No cenário pré-Pequim o desporto português vivia um momento único jamais alcançado no passado. Foi dito e está escrito desta e de outras formas por responsáveis políticos e desportivos. O cenário pós-Pequim teve (tem) duas fases: a que se viveu no rescaldo dos Jogos e a que vamos passar a viver. Na primeira o desporto português precisava de mudar se queria ter capacidade competitiva internacional. Em quinze dias a euforia dava lugar à depressão. E perdíamos o que supostamente tínhamos: qualidade. Como aconteceu no passado existiam soluções ”prontas a servir” consoante os gostos. Os “eufóricos” de ontem - que eram os “depressivos” de então -, conhecem-nas. E anunciaram-nas: era preciso mudar. Mudar o quê: tudo! Como? Através de mais poder e de mais recursos. Pode parecer uma síntese errada, porque demasiado simplista, mas espremido é o que dava. A fórmula não era inovadora. Mas ia dar ao mesmo: manutenção do poder e da continuidade das lógicas de governação política e associativa. Mas o frenesim inicial, com o tempo, como então prevíamos, foi passando. E tendemos, nesta segunda fase pós-Pequim, a regressar ao situacionismo anterior. Vale a pena, no entanto, no plano estritamente reflexivo, recuperar algo do que então foi dito. E perguntar: é preciso mais poder e mais recursos para quê ?
Nos últimos três anos Portugal viveu no plano da governação uma situação excepcional: uma maioria absoluta sólida, um presidente da república, para já, cooperante e uma oposição inexistente ou se quisermos ser simpáticos muito frágil, dividida entre si e descredibilizada. O movimento associativo é na sua representação superior cooperante e “camarada”. Mas quando o gelo derrete o nosso “iceberg desportivo”, o que vem à superfície é uma realidade que está longe de traduzir as excepcionais condições politicas criadas. Quem acompanha o desporto nacional sabe como as coisas continuam a funcionar. O que mudou então?
A actual maioria (que nos últimos 14 anos vai a caminho de governar 11) tem uma enorme experiência de governação desportiva. Já experimentou vários modelos e diferentes pessoas. Conhece como poucos a máquina administrativa do Estado. Tem gente experimentada e tarimbada nos “meandros” da política desportiva. Relaciona-se bem com os poderes mediáticos e com os poderes das diferentes “lojas”.Mas o que deixa? Em que é que o país desportivo está diferente que tenha resultado da acção governativa? Seguramente que está diferente no plano do ordenamento jurídico, mesmo tendo presente a dificuldade de cumprir calendários a si próprio impostos, no que não é pecado original. Mas as alterações ocorridas não são de molde a alterar significativamente o quadro dos indicadores mais críticos da realidade desportiva. Legislar não é necessariamente reformar. O governo mexeu e bem na forma de distribuição das receitas das apostas mutuas mas a prazo vai ser confrontado com os memos problemas do passado porque baixou o contributo das transferências do orçamento do Estado com origem em outras rubricas que não as receitas próprias consignadas e enfrenta já um quadro recessivo nas receitas dos jogos. Resolveu bem a isenção de tributação fiscal das bolsas aos atletas de alta competição e anunciou, mas ainda não publicou, um regime especial de segurança social para estes atletas. Anunciou uma rede de centros de alto rendimento para diferentes modalidades que carece, para uma melhor avaliação, de se conhecer qual é a política publica para o alto rendimento de modo a se não cair numa lógica de soluções avulsas e de difícil sustentabilidade futura e um pouco à medida das reivindicações das modalidades. Manteve o financiamento aos “projectos autárquicos”na lógica dos poderes locais mas desligado de qualquer prospectiva de âmbito nacional. Deixo para outros a avaliação da reforma (?) da administração pública desportiva. Foi tudo o que fez? Não. Mas como em muitos outros domínios, as politicas do desporto vivem carentes de dados e de análises objectivas sobre o impacto das medidas de politica desportiva pelo que muito de positivo que se possa ter feito carece de uma avaliação que ultrapasse o exercício de mera propaganda quanto aos seus méritos anunciados. Como é entre outros, o caso do desporto no 1º ciclo do ensino básico. O que se tem dito sobre esta realidade é uma perfeita imbecilidade. Ou seja,ainda não teve tempo de mexer em qualquer dos factores críticos que tanto incomodavam a governação:os indicadores da situação desportiva quando comparados com os países do espaço europeu.
