Um texto de Luís Leite que se agradece.
Conheço e frequento a FPA há mais de 40 anos, desde os tempos do velhinho edifício na Rua do Arco Cego, junto a o Campo Pequeno, onde funcionavam quase todas as Federações até aos anos 70, no mais completo amadorismo.
As eleições federativas nunca foram minimamente relevantes para evolução da modalidade.
O órgão estatutário com poderes executivos, a Direção, que me lembre, nunca teve poderes executivos, já que uma elevada percentagem do elevado número dos seus membros, além de reconhecerem o facto de pouco perceberem da modalidade e não a acompanharem de perto, primaram sempre pela falta de assiduidade.
O poder executivo esteve sempre na mão do Presidente, que sempre se limitou a pôr os “dirigentes” presentes ao corrente das decisões que entretanto já tinha tomado.
Há duas eras completamente diferentes na FPA.
A era pré-Fernando Mota e a era Fernando Mota.
Da primeira não vale a pena falar, já que a modalidade era 90% Benfica-Sporting, com dirigentes amadores (poucos) e umas dúzias de falsos atletas amadores.
Fernando Mota tomou a FPA em 1983 e rapidamente se percebeu que a sua atitude profissional e dedicação total iriam deixar marcas e revolucionar completamente o Atletismo Português.
Fernando Mota mandou sempre sozinho durante quase 30 anos e foi estruturando a Federação de acordo com a sua maneira de pensar a modalidade.
As eleições nunca interessaram para nada.
Começou por escolher dois presidentes às suas ordens e quem dirigia as reuniões da Direção era ele próprio, que nem fazia parte da mesma.
As mais de 200 medalhas entretanto ganhas e tudo o resto que deu um prestígio relativo ao Atletismo português devem-se, em parte, ao monarca Fernando Mota.
Mas sobretudo aos atletas, seus treinadores e agentes de apoio direto.
Sempre num contexto de controlo total e manipulação de toda a estrutura, numa gestão que se pode caracterizar de absolutista, Fernando Mota contou sempre com 3 ou 4 personagens fiéis e obedientes que eram indispensáveis para que a estrutura funcionasse à sua maneira.
Durante estes 30 anos, Fernando Mota ganhou três tipos de relacionamentos pessoais na estrutura: os veneradores, os calados interesseiros e os inimigos.
Jorge Vieira, seu discípulo, ganhou as eleições para o próximo quadriénio.
Tudo indica que será um continuador do estilo de Fernando Mota, sem metade da capacidade de trabalho e de dedicação do anterior presidente.
A sua Direção já revela, pela quantidade e origem dos escolhidos, que conseguiu cumprir um sonho: imitar Fernando Mota no essencial, sem o ter como patrão.
Em tempo de vacas magras.
Não. Magríssimas.
O Atletismo português, na atual conjuntura financeira, irá regredir, a prazo de 2/3 anos para os níveis de há 4 décadas atrás.
14 comentários:
Parabéns pelo comedimento Luís Leite
O poste faz a análise da situação não regateando elogios e traça um futuro.
Foram 30 anos 'loucos' e agora há que dar a volta ao texto.
É bom haver novos protagonistas embora a simples mudança nada signifique se não houver um norte bem claro e corporizado na equipa dos novos eleitos, mesmo quando não há dinheiro e precisamente por isso os princípios são relevantes.
Foram tempos extraordinários de muito dinheiro que agora vão pesar na factura porque algumas situações só conseguem trabalhar com muito dinheiro.
Deixo-lhe uma questão que não tem de responder obviamente:
Se o Jorge Vieira lhe pedisse um par de elementos fundamentais qual seria o seu posicionamento?
Para não dizer que não deixo o meu, aqui está: No tempo que tive no Panathlon vi que os próprios elementos da Direcção tinham ideias próprias e eu choquei com eles com estrépido. Um deles até achava normal que Lisboa podia em 2008 ser candidata à organização dos Jogos Olímpicos e afirmou-o bem alto num jornal. Fantástico não é Lisboa com os JO? O JV tem de atender às pessoas que com ele trabalham e investir aí. Isso é mais importante que a falta de dinheiro. Se a Direcção não fôr minimamente solidária desde o primeiro momento, o JV está tramado. De qualquer modo desejo-lhe daqui o maior dos sucessos.
