quarta-feira, 27 de agosto de 2008

"Isto em desporto é assim"

O 46.º lugar de Portugal em 204 países participantes nos Jogos Olímpicos. A maior delegação portuguesa de sempre. Uma medalha de ouro, outra de prata e vários diplomas. A existência de países europeus (Suécia, Bélgica, Irlanda, Grécia e Áustria) com piores resultados que Portugal. São tudo dados que se podem recolher numa primeira leitura de balanço da nossa participação nas olimpíadas.

Mas os números valem o que valem e podem ser interpretados de diversas perspectivas e à luz de diferentes enquadramentos analíticos, mais ou menos científicos. Foi um pouco isso que temos vindo a assistir nestes dias.
Muita gente que nunca pôs os pés numa prova de esgrima, badminton ou judo. Que ignora as regras dessas e de outras modalidade olímpicas, e do que é a preparação de um atleta de alta competição, não se coíbe de criticar a representação dos nossos atletas insistindo nas carências de uma cultura de excelência, de rigor, de trabalho e de responsabilidade que marcam o nosso fado. Como se o desporto enquanto fenómeno social tivesse de ser diferente dos valores, idiossincrasias e atitudes que dão forma à nossa identidade sócio-cultural.

Do outro lado, o lado dos atletas, técnicos e dos apaixonados do desporto - daqueles que diariamente vivem o esforço, a superação e a dedicação dos atletas e de quem os acompanha –, um sentimento de revolta e mau estar face às criticas, porventura injustas, desrespeitosas e mesquinhas, que vêm reflectidas na opinião pública. Como se os atletas deste nível não tivessem de estar preparados para todos os condicionalismos da exposição mediática. Como se atletas com marcas pessoais francamente superiores às obtidas nos jogos devessem passar incólumes a qualquer tipo de escrutínio publico, mais ou menos qualificado para o efeito.

Num outro quadrante alinham-se aqueles que precipitadamente pedem a cabeça do presidente do COP, desconhecendo ou não querendo acreditar no emaranhado de interesses e compromissos políticos existentes na cúpula do desporto nacional.

Mas os jogos são um happening que enche a agenda de colunistas e opinion makers neste período estival. Com o passar dos dias outros assuntos preenchem a agenda noticiosa e os nossos atletas poderão voltar para a tranquilidade da sua rotina de treinos, bem longe deste vendaval mediático. O caminho cruzado nestas semanas entre a opinião pública e os seus atletas volta daqui a quatro anos. Até lá continuarão a ignorar-se mutuamente. Salvo as excepções dos atletas que entraram na gloria do Olimpo.

E nesta superficialidade, própria de um país com enorme deficit de cultura cívica, desportiva e democrática, se perde mais uma oportunidade de questionar e reflectir aprofundadamente a estratégia, governabilidade e sustentabilidade do modelo de desenvolvimento desportivo deste país. De abordar tudo o que está a montante dos resultados e da preparação para os Jogos Olímpicos.

Mas acontece que, ao contrário de todos os projectos anteriores de preparação olímpica, existe um contrato entre os cidadãos portugueses, legitimamente representados pelo seu Governo, e o movimento olímpico, representado pelo presidente do Comité Olímpico de Portugal onde estão claramente definidos os objectivos desportivos a alcançar:

Cinco medalhas
Doze diplomas (até ao 8.º lugar)
Dezoito modalidades presentes nos Jogos Olímpicos
.

Ora, foi com base nestes resultados, e não em quaisquer outros que anteriormente se aludiu, que os portugueses acordaram a transferência de um envelope financeiro de dezena e meia de milhões de euros para a preparação de Pequim.

Daqui resulta que os objectivos não foram alcançados. Por mais volta que se queira dar. Tratam-se de factos. Com o valor que deve ter a sua formalização num contrato. Contrato assinado com todos os portugueses.
É neste ponto que considero ser importante centrar a discussão. Na gestão política deste processo e no regime de prestação de contas em políticas públicas.

A definição de objectivos e a sua contratualização é um instrumento essencial em qualquer política pública, em qualquer domínio da vida em sociedade, do desporto à saúde, educação ou obras públicas. E isto encontra-se em qualquer manual de gestão pública e ciência política. A política, a democracia e as políticas públicas assentam no conceito de contrato social, seja ela através do voto e respectivo mandato ou da formalização em documento de natureza obrigacional, entre os cidadãos e quem os representa.