E do lado “associativo” o que mudou? Que novos programas foram lançados? Que novas ideias surgiram? Que melhorias nos quadros organizativos e competitivos? Na formação dos quadros técnicos? Na resposta aos problemas do desporto juvenil e ao abandono desportivo precoce? Nas metodologias de organização e preparação desportiva? Que politicas para a renovação dos quadros dirigentes? Que responda quem saiba!
Resultado: com uma governação perra e pouco arrojada e com um movimento associativo expectante, situacionista e frágil de ideias e projectos para que servem mais poder e mais recursos?
Nos últimos três anos Portugal viveu no plano da governação uma situação excepcional: uma maioria absoluta sólida, um presidente da república, para já, cooperante e uma oposição inexistente ou se quisermos ser simpáticos muito frágil, dividida entre si e descredibilizada. O movimento associativo é na sua representação superior cooperante e “camarada”. Mas quando o gelo derrete o nosso “iceberg desportivo”, o que vem à superfície é uma realidade que está longe de traduzir as excepcionais condições politicas criadas. Quem acompanha o desporto nacional sabe como as coisas continuam a funcionar. O que mudou então?
A actual maioria (que nos últimos 14 anos vai a caminho de governar 11) tem uma enorme experiência de governação desportiva. Já experimentou vários modelos e diferentes pessoas. Conhece como poucos a máquina administrativa do Estado. Tem gente experimentada e tarimbada nos “meandros” da política desportiva. Relaciona-se bem com os poderes mediáticos e com os poderes das diferentes “lojas”.Mas o que deixa? Em que é que o país desportivo está diferente que tenha resultado da acção governativa? Seguramente que está diferente no plano do ordenamento jurídico, mesmo tendo presente a dificuldade de cumprir calendários a si próprio impostos, no que não é pecado original. Mas as alterações ocorridas não são de molde a alterar significativamente o quadro dos indicadores mais críticos da realidade desportiva. Legislar não é necessariamente reformar. O governo mexeu e bem na forma de distribuição das receitas das apostas mutuas mas a prazo vai ser confrontado com os memos problemas do passado porque baixou o contributo das transferências do orçamento do Estado com origem em outras rubricas que não as receitas próprias consignadas e enfrenta já um quadro recessivo nas receitas dos jogos. Resolveu bem a isenção de tributação fiscal das bolsas aos atletas de alta competição e anunciou, mas ainda não publicou, um regime especial de segurança social para estes atletas. Anunciou uma rede de centros de alto rendimento para diferentes modalidades que carece, para uma melhor avaliação, de se conhecer qual é a política publica para o alto rendimento de modo a se não cair numa lógica de soluções avulsas e de difícil sustentabilidade futura e um pouco à medida das reivindicações das modalidades. Manteve o financiamento aos “projectos autárquicos”na lógica dos poderes locais mas desligado de qualquer prospectiva de âmbito nacional. Deixo para outros a avaliação da reforma (?) da administração pública desportiva. Foi tudo o que fez? Não. Mas como em muitos outros domínios, as politicas do desporto vivem carentes de dados e de análises objectivas sobre o impacto das medidas de politica desportiva pelo que muito de positivo que se possa ter feito carece de uma avaliação que ultrapasse o exercício de mera propaganda quanto aos seus méritos anunciados. Como é entre outros, o caso do desporto no 1º ciclo do ensino básico. O que se tem dito sobre esta realidade é uma perfeita imbecilidade. Ou seja,ainda não teve tempo de mexer em qualquer dos factores críticos que tanto incomodavam a governação:os indicadores da situação desportiva quando comparados com os países do espaço europeu.
E do lado “associativo” o que mudou? Que novos programas foram lançados? Que novas ideias surgiram? Que melhorias nos quadros organizativos e competitivos? Na formação dos quadros técnicos? Na resposta aos problemas do desporto juvenil e ao abandono desportivo precoce? Nas metodologias de organização e preparação desportiva? Que politicas para a renovação dos quadros dirigentes? Que responda quem saiba!
Resultado: com uma governação perra e pouco arrojada e com um movimento associativo expectante, situacionista e frágil de ideias e projectos para que servem mais poder e mais recursos?
11 comentários:
O José Manuel Constantino
Ou não tem ideias e projectos ou não as quer apresentar.
O seu objectivo foi destruir as ideias que identificou como as da mudança total. Se é que isso existe, é fraco! Não é?
Nota final: o balanço da acção governativa é um exercício com interesse. Sem golpe de asa.
O JMC anda muito mansinho com eles.Parece que nem sabe da missa à metade ou então já se esqueceu o que lhe fizeram.Ou caímos no absurdo da prinicipal oposição so governo vir do próprio PS?
Qual JMC? O do blogue que assina o texto ou o outro JMC?Sempre que vocês escrevem sobre politica desportiva instala-se o caos de JMC's!