Ao longo dos anos em que fez parte da Direcção da FPA, a que grupo pertencia o Luís Leite? Já sabemos que no final, fez parte dos inimigos, mas nos restantess anos?
Apesar de não pretender ser entendido na matéria, em virtude do facto de a minha formação ser noutra área, o desporto é um assunto que me apaixona, pelo que sigo com atenção redobrada o Vosso blogue, por me parecer ser uma valiosa fonte de informação acerca dos bastidores da realidade desportiva no nosso país. Os textos do Sr Luis Leite, cuja prontidão em comentar tudo o que é escrito me leva a poensar ser esta a sua ocupação principal, são porventura aqueles que menos aprecio. Mas desta vez ele foi longe demais!!! A minha falta de formação formal na área desportiva é amplamente compensada pela minha capacidade de observação da natureza humana. Após ler os seus inúmeros comentários acerca do agora cessante Presidente da FPA, a quem teceu inúmeras acusações e criticas, o Sr Luis Leite visa agora o actual Presidente, menos de uma semana após a sua eleição. Leva-me a confirmar as minhas suspeitas de que a participação deste senhor neste blogue se limita a ser um exercício de pura maledicência, sem qualquer fundamento, sem qualquer objetivo construtivo, limitando-se a ser uma forma de exorcizar as suas frustrações pessoais. Não foi sem alguma estupefação que li os rasgados elogios que agora tece ao Prof Fernando Mota. Mas a estupefacção seguiu-se de um sorriso: ficou cabalmente provado que este comentário, como todos os outros que o precedem, é motivado por um dos mais desprezíveis sentimentos humanos: a INVEJA!!! Tive oportunidade de conhecer pessoal, ainda que brevemente, o Prof Jorge Vieira e posso dizer que,baseado apenas no entusiasmo e contagiante paixão pela modalidade que presenciei, o atletismo me parece em excelentes mãos.
Vamos às respostas solicitadas:
1) Fernando Tenreiro:
Não fui comedido, fui verdadeiro.
Jorge Vieira não me vai pedir nada.
Depois das mentiras que andou a espalhar sobre o meu desempenho no que respeita ao novo Centro de Alto Rendimento, após a minha demissão, muito antes de as obras estarem prontas e sabendo exatamente tudo o que se tinha passado, porque lho contei, num almoço a dois no golfe do Jamor, não teria coragem de me encarar.
Quanto aos membros da Direção, apesar de o Atletismo dever muito a três ou quatro dos do meu tempo, noutras áreas que não as executivas, alguns nada entendiam da matéria e gabavam-se disso ou reconheciam esse facto.
Nunca houve uma votação ou discussão aprofundada e conhecedora enquanto lá estive.
Apenas subserviência ao monarca ou monólogos surrealistas.
Esse era o contexto possível.
2) Anónimo ads 14:16h:
Ao grupo dos personagens fiéis e obedientes.
3) Anónimo das 20:35h:
Não sendo você entendido na matéria, mas sendo um "observador da natureza humana", eu escusava de replicar.
Apenas lhe digo que a minha única frustração pessoal foi ter conhecido a podridão do sistema político-desportivo português.
Inveja não tenho, porque nunca quis ser mais nada senão competente, ao serviço da minha modalidade.
E quem lá está ou esteve conhece-me. E sabe que apesar dos muitos contextos desfavoráveis, fui sempre competente até ao dia da minha demissão.
Tenho defeitos, mas a inveja não a reconheço em mim. Não se encaixa na minha maneira de ser.
Acrescento: Se eu tivesse pretendido mesmo ser presidente da FPA, tinha fortes probabilidades de o ser hoje. Pergunte a quem sabe.
Para mim, sete anos chegaram.
E sobraram!
Acho que Jorge Vieira é o sucessor natural de Fernando Mota, numa perspetiva de "sucessão na continuidade".
Em declínio.