Mas o Secretário de Estado do Desporto parece não acreditar que somos herdeiros de Rousseau e apressou-se a considerar inadequadas as bases do contrato-programa realizado pelo COP com o anterior Governo. ' Não faria um contrato com essas condições. Nós só devemos contratar e subscrever aquilo pelo qual somos responsáveis', concluiu.

E a partir destas palavras passa-se para a prestação de contas. A fazer fé em Laurentino Dias a responsabilidade morre solteira, porque no desporto só os atletas são responsáveis pelo seu desempenho. Talvez fosse bom dar uma vista de olhos no que os nossos velhos aliados entendem por responsabilidade em matéria de politicas desportivas e ter em atenção a sua progressão em resultados olímpicos.

Este é um traço da nossa matriz cultural que o Secretário de Estado se limita a reproduzir na hora da prestação de contas aos portugueses, como tantos outros já o fizeram antes. A accountability, o escrutínio detalhado de actos de gestão pública e o apuramento conclusivo de responsabilidades civis, financeiras, penais ou políticas, são excepções que confirmam a regra no país de Sá Carneiro, de Maddie, da Universidade Moderna, dos hemofílicos, das derrapagens financeiras do Metro e tantos outros.. Porque é que o desporto haveria de ser diferente?

O desporto só é diferente no seu espaço de intervenção política. É uma reserva territorial de dirigentes institucionalizados, muitos deles com uma perspectiva do desporto desfasada das dinâmicas de uma sociedade global, e avessos à intromissão política, constantemente reclamando da sua autonomia e especificidade, mas que necessitam do beneplácito político para solidificarem o seu peso institucional, ou, no caso dos políticos, para oportunamente colherem dividendos resultantes do mediatismo desportivo.

E neste panorama vão funcionando os jogos de compromisso, o contorcionismo político e as manobras de bastidores.

Só quem não se apercebe disto é que tem dificuldades em perceber a entrevista de Vicente de Moura à RTP. Um dirigente desportivo é e será sempre também um actor político, por mais que diga o contrário. O que pode estar em discussão é a habilidade do comandante em representar frente às câmaras.

E de um movimento federativo anquilosado e fechado sobre si mesmo, que recebeu o maior apoio de sempre para Pequim, não se espera outra coisa que não sustentar uma vaga de fundo para Vicente de Moura reconsiderar. É sempre melhor confiar no que já se conhece...

De um político não se espera outra coisa que não abster-se de comentar esta situação e dizer o óbvio: “Não é nomeado ou designado pelo Governo, mas eleito pelas federações”.

Dos cidadãos espera-se que não esqueçam as palavras do político e saibam mobilizar-se para exigir um esclarecimento publico e as devidas consequências:
atletas, treinadores, dirigentes, comité olímpico e o próprio Governo devem fazer uma avaliação” da participação portuguesa em Pequim2008

Essa avaliação deve “acontecer tranquilamente quando os Jogos acabarem”, mas dela devem-se “retirar consequências”.

13 comentários:

Anónimo disse...

No PRIMEIRO de JANEIRO de 22 de Agosto passado, o Prof. Gustavo Pires comentava as saborosas declarações de Hermínio Loureiro sobre esta questão das medalhas.

E lembrava o que o antigo Secretário de Estado do Desporto declarara ao 24 HORAS: "Temos atletas (...) candidatos ao pódio. Mas não se pode exigir automaticamente quatro ou cinco medalhas. Há que contar com os imponderáveis, com uma lesão ou um dia menos bom(...). Aquilo que se pode exigir, a todos, é uma cultura de excelência, que deve ser dirigida a toda a sociedade".

O problema - recordava Gustavo Pires - é que quem veio exigir ao COP as tais quatro ou cinco medalhas - mais exactamente, cinco medalhas - ...foi precisamente Hermínio Loureiro, no contrato que celebrou com o COP em 2005!!! Gustavo Pires considerava por isso que esta atitude de Hermínio Loureiro era "inimaginável"...

