segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Portugal saloio

1. Terça-feira “marquei presença” na 16ª Gala do Desporto, organizada pela Confederação do Desporto de Portugal (CDP). Há muitos anos que não ia a esta feira de vaidades, da qual me afastei por essa razão. Sucede que, este ano, um atleta nomeado para Melhor Atleta do Ano Masculino fez questão de contar comigo a seu lado.

Sempre num sítio bem apropriado para este tipo de eventos (um casino), de novo senti o que me levou a afastar-me da Gala.

Todavia, e é um «must», presenciei situações de um infeliz país que não se enxerga e que permanece insensível à decência e aos valores (mesmo que estes exijam alguma hierarquia).
De algumas delas dou breve conta.


2. Na mesa de honra (?) o bloco central marcava presença. O ministro do Desporto, Miguel Relvas, dois secretários de Estado e dois ex-secretários de Estado de governos socialistas. Um amplo universo de sorrisos, palmadinhas nas costas, ontem vocês, hoje nós, quiçá amanhã de novo vocês, e assim sucessivamente até ao infinito e mais além! Há um problema de facturas no IDP? A beringela, essa sim, cai mesmo bem neste prato de lombo de porco preto. E assim por diante. Nada de novo, portanto, mas sempre revoltante.


3. Bem cedo dei pela presença do presidente do Benfica. Tudo bem.
Numa pausa, a seguir ao termo do repasto, vejo o Presidente da CDP, dirigir-se nervosa e apressadamente para a porta da entrada do restaurante. Depois, passa por mim, acompanhado de um convidado. O convidado dirige-se à mesa de Honra (?) e, ao preparar-se para cumprimentar os membros do Governo e os membros de governos passados, assiste-se a um levantar colectivo e rápido dos governantes (?) e dos ex-governantes (?). Todos, ao levantarem-se da cadeira, fizeram aquele gesto que – peço perdão – abomino: ajeitar o casaco e abotoar um botãozinho.
Seria o Presidente da República? O Presidente da Assembleia da República? O Primeiro-ministro? Barak Obama? Quem, com a sua chegada, impunha tanto respeito (ou subserviência?)
Apenas e tão-só, o presidente de um clube, o Sporting Clube de Portugal.


4. Miguel Relvas foi a Madrid, a um hotel, assistir à entrega da Bota de Ouro a Cristiano Ronaldo. O presidente do Sporting, na Gala, deu conta que o tinha convidado para dar um salto a Angola. Como não podia – mesmo que se queira, não se pode ir a todas –, anunciou que o Secretário de Estado Alexandre Cavaco Picanço iria acompanhar a comitiva.
Não sei se isso veio a acontecer. Mas, caso tenha sucedido, esse «ilustre leão», deve ter descido aos balneários da equipa verde, incentivando os jogadores, à semelhança do que ocorreu na Dinamarca. E na sua vertente jovem, não deverá ter descurado a prospecção de algumas zonas de conforto em Luanda.


5. Que critérios foram seguidos na atribuição de Prémios de Alto Prestígio ao Benfica e ao Sporting?


6. João Pina é mesmo jogador de futebol, como afirmado na brochura distribuída?


Texto publicado no Público de 13 de Novembro de 2011.

5 comentários:

Apostas Online disse...

Força Portugal! Vamos Ganhar amanhã! Viva os saloios!

Anónimo disse...

Embora não concorde com o adjectivo "saloio", que não é próprio do séc. XXI e deveria ser usado apenas como substantivo relativo aos nativos dos concelhos a noroeste de Lisboa, compreendo exactamente aquilo que J.M. Meirim sentiu na Gala do Desporto.
É que eu próprio estive presente em várias e sucessivas edições da referida Gala, no âmbito das funções que exercia e sempre fiz a mesma leitura e interpretação que JMM.
Em vez de " Portugal saloio" eu usaria "Portugal parolo", aqui sim uma adjectivação adequada a todo aquele conjunto de salamaleques encenados em "gala", que espremida, não revela mais do que aquilo que o desporto português é e que J.M. Meirim tão bem descreve.
Um desporto português com nível terceiro-mundista, encena uma realidade triunfante (?) num contexto euro-medíocre (!).
Uma feira de vaidades levada a efeito por uma Confederação do Desporto que se esqueceu dos seus estatutos e, não existindo de facto, encontrou naquele evento uma razão para continuar a fingir que existe.
O Futebol e a sua gente prevalecem sobre a política e os políticos, que dele se servem.
E Londres 2012 vai mostrar, obviamente, o que desportivamente valemos.
Sem salamaleques nem vaidades.

Anónimo disse...

Apostas Online: um retrato do país real.

Anónimo disse...

Onde é que andam as pessoas decentes deste país? Será que não existem ou será que desistem? Muitas fazem, certamente, parte daquela maioria silenciosa que assiste a estes "grandiosos" eventos, bebendo o seu copinho e batendo palmas. Pensam mal da coisa, sobretudo à posteriori, mas estão lá. Os que estiveram lá, "obrigados, claro, pelas circunstâncias", fazem-me lembrar aqueles que compram a Playboy mas que dizem que é apenas para ler a entrevista de fundo, nunca para apreciar a página central.Não gostam, não concordam mas vão. Não me venham com obrigações de representação. Para acabar com estas tretas não vão lá. Eu, cá por mim, não preciso do vosso testemunho para adivinhar o que por lá se passa. De qualquer modo agradeço-vos manterem-me actualizado quanto ao que a dita CDP vai fazendo pelo desporto português. São estas festas, os que nelas participam ou participaram, e todos os respectivos salamaleques, que acabam por legitimar os textos sobre o último orçamento do desporto. Nãp gostam mas estão lá para o "beija mão". Só para ler a entrevista de fundo. Acham que não participam mas participam sim senhor. São co-responsáveis.

Anónimo disse...

Anónimo das 19.22h

Olhe, apesar de visado, não posso deixar de lhe dar razão...