Mas é um mal menor e gabo-lhe a coragem.
Comeram na e da mesma 'malga', mamaram na 'mesma teta' e depois ficam ressabiados....
Chegarem-se à frente é que ta quieto...
E muito melhor criticar 'por fora'...
Colocado em frente 'ao mocho' e provar tudo o que aqui se diz e que era !!!
Era do "grupo dos personagens fiéis e obedientes" para poder ser requisitado à Escola?
Depois, passou a inimigo.
Vidas...
Anónimo das 9:45h
Resposta: Não, esses são os "calados interesseiros".
Eu, enquanto dirigente a tempo inteiro, tinha licença extraordinária, por despacho do Presidente do IDP.
E orgulho-me muito do meu trabalho na FPA.
Quando a demência quer aparentar inteligência dá nisto. Que pobreza.O Sr.Luis Leite ao referir-se às nossos organizações, desportivas e não-desportivas -tal como se refere mostra não fazer a mais pequena ideia do que é a realidade nos "paraísos" que julga conhecer. Conversa de reformado - da vida. A História e a literatura está cheia destas personagens. Desistiram de fazer o que quer que seja e dão cabo daqueles que ainda estrebucham. Isto é que é verdadeira cidadania.
Anónimo das 20:39h
As suas conclusões são abusivas e infundadas.
Quem disse que eu desisti de fazer o que quer que seja?
No Atletismo fiz muito e acho que foi suficiente.
De resto, faço aquilo que me apetece.
E ninguém tem nada a ver com isso!
O que terá sido o muito que fez comparado com o que fazem aqueles que lutam uma vida inteira, muitas vezes por nada, e nunca desistem? No mínimo deveria ter respeito por todos esses anónimos que vão contribuindo para esta miséria, contra a qual você tanto vocifera. Imagine só o que seria do nosso país se todos funcionassem da mesma forma como você funciona, funcionou ou deixou de funcionar. Ficava~lhe bem agradecer a todos os idiotas, ignorantes, analfabetos, iliteratos, incultos, desonestos, malandros, atrasados, ultrapassados, corruptos etc, etc, por aquilo que fazem. Pelo menos esses ainda lhe dão algum assunto desportivo para você se entreter nas suas "análises". Se não fossem esses você só poderia analisar o desporto norte americano, russo ou chinês.
Anónimo das 11:09h
Você faz uma pergunta. E depois tira conclusões abusivas.
No Atletismo fui:
Atleta internacional;
Recordista nacional de pista coberta;
Seccionista do SLB, nos idos de 1975, tempo da autogestão;
Nos anos 70, membro da Comissão Nacional de Estatística da FPA;
Colaborador especialista na elaboração de pareceres técnicos e homologação de pistas e instações desportivas (2002/2009);
Vice-Presidente responsável pela Preparação Olímpica, Alta Competição e Seleções Nacionais (2005/2009);
Team Leader de inúmeras Seleções Nacionais em jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e da Europa;
Membro efetivo da ATFS (Association of Track and Field Statisticians), com vasta obra publicada e reconhecimento internacional;
Editor permanente das "World All-Time Lists, Men and Women" (1000 melhores em masculinos e 800 melhores em femininos nas disciplinas olímpicas), trabalho único no mundo, sempre atualizado.
Para si não chega.
Para mim chega.
Quanto ao respeito que tenho ou deixo de ter em relação aos restantes agentes da modalidade, tenho as minhas opiniões.
De facto, há de tudo um pouco.
Quanto ao atletismo russo ou chinês, garanto-lhe que em Portugal só há uma pessoa ao meu nível no que toca ao conhecimento e acompanhamento do atletismo internacional e da sua História: Luís Lopes.
Tanto nível...
para depois vender estatisticas a 10 euros....
Ò Luis Leite, agora se vê que foram coisas pequeninas, num aquário ainda mais pequeno.
Mediocridade e ilusão bem típicas de um país de pequeninos, fechado sobre si mesmo.
Quanto aos anónimos do "tanto nível" e do "aquário dos pequeninos", é uma pena não podermos conhecer a sua grandeza oceânica.
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