João Almeida, neste post, preferiu enfatizar as declarações de Laurentino Dias e silenciar as de Hermínio Loureiro. Dá assim ideia que Laurentino abandonou a cultura de exigência que fora luminosamente iniciada em 2005 por Hermínio Loureiro...calando o facto de que o mesmo Hermínio, agora, acha que é injusto exigir ao COP, o que ele próprio exigiu quando foi membro do Governo!!!

João Almeida lá saberá porque não quer lembrar estes volte-faces de Hermínio Loureiro...

João Almeida disse...

Caro anónimo.

"E a partir destas palavras passa-se para a prestação de contas. A fazer fé em Laurentino Dias a responsabilidade morre solteira, porque no desporto só os atletas são responsáveis pelo seu desempenho. Talvez fosse bom dar uma vista de olhos no que os nossos velhos aliados entendem por responsabilidade em matéria de politicas desportivas e ter em atenção a sua progressão em resultados olímpicos."

Pode substituir o nome de Laurentino Dias, por qualquer outro que até hoje tenha assumido a pasta do desporto.

Anónimo disse...

Meu caro João Almeida

Desculpas de mau pagador!!!

Você tem mesmo uma insuperável dificuldade em criticar o Hermínio Loureiro!!

Para quem passa o tempo a falar em accountability não está nada mau...

Anónimo disse...

Portugal dos pequeninos, onde a palavra não tem nenhum sentido. É só nisto que consigo pensar quando oiço o ainda e futuro presidente do COP. Quando decidiu "não voltar a candidatar-se" fê-lo por algum motivo, presumo. E esse motivo sería o fracasso no que toca ao cumprimento dos objectivos traçados (fundamentalmente o fracasso inexplicável da Naide Gomes). Mas eis que surge o herói Nélson Évora que deu o ouro de forma categórica a Portugal. Vicente Moura mudou de opinião, com uma inteligência e astúcia brutais. Porquê? Porque em Portugal está-se bem e aceita-se tudo... por mais que se esperneie! É isso que acontece. O que terá acontecido para Vicente Moura voltar atrás na sua decisão? Os objectivos continuaram por não serem cumpridos. O que foi então? Ou ouro é a resposta. O ouro permite-lhe ter uma margem de manobra maior, porque não atingiu os objectivos, mas ganhou uma medalha de ouro. E como Portugal é um país pequenino... as pessoas esquecerão com facilidade o que se passou em Pequim, as declarações do lançador do peso que prefere estar na caminha (por muito que me digam que foi uma declaração a quente... não é atleta de topo! foi brincadeira? não se brinca com coisas dessas!), assim como se esqueceu o que se passou no mundial de futebol na Coreia em 2002. Por exemplo... São estórias do desporto português que entram para a História.

José Mauro santos

Rui Lança disse...

Olá João,

Dar-te novamente os meus parabéns pelos teus excelentes artigos. Goste-se ou não se goste, têm muita qualidade. Sobre este tema e mais focado ainda no Presidente do COP, o DN dizia...

"Vicente Moura, Presidente do COP, aufere 2500 € por mês, mais do que a bolsa de medalhado, mais as ajudas de custos e despesas pagas, verba bem superior à auferida por um atleta que conquiste um medalha, como os casos de Nelson Évora, ouro no triplo salto, e Vanessa Fernandes, prata no triatlo em Pequim.


Esses dois campeões integram agora o estatuto de medalhado recebendo assim até Londres 2012, um subsídio de 1500 €. Para além de Vicente Moura, o secretário geral do COP recebe 2000 € e o tesoureiro 1500€. Segundo o artigo 13, ponto 3, dos estatutos do COP, "o exercício do mandato em qualquer orgão do COP é voluntário e gracioso não podendo os seus membros serem remunerado, sem prejuízo das despesas justificadas ou perda de proveitos do exercício das suas funções".

Eu afirmo, que como líder que é ou devia ser,...a liderança é quando um Homem quiser!

Abraço e até breve.

Rui Lança
http://coachdocoach.blogspot.com/

Anónimo disse...

Os objectivos de preparação olímpica para Pequim só passaram a ser maus e mal elaborados quando não foram alcançados.O governo nunca alterou o contrato estabelecido pelo governo anterior.E o COP idem.Até lá os que agora os criticam mantiveram-se calados e o prório governo era pródigo em declarações de que o modelo era para continuar.Haja paciência para aturar tanta palermice e falta de vergonha.

Luís Serpa

Anónimo disse...

