Avaliação
de qualquer operação, tarefa ou atividade humana só é possível ser realizada, honestamente,
confrontando os objetivos previamente estabelecidos, ou seja os resultados previstos,
com os resultados realmente obtidos. É assim na gestão, e também o é no
desporto.
Como
nota prévia gostaríamos de valorizar publicamente a dedicação, o esforço e a
perseverança evidenciadas pelos atletas portugueses para dignificar o seu
desempenho, a sua modalidade e nome do seu país, Portugal.
Os
objetivos a alcançar por Portugal nos jogos olímpicos de Londres 2012 estão
fixados no contrato programa de desenvolvimento desportivo pelo qual o Instituto
do Desporto de Portugal, I.P. (IDP, I.P.) concedeu ao Comité Olímpico de
Portugal (COP) o financiamento público para a execução do programa de
preparação dos atletas com vista à participação nos jogos olímpicos e, se
possível, ao alcance dos objetivos nele expressos.
É nosso propósito realizar uma avaliação do
grau de concretização desses objetivos fixados para Portugal nos jogos olímpicos de Londres 2012.
A
cláusula 2.ª designada “Objetivos” inserta no contrato programa de
desenvolvimento desportivo n.º 287/2009, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 193 — 6 de Outubro
de 2009, relativo à execução do Programa de Preparação Olímpica Londres
2012, que o COP apresentou no IDP, I. P., e se propõe a levar a efeito até ao
termo dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, refere os seguintes objetivos:
(1) Proporcionar aos
praticantes desportivos abrangidos pelo Projeto Olímpico Londres 2012, as
condições de preparação necessárias para que possam atingir nos Jogos Olímpicos
de Londres 2012 os seguintes objetivos desportivos;
a)
Melhoria qualitativa global dos resultados desportivos nos Jogos Olímpicos de
Londres 2012;
b) Aumento
global do número de representantes nacionais, com especial incidência no género
feminino;
c) Renovação e redução do nível etário dos atletas
participantes.
Antes de analisar o grau de concretização dos objetivos designados
desportivos, é evidenciado que o Programa de Preparação Olímpica Londres 2012,
que o COP apresentou no IDP, I. P. tem como finalidade proporcionar aos
praticantes desportivos abrangidos pelo Projeto Olímpico Londres 2012, as
condições de preparação necessárias para que possam atingir nos Jogos Olímpicos
de Londres 2012 os objetivos desportivos. No que respeita às condições de
preparação, o que se impõe é questionar os atletas (e não só) sobre se as condições
de preparação que lhe foram proporcionadas foram as necessárias e adequadas à
concretização dos seus objetivos. Estamos convictos que esse trabalho
certamente será realizado e servirá para introduzir as melhorias, do ponto de
vista dos atletas, nos sistemas de preparação desportiva.
Vamos aos objetivos: a) O
objetivo referido na alínea a) corresponde a uma melhoria qualitativa global
dos resultados desportivos nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Face à
formulação do objetivo (falta de especificidade, não está fixado o valor da
melhoria, nem o ponto a partir do qual se deve avaliar essa melhoria, dificulta
uma mensuração séria e inequívoca) propomos apreciar o grau de concretização
deste objetivo de dois modos:
(A) Pelo número de medalhas
e diplomas relativamente a Pequim 2008, e;
(B) Pelo número de medalhas
e diplomas relativamente aos últimos 3 jogos olímpicos.
(A) Pelo
número de medalhas e diplomas relativamente a Pequim 2008. Em Londres 2012 Portugal
obteve menos uma medalha e mais 2 diplomas do que em Pequim 2008. Em termos de
pontos obteve a mesma pontuação: 28 pontos. Do ponto de vista global obteve uma
prestação similar à de Pequim 2008 (28 pontos), embora com menos uma medalha
(de ouro) e mais 2 diplomas. Não é evidente uma melhoria qualitativa dos
resultados. Considerando este critério o objetivo fixado para Portugal não foi
atingido.
(B) Pelo número de medalhas e diplomas relativamente aos últimos 3 jogos
olímpicos. A média do número de medalhas, diplomas e pontos obtidos em Sidney
2000, Atenas 2004 e Pequim 2008, foi de 2,3 medalhas, 7,7 diplomas e 34 pontos.
