Não constitui propriamente uma novidade.Mas a sua publicação dá-lhes uma acrescida oportunidade. Referimo-nos ao estudo sobre a pobreza em Portugal e ao relatório europeu sobre o nível de distribuição da riqueza. Neles se confirma que Portugal é o país mais desigual da União Europeia e aquele onde é maior a diferença entre os poucos que ganham muito e os muitos que ganham pouco. E não sendo ainda o mais pobre está mais perto dos últimos. Num quadro social desta natureza a situação do desporto nacional poderia, em grande parte, estar aqui contida e explicada. Mas não. É que, curiosamente, o desporto não deixa de apresentar resultados que surpreendem. E pela positiva. Não pretendo esgrimir números. Tenho presente a advertência de um antigo ministro da educação para quem havia duas maneiras de mentir: uma era mentir mesmo; outra era apresentar estatísticas. Fujo por isso a essa tentação. Mas recordo que todos os estudos publicados repercutem um crescimento em praticantes, em clubes, em actividades e em resultados. O problema a meu ver não está por isso do lado do crescimento. Meritório, apesar de tudo, atendendo ao contexto de constrangimentos e agravamento das condições sociais e económicas. O problema reside sobretudo do lado das políticas e do aproveitamento dos recursos colocados à disposição do desporto.
Sempre foi mais fácil falar do que falta, do que abordar o que se faz com o que se tem. E num quadro de conhecidas carências do desporto nacional, quando comparado com outros parceiros e países, é grande a tentação de reclamar mais meios e mais recursos. Essa reclamação é legítima. E para além de legítima é natural. E podemos continuar a fazê-lo. Mas de pouco nos servirá. Nos próximos anos, não será possível ao país superar o fosso que o separa dos restantes países europeus. Pelo que é mais razoável, e sobretudo pragmático, definir prioridades. Saber o que fazer com os meios de que dispomos. E colocar na primeira linha das preocupações a luta contra o desperdício que constituem os recursos mal aplicados.
É muita escassa a nossa tradição em avaliar o que gastamos e como gastamos. Afirmação que se aplica tanto ao sector público, como ao sector associativo. Avaliar se seria possível com os mesmos recursos fazer mais e fazer melhor. Em definirmos o que no desporto e nas políticas públicas são despesas desnecessárias, investimentos mal dirigidos, recursos pouco aproveitados, estímulos a uma culta desregrada de despesas. No funcionamento com o ministério e secretaria de estado mas também com a administração pública desportiva. O que tem custado ao pais as sucessivas alterações ao seu modo de funcionamento. Á ausência de estabilidade a qualquer dos seus níveis. Às lógicas partidárias que subjazem ao preenchimentos dos seus quadros. O turismo “desportivo” a que muitos dirigentes e quadros superiores se dedicam com deslocações a grandes eventos e outros actos, muito para além do razoável e do necessário (o que os dinheiros públicos pagaram para meia dúzia de funcionários e assessorias políticas irem assistir ao mundial de futebol, para além da duvidosa legalidade, é escandaloso como o é a constituição de delegações de passeio para os jogos olímpicos). O despesismo com as chamadas “condições de trabalho”(a viatura, o equipamento de som, os quadros, os tapetes, as refeições, as despesas não ilegíveis, as pastilhas elásticas etc, etc,).As lógicas de funcionamentos dos serviços descentralizados um hino à ineficiência e ao desperdício. O uso, em proveito próprio, de recursos públicos perfeitamente dispensáveis. A ausência de prioridades em matéria de investimentos públicos de infra-estruturas desportivas, que originam equipamentos mal dimensionados, mal localizados e insuficientemente aproveitados. Recursos colocados à disposição do poder local muitas vezes para satisfazer lógicas clientelares e partidárias mas completamente alheias a qualquer estratégia de desenvolvimento desportivo local. O apoio ás claras e ás escondidas a dimensões profissionais do desporto assentes em bases de clara ausência de sustentabilidade. A indefinição de prioridades e de hierarquias no apoio ás políticas associativas. A ausência de uma “política de eventos”que priorize o que é útil ao país e o que tem de ser dispensado. A adopção de programas tipo “medidas” usados numa lógica de pequenos apoios para satisfazer muitos e que são úteis “politicamente” mas que raramente asseguram resultados de efeitos duráveis. A afectação de recursos a lógicas empresariais privadas que vivem na órbita dos poderes públicos mas que pouco acrescentam à vitalidade do tecido desportivo.
