Texto publicado no Público de 9 de Setembro de 2012.
1.No dia 27 de Junho (uma 4ª feira) recebi um correio electrónico de um advogado que se me dirigia também em nome de uma outra pessoa, esta a colaborar com a Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto.
Era-me dado conhecimento da inauguração, no mês de Julho, do Museu Nacional do Desporto e da respectiva Biblioteca.
Para esta apelava-se à minha “atenção de forma particular”.
O correio electrónico anexava uma missiva da apresentação da iniciativa e do que era pretendido com a mesma.
2. Abri o anexo – em formato pdf – com facilidade.
Surpresa.
Era uma carta do Chefe de Gabinete do Secretário de Estado Mestre Picanço, imagine-se, a mim dirigida. Sem espinhas. Uau! Que intimidade. Que correcção na forma como se contacta uma pessoa da qual se desconhece qualquer paradeiro. Alguém sabe, com efeito, o endereço postal da Faculdade de Motricidade Humana ou da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa?
Após algumas palavras sobre a futura inauguração do Museu (e Biblioteca), enfatiza-se que estaremos perante “um espaço e projecto que a todos pertence e para o qual todos podemos contribuir e é neste espírito de ”porta e espírito abertos” que o desejamos apresentar.”
E a riqueza do espaço, adita-se será tanto maior “quanto mais contributos conseguir reunir de todas as entidades que o recebam como mecanismo de utilidade pública e pólo aglutinador de identidade e conhecimento.” Fixe. Correctíssimo até agora.
3. Depois vem o apelo à minha “atenção de forma particular”, no que respeita à Biblioteca.
Algumas loas e a solicitação do meu “apoio no sentido de nos ajudar a organizar e reunir os títulos, livros e/ou revistas que na qualidade de perito julgue que melhor se enquadram neste espaço.”
Esclarece a Secretaria de Estado: “Este é um projecto dinâmico que tem ponto de partida (inauguração) mas se prolonga indefinidamente no tempo, tal como este convite à participação de V. Exa. no mesmo. Só este carácter intemporal pode manter a qualidade da biblioteca”.
Por fim, sem muito sentido, em face do pedido que me foi dirigido, solicita-se que seja eu a contactar a outra pessoa de cuja existência o advogado já me tinha dado conta. Em suma, alguma confiança, mas não tanto e nem pensar em contactos mais directos com quem que me lança o desafio.
4. No dia seguinte, respondi ao advogado, agradecendo a comunicação, e pedindo que fosse contactado (três números de telefone), para tentar saber o que, em concreto, me era pedido.
5. O Museu foi inaugurado a 12 de Julho passado e não fui, naturalmente, convidado para a cerimónia.
6. Nunca mais o advogado, a outra pessoa, o Chefe de Gabinete, algum motorista ou auxiliar administrativo da Secretaria de Estado – com o devido respeito – me contactou, mesmo seguindo os trilhos complexos que foram percorridos.
Porquê? Foram as férias? Perderam os meus contactos? A Biblioteca fechou? Reponderaram o teor das críticas que sempre dirigi aos governantes (?) do desporto deste infeliz país?
Não sei a resposta.
7. Lembrei-me agora de algo, peço desculpa.
No dia 1 de Julho (o domingo seguinte àquela 4ª feira) publiquei uma opinião no Público. Aí dei conta da “espécie de cunha” que Mestre Picanço tinha levado a cabo quanto ao nome do porta-estandarte na cerimónia de abertura de Londres 2012.
Não deve ter tido relevância para o silêncio, desde logo porque, como afiançava a Secretaria de Estado, eles são movidos por um “espírito de ”porta e espírito abertos”
8.A “coisa” faz-me lembrar as hipóteses práticas dos exames de Direito. Eis o enunciado: A quer a colaboração de B, mas não a quer pedir directamente. Pede a C que o faça. C, por sua vez, comunica com B, mas através de D, para que B fale com E. B responde a D. No final, um silêncio. Quid juris?
9. Agradeço os incentivos que tenho recebido para que “não poupe palavras”.
10 comentários:
Um advogado com nível nunca escreveria o que Você escreveu.
Se quis demonstrar que os outros não têm nível o Sr acabou por se nivelar aos outros.
O Senhor SEDJ foi ao encontro da Equipa Portuguesa que participa nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012. Não digam que esses Desportistas Portugueses estavam na ribalta dos «media» e da lembrança. Tinham sido esquecidos pelos jornalistas, pelos comentadores, pelos bloguistas, e por não sei quantas «maiorias».
Apesar de não ter retirado daí senão «obscuridade», fez bem em gastar essa energia e esse tempo.
Por vezes a «luz» perdura menos do que parece.
Talvez
Independentemente de concordar com o artigo em questão,quero,frontalmente,como certamente os que me conhecem reconhecem,registar que qualquer comentário,a coberto do anonimato,seja qual for o seu teor,é uma atitude de pura cobardia intelectual.Muito lucraria o país se houvesse muito mais gente da envergadura e coragem intelectual do autor do texto,que nem sequer pessoalmente conheço.O que,sinceramente,lamento.O que se pensa deve ser dito, pois só assim se serve o país...
Campos de Barros
Pela profundidade e conteúdo, mais um grande contributo para o Desporto Nacional.,,,,
Uma pena o pouco espaço que o desporto dispõe seja esbanjado desta forma, fútil e egocentrista.
Estava à espera que fosse o tacho para o calar????
Da forma como termina o artigo parece que sim.
Meirim,NÃO POUPE PALAVRAS!
Apesar de saber que terá sempre detratores...
Os detratores são sempre anónimos...
Campos de Barros, não se canse a dizer que o anonimato é uma cobardia intelectual, porque essa chapa já está gasta. Agora diga-me qual é a coragem intelectual do autor do texto.
É só por não o conhecer pessoalmente ?
É pouco
O Meirim é, sempre foi e será um triste naquilo que escreve. Para além do mais é chato como a potaça quanto às ideias.Já não há paciência para tantos complexos e carências.
Não poupe neles Doutor Meirim. Mas não se engane. A sua oportunidade ainda vai chegar.
Por favor,
Deixem o Meirim em paz.
Este artigo passa-em um pouco ao lado, não lhe reconheço grande importância... mas conheço as cronicas do Dr. Meirim e sei bem que a sua falta de medo pode incomodar mta gente... principalmente aqueles que preferem a capacidade de lobby à competência... simplesmente porque de lambe-botas ele não tem nada, valoriza a competencia e o saber fazer ... Gosto da sua coragem e espero que assim continue sempre.
Quem não o vê assim não o conhece bem ... continue Professor, a sua opinião vale bastante.
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