Em Londres 2012 foi obtida menos uma medalha e mais dois diplomas. Em termos de
número de pontos Portugal obteve menos pontuação em Londres (28 pontos) do que na
média dos últimos 3 jogos olímpicos (34 pontos). Assim, em Londres 2012 do
ponto de vista global Portugal obteve uma prestação inferior à dos últimos 3
jogos olímpicos. Considerando este critério o objetivo fixado para Portugal não
foi atingido.
b) O objetivo referido na alínea b) relativo ao aumento global do número de
representantes nacionais, com especial incidência no género feminino, corresponde
a um duplo objetivo: aumento do número de representantes nacionais e aumento
das mulheres. São pois dois objetivos. O número de atletas participantes nos
jogos olímpicos de Pequim 2008 foi de 77, igual ao número dos participantes em
Londres 2012. Por isso este objetivo não foi atingido. As mulheres que
participaram nos jogos olímpicos de Pequim de 2008 foram 26, o que correspondeu
a 34%. Em Londres 2012 participaram 33 mulheres, o que correspondeu a 43%. Este
objetivo foi atingido.
c) O objetivo referido na alínea c) que pretendia uma redução do nível
etário dos atletas participantes nos jogos olímpicos de Londres 2012 não foi
atingido. A média de idades dos 77 atletas participantes nos jogos olímpicos de
Pequim 2008 foi de 27,5 anos (ano de nascimento até final do ano 2008),
enquanto a média de idades dos 77 atletas participantes nos jogos olímpicos de
Londres de 2012 foi de 28,2 anos (ano de nascimento até final do ano 2012).
Em síntese, podemos
considerar que o objetivo da melhoria qualitativa global dos resultados desportivos
nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 não foi atingido, ao não ter sido
ultrapassado o número de pontos obtidos globalmente (até 8.º lugar) relativamente
a olimpíadas anteriores. O segundo objetivo relativo ao número de
representantes nacionais e das mulheres foi parcialmente atingido. O terceiro
objetivo relativo à redução do nível etário dos atletas não foi atingido.
Concluindo, a maioria dos objetivos não foi atingida. Independente desta
questão formal, mas relevante, importa (1) valorizar publicamente a dedicação, o esforço e a perseverança
evidenciadas pelos atletas portugueses para dignificar o seu desempenho, a sua
modalidade e nome do seu país, Portugal; (2) discutir e aperfeiçoar a
base dos sistemas/políticas de deteção e preparação dos praticantes desportivos
portugueses para a obtenção dos mais elevados resultados desportivos no plano
internacional; e (3) um desígnio nacional, uma liderança forte e um objetivo
comum capaz de mobilizar a motivação e a superação de todos. Lembram-se do que
faltou à nossa comitiva em Pequim 2008? A história repetiu-se em Londres 2012?
Alfredo Silva
Alfredo Silva
Publicado no Diário de Notícias de 20-08-2012
12 comentários:
“Um desígnio, uma liderança, um objetivo capaz de mobilizar”… Sim. Entramos finalmente no campo da ação Política.
Quem conhece Alfredo Silva sabe que reunia as condições para isso. Para que cargo, e em que instituição? E em que momento da legislatura?
Bem-vindo Prezado Alfredo Silva.
Talvez
Se o governo, a Troyka e o Ministro das Finanças, também não cumprem objectivos, isso só significa que no dicionário da Academia Portuguesa não existe o signo "objectivos".
Claro que isto não é desculpa, mas a mera constatação de como encaramos o futuro... com a mesma ligeireza com que nascemos, i.é, nunca sabemos onde estamos mas sabemos que existimos.
Eu durmo descansado porque a Constituição também não alcançou ainda nenhum dos objectivos... mas aí é porque são demais,e não há tempo para atender a todos.
Espero que o desporto não seja a medida-padrão.
Cordialmente
Avaliação objetivamente correta.
O texto de Alfredo Silva tem o mérito de deslocar a discussão para o território da Política.
Mas enunciar é fácil; conseguir concretizar é diferente.
Concretizar essa Ação Política, enunciada pelo desejo empenhado das palavras do «texto de Alfredo Silva», é mais difícil: “Um desígnio, uma liderança, um objetivo capaz de mobilizar”.
E nessa perspetiva, talvez o modo como avalia a “prestação desportiva olímpica” seja frágil, e comum à esmagadora maioria das análises.
Talvez haja nele uma desproporção entre o desejo de liderança e a solução que aponta para a conquistar. Porque afinal, este tipo de avaliações públicas a reclamarem «mais medalhas olímpicas» e «mais deteção de talentos para a Festa Quadrienal» é dizer o que o COP/COI querem que se diga. É como começar uma competição desportiva em que um dos competidores dá a vitória antecipada ao outro.
Talvez este tipo de avaliações que colocam o Estado de cócoras, no que diz respeito às Políticas Públicas de Desporto, seja a causa de não haver Mudança há várias décadas. Concretamente porque dá de-mão-beijada, e sem qualquer contrapartida para o interesse público, todo o Desporto de um País ao COI/COP. E ainda por cima, é-lhe exigido que pague com o dinheiro de Todos os contribuintes esse interesse alheio (Festa Quadrienal).
Talvez não seja assim que se deva começar uma negociação que pretende Mudar alguma coisa.