Mas o mesmo tipo de problemas se coloca do lado das políticas associativas. A afectação de significativos recursos a iniciativas que não replicam resultados desportivos duradouros. A aposta na internacionalização através da organização de eventos em condições muito para além daquilo que seria razoável o país suportar. A desproporção na profissionalização de dirigentes face ao grau de profissionalização de técnicos e quadros superiores. Uma aposta na alta competição e na internacionalização das modalidades com recursos significativos em contraponto ao apoio aos quadros competitivos nacionais. O peso da estrutura dirigente nos custos de deslocações ao exterior das delegações desportivas. Uma carga de custos elevada sobre clubes e associações desportivas e um crescendo dos custos administrativos e de funcionamento. Políticas de “novo-riquismo” com gastos em galas e”eventos de casino”completamente deslocados do ambiente, da cultura e das condições gerais de trabalho das organizações desportivas. O abandono de qualquer perspectiva sustentada de desenvolvimento em troca de uma lógica de seguidismo do poder na ânsia de ser mais fácil obter recursos financeiros.
Politicas públicas e políticas associativas comportam-se como se fôssemos um país rico onde os recursos não fossem escassos e limitados. Pior. Adoptam, muitas vezes, práticas que nem às organizações dos países ricos ocorre adoptar. Por muito que custe aos que só sabem gerir gastando, mudar desportivamente o país passa também por gastar de modo diferente. Não digo gastar menos. Mas defendo que é possível gastar melhor.
Sempre foi mais fácil falar do que falta, do que abordar o que se faz com o que se tem. E num quadro de conhecidas carências do desporto nacional, quando comparado com outros parceiros e países, é grande a tentação de reclamar mais meios e mais recursos. Essa reclamação é legítima. E para além de legítima é natural. E podemos continuar a fazê-lo. Mas de pouco nos servirá. Nos próximos anos, não será possível ao país superar o fosso que o separa dos restantes países europeus. Pelo que é mais razoável, e sobretudo pragmático, definir prioridades. Saber o que fazer com os meios de que dispomos. E colocar na primeira linha das preocupações a luta contra o desperdício que constituem os recursos mal aplicados.
É muita escassa a nossa tradição em avaliar o que gastamos e como gastamos. Afirmação que se aplica tanto ao sector público, como ao sector associativo. Avaliar se seria possível com os mesmos recursos fazer mais e fazer melhor. Em definirmos o que no desporto e nas políticas públicas são despesas desnecessárias, investimentos mal dirigidos, recursos pouco aproveitados, estímulos a uma culta desregrada de despesas. No funcionamento com o ministério e secretaria de estado mas também com a administração pública desportiva. O que tem custado ao pais as sucessivas alterações ao seu modo de funcionamento. Á ausência de estabilidade a qualquer dos seus níveis. Às lógicas partidárias que subjazem ao preenchimentos dos seus quadros. O turismo “desportivo” a que muitos dirigentes e quadros superiores se dedicam com deslocações a grandes eventos e outros actos, muito para além do razoável e do necessário (o que os dinheiros públicos pagaram para meia dúzia de funcionários e assessorias políticas irem assistir ao mundial de futebol, para além da duvidosa legalidade, é escandaloso como o é a constituição de delegações de passeio para os jogos olímpicos). O despesismo com as chamadas “condições de trabalho”(a viatura, o equipamento de som, os quadros, os tapetes, as refeições, as despesas não ilegíveis, as pastilhas elásticas etc, etc,).As lógicas de funcionamentos dos serviços descentralizados um hino à ineficiência e ao desperdício. O uso, em proveito próprio, de recursos públicos perfeitamente dispensáveis. A ausência de prioridades em matéria de investimentos públicos de infra-estruturas desportivas, que originam equipamentos mal dimensionados, mal localizados e insuficientemente aproveitados. Recursos colocados à disposição do poder local muitas vezes para satisfazer lógicas clientelares e partidárias mas completamente alheias a qualquer estratégia de desenvolvimento desportivo local. O apoio ás claras e ás escondidas a dimensões profissionais do desporto assentes em bases de clara ausência de sustentabilidade. A indefinição de prioridades e de hierarquias no apoio ás políticas associativas. A ausência de uma “política de eventos”que priorize o que é útil ao país e o que tem de ser dispensado. A adopção de programas tipo “medidas” usados numa lógica de pequenos apoios para satisfazer muitos e que são úteis “politicamente” mas que raramente asseguram resultados de efeitos duráveis. A afectação de recursos a lógicas empresariais privadas que vivem na órbita dos poderes públicos mas que pouco acrescentam à vitalidade do tecido desportivo.