Pequim 2008 (parte 1) os Olímpicos e o ouro que tudo transforma.

Acabaram-se os jogos, e para a representação Portuguesa, os balanços começaram antes do final, e pararam ai mesmo porque foram os ditos limpos com o ouro Évora (uma marca de detergente que remove os balanços pessimistas). A verdade é que retirando uma ou duas expressões infelizes dos Atletas causadas pela emotividade própria do desânimo, a verdade é que existe uma injustiça profunda para com os atletas. Não me parece que nenhum deles tenha ido propriamente visitar a china sem pensar em competir, e muito menos com o dinheiro dos meus impostos, a verdade é que (perdoem-me a redundância) a contribuição dos contribuintes não é a única fonte de financiamento, mas isto é irrelevante, a verdade é que muitos (lá vem a nossa cultura judaico cristã) crucificam os atletas por estes não voltarem do oriente vergados ao peso das medalhas no pescoço, mas destes quantos se preocuparam em comparar resultados, em ver tempos, em auscultar o que se passa? A verdade é que gostamos de estar sentados no sofá a bombardear-nos com heróis, sem pensar que os heróis não são só portugueses. É certo que tínhamos uma expectativa elevada, porque alguns destes atletas nos habituaram a grandes marcas nos últimos tempos, e porque os responsáveis do comité entenderam como boa a estratégia de criar essa expectativa (não condeno a opção era tão boa como qualquer outra, e como qualquer outra tinha consequências consoante os resultados), mas também é verdade que o que aconteceu também era uma hipótese e o espírito dentro da representação portuguesa começou a pesar em demasia, não é fácil aos atletas estarem constantemente a serem bombardeados com mails e mensagens da treta sobre as suas prestações, o animo começou a ser pesado e os velhos do Restelo regozijam-se pelos seus vaticínios que encontram no seu baú divididos no compartimento do se correr mal, se correr bem e se correr assim assim. A verdade é que esses velhos do Restelo tem as soluções certas para tudo, no conforto das suas pantufas e do alto dos seu douto saber, e muitas delas escondidas por debaixo da bancada televisiva, mas não equacionam absolutamente nada, e nem sequer colocam a mão na consciência para descobrirem que eles podem ser responsáveis pelo avolumar das nuvens negras nos atletas olímpicos, dizer disparates e criticas demagógicas e generalistas é demasiado fácil, (e ainda assim, se esta fosse modalidade olímpica, apesar de preparados os nossos velhos do reste-lo, talvez não trouxessem as medalhas) já não é fácil reconhecer, o trabalho destes atletas, o seu esforço e a sua obvia desilusão pessoal, claro que os resultados podem não ser medalhas, mas são esforçados e como se sabe as medalhas não chegam para todos, neste momento os nossos atletas precisam obviamente de apoio, e até de apoio profissional, acho que o nosso comité olímpico devia (possivelmente isso já está planeado) contratar psicólogo para trabalharem com estes atletas na recuperação pós jogos, como fizeram, ou deviam ter feito, antes dos jogos. Os nossos atletas estão de parabéns deram o seu melhor, alguns fizeram mesmo o seu melhor e outros tiveram o azar com eles, outros foram bombardeados pelo dever de ganhar como se não importassem os outros ou as condicionantes (sinceramente nem sei porque foram dar-se ao trabalho de competir, para os velhos do Restelo bastava que ficassem cá no nosso burgo, poupando assim o dinheiro dos nossos impostos, que depois os chineses mandavam via postal as respectivas medalhas). Para mim apenas duas falhas o trabalho psicológico e o espírito de grupo. Um mal que há muito afecta o desporto ( será que Phelps teria conquistado 7 medalhas e meia se por exemplo nas estafetas os seus colegas de equipa não se tivessem superado?) e afecta o desporto português (retiro daqui o futebol por vários motivos que ao caso não interessam) em especial porque o dirigismo também é exercido numa vertente muito individualista, que não critico apenas constato, porque exercido muitas das vezes por ex atletas virados para modalidades muito individualistas, possivelmente a reflexão e apoio psicológico também deverá ser virado para os dirigentes, não vejo mal nisso e principalmente desejo que se ouse. Mais do que criticas sobre a forma de actuar é necessário agir, actuar com ousadia e já agora experimentando novos conceitos sem ouvir os velhos do Restelo esses estará sempre lá sejam quais forem os métodos.
Para finalizar a todos os atletas OBRIGADO, são um exemplo para os portugueses se continuarem as vossas preparações, as vossas competições, não esquecendo nunca que só o facto de estarem nos jogos olímpicas vos torna pessoas de elite e exemplo para todos.
Pedro Tavares
P.S. Uma medalha de ouro também não torna tudo positivo nem poderá ela própria servir de desculpa a um dirigente que no meio da competição quando era preciso para comandar as tropas , diz que se vai retirar e depois da medalha detergente do Nelson Évora, já diz que não vai, neste caso em concreto cara sr. Vicente Moura, faça uma reflexão e retire-se, não pela trabalho realizado até aqui mas pela fraqueza do comando na altura em que era mais preciso. (um chefe militar nunca diria aquilo no meio do combate, e um chefe militar Japonês aguentaria a batalha até ao fim e de seguida pegaria no sabre – não se lhe exige tanto, até porque as culturas são diferentes, apenas se lhe exige que não equacione sequer a sua recandidatura, nem que tenha o apoio de todas as federações. E acredite que não é de má fé que o aconselho apenas espero manter o respeito que lhe tenho, eu e muitos portugueses).
Pedro Tavares