Os «comandantes» do COP/COI devem sorrir muito (não me refiro a Vicente de Moura, nem este meu comentário crítico lhe é destinado em particular. Aliás, dever-se-ia elogiar o esforço e a convicção com que tem defendido a «sua» perspetiva «olímpica»). «Sorrir», porque na formação militar aprende-se que quase todas as vitórias dependem da capacidade de escolher o território onde se disputa a batalha, e de se conquistar nele uma posição estratégica. Isto para dizer que este tipo de avaliações públicas, iguais à que o «texto de Alfredo Silva» faz, conduz-nos inevitavelmente à derrota antecipada.
Muito antes de, pomposamente, se enunciarem os desejos de Mudança e de Poder há que fazer o trabalho-de-casa. Há que escolher o território onde se quer disputar a batalha pela Liderança do Desporto em Portugal e pelo seu respetivo Desenvolvimento.
É isso que a Folha A4 faz. Em vez de ir com a carroça-à-frente, e de discutir este ou aquele Sistema (como aqui fazem os Colegas Comentadores, ao proporem o «chinês», o «americano», o «ex-rda», o «espanhol», o «francês», o «escolar», etc., e outras teorias semelhantes), a Folha A4 começa por tratar primeiro do território e da posição estratégica que o Estado escolhe nele. Antes de saltar para o passo seguinte, imitando sempre o mesmo tipo de críticas e de avaliações iguais á do «texto de Alfredo Silva», a Folha A4 começa por definir com clareza as funções que cabem ao Estado efetivamente salvaguardar. Isto é, começa por uma Mudança Organizacional. Concretamente, «Reorganiza o Sistema» propondo a passagem do atual Modelo Disperso para um Modelo Concentrado. Isso permite ao Estado conhecer a «Conta do que Gasta em % do PIB com o Desporto» (que inacreditavelmente ninguém sabe, ao fim de mais de 30 anos!). Depois, define Metas para a % e para a proporção de Recursos que se propõe gastar com cada subsistema. Mais: o Estado transfere para uma entidade não-Estatal (ver ADD) a decisão sobre o modo como se distribuem os recursos que dá ao Desporto Federado e de Alto-Rendimento, incluindo o COP/COI. Deixando ao «mercado da realidade social, económica, e cultural específica do nosso País» a regulação do que é estratégico e sustentável. Em vez de continuar, como atualmente, a sofrer a manipulação iníqua e esbanjadora que o Desporto Federado e o COP/COI vêm fazendo ao dinheiro dos contribuintes, sobretudo os mais pobres ou aos que não podem ser senão «espectadores olímpicos».
Deste modo, e antes de ir a jogo, não começa logo como um perdedor antecipado. E se for assim, então, mais uma vez, as palavras nada conseguirão Mudar.
É esta a eventual fragilidade que talvez haja neste «texto de Alfredo Silva».
Talvez
O Sr. Prof. Alfredo Silva, pelo que conheço dele, ficaria bem em qualquer lugar do presente Governo, na área da sua especialidade, melhor que alguns que por lá andam! E tenho a certeza de que faria tudo o que o deixassem fazer (€uristicamenete falando). Aliás, só o texto que aqui colocou dá para ver a "diferença" relativamente a outros colunistas! Boa malha!
Talvez continua noutro planeta. Não consegui ainda descobrir qual nem se pertence ao Sistema Solar.
Alfredo Silva afirma: “Concluindo, a maioria dos objetivos não foi atingida.”.
Mas, objetivamente, em termos da análise que o «texto de Alfredo Silva» faz, e tendo por referência o Contrato assinado, por quanto falhou o COP?
Objetivamente, foi por uma ínfima parte. Em 99% cumpriu.
Logo, a Conclusão de «Alfredo Silva» está correta, porém a desproporção das consequências que desse pouco pretende retirar é que me tornam a sua posição «frágil». Se tivesse falhado por «muito» então poder-se-ia tomar essa diferença como argumento para Mudar.
A maioria das análises que optam por este caminho ficam desde logo, como referi, reféns de uma estratégia alheia.
Infelizmente, nunca vi optarem por outro tipo de comparação que não esta. E havia um «indicador» que permitia comparar Portugal com os outros Países, e que servia muito melhor para se perceber o que está mal no modo como o Estado tem investido na dita «Preparação Olímpica». Que defendo que deva continuar, mas com muito mais eficácia e eficiência.
Era este debate que seria interessante prosseguir. Porque acontece com a realidade e com os recursos que nos rodeiam aqui e agora.
Talvez
O que este articulista deixa a nú é a incompetência dos nossos organismos desportivos - quem propõe e quem aceita - como objectivos a alcançar nos JO, a quantidade de atletas, a paridade entre sexos e média de idade dos seus representantes.
