terça-feira, 18 de setembro de 2012

Estar perdido e não parar para perguntar o caminho

Em 2004, Durão Barroso insistiu -foi a versão que na altura me foi transmitida-em discursar na inauguração do Estádio do SLBenfica. E a coisa não correu bem. Foi recebido com uma vaia monumental, o discurso interrompido por mais de uma vez e nem os apelos do falecido Fialho Gouveia pela instalação sonora do estádio, alteraram o comportamento dos presentes. Tudo em direto transmitido pela televisão. Era o sinal do início de um divórcio com o País. Pouco tempo depois as eleições europeias confirmavam-no. De tal modo que abandonou o governo e procurou fora do País a sua zona de conforto.
Há pouco tempo,em Mafra, numa banal cerimónia por ocasião de abertura dos Jogos da Lusofonia, Miguel Relvas, ministro de desporto, enquanto discursava era fortemente vaiado. Presumo que se atualmente entrar num espetáculo desportivo, nem precisa de ser do futebol, e a sua presença for anunciada é, por certo, monumental assobiadela.
José Sócrates no último período do seu mandato onde quer que fosse tinha uma manifestação à espera. Maria de Lurdes Rodrigues a mesma coisa. E se andássemos mais para trás encontrávamos situações similares. Estes casos não são virgens. Contestação aos governos e aos governantes existe em todo o lado. O que é novo é a dimensão dessa contestação. Os governantes perderam o país e este perdeu-lhes o respeito. Parece que não há governante que se safe. O que quase leva o governo para a clandestinidade dos gabinetes. Sair à rua em serviço oficial é ter à espera uma qualquer manifestação. Até o pobre, politicamente falando, Alexandre Mestre, teve direito no Seixal a uma manifestaçãozinha, quando ia perorar sobre como se faz um campeão, coisa de resto, em que é reconhecido especialista com profusa obra reconhecida no país e no estrangeiro.
Goste-se ou não do governo a legitimidade para governar é dele. E não há manifestações que possam substituir as decisões que legitimamente toma. Mas seria um erro de colossais proporções não perceber a dimensão do que se está a passar. E de que as manifestações de sábado passado evidenciam: é que não haverá estabilidade governativa enquanto houver instabilidade política e social. A governação não pode obedecer a caprichos e teimosias. Ou ser um mero exercício de vindictas. Nunca o deverá ser. E menos ainda num momento de tão grandes dificuldades. O governo foi eleito para governar. Mas não pode ignorar a vaga de descontentamento que a sua ação está a desencadear. A legitimidade política mantém-se. Mas essa legitimidade enfraquece-se no plano da ação política se irresponsavelmente ignora o que decorre do exercício da governação.
O desporto não escapa a este estado geral. O PSD não aprendeu nada. Na oposição durante seis anos desapareceu. E não se preparou. Chegou ao governo sem qualquer trabalho feito. Quando teve que governar apressou-se a escolher quem estava mais à mão. E que aceita tudo.O governo, como aqui chamámos a atenção, fez algumas escolhas inacreditáveis só possíveis num quadro de desorientação e de baixo grau de exigência. E não pode dizer que não foi avisado. O ministro da tutela está, de há muito e mesmo antes dos acontecimentos recentes, profundamente fragilizado. Resistir na sua manutenção foi um erro de Passos Coelho. O próprio Miguel Relvas deixou de ter condições psicológicas para poder trabalhar por maior grau de resiliência que possua e capacidade que evidencie. Só isso pode explicar que a partir de determinado momento tenha perdido a condução do que se ia passando na secretaria de estado e na administração pública desportiva. E a conflitualidade entre gabinetes apareceu naturalmente. Muito do que se passa Miguel Relvas não sabe. E não sei se tem cabeça e paciência para saber. O seu mandato chegou ao fim independentemente do momento formal da sua conclusão.
Neste momento mais importante que a elaboração do orçamento para o próximo ano ou dirimir os conflitos com o CDS é o governo reencontrar-se. Desde logo entre si e os partidos que o compõem. E depois com o país. Dificilmente o conseguirá. Mas se não mudar de pessoal político nem vale a pena tentar.



11 comentários:

Luís Leite disse...

Mais importante:
Assistimos ao completo falhanço da democracia à portuguesa.
Que agrava continuamente.
Uma partidocracia corrupta, feita de conluios com a própria Justiça.
Nada a esperar deste regime.

Anónimo disse...

o próximo sedj enquanto não lhe mudam o nome como primeira obrigação da nação devia ser um tal mestre, a governança como dizem os entendidos e os amigos das federações não vão querer outro, o mestre é um mestre, é um mestre ponto de exclamação

Anónimo disse...