Complexo da Lapa
O problema dos locatários da governação desportiva da lota de algés é que navegam com a costa à vista e estão convencidos que isso é suficiente para transformar o país e desenvolver o desporto. E o grave da situação é que estão não sós.E estão felizes.Deixai-os estar!
ACC
Eu chamaria a esta prosa conversa enrolada, na linha a que o autor intitulou uma vez de "dizemos sempre a mesma coisa".
Este post é a prova, pelo que não vale a pena continuar a escrever.
Ou se dizem coisas novas ou, na incapacidade de o fazer, é preferível fazer uma pausa maior de reflexão interior.
O anónimo das 18,39 tem razão :a prosa é enrolada e o homem diz sempre as mesmas coisas.Mas ainda bem que as diz.Pena é que haja tão poucos a dizer como ele.Talvez muitos outros tivessem alguma vergonha.Bendito blogue que se não cala e por isso incomoda tantos.
ex-aluno do prof.
A principal questão, no meu ponto de vista está para além da governação e das leis. Está principalmente na política desportiva que à semelhança da educação, consome recursos que não são aplicados na sua totalidade ou seja estamos a formar gerações de medíocres.
A ambição a vontade devia ser o exemplo de determinação para se conseguir bons resultados desportivos e educacionais, mas não aplicam-se verbas e resultados nada.
Á semelhança do que acontece em outros países que o Sr. conhece as políticas desportivas são sustentadas por projectos de médio e longo prazo e devidamente planeadas. Ao contrário de Portugal, que insiste em politicas ultrapassadas, já testadas noutros países e em modelos caducos.
E principalmente quando se utiliza o dinheiro dos contribuintes e não só a construir complexos desportivos que deviam servir a prática desportiva com a competição como pano de fundo e não passam de meros sustentáculos de actividades profissionais de pseudo gestores desportivos.
Atente-se no complexo desportivo do Jamor que é utilizado para aulas de natação, quando a oferta é já muita ao seu redor, vedando a sua utilização a clubes, associações e outros ou então cobrando taxas demasiado elevadas.
Enquanto não se mudar este estado de coisas será difícil a prossecução de resultados desportivos
Ao tentar compreender a substancia do post inicial parece-me que a pergunta final choca com a expectativa gerada ao longo do texto.
Concordando com muitas das afirmações internas no final forma-se um pensamento adverso e agreste que se observa nos comentários ao post.
A alternativa é entre propor medidas e correr o risco de ouvir o silêncio como resposta ou nada dizer de início.
Os desafios do desenvolvimento existem em todos os países do mundo.
Nós temos de encontrar formas de o fazer se queremos sair de onde estamos, se sentirmos a necessidade de nos mexermos.
"Portugal enterrou-se até aos joelhos" (Cecília do Carmo, jornalista da RTP, nos JO de Barcelona em 1992)
"Vamos mandar vir treinadores de fora" (Couto dos Santos, à data Ministro da Educação, no pós JO Barcelona de 1992)
Alguém se lembra destas frases? Sabem a que atletas e modalidades se referem?
Ou ainda quem se lembra do europeu de Futebol organizado em Portugal que quando as coisas estavam cinzentas parecia que estavamos num "recolher obrigatório" e quando por golpe dos milagres da Santinha Portugal começa a emergir dos maus resultados eis que vemos o Sr. Primeiro Ministro, aquele que teve de emigrar para a Comissão europeia para "servir cafézinhos" aos grandes senhores,a aparecer nos ecrans televisivos como um brilhante e confiante conhecedor do fenómeno desportivo e estratega das coisas do futebol.
Se do último caso decerto se quiserem bem se lembram, já das duas primeiras citações é possível que já poucos se lembrem. Estas citações dizem respeito à participação dos atletas fundistas nesses Jogos.
São todos iguais estes políticos, uns fanfarrões,se o perigo está perto recuam e vociferam "AGARREM-ME QUE SE NÃO MATO O GAJO", ou então se o perigo se afasta vão dizendo em tom gabarolas "ELE É QUE SE FOI EMBORA PORQUE SE NÃO EU FAZIA E ACONTECIA..."
Estes dois retratos que faço no sentido figurado fazem-me lembrar os dois ministros que referi. E embora já passaram entretanto 4 JO (16 anos) ainda hoje estou à espera dos treinadores estrangeiros, ainda hoje estou à espera que matem o fantasma da pobreza, herdada do Estado Novo, que enferma o Desporto Português. Por onde andará esse "valentão" que a coberto de uma televisão pública e de uma jornalista incompetente e/ou ao serviço de terceiros? Talvez num cargo público pago pelos Impostos dos Portugueses....