Anónimo disse...

Pequim 2008 (parte 1) os Olímpicos e o ouro que tudo transforma.

Acabaram-se os jogos, e para a representação Portuguesa, os balanços começaram antes do final, e pararam ai mesmo porque foram os ditos limpos com o ouro Évora (uma marca de detergente que remove os balanços pessimistas). A verdade é que retirando uma ou duas expressões infelizes dos Atletas causadas pela emotividade própria do desânimo, a verdade é que existe uma injustiça profunda para com os atletas. Não me parece que nenhum deles tenha ido propriamente visitar a china sem pensar em competir, e muito menos com o dinheiro dos meus impostos, a verdade é que (perdoem-me a redundância) a contribuição dos contribuintes não é a única fonte de financiamento, mas isto é irrelevante, a verdade é que muitos (lá vem a nossa cultura judaico cristã) crucificam os atletas por estes não voltarem do oriente vergados ao peso das medalhas no pescoço, mas destes quantos se preocuparam em comparar resultados, em ver tempos, em auscultar o que se passa? A verdade é que gostamos de estar sentados no sofá a bombardear-nos com heróis, sem pensar que os heróis não são só portugueses. É certo que tínhamos uma expectativa elevada, porque alguns destes atletas nos habituaram a grandes marcas nos últimos tempos, e porque os responsáveis do comité entenderam como boa a estratégia de criar essa expectativa (não condeno a opção era tão boa como qualquer outra, e como qualquer outra tinha consequências consoante os resultados), mas também é verdade que o que aconteceu também era uma hipótese e o espírito dentro da representação portuguesa começou a pesar em demasia, não é fácil aos atletas estarem constantemente a serem bombardeados com mails e mensagens da treta sobre as suas prestações, o animo começou a ser pesado e os velhos do Restelo regozijam-se pelos seus vaticínios que encontram no seu baú divididos no compartimento do se correr mal, se correr bem e se correr assim assim. A verdade é que esses velhos do Restelo tem as soluções certas para tudo, no conforto das suas pantufas e do alto dos seu douto saber, e muitas delas escondidas por debaixo da bancada televisiva, mas não equacionam absolutamente nada, e nem sequer colocam a mão na consciência para descobrirem que eles podem ser responsáveis pelo avolumar das nuvens negras nos atletas olímpicos, dizer disparates e criticas demagógicas e generalistas é demasiado fácil, (e ainda assim, se esta fosse modalidade olímpica, apesar de preparados os nossos velhos do reste-lo, talvez não trouxessem as medalhas) já não é fácil reconhecer, o trabalho destes atletas, o seu esforço e a sua obvia desilusão pessoal, claro que os resultados podem não ser medalhas, mas são esforçados e como se sabe as medalhas não chegam para todos, neste momento os nossos atletas precisam obviamente de apoio, e até de apoio profissional, acho que o nosso comité olímpico devia (possivelmente isso já está planeado) contratar psicólogo para trabalharem com estes atletas na recuperação pós jogos, como fizeram, ou deviam ter feito, antes dos jogos. Os nossos atletas estão de parabéns deram o seu melhor, alguns fizeram mesmo o seu melhor e outros tiveram o azar com eles, outros foram bombardeados pelo dever de ganhar como se não importassem os outros ou as condicionantes (sinceramente nem sei porque foram dar-se ao trabalho de competir, para os velhos do Restelo bastava que ficassem cá no nosso burgo, poupando assim o dinheiro dos nossos impostos, que depois os chineses mandavam via postal as respectivas medalhas). Para mim apenas duas falhas o trabalho psicológico e o espírito de grupo. Um mal que há muito afecta o desporto ( será que Phelps teria conquistado 7 medalhas e meia se por exemplo nas estafetas os seus colegas de equipa não se tivessem superado?) e afecta o desporto português (retiro daqui o futebol por vários motivos que ao caso não interessam) em especial porque o dirigismo também é exercido numa vertente muito individualista, que não critico apenas constato, porque exercido muitas das vezes por ex atletas virados para modalidades muito individualistas, possivelmente a reflexão e apoio psicológico também deverá ser virado para os dirigentes, não vejo mal nisso e principalmente desejo que se ouse. Mais do que criticas sobre a forma de actuar é necessário agir, actuar com ousadia e já agora experimentando novos conceitos sem ouvir os velhos do Restelo esses estará sempre lá sejam quais forem os métodos.
Para finalizar a todos os atletas OBRIGADO, são um exemplo para os portugueses se continuarem as vossas preparações, as vossas competições, não esquecendo nunca que só o facto de estarem nos jogos olímpicas vos torna pessoas de elite e exemplo para todos.
Pedro Tavares
P.S. Uma medalha de ouro também não torna tudo positivo nem poderá ela própria servir de desculpa a um dirigente que no meio da competição quando era preciso para comandar as tropas , diz que se vai retirar e depois da medalha detergente do Nelson Évora, já diz que não vai, neste caso em concreto cara sr. Vicente Moura, faça uma reflexão e retire-se, não pela trabalho realizado até aqui mas pela fraqueza do comando na altura em que era mais preciso. (um chefe militar nunca diria aquilo no meio do combate, e um chefe militar Japonês aguentaria a batalha até ao fim e de seguida pegaria no sabre – não se lhe exige tanto, até porque as culturas são diferentes, apenas se lhe exige que não equacione sequer a sua recandidatura, nem que tenha o apoio de todas as federações. E acredite que não é de má fé que o aconselho apenas espero manter o respeito que lhe tenho, eu e muitos portugueses).


