segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Karaoke

Os espectáculos das cerimónias de abertura e de encerramento dos jogos olímpicos foram isso mesmo: espectáculos. Que como todos os grandes espectáculos viveram, em parte, da ilusão que criaram nos espectadores. Nos presenciais e nos televisivos. "Fizemos o possível para que parecesse real", afirmou o porta-voz da empresa responsável pelos efeitos especiais, Lei Ming, ao jornal Beijing Times, a propósito da cerimónia de abertura." A maioria das pessoas não notou a diferença", concluiu. Viram-se coisas que não aconteceram. Uma sobre-realidade servida como se fosse realidade. Não sei se Shen Wei plagiou, como é acusado pelo italiano Enzo Careabianca. Mas esteve ao nível de David Copperfield ou de Kubrick e seus seguidores. O duplo a substituir o real. Os efeitos especiais. O não – acontecimento servido como acontecimento. Á frente dos nossos olhos sem que do facto nos apercebamos. Como na contrafacção, tudo parece natural. Mas um “natural” que pela sua expressividade e grandiosidade nos deixa boquiabertos: como é possível? É possível como nas malas da Louis Vuitton ou nos pólos da Ralph Lauren. São imitações perfeitas. E no caso da cerimónia de abertura dos jogos foi possível porque estivemos a ser conduzidos para uma realidade em parte assente numa ilusão. Uma ilusão que se prolongou. Nos recintos desportivos - de algumas competições - cheios através do recurso à mobilização de voluntários. De espectadores forçados. De gente que está lá não porque as provas desportivas os atraem, mas porque para tanto são obrigados. Aparentam o que não é. E escondem o que seria. Por que razão um espectáculo desportivo deveria ser diferente? Apenas porque entendemos que o que assistimos em directo não deve ter “truques”? Ou precisamos previamente de o saber para que ocorra uma espécie de aceitação tácita como no cinema, na magia ou no wrestling? O que se passou e depois se soube não esvanece a grandiosidade que atribuímos ao que assistimos. O ter havido “truques” não foi suficiente para destruir a percepção de grandiosidade e de excelência com que o percepcionamos. Foi uma ilusão. Uma falácia lúdica. Mas foi esmagadora. Mesmo sabendo-se que toda aquela estética e coreografia obedeciam á glorificação do poder politico autocrático da China. Como em Berlim em 1936. No Ninho do Pássaro quem se recordou da China dos direitos humanos? O belo é sempre belo. Nos Estados Unidos ou na China. De tal modo que iniciadas as competições o caso passou a um não –caso. O que fica das cerimónias é que a China “ganhou” à concorrência. Mesmo que depois os apóstolos coubertianos nos venham perorar que os jogos olímpicos são competições entre atletas e não entre países. Está-se mesmo a ver! Como hoje se escreve em muita imprensa os Jogos mostraram ao mundo o poder da China comunista que escolheu o capitalismo como via para o desenvolvimento. Marx deve mexer-se no túmulo mas a realidade é o que é, e não aquela que ele previu.Manipularam o clima impedindo que não chovesse? Há truques e truques! Comos os de Ben Johnson. Como todos os outros Ben Johnsons. Os que como tal foram identificados. E os que escapam. É diferente? É. Mas não tem nada de similar? Tem. A comparação não serve para desculpabilizar?Não. Mas ajuda a relativizar. A procura de alcançar resultados recorrendo a meios artificiais não é um exclusivo dos atletas ou da estética cirúrgica. Está aí por todo o lado. No desporto e fora dele. Nas nossas vidas. O meu Patek Phillipe é da China. E pedi para que me trouxessem um Berguet. Na ora de glorificar uns, os legítimos, e condenar outros, os proibidos, deve haver lugar a perceber que somos demasiado imperfeitos para exigir a moral da perfeição aos outros. Na competição do desporto ou da vida.

3 comentários:

mdsol disse...

A cerimónia de encerramento não vi. A cerimónia de abertura vi-a! Foi esmagadora! Sem outras avaliaçõe que não as relativas ao espectáculo, estéticas e técnicas, notou-se que (repito, apesar de tudo o que não estou agora a discutir) há ali uma cultura milenar a sustentar o que se mostra actualizado com os padrões de quem vai ver e apreciar!

:)

Anónimo disse...

É o luxo asiático.

A fama que vem de longe.

Anónimo disse...

Para saber mais sobre o plágio informar-se aqui:

http://divulgandotap.wordpress.com/2008/08/11/olimpiadas-2008-inspiracao-ou-plagio/