terça-feira, 6 de novembro de 2012

Perder por falta de comparência


Em todas as organizações há momentos de mudança na liderança. Por opção. Por cumprimento estatuário. Ou por qualquer outra razão. O simples fato de mudarem as pessoas, muda seguramente o modo de dirigir. Porque ninguém é igual. E o modo de dirigir marca as organizações.
Os momentos de mudança são propícios aos debates e avaliações sobre o estado das organizações. E permitiriam abrir as organizações à sociedade, no sentido de que a discussão interna se externalize e não fique confinada aos elementos que integram a organização. Quantas vezes aa organizações se queixam de que não existe na opinião pública uma adequada compreensão dos processos de decisão? Ora muitas vezes, são as próprias organizações as primeiras a não abrir os seus debates internos.
Um conjunto significativo de organizações desportivas passou, ou vai passar, por eleições. Seria muito útil para o desporto nacional que este processo fosse aproveitado para animar o respirar de ideias e de projetos para o futuro. Num momento particularmente difícil do País beneficiariam as organizações envolvidas, mas também todos quantos acompanham e se interessam pelo desenvolvimento do desporto nacional. E sobretudo num momento em que na sociedade portuguesa está na agenda do debate político a refundação do papel social do Estado o desporto não pode ficar fora dessa discussão. Desde logo porque sendo o desporto um bem público que carece para a sua vitalização da assunção do apoio do Estado não lhe pode ser indiferente o rumo desse papel. Mas também porque esse debate não pode ficar refém dos partidos políticos e todos são intimados a não o permitir em nome do exercício da cidadania. A ausência do desporto desse debate fragiliza-o. E torna-o, aos olhos da opinião pública, como um ente sem opinião e voz própria, tolhido na sua capacidade de pensar e influir as decisões que vão pesar no seu futuro.
O desporto tem-se ausentado para parte incerta quando se discutem temas como o sistema público de televisão, o regime fundacional, os sistemas de apostas on-line, a tributação fiscal sobre bens e serviços desportivos, o policiamento dos espetáculos desportivos, como se tratasse de matérias que lhe não dizem respeito. Esta apatia torna o desporto prisioneiro de uma impotência que espanta.
Obviamente que os dirigentes desportivos não podem ficar isentos da responsabilidade de não discutirem estes temas. Mas interrogo-me sobre o que têm feito as universidades ou as diferentes associações profissionais sobre a situação do desporto nacional. Todos os dias chegam informações de debate nos círculos académicos sobre os mais diversos temas da vida pública nacional e no desporto parece que só a prega adiposa e os papers mobilizam os nossos académicos.
A discussão do papel do Estado em relação ao desporto é um tema central. Abordámo-lo em diversos momentos nos últimos dez anos. O que pensamos está publicado. O que pretendemos é enfatizar que se torna imperioso a capacidade das organizações desportivas, das universidades, das associações profissionais em refletirem e debaterem o papel e a presença do Estado no sistema desportivo nacional. A alternativa é deixar que essa discussão ocorra sem que o desporto sinalize o seu entendimento do problema e deixe de dar o seu contributo à construção de uma solução. O risco é deixar que essa discussão se faça sem o contributo do desporto por simples falta de comparência.

4 comentários:

Luís Leite disse...

Competiria à defunta (?) Confederação do Desporto de Portugal promover e incentivar essa discussão.
Mas a instituição (?) especializou-se em festas vaidosas no Casino, que só revelam a decadência do Desporto português.

Anónimo disse...

Noticia 6Nov2012: ["A Direcção da Associação de Futebol de Lisboa, em Reunião Extraordinária, realizada em 6 de Novembro de 2012, em que estiveram, também, representados todos os Órgãos Sociais da mesma, deliberou: Suspender, de imediato, a realização de todas as suas provas e de todos os seus campeonatos, em todas as suas categorias e vertentes -- Futebol e Futsal", lê-se num comunicado emitido pelo organismo. Refira-se que o decreto-lei 216/2012, que "acaba com o policiamento obrigatório em jogos de iniciados e juvenis", entra em vigor a 9 de Novembro, trinta dias após a sua publicação em Diário da República.”]

Será possível uma solução?
O problema é jurídico ou económico ou social? A solução não dependerá da resposta anterior?

Talvez

Luís Leite disse...

Que esperar de um país alienado com a futebolite?

AP disse...

Algo a ter "de baixo de olho", por todos os motivos e mais alguns...
estudo muito criticavel, inclusivé pela metedologia do estudo, modo de aplicação da mesma, o facto de os objectivos sociais do investimento público no desporto irem muito para além da medalha,...

ups... está especificado algures os objectivos do investimento público no Desporto!?
http://www.record.xl.pt/Modalidades/Olimpismo/interior.aspx?content_id=787718