Basta de quê?
Solução Talvez: «Um Contrato para a Soberania».
Isto é: Em vez da luta fraticida, um «consenso sobre as prioridades». Simultaneamente para o curto e para o longo prazo. Com uma duração mínima de uma «geração» (50 anos). Aprovado por 2/3 da Assembleia da República. Eventualmente vertido, em termos gerais, na Constituição. Com sanções por incumprimento, concretamente a demissão imediata (max. 3 meses após verificação objetiva) dos governos que não cumprissem as metas estipuladas para cada legislatura.
Concretamente:
I. Prioridade principal de curto-prazo: Controlo da Despesa.
Isto é, «controlar implacavelmente a despesa-corrente, ajustada em função do ciclo económico, e obrigatoriamente coberta pelas receitas-correntes».
II. Prioridade de longo-prazo: Investir na Economia.
Isto é, «fazer um investimento na economia, financiado por dívida de longo prazo». Não utilizar o financiamento externo (o dinheiro que nos emprestam) para outro fim. Com o objetivo principal de repor a capacidade de Portugal na agricultura, pesca e produtos do mar, industria, transporte marítimo e espacial (meta de 80% de autonomia). Definindo como metas: a exploração geológica e biológica dos recursos existentes (ZEE); a especialização em construção de infraestruturas necessárias a essa exploração (inshore e offshore); a exportação de produtos e serviços; e o turismo.

Diz Adam Tooze: “Na altura, a Alemanha era um país deficitário. Onde inclusive o chanceler Heinrich Bruening optou, na parte final da República de Weimar, entre 1930 e 1932, por uma política de austeridade extrema, sendo então injuriado pela população como o «chanceler da fome». A catástrofe económica alemã veio em consequência dessa opção. Um ano depois, em 1933, essa opção catapultou o partido Nazi para o poder. E mergulharam a Europa numa nova guerra. Este é o período da história alemã do século XX em que se devem procurar lições para hoje. Uma atuação desse tipo foi trágica na última fase da chamada República de Weimar. A principal lição que se tira desse período é que ou se avança na Cooperação, ou, então, o melhor é quebrar o sistema de câmbios fixos. A lição que nunca se devia esquecer é a de que sem Cooperação, sobretudo por parte dos países excedentários, um sistema rígido - como era então o do padrão-ouro na Alemanha, e é hoje o da Zona Euro - implica uma enorme pressão deflacionária aos membros mais fracos. E isso ainda mais quando os mercados financeiros estão assustados. A atual doutrina alemã, misturando mercantilismo com austeridade, tem, ainda, uma outra implicação no plano geopolítico: os países excedentários não ganham nada a longo prazo com a sua posição de recusa de Cooperação [com os deficitários]. O sistema que permitiu a certos países acumularem excedentes está a caminho do ponto de colapso. O modelo económico alemão é insustentável.” (Adam Tooze, 19Set.2012, especialista em história económica alemã, encarregado pelo ministério das Finanças alemão de escrever a história da dívida pública alemã durante o Terceiro Reich, e professor na Universidade de Yale, EUA).

As lições da memória?

Talvez

Anónimo disse...

De propósito, deixei para agora a condição-chave dessa Solução Talvez não-fratricida: Tudo isso com o «índice de GINI» a diminuir 0,5% por cada 5 anos desses 50 de duração do «Contrato para a Soberania».

Talvez

Anónimo disse...

Eu estou de acordo com o Arq. Leite. Não há nada como uma boa ditadura. Viva Salazar.

Anónimo disse...

A propósito do tema “… perguntar o caminho” que J.M.Constantino colocou se tivessem perguntado a solução, daria a seguinte: «cortar um subsídio sem cortar os subsídios». Isto é, cortar a todos, públicos e privados, meio subsídio aos dois subsídios. Assim, resolviam a questão do Tribunal Constitucional, davam (em parte) os subsídios tirando o valor de um, e continuavam sem perder-a-honra e a cumprir o Memorando.

Ou seja, a arte de «tirar sem tirar (tudo), ou de «dar sem dar tudo». Uma solução como a Política gosta: «Ser e Não-Ser». É assim que se resolvem os paradoxos do tipo «e». Os de tipo «ou» são fáceis, até os computadores os resolvem, aliás foi para isso que os inventámos. Para não termos trabalho com o que já sabemos.

Talvez

Luís Leite disse...

Não gosto que ponham na minha boca coisas que não disse.
Não gosto que tirem ilações abusivas do que escrevo.
A coberto do anonimato...

Anónimo disse...

O referido Dr. Oliveira tinha uma frase que ficou histórica. Costumava dizer que, passo a citar: "quando não se quer resolver um problema nomeia-se uma comissão."

Talvez

Anónimo disse...

E para liderar a comissão o ideal seria mesmo o Arq. Luís Leite.

Luís Leite disse...

Ó anónimo das 23.02:

Você não me deve conhecer.
Não tenho qualquer vontade ou prazer de liderar seja o que for.
E também não me agradam comissões.

Anónimo disse...

Caro Arq. Leite
O povo costuma dizer: "quem despreza quer comprar".
Não tem vontade nem prazer, mas se for necessário fazer o sacrifício estárá certamente disponível. Como os outros.