Pedro Tavares

Anónimo disse...

Começou a campanha ...
... para a presidência no Comité Olímpico de Portugal.



Rosa Mota deu uma entrevista à SIC onde critica o actual Presidente do COP, dizendo que se Marco Fortes (o tal da caminha) voltou mais cedo a Portugal por castigo, então o Comandante Vicente Moura também deveria ter regressado mais cedo.

Anónimo disse...

E se foi uma excelente entrevista
Se a Rosa é candidata é uma excelente opção.
Força Rosa, mas vai ter muitos dissabores e muitos golpes baixos porque o lugar estava reservado para o Delfim.
Ontrem a Rosa Mota questionou algo importante, com uma grande classe, que não estou a ter aqui, o dinheiro para a preparação olimpica serviu mais para preparar dirigentes? ou atletas?. Ao que se sabe a formação com o delfim não é (ou foi) barata.
Sem querer ensinar a missa ao padre, transcrevo alguns artigos do estatuto do cop e digam lá se não assentam que nem uma luva na Rosa Mota

Artigo 6.º
(Fins)
O COP tem como fins:
a) Divulgar, desenvolver e defender o Movimento Olímpico e o
desporto em geral, em conformidade com a Carta Olímpica;
b) Promover o gosto pela prática desportiva como meio de formação
do carácter, de defesa da saúde, do ambiente e de coesão e
integração social;
c) Lutar contra o uso de substâncias e métodos proibidos,
observando as normas do Código Médico do COI e colaborando
com as autoridades nacionais no controle dessas práticas;
d) Promover a observância da ética desportiva nas competições e
nas relações entre os agentes desportivos;
e) Tomar medidas tendentes à eliminação de qualquer
discriminação, por razões de sexo, raça, ou religião, na prática
desportiva e nos seus órgãos dirigentes;
f) Participar obrigatoriamente nos Jogos Olímpicos e organizar e
dirigir em exclusivo a respectiva delegação nacional, sendo
responsável pelo comportamento dos seus membros;
g) Designar em exclusivo a cidade candidata à organização dos
Jogos Olímpicos e assegurar a sua realização, quando tiverem
lugar em território nacional;
h) Representar, nas matérias das suas atribuições, as federações
desportivas nacionais junto do Governo e organismos oficiais;
i) Promover a difusão dos valores do olimpismo nos programas de
ensino da educação física e desporto nos estabelecimentos
escolares e universitários;
j) Incentivar e apoiar a formação de agentes desportivos;
k) Apoiar as actividades da Academia Olímpica, do Museu
Olímpico ou de quaisquer instituições que se dediquem à
educação do olimpismo, ou promovam programas culturais
relacionados com o Movimento Olímpico;
4
l) Cooperar com organismos governamentais ou não
governamentais, em quaisquer actividades desportivas, que não
estejam em contradição com a Carta Olímpica;
m) Coordenar com as federações os programas de preparação