Mas o mesmo tipo de problemas se coloca do lado das políticas associativas. A afectação de significativos recursos a iniciativas que não replicam resultados desportivos duradouros. A aposta na internacionalização através da organização de eventos em condições muito para além daquilo que seria razoável o país suportar. A desproporção na profissionalização de dirigentes face ao grau de profissionalização de técnicos e quadros superiores. Uma aposta na alta competição e na internacionalização das modalidades com recursos significativos em contraponto ao apoio aos quadros competitivos nacionais. O peso da estrutura dirigente nos custos de deslocações ao exterior das delegações desportivas. Uma carga de custos elevada sobre clubes e associações desportivas e um crescendo dos custos administrativos e de funcionamento. Políticas de “novo-riquismo” com gastos em galas e”eventos de casino”completamente deslocados do ambiente, da cultura e das condições gerais de trabalho das organizações desportivas. O abandono de qualquer perspectiva sustentada de desenvolvimento em troca de uma lógica de seguidismo do poder na ânsia de ser mais fácil obter recursos financeiros.
Politicas públicas e políticas associativas comportam-se como se fôssemos um país rico onde os recursos não fossem escassos e limitados. Pior. Adoptam, muitas vezes, práticas que nem às organizações dos países ricos ocorre adoptar. Por muito que custe aos que só sabem gerir gastando, mudar desportivamente o país passa também por gastar de modo diferente. Não digo gastar menos. Mas defendo que é possível gastar melhor.
6 comentários:
A minha nota não se reporta à substância do texto que é claro e certeiro, mas à sua contextualização. Sendo o desperdício (propositado, por incompetência, por hábito...) uma "pecha" nacional que também se manifesta na gestão do desporto, combatê-lo será uma posição heterodoxa sim, mas não particularmente ligada ao desporto!
:)
O desporto português não usa estatísticas.
O ministro do sector com fracassos poderá ter tido todas as razões para não usar estatísticas, tal como se faz no desporto. Sugerindo que outros são mentirosos.
Prioridades ou programas estruturais?
Existem más aplicações de dinheiros públicos como existe falta de dinheiro no desporto.
Para gastar melhor justifica-se trabalhar bem as diferentes áreas do conhecimento.
Economicamente o desporto é ineficiente.
Quando observo os investimentos estruturais dos governos em todos os sectores da actividade compreendo que futuramente o benefício para o país será maior.
Há pessoas nos governos e na sociedade portuguesa que pensam o mesmo do poste inicial. O desporto é ineficiente, gastador tem problemas de corrupção, comportamentos de novo-riquismo e acções de casino, e assinam todo o seu artigo.
Parabéns.
O desporto tem tudo a ganhar em usar bem a sua economia.
Conseguirá resolvendo as iliteracias prevalecentes.
Mdsol
Se bem entendi o seu comentário,considera que lutar contra o desperdício não é uma questão que diga respeito apenas ao desporto.Se assim é, concordo inteiramente.
Fernando Tenreiro
"O desporto tem tudo a ganhar em usar bem a sua economia."
Assino por baixo.
JMC:
Sim, interpretou bem o que, eventualmente, expressei mal. Tenho para mim que o desporto tem as costas largas e, portanto, gosto de lhe apontar as mazelas, mas as suas. Veja agora o que se anda a passar com a comunicação social que usa e abusa até à náusea das peripéciasa volta do desporto. Mas, o que se ouve é criticar o futebol...
:)
Vamos conversando José Manuel Constantino
Vendo pelo prisma económico
A sua questão das prioridades é incontornável, porém, o texto que escreve tem abundantes implicações económicas contraditórias por serem vastas e de um fôlego só.
A economia é a ciência que trata da escassez de recursos humanos, materiais, financeiros, tecnológicos, organizativos, o que quiser considerar.
Os mercados eficientes são os ideais porque são os que permitem a maximização do benefício de um determinado recurso escasso.
As falhas são as ocorrências que impedem a eficiência dos mercados.
Toda a longa lista de fracassos do seu texto são comuns às economias.
As economias mais desenvolvidas do mundo conseguem minimizar estes fracassos e maximizar o produto com os seus recursos que também são escassos para o nível de desenvolvimento que alcançaram.
Sem querer ser paternalista, para um economista, o desporto português necessita de prioridades e mais do que prioridades.
A sua panóplia de fracassos, usando o termo económico, tem causas variadas e remédios que vão da aspirina à ablação e o diagnóstico deve ser cuidado e cirúrgico para maximizar o benefício social.
Até à próxima
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