhe faltam argumentos, facilmente resvala para o brejeiro.Se não se trata apenas de mais um argumento tosco o que é que você quererá dizer com "fingimento politicamente correcto mas inútil"? O que é que estas palavras, ou slogans, têm a ver com os meus argumentos? É um palavreado desnecessário tendo em atenção que apenas discutimos as nossas ideias e nunca as pessoas que os produzem e emitem. Somos os dois reles e cobardes anónimos.Apesar de tudo até considero as suas opiniões. São elas que me obrigam a definir as minhas próprias posições. Sem as suas ficaria mais pobre. Obrigado por isso.
O fingimento politicamente correcto tem a ver, fundamentalmente, com tudo aquilo que é inútil na prática, aquilo a que se chama vulgarmnete "fogo de vista".
É a especialidade de muitos (a maioria) dos políticos.
Passa por "eventos", acções populistas de rua que custam muito dinheiro e não adiantam nada; e passam também por legislação excessiva, complexa e não fiscalizada, entre outros métodos de enganar a população, apresentando trabalho para justificar a existência dos respectivos lugares e funções;
a construção de instalações desportivas mal dimensionadas e geradoras de despesas incomportáveis também cabe nesta classificação.
Quanto às opiniões contrárias, são a razão de ser de um blog como este.
Sem contraditório, a utilidade era incomparavelmente menor.
Enviar um comentário