olímpica;
n) Participar, juntamente com entidades públicas ou privadas, na
obtenção e gestão de fundos destinados ao apoio a programas
de desenvolvimento da alta competição e da preparação
olímpica, directamente, ou através de organismos a esse fim
destinados;
o) Apoiar a institucionalização do Tribunal Arbitral do Desporto.
Presidentes, Secretário-Geral, Tesoureiro e sete Vogais eleitos e, por
inerência, pelo Delegado do COI e pelos Presidentes da Academia
Olímpica de Portugal e da Comissão de Atletas Olímpicos.
Artigo 20.º
(Presidente e representação)
O Presidente da Comissão Executiva é o Presidente do COP e, por
inerência, Presidente da Assembleia Plenária e das Assembleias
Electivas da AOP e da CAO.
11
Artigo 21.º
(Vinculação do COP)
O COP vincula-se pela assinatura de dois membros da Comissão
Executiva, sendo um deles o Presidente.
Artigo 22.º
(Competências)
São competências da Comissão Executiva:
a) Cumprir e fazer cumprir a regulamentação que rege o
olimpismo, bem como as determinações do COI;
b) Administrar e dirigir o COP de acordo com as linhas de acção
definidas pela Assembleia Plenária;
c) Propor à Assembleia Plenária a eleição dos membros de mérito e
dos honorários;
d) Aprovar os subsídios de funcionamento e de apoio às
actividades das entidades integradas no COP;
e) Elaborar e submeter à aprovação da Assembleia Plenária o
orçamento anual e o relatório e as contas dos exercícios;
f) Criar e regulamentar as Comissões que julgar necessárias à
prossecução dos fins do COP;
g) Instituir e regulamentar a atribuição de prémios e galardões do
COP;
h) Exercer o poder disciplinar sobre os membros do COP;
i) Elaborar o Regulamento Geral e outros necessários à actividade;
j) Resolver as dúvidas e os casos omissos dos Estatutos e
Regulamentos, submetendo as suas deliberações à ratificação
da Assembleia Plenária.
A uma ateleta de eleição, que conhece, sente, moraliza e se entrega ao desporto nacional só poderia ficar bem e exercer com qualidade este cargo de presidente da COP.
Pena é que a escolha não esteja apenas do lado do dever ser e muita vezes siga o tem que ser.

Pedro Tavares (pedrotavares1@live.com.pt)

Anónimo disse...

Carlos Fiolhais, o investigador português mais citado no mundo, escreve acerca de Pequim 2008 o seguinte: «Um comandante à deriva».“De um comandante dum navio espera-se que saiba manter o rumo, segurando o leme com firmeza, e que não saia do seu posto a meio da viagem, mesmo que haja uma rajada de vento desfavorável. Pois foi precisamente isso que o presidente do Comité Olímpico de Portugal, comandante Vicente de Moura, não fez, pouco depois de a atleta Naide Gomes ter falhado no salto em comprimento, nos jogos Olímpicos de Pequim, ao anunciar que se ia embora (disfarçado de que não se recandidatava).