Sem mais comentários.
Concordo (também) com o que escreveu o anónimo das 18.05h.
O COP agarra-se a objetivos (?) risíveis, fugindo aos verdadeiros objetivos desportivos.
Que belo debate daria agora o tema aqui posto por João Almeida no primeiro dia de Setembro às 21:07 (“Espírito Olímpico: Entre a inteligência tática e a manipulação de resultados”), e anteriormente por Jorge Olímpio Bento e Gustavo Pires. Agora, depois das «medidas de austeridade» anunciadas por um Primeiro-Ministro de um País que necessita de «aumentar a Competitividade» e a riqueza. «Belo Debate» por causa do comentário crítico que fiz na altura ao «conceito de Competição e de Competitividade que distingue o Desporto das outras atividades humanas». E que distingue a «Competição e de Competitividade Desportiva» dos outros tipos de Competição e de Competitividade.
Tal como referi: o Desporto como metáfora das relações sociais de Competição e Competitividade. Quando mencionei 776 a.C., ou Nero, para demonstrar fatual e empiricamente o começo dessa distinção e depois a sua destruição, os mais distraídos devem ter julgado que estava a falar do Passado. E não estava a falar de uma lição que o Desporto criou nessas épocas mas que serve para a «Competição e de Competitividade no dia de hoje». Razão pela qual também não entenderam como seria possível a proposta que fiz em 1997, e renovei agora com a Folha A4. Concretamente, do Desporto (e a dita Educação Física) poderem ocupar um lugar diferente não apenas no Sistema Educativo (nos curricula das Escolas) como também dentro das Governações Políticas.
A comunicação de um Primeiro-Ministro de um País que necessita de «aumentar a Competitividade» feita em Setembro de 2012 só vem dar razão a essa perspetiva que defendi.
Repare-se nas razões da referida «falta de Competitividade». E comparem-se com as razões da destruição da Competitividade referidas no Édito de Teodósio em 393 d.C.. O que matou a Competitividade nesses dois casos tão distantes no tempo cronológico? Ou, raciocinando ao contrário, o que fez os EUA terem mais Competitividade que os Europeus a partir do séc. XIX?
O doping atual, ou a organização de J.O. por países economicamente mais poderosos, ou outros «modos de destruir a Igualdade», é o mesmo que Nero fez em 67 d.C., e a razão do fim dos J.O antigos. São em ambos os casos: a perda e a «destruição da Competitividade».
Quando uma sociedade ou um País considera que há coisas que “não são comparáveis perante a Lei” a nível do Individuo e da Pessoa, como foi dito. E, em cima dessa «conceção diferenciada», e por causa dela, prescreve medidas diferenciadas para os Cidadãos, nesse momento está a matar a Competitividade. Está a regressar ao «Regime Anterior ao que os EUA consignaram na sua Constituição» e que lhes deram a supremacia competitiva que lhes permitem agora ditar a Lei Militar e Económica (NATO, FMI, Banco Mundial; ONU, OMC, etc.). E que são o termo de comparação em nome do qual esse País quer atingir os «resultados» que não consegue.
Porque o que distingue a passagem do dito «Antigo Regime» para o «Regime Atual dos Mais Competitivos» é, a partir do século XVIII, exatamente o fim da «prescrição da Desigualdade como crença» para a «prescrição da Igualdade como lei». Foi isso que no Passado levou a acharem que os Outros não eram humanos e podiam por isso matá-los ou escravizá-los sem ser “Pecado”. Temos casos desses até em fornos crematórios, valas comuns, e rotas de escravatura permitidas nas leis.
Portanto, tudo o que for «feito em nome da Desigualdade» é uma porta aberta para justificar os menos capazes (cujas pretensas qualidades seriam eternas e imutáveis, por exemplo vindas do divino ou de uma herança monárquica, independente de qualquer mérito ou teste provado em competição). É uma forma artificial e política de não terem mais que Competir.
Digam lá se o Desporto não é uma bela Instituição Humana que merecia uma Governação à altura dos ensinamentos que detém, e que beneficiariam toda a Sociedade?
Talvez o Primeiro-Ministro devesse ter assessores com formação desportiva… (estou a brincar).
Ou não?
Talvez
O «Anónimo de 5Set2012 18:05» tem razão. Tal como referi, há outros indicadores que permitem fazer um Contrato com mais benefícios para o Desporto e para o Estado. Se não foi feito é porque o COP/COI, mais uma vez, vergou o Estado e os interesses do Desporto.
Com a Folha A4 isso não acontecia.
Talvez
Na NATAÇÃO os nossos líderes parecem incapazes de trabalhar com os atletas, os treinadores, os clubes e as associações para os resolver da melhor forma.
A falta de comunicação faz com que sejam incapazes
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