Será azar ou maldição?
Mas Professor de boas intenções e projectos está o povo cheio.
Que interessa fazer decretos e despachos para fazer centros de alto rendimento (CAR), se depois não se constroem, e se se constroem que equipamentos é que dão suporte a esses CAR, com que profissionais? Quando um ministro faz um decreto-lei para se construir um CAR, por acaso sabe ou é informado com que é que um CAR precisa? Para além das instalações próprias para modalidade, sabe se precisa de um Laboratório de Biomecânica, de um Laboratório de Fisiologia, bem como especialistas da modalidade, metodólogos, psicólogos, etc...?
E mesmo que saiba dessas necessidades e que proceda no sentido dos CAR terem esses meios, saberá por exemplo, de quantos biomecânicos, fisiologistas com competência existem em portugal, assim como metodologos, treinadores, psicólogos...?
É preciso ter em conta que não basta investir apenas no "betão" é também necessário investir nos recursos humanos (e aqui às Universidades cabe uma grande responsabilidade) mas recursos humanos competentes, e não uns teóricos "paraquedistas" ou pessoas instaladas nos corredores do poder.
E bem fala o Prof. dos "icebergs" pois que derretido os dinheiros do ciclo olímpico verifica-se que na base, afinal não há base... O "iceberg" está sustentado numa educação física escolar muito frágil, e numa malha associativa com pouca preparação e sem recursos, onde vão vingando alguns talentos do acaso
Ao Branco
Agradeço uma vez mais a sua colaboração e comentários.Concordo no essencial com o que escreveu.
Ao Fernando Tenreiro
Agradeço também o seu comentário.A legitimidade de uma opinião ou de um diagnóstico não ficam feridos pelo facto de o respectivo autor não propôr alternativas.Essa é uma responsabilidade de quem governa ou de quem se propõe fazê-lo,o que não é manifestamente o caso do autor do post.
“O QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional 2007- 2012 e o Desporto”
Quando se vai verificar o que está contemplado para o desporto, melhor para o seu desenvolvimento e mudança para nos integrarmos no espírito que se afirma governamentalmente presidir ao QREN, apenas encontramos a possibilidade de se apresentarem candidaturas para infra-estruturas – e desde logo e apenas para os denominados “Centros de Alto Rendimento Desportivo” e para os campos de futebol de relva artificial para os municípios onde ainda não exista nenhum desses campos de relva.
Isto é tudo o que há no QREN entre 2007 e 2012 para o desporto, não estão previstos quaisquer outros programas que não sejam de construção de infra-estruturas.
Portanto, o Governo de Portugal como política de desenvolvimento desportivo, como mudança e estratégia de evolução do panorama desportivo nacional, apenas considerou neste importante Quadro de Referência Estratégico Nacional os Centros de Alto Rendimento, de que ainda nada praticamente se sabe (a não ser que "serão dos melhores da Europa e do Mundo", no pretensioso categórico do Secretário de Estado Laurentino Dias) e muitos, muitos mais, campos de futebol sinteticamente relvados.
Pergunta-se, então, que política desportiva é esta que reduz no QREN tudo a construções?
E construções, mais e mais construções, com que objectivos, estruturas de formação e técnicas, modelos de organização, métodos de gestão, planeamento?
E que ligação de mais esta onda infra-estrutural aos clubes, às escolas, ao desporto de base e escolar, aos municípios e respectivas políticas desportivas, os quais agora passarão também a deter mais poderes na organização e gestão do ensino?
É apenas mais uma vaga, indefinida e sem estratégia claramente assumida, mais uma “política do betão no desporto”?
E o capital humano, as pessoas, os praticantes, as estruturas organizativas (escolas, clubes, federações) – não contaram para o QREN porque tudo se reduz a obras, obras e mais obras no desporto em Portugal?
É tempo de se exigir que o Governo defina e divulgue finalmente o que são as suas opções e estratégia para o desporto – e não apenas para o desporto profissional e de competição, mas também para o desporto de base que inclui necessariamente o comunitário/local e escolar. Para que possam ser, primeiro, debatidas devidamente, e depois, adequada e oportunamente escrutinadas.
P.S: O exemplo da terceira via trabalhista inglesa que temos vindo a apresentar com algum detalhe no nosso BLOG deveria ajudar estes nossos ministrantes desportivos...! Mas a nossa via, viazinha, não parece fadada para tanto...!
José Pinto Correia
(www.portugalestrategico.blogspot.com)
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