A mão, fora do leme, batia no peito, quando afirmava aos microfones da Antena 1: «Pensei que em conjunto com as federações podíamos colmatar as lacunas do sistema desportivo português. Enganei-me, enganei-me, sem dúvida que me enganei.» O comandante tão redondamente enganado tinha assinado uma carta ao Governo, em que se comprometia a obter 5 medalhas e 60 pontos a troco de um cheque de 14 milhões e não via outra maneira de se redimir. Foi muito claro: «É preciso assumir as responsabilidades que estão escritas numa carta que enviei ao Governo. O Governo cumpriu e, ao cumprir, não tenho críticas a fazer. Se não tenho críticas a fazer, tenho que assumir as responsabilidades.».

Mas passados poucos dias, depois de o atleta Nelson Évora ter ganho uma medalha de ouro, eis que o comandante dá o dito por não dito e se declara pronto a assegurar a continuação da viagem com a condição de lhe darem “poder e força”. Quer dizer, há tempestade e o comandante sai, mas vem a bonança e o comandante fica. Pode-se prever que se vier nova rabanada de vento voltará a sair, voltando a entrar logo que regresse a calmaria. As metáforas marítimas são, neste caso, bastante adequadas, pois Vicente de Moura, embora reformado, é capitão-de-mar-e-guerra da Marinha. À sua experiência naval soma-se a sua longa experiência de dirigente desportivo, uma vez que está no Comité Olímpico há dezenas de anos, indo no seu quarto mandato, terceiro sucessivo, de presidente.

Mas a pérola maior do comandante olímpico veio entre o salto e o triplo salto, entre a tempestade e a bonança, quando ele, ainda em Pequim, comentou assim os desabafos a quente de alguns atletas: “Nós preparamos os atletas desportivamente; culturalmente não. A educação não é connosco.”. Pois, para o Comité Olímpico, desconhecedor da paidea grega, desporto é uma coisa e Cultura e educação são outras completamente diferentes.

Alguém tem de lhe explicar que o desporto pressupõe regras, isto é, educação. Marco Fortes, sem nenhuma experiência olímpica, que assumiu a fraqueza de preferir dormir de manhã e lançar o peso à tarde, ainda terá desculpa. Mas foi mandado embora no primeiro avião (apesar do Chefe de Missão, Boa de Jesus ter dito que não). O comandante, que está no Comité Olímpico há 30 anos e que alimenta o sonho delirante de organizar os Jogos Olímpicos de 2020 em Portugal (promete 10 a 12 medalhas se lhe derem, além de 2 mil milhões de euros, uma aldeia olímpica no Aeroporto da Portela), não tem nenhuma desculpa. Devia ser mandado embora na primeira eleição.”.

Anónimo disse...

Conclusão:

A figura central do desporto é o Vicente Moura.
É ele que selecciona os olímpicos, treina os olímpicos, dá bolsas aos olímpicos, acompanha os olímpicos às sedes dos jogos, incentiva os olímpicos, aconselha os olímpicos depois de cada salto, de cada corrida, corrige os gestos, critica os olímpicos por não ganharem as medalhas que prometeu ao Governo, reenvia para o seio da nação quem prefere a caminha, diz que sai mas depois não sai porque teve muitos smssssssssss, que nem teve tempo de ler, porque possivelmente estavam a despedi-lo...

etc., etc., etc.

Temos um desporto kafkiano.
Tudo se resume a um Vicente Moura.
A figura central do Desporto:

VICENTE MOURA

Quais Nelson Évora, quais Vanessa Fernandes... Vicente Moura é que está a dar.

Não brinquem comigo.

Anónimo disse...

Tema: Rosa Mota

Ao "anónimo disse", de 28.08.2008, às 10:19 e
Ao Pedro Tavares, de 28.08.2008, às 12:17

O Presidente da FPA já disse que Mota, só há um, isto é, não disse isso, mas disse coisa parecida, isto é, "Rosa Mora está fora de questão", ou seja, houve uma relação muito azeda entre ambos, que acabou por ficar estilo Pequim-Tibete, ou Rússia-Geórgia, ou flamengos-francófonos, ou melhor dito Mota<<<<<<>>>>>Mota.

Conclusão: Mota com Mota, só dá faísca.
Contando espingardas: uma Federação não apoia Rosa Mota

Este mundo está mesmo muito perigoso, e não pode